1/29/2006

Farpas Verdes CDXLIX

Um completo disparate a classificação portuguesa no ranking mundial de desempenho ambiental, efectuado pelo Centro for Environmental Law & Policy da Yale University e pelo Center for International Earth Science Information Network (CIESIN) da Columbia University. A 11ª posição deve-se ao facto de se considerar que 100% da população tem abastecimento doméstico de água e que 100% está ligado a rede de esgotos. Os valores correctos serão, respectivamente, cerca de 90% e 70%.

Por razões óbvias, o Ministério do Ambiente nem se congratulou com a (errada) classificação, mas deixem passar algum tempo e ainda irão ver o primeiro-ministro José Sócrates (re)lembrar esta «honrosa» classificação; obviamente em momento oportuno e sem que, na comunicação social, alguém lhe refira que os dados utilizados são errados.

P.S. Porém, isto tem um «perigo»: se a União Europeia considera válida esta classificação ainda vai cortar os financiamentos para saneamento básico (água e esfotos) a Portugal. Já estou a imaginar os comissários a perguntar: «mas por que vamos apoiar um país com 100% dos problemas resolvidos?!».

1/27/2006

À Margem Ambiental XCX

Um boa notícia. O antigo vice-Presidente norte-americano Al Gore vai publicar em Abril um novo livro sobre alterações climáticas, intitulado «An Inconvenient Truth», que surge como uma sequela do best-seller de 1992, «Earth in the balance» (A Terra à Procura de Equilíbrio, em tradução portuguesa, editado pela Editoral Presença, em 1993... muito bom e ousado). E está também a promover um documentário sobre aquecimento global.

Como seria o Mundo com Al Gore como presidente dos Estados Unidos, também nas questões ambientais? A Terra acabou por ser a principal derrotada naquelas esquisitas eleições de 2001 nos States...
Floresta V

Umas interessantes contas permitiram-me calcular que cerca de 95% dos povoamentos florestais da região do Pinhal Interior Sul (concelhos de Mação, Oleiros, Proença-a-Nova, Sertã e Vila Rei) referenciados no Inventário Florestal Nacional de 1995 terá ardido nos últimos 11 anos*. Que tal passarem a chamarem a esta região Carvão Interior Sul - é que pinhais é coisa que já mal se vê...

Enfim, estou a encontrar dados tão dramáticos que temo que a floresta portuguesa a norte do Tejo não terá quaisquer chances de se safar...

* - Seria mais correcto referir que ardeu uma área de povoamentos florestais equivalente a 95% dos povoamentos florestais que foram apurados em 1995 (mais correcto, mas mais confuso para ser entendível por leigos), pois poderá ter havido alguma regeneração natural, de modo que incêndio recorrente tenha já apanhado espaço de floresta considerada já com tal. Além de alguma florestação (pouca). Mas o erro não será muito grande...

1/26/2006

À Margem Ambiental XCIX

Por vezes não resisto a espreitar no Sitemeter a origem dos meus visitantes. Uma parte substancial surge ao engano, via Google. Por vezes, através de pedidos muito sui generis, como se aquele pesquisador fosse uma caixinha de respostas. Ora, isto dá-me sempre bons momentos de disposição.

Há pouco, reparei que um dos visitante foi aqui ter por via desta pergunta (textual) colocada no Google: «porque motivo o azoto industrial é melhor do que o azoto biológico?».

Como este blog não tem a resposta, como eu também não a sei , como fiquei com curiosidade em saber e como eventualmente o visitante ainda quererá saber, agradecia que alguém esclarecesse...

Obrigado.

1/24/2006

Floresta IV

Continuo as minhas escritas florestais para o livro; deixo entretanto aqui umas informações para reflexão... e para não se esquecerem que este blog está activo.

Considerando que a taxa de deflorestação da Amazónia ronda cerca de 1,2% por ano, apenas vos antecipo que, de entre os distritos portugueses, apenas Bragança, Lisboa, Portalegre, Beja, Setúbal e Évora registaram, para o período de 1980-2005, uma percentagem inferior de território queimado*. Mas o último sexénio foi dramático. Por exemplo, o distrito da Guarda ardeu a um ritmo de 10,5% por ano. Ou seja, 63% em apenas seis anos!

* Nota: Saliento que é em relação ao território total de cada distrito. Se fosse considerar a área florestal, a percentagem seria muito maior (talvez o dobro, em algumas regiões).

1/16/2006

À Margem Ambiental XCVIII

Por certo, parte do país está desejoso de uma segunda volta nas eleições presidenciais. Mas um sector importante está unanimamente desejoso: os restaurantes. Nunca tinha visto tantos almoços-comício e jantares-comícios durante uma campanha eleitoral. Se houver segunda volta, quase de certeza que haverá também pequeno-almoços-comício, lanches-comício e, talvez, ceias-comício. Ou mesmo horas-do-café-comício, quem sabe...
À Margem Ambiental XCVII

Na votação final dos livros do ano de 2005, dinamizado pelo Programa Livro Aberto, com a colaboração do suplemento cultural Mil Folhas do jornal Público, o meu (agora vosso) O Profeta do Castigo Divino ficou num honroso sexto lugar, com 134 votos, atrás das obras de Fernando Campos, Agustina Bessa-Luís, José Saramago, Rodrigo Guedes de Carvalho e Francisco José Viegas. Para mim é uma honra - que jamais imaginaria há uns anos - estar numa lista onde pontificam alguns dos «nomes grandes» da nossa literatura. Permitam-me este meu pequeno e saboroso orgulho...
Farpas Verdes CDXLVIII

Por favor, alguém me diga que palavras deverei usar para comentar estas declarações do secretário de Estado do Ambiente, Humberto Rosa, numa entrevista publicada no Diário de Notícias do passado sábado. É que temo usar termos menos próprios, caso me conceda liberdade para dizer tudo aquilo que me apetece...

Diário de Notícias - Foi um ano difícil para as áreas protegidas, que foram muito afectadas pelo fogo. Como avalia a prevenção feita nessas áreas?

Humberto Rosa - Fiquei agradavelmente surpreendido com o trabalho de casa de prevenção feito pelo Instituto Conservação da Natureza (ICN). Havia um plano interno muito completo. Quando tive notícia dos fogos nos parques, pedi uma avaliação para saber se tinha sido fracasso do plano ou contingência das condições atmosféricas. Não detectei nenhum caso de falta de meios, planeamento ou actuação. Atribuo esse contexto ao que se viveu no resto do País.

1/14/2006

Farpas Verdes CDXLVII

A pretexto de um comentário do leitor Adolfo Rocha sobre a necessidade de criar emprego e, por isso, sacrificar áreas ambientais, tenho a dizer que esse a um dos maiores mitos para justificar empreendimentos - embora o argumento mais utilizado por políticos. Nem preciso de apontar os resultados/consequências da betonização do Algarve. Basta ver o impacte económico e social dos empreendimentos turísticos já existentes em Grândola. A Torralta deu no que sabemos; e a Soltróia não representa qualquer emprego. Se analisarem os resultados dos Censos ver-se-á que o desemprego daquela zona manteve-se entre 1991 e 2001; nem sequer a população residente fixa; apenas cresceu o sector imobiliário.

Por outro lado, os projectos que agora são aprovados são apenas os primeiros; outros aguardam, numa zona que, como não tem tecido económico sustentado, acaba por tudo «importar»: pedreiros para a construção civil (trabalho sempre temporário) e, no fim, dos poucos trabalhadores (esqueçam os 2 mil que são apontados no projecto...), quase todos serão de fora...

1/13/2006

Farpas Verdes CDXLVI

Este Governo e este Ministério do Ambiente arriscam-se a ficar na História como os carrascos finais do ambiente em Portugal. Hoje foi reconhecido o interesse público de dois empreendimentos turísticos no litoral alentejano em pleno Rede Natura.

Aquilo que jamais alguém teve a coragem de aceitar, vem este Governo - constituído por um ex-ministro do Ambiente (José Sócrates), por um ex-secretário de Estado do Ordenamento (Pedro Silva Pereira), por um professor catedrático do Instituto Superior Técnico da área do ambiente (Nunes Correia), por um professor da Faculdade de Ciências de Lisboa e antigo presidente da Associação Portuguesa de Biólogos (Humberto Rosa), por um investigador do Instituto de Ciências Sociais especializado em ordenamento (João Ferrão) e por um antigo presidente da Associação Portuguesa dos Recursos Hídricos e consultor da área ambiental (Mário Lino) - dar a sua aprovação. É vergonhoso, sinto-me defraudado...

E pior ainda: não apenas «vendem» o direito de devassa àquele território a troco de uns míseros cobres de um Fundo de Conservação para a gestão do Sítio da Comporta-Galé (rico precedente que se cria... quem for rico, faz o que quer desde que dê «esmolas» ao Governo) como José Sócrates e Nunes Correia ainda têm o desplante de irem assistir à cerimónia de apresentação dos empreendimentos na próxima segunda-feira, em Melides.

Quem nos salva deste país?
À Margem Ambiental XCVI

Muito inteligente - e, neste caso, investimento que será proveitoso - a utilização do treinador José Mourinho numa campanha publicitária no Reino Unido a favor das rolhas de cortiça, numa iniciativa da APCOR e com algum apoio governamental. As rolhas de cortiça estão, cada vez mais, a sofrer a concorrência de substitutos de pástico e no Reino Unido cerca de 10% das garrafas de vinho já não usam rolhas de cortiça.

1/12/2006

À Margem Ambiental XCV

Aparentemente, tenho mais sucesso literário do que ambiental. Tenho uma ténue frustração por O Estrago da Nação (o livro) não ter esgotado a primeira edição. Ao invés, o meu primeiro romance, Nove Mil Passos, está em segunda edição, e ontem soube que o novo, O Profeta do Castigo Divino, entrou também em segunda edição...

Mas, pronto, mesmo assim, ainda continuarei a insistir a escrever livros sobre ambiente...

1/11/2006

Floresta III

O fogo sempre existiu em Portugal, as leis contra os incendiários também. A título de exemplo, vejam estas duras, mas pouco democráticas, penas previstas nas Ordenaçãoes Filipinas (início so século XVI) e que, grosso modo, vigoraram até meados do século XIX.

«E se se achar culpado no pôr do fogo, de que se seguir dano, algum scravo, seja açoutado publicamente, e ficará na vontade de seu Senhor pagar o dano, que o fogo fez, ou dar o scravo para se vender, e do preço se pagar o dito dano.

E se o culpado for fôr homem livre, sendo peão, seja prezo, e da Cadêa pague o dano, e mais seja degradado com baraço e pregão pela Villa per dous annos, para Africa.

E sendo Scudeiro, será degradado por dous annos para Africa com pregão na audiencia, e pagará o dano a seus donos.

E se fôr Cavalleiro ou Fidalgo, per seus bens farão as Justiças pagar o dano às partes, e mais no-lo farão saber, para lhe darmos castigo, que nos bem parecer, segundo o dano fôr.»

1/09/2006

Floresta II

Nem de propósito, hoje o Público tem uma interessante manchete: «Metade dos incêndios de 2005 foi fogo posto». O título é algo enviesado, pois na verdade o que a notícia aborda é a causa dos incêndios em função da área ardida total. Ou seja, cerca de 47% da área ardida teve na sua origem actos de incendiarismo (o incendiarismo não é apenas fogo posto...). Ora, uma coisa é a percentagem de área ardida; outra, a percentagem do número de ocorrências fogos.

Infelizmente, estas notícias - mesmo se bem intencionadas, como acredito que é o caso da notícia do jornalista do Público, Ricardo Garcia - têm efeitos contraproducentes, pois de certa forma desculpam as falhas do sistema de prevenção, vigilância e combate dos incêndios florestais. Diabolizando os causadores, está a transmitir-se a ideia de que existem «forças malignas» que estão na base das catástrofes dos incêndios florestais.

Julgo interessante ver que, por exemplo, na Espanha o incendiarismo é «mato» - ou seja, os incêndios, neste caso o número, e não a área afectada, representam a maioria das causas. Num estudo feito no ano passado, pegando nos dados do decénio 1994-2003, chegou-se à conclusão que 62% dos incêndios foram intencionais, valores que, aliás, se mantiveram quase sempre estáveis ao longo dos anos. Contudo, esta parecentagem elevada de incendiarismo - tão grande ou maior do que em Portugal - não tem correspondência com a extensão da área ardida.

Também me parece algo falacioso que se destaque o aumento do número de detenções de suspeitos incendiários, referindo que se passou de 80 em 2004 para 147 em 2005. As variações de um ano para o outro não têm a ver com um aumento da criminalidade, mas antes com o aumento das acções de inspecção e investigação pela GNR e PJ. Não estou com isto a dizer que não há incendiários; pelo contrário. Existem mais, mas onde eles existem em maior número são nas regiões onde quase nunca são feitas investigações das causas: por exemplo, em alguns concelhos dos distritos do Porto e Braga onde existe uma enormidade de incêndios, mas de pequena dimensão. Aliás, sobre esta matéria é interessante analisar o tal estudo espanhol, pois revela a existência de causas sociais entre as distintas regiões que «justificam» o incendiarismo.
À Margem Ambiental XCIV

Na série de entrevistas informais que a SIC Notícias fez aos candidatos presidenciais, Cavaco Silva terá dito que gosta de ler romances históricos e que o último livro que leu foi sobre o terramoto. Ele acrescentou que não iria dizer o nome do autor para não melindrar os outros. Claro está que, mesmo assim, tenho recebido, de várias pessoas, os parabéns por o meu O Profeta do Castigo Divino ter sido lido por Cavaco Silva. Mas tenho-lhes dito que apenas sou um dos cinco candidatos, tendo em conta que outros também abordaram o tema, a saber: Luís Rosa (O Terramoto de Lisboa e a Invenção do Mundo), Júlia Nery (O Segredo Perdido), Miguel Real (A Voz da Terra) e, embora seja um ensaio, Rui Tavares (O Pequeno Livro do Grande Terramoto). Estamos, portanto, perante mais um famoso tabu do professor Cavaco Silva...

P.S. Mas mais gratificante do que a eventualidade de Cavaco Silva ter lido ou não o meu livro (de qualquer modo, o meu voto será concedido ao candidato que divulgar o meu livro... eh eh eh), é o facto de estar entre os 10 finalistas de livros de ficção portuguesa do Programa Livro Aberto, dinamizado pelo Francisco José Viegas. É uma honra, um orgulho e uma responsabilidade, por esta exacta ordem...
Floresta I

Uma das causas para uma menor frequência de posts desde o início do ano prende-se com a minha próxima tarefa: a escrita de um novo livro. Desta vez, contudo, regresso aos temas ambientais. Estou a escrever um ensaio/análise sobre a floresta e os incêndios florestais, que será publicado antes de Maio pela Dom Quixote. Como terei que concluir a primeira versão até princípios de Março, peço que compreendam esta menor actividade.

Em todo o caso, para «compensar», prometo ir apresentando alguns factos curiosos (aguçar o apetite) sobre o que estou escrevendo ao longo das próximas semanas...

E já agora, todas as sugestões, ideias e outras coisas que tais sobre esta temática serão bem vindas...

1/06/2006

Farpas Verdes CDXLV

Anteontem foi aprovado pelo Parlamento um diploma que prevê o agravamento das coimas ambientais. O máximo é de 2,5 milhões de euros (500 mil contos), podendo ser duplicado em caso de grande gravidade para a saúde pública.

Ah, grande Governo e grande Assembleia da República: o ambiente está salvaguardado. O nosso problema estava afinal nos montantes das coimas! E eu que pensava que estava na falta de meios de fiscalização e inspecção ou na ausência de aplicação, com rigor, das normas legais...