4/30/2005

Farpas Verdes CCV

Triste, muito triste é a figura de Isaltino de Morais. Alguém lhe diga, por favor!

4/29/2005

Farpas Verdes CCXIV

Os dados hoje divulgados referindo que entre 1 de Janeiro e 15 de Abril já ocorreram 1109 incêndios em Portugal Continental contra os 543 ocorridos nos primeiros quatros meses de 2004, revelam uma situação extremamente preocupante. Primeiro, esse número - tendo em conta a forma como foi apresentada essa comparação - reporta-se apenas aos focos de incêndio com área ardida superior a um hectare (abaixo disso, são chamados fogachos e, por exemplo, no ano passado até Abril tinham-se registado os tais 543 incêndios e mais 1663 fogachos).

Nunca gosto de fazer comparaçõe de dados de um ano com o ano anterior - não têm qualquer significado estatístico. Por isso, fui olhar para os dados do os anos anteriores. Em 2003 até Abril tinha havido 380 incêndios, em 2002 houve 686 e em 2001 (não tenho dados mensais) tinham-se registado até ao dia 8 de Junho 1168 incêndios.

A história tem mostrado que um «mau» início da época dos incêndios não significa necessariamente uma «má época» de incêndios (embora, na verdade, todos os anos têm sido maus). No entanto, o que mais me assusta é que esse elevado número de incêndios (não se sabendo, por agora, a área ardida) ocorre numa época de seca. E, por isso, demonstra duas coisas: continua-se sem conseguir controlar os focos de incêndios (cada vez maos defendo uma forte actuação repressiva, mas mesmo a doer, sem contemplações...) e mostra que a prevenção florestal continua a marcar passo.

Independentemente daquilo que acontecer este ano - e teme-se o pior - convinha, em todo o caso, que a atitude do Governo não fosse nenhuma das que vou referir. Se correr mal, não devem culpar a «herança» passada, porque nisto da floresta a herança vem de longe, nem devem dizer que foi azar; se correr bem, não devem regozijar-se por serem devidas às acções do Governo, mas sim que foi pura sorte. E, de facto, dela, da sorte, estamos bem precisados.
Farpas Verdes CCXIII

Tendo em consideração o lamentável facto consumado que é o famigerado Túnel do Marquês, a decisão do ministro do Ambiente, Nunes Correia, acaba por ser a decisão politicamente possível. Não é a melhor solução, mas é lúcida - o que é de destacar.
Farpas Verdes CCXII

Com a estatística fazemos aquilo que bem queremos. Ontem li que a vereadora do urbanismo da autarquia de Lisboa, Eduarda Napoleão, revelou satisfeita que «no final de 2002 foram identificados 5588 edifícios degradados na cidade e, no final de 2004, estão recuperados 1741, ou seja 31%».

Ora, não colocando em dúvida os 1741 edifícios recuperados (nem sequer avaliando o grau de reabilitação), já me causa estranheza haver tão poucos edifícios degradados. Pegando nos dados do Recenseamento da Habitação de 2001 - que, note-se bem, apenas inclui os edifícios de habitação que tinham ainda pessoas a viver, excluindo assim os chamados prédios devolutos - que são imensos -, tinhamos 3395 edifícios a necessitar de muito grande obras de recuperação na sua estrutura e mais 5704 a necessitar de grande obras. Ou seja, apenas em prédios habitados tinhamos 9099. Se colocassemos também aqueles que necessitavam de obras na estruturas e nas paredes, esse valor seria maior.

Portanto, mesmo considerando que todos os 1741 edifícios recuperados tivessem sido em edifícios habitados (ou seja, que não incluisssem os prédios devolutos), afinal a percentagem de reabilitação é de 19% - portanto muito longe dos 31%. E este valor de 19% será um valor em excesso, pelas razões que atrás referi, de não incluir os prédios devolutos no «universo» dos prédios degradados.

4/26/2005

Farpas Verdes CCXI

Para acompanhar a tendência e o risco de seca em Portugal continuo sempre a consultar o boletim hidrológico de... Espanha. Pois é, prefiro de longe os dados do Ministério do Ambiente de Espanha (com dados actualizados semanalmente e de rápida e fácil leitura) do que os do nosso Instituto da Água (desactualizados, muito modernos, mas confusos e de díficil consulta) .

E olhando para os últimos dados, diria que o pior da seca ainda está para vir. A parte espanhola da bacia do Tejo encontra-se com a sua capacidade de armazenamento de 47,7% contra 65,2% da média da década (ou seja, 27% menos). Para agravar a (sempre deficitária) bacia do Segura está com uma capacidade de 22,6% contra 27,1% da média da década (isto é, menos 17%). Ora, sabemos que existe um grande aqueduto de transvase entre estas bacias que, regra geral, funciona a partir de Maio. Basta, aliás, verificar este gráfico que deixo aqui em baixo para ver como desce o armazenamento do Tejo nos anos anteriores a partir de finais de Abril até Setembro - imaginem, portanto, para que valores irá a linha correspondente ao actual ano hidrológico.

Gráfico: /cache/graficos/2005178002032.jpg
Fonte: Ministerio de Medio Ambiente (Espanha)

4/25/2005

À Margem Ambiental LXIII

Serve a presente para pedir as mais humildes desculpas para o facto de, por muitas e demasiadas vezes, os meus posts estarem repletos de erros ortográficos ou de concordância, situação que se deve à rapidez (e um certo e indesculpável laxismo) com que os escrevo, sem os rever convenientemente. Por vezes, quando os releio, ainda procuro corrigi-los (como foi o caso do post anterior), mas nem sempre o faço.
À Margem Ambiental LXII

A sondagem sobre a composição do Governo foi-se estendendo nas últimas semanas e, afinal, somente hoje a dou por concluída. Votaram 82 pessoas e, curiosamente, os resultados praticamente se mantiveram em relação aquilo que se verificava no final do mês de Março. Ou seja, temos uma pontuação média de 5,96 (em 30 de Março era de 6,02) e 56% dos votantes atribuiram 7 ou mais pontos (idêntico à situação no final de Março).

Como avalia (1-10) a composição do Governo em termos de ambiente?
Resultados finais
Selection
Votes
1 ponto 20%16
2 pontos 6%5
3 pontos 6%5
4 pontos 4%3
5 pontos 5%4
6 pontos 4%3
7 pontos 11%9
8 pontos 15%12
9 pontos 13%11
10 pontos 17%14
82 votes total
Farpas Verdes CCX

Primeiro, ri-me à gargalhada; depois, apeteceu-me chorar.

Através do Ondas, reparei que o presidente da autarquia de Santa Comba Dão comprou um binóculos. Segundo a notícia do Jornal de Notícia, Orlando Mendes diz que os binóculos servirão «para poder ver ao longe, sempre que passo de carro pela estrada, a escala que mede o volume da água da albufeira. Se der conta que a cota está a baixar, é porque as comportas foram abertas e peço imediatamente explicações à EDP. Vou andar sempre com os binóculos no bolso das calças».

O inusitado e arcaico método escolhido pelo autarca é risível, porque o facto de não descer o volume não significa que não tenham sido abertas as comportas. Pior apenas, seria montar um acampamento junto às comportas.

O grave disto é que o presidente desta autarquia parece, com isto, desconhecer os aspectos mais básicos de hidrologia. O nível somente descerá se as descargas forem superiores às afluências. Mas numa albufeira tão grande como a da Agueira, é preciso que as descargas sejam bastante significativas para que haja uma descida relevante de volume. Por exemplo, aos níveis actuais da albufeira da Aguieira, descarregar 15 milhões de metros cúbicos (15 hm3). - que é muita água - faz baixar o nível em cerca de 0,8 metros.

Por outro lado, não parece ser conveniente que a albufeira feche simplesmente as comportas, «esquecendo-se» da necessidade de «alimentar» o troço do Mondego a jusante.

Além disso, convinha também que o presidente da autarquia soubesse (e se não sabe com todos estes anos de autarca, é grave), que existe um método mais cómodo para controlar os caudais e os volumes relacionados com a albufeira da Agueira: a página da Internet do Instituto da Água. Embora continue a ser complexa de consultar, tem ali todos os dados necessários. Patetices como esta dos binóculos, somente lhe retira argumentos nesta aparente guerrilha com a EDP.

P.S. Já agora, fui consultar o site do INAG e, curiosamente, a albufeira da Agueira até tem registado um aumento do seu nível de armazenamento desde o início do ano. Continua baixo comparativamente à média, é certo, mas parece ser este um caso em que a gestão até está a ser ponderada em função da situação de seca.

4/21/2005

À Margem Ambiental LXI

Esqueci-me de avisar com tempo. Para os interessados, estarei presente hoje, dia 21, pelas 19 horas, na Livraria Almedina do Atrium Saldanha (loja 71 - 2º piso), em Lisboa, para participar com a Luísa Schmidt (socióloga do ICS e jornalista do Expresso) numa conferência intitulada «Jornalismo e Ambiente», integrada no Ciclo Comunicação - Discutir o Jornalismo, organizada em conjunto pela Almedina e por Filipa Melo.

4/20/2005

Derivações Ambientais XIX

Estou intrigado. Anteontem enviei um e-mail ao Instituto do Consumidor pedindo esclarecimentos sobre a obrigatoriedade, ou não, das estações dos CTT terem livros de reclamações (e não os papéis de queixas e reclamações internas). No site do Instituto do Consumidor aparece um endereço ic@ic.pt. Enviei a mensagem, com aviso de recepção, e nos últimos dois dias recebi já 11 respostas de recepção, provenientes de 11 técnicos distintos.

Perguntas: Será que todos os 11 técnicos estão a tratar do meu esclarecimento? Será que é sensato que 11 técnicos tenham de ler a minha reclamação? Será que algum me irá responder? Não há aqui qualquer coisa que cheira a a desperdício de recursos?

4/19/2005

À Margem Ambiental LX

Será que os fumos das votações do conclave serão contabilizados nas quotas das emissões do Vaticano no âmbito do Protocolo de Quioto?


Brilhante cartoon de Luís Afonso no imperdível «Bartoon» do Público de hoje

P.S. Na verdade, a resposta é não. O Vaticano não assinou nem ratificou o Protocolo de Quioto. Desconheço o motivo, embora, por exemplo, pequenos Estados como o Mónaco ou San Marino o tenham aderido ao protocolo.

4/18/2005

Derivações ambientais XVIII

Desconheço se existe legislação sobre esta matéria, mas se permite aquilo que a TVI está a anunciar, algo está mal. Os comentadores que acabaram de relatar o Moreirense-Sporting (eu que até sou do Benfica), anunciavam uma «oferta» de 750 bilhetes para o jogo da Taça Uefa.

Claro que essa «oferta» consiste num curioso e lucrativo negócios: cada chamada custa 0,60 euros (0,714 euros com IVA) e seria atribuído (quem controla?) um bilhete a cada 250 chamadas.

Ora, fazendo umas contas simples, a TVI «oferece» um bilhete à medida que recebe 150 euros (178,5 euros com IVA). O bilhete mais caro vendido pelo Sporting é de 60 euros com IVA incluído (não acredito que lhs dêem lugares VIP a 80 euros). Ou seja, um lucro unitário de, no mínimo, 90 euros por bilhere.

Isto multiplicando por 750 bilhetes dará , no mínimo, 112.500 euros (133.875 euros com IVA). E digo , no mínimo, no pressuposto de que o número é desactivado à chamada 187.500 - a última a receber o último bilhete. Ou seja, o lucro pode ser muito superior. Em todo o caso, a TVI encaixa com esta brincadeira (descontando mesmo assim o IVA), na pior das hipóteses (e no pressuposto de que comprou os bilhetes), 67.500 euros (13.500 contos antigos).

Eis, portanto, a linda «oferta» da TVI. É caso para dizer que esta empresa oferece um paio a quem lhe oferece um porco.
Farpas Verdes CCIX

A estilista Fátima Lopes continua a meter os pés pelas mãos. Recentemente, face à manifestação junto à sua loja na Avenida de Roma em Lisboa, foi questionada por uma jornalista da televisão sobre o uso de peles verdadeiras e respondeu que acha horrível a morte dos animais, mas que não tem culpa porque não é ela que os mata.

OK, prontus!, Fatinha. Nós deixamos-te usar as peles todas, mas... por favor, não fales mais!
Derivações ambientais XVII

Como se sabe, os pesquisadores como o Google são uma excelente ferramenta para encontar tudo e mais alguma coisa. Muitos visitantes têm aqui chegado em virtude de pesquisas diversas. Em geral, é sobre temas de ambiente, mas por vezes surgem visitantes desenganados. Por exemplo, há uns tempos, chegou-me um, via Google, que procurava, em palavras separadas, câmaras pornográficas. A culpa é minha, porquanto algures terei escrito que aquilo que se passam com as câmaras em matéria de urbanismo são situações pornográficas que andava à procura de câmaras de vídeo pornográficas...

Mas hoje reparei numa visita que, embora procurando por uma questão pertinente, é afinal um sinal dos tempos. A pesssoa desejava informações sobre a seca que se abateu sobre Portugal. Mas no Google inseriu «seca k se abateu sobre Portugal».
Farpas Verdes CCVIII

Tendo tido oportunidade de analisar, muito rapidamente, alguns dados sobre as precipitações ao longo dos anos (em 44 estações com mais de 50 anos de registos), nota-se que o actual ano hidrológico está, em muitos casos, a ser o mais severo. No entanto, isso apenas se verifica em 12 estações (27%).

Existem, de uma forma marcante, nas últimas seis décadas, anos particularmente severos de seca (embora esta análise seja obviamente superficial, por estar apenas a considerar os valores extremos). Por exemplo, o ano de 1945 continua a ser o mínimo em 9 estações). De salientar, contudo, que duas estações, Setúbal e Fonte Boa - que atingiram este ano o mínimo - não estavam em funcionamento em 1945.

O ano de 1981 também continua a ser o mais seco em 7 estações (sobretudo localizadas no Alentejo e Beira Interior).

O ano de 1992 também continua a ser o mais seco em 4 estações (Évora, Portalegre, Alvega e Chouto)

Uma evidência que estes dados permitem retirar é a de que as precipitações baixas têm estado a registar-se com maior intensidade desde a década de 80: em 25 estações (57% do total), o valor extremo registou-se entre 1981 e 2005. No entanto, a década de 40 (particularmente os anos de 1945 e 1949) também foram bastante secos (seis estações ainda registam os recordes dos valores mínimos).

Ou seja, estamos muito longe de poder considerar esta situação inédita e é completamente estapafúrdio dizer, como o Instituto da Água defende, estarmos perante uma seca com períodos de retorno de 300 anos em algumas regiões.

O problema da seca não tem, como por vezes se confunde, apenas a ver com a precipitação, mas também - e por vezes sobretudo - com a gestão dos recursos hídricos. Comparar um período de reduzida precipitação em 1945 e em 2005 nem sequer faz muito sentido se quisermos comparar situações de seca. Isto porque, se por um lados, em 1945 não tinhamos os consumos de água que hoje temos, também é verdade que a capacidade de armazenamento da água em albufeiras era ínfima (a maioria das barragens somente começaram a ser construídas a partir da década de 50 do século passado).

Se esta seca tem alguma virtude é a de fazer repensar a estratégia do uso da água em Portugal. Não podemos continuar a pensar que o São Pedro há-de ser sempre benévolo e não fazer uma gestão prudente da água. Se a gestão dos recursos hídricos fosse feita partindo sempre do pressuposto de que no ano seguinte teriamos uma seca, provavelmente nunca mais sofreriamos os seus efeitos...

4/13/2005

À Margem Ambiental LIX

Nova sondagem, desta vez sobre as responsabilidades da seca em Portugal. Podem votar, sff.

P.S. A outra sondagem como não a retirei no final do mês - e continuou a haver votos -, irei mantê-la até ao fim da semana.
À Margem Ambiental LVIII

Pedem-me para fazer um comentário sobre o novo secretário de Estado das Florestas, Rui Gonçalves e aqui vai ele:

Conheço-o bem, desde os tempos em que esteve no Instituto de Meteorologia (ou mesmo antes, acho eu...), e embora não tenha gostado muito do seu desempenho como secretário de Estado do Ambiente (entre 1999 e 2001), foi sim um excelente chefe de gabinete de Sócrates quando este foi secretário de Estado entre 1995 e 1998. A ele Sócrates deveu a sua formação e tarimba na área ambiental. Sei que entre Sócrates e Rui Gonçalves houve depois uns desentendimentos quando o primeiro foi ministro e o segundo secretário de Estado - razão pela qual Sócrates passou a preferir Pedro Silva Pereira -, mas uma reaproximação recente fez com que seja com naturalidade que lhe foi concedido um cargo de secretário de Estado (ou seja, foi uma indicação expressa de Sócrates).

O facto do cargo ser o de secretário de Estado das Florestas, acho óptimo; é um cargo político com uma componente técnica muito importante e, apesar dele não ser deste sector, penso que o Rui Gonçalves terá a sensibilidade necessária para introduzir um conceito (e uma prática) de sustentabilidade à nossa floresta, que não passe apenas pela produção. Em qualquer dos casos, a favor dele e do Ministro da Agricultura já há a contabilizar a questão da Herdade da Vargem Fresca.

4/12/2005

Farpas Verdes CCVII

A estratégia já é conhecida: primeiro tenta-se minimizar, esperando que as coisas por si só se endireitem; quando se vê que não há milagres, então passa-se à fase da exacerbação. Estou a referir-me à seca. O comportamento do Instituto da Água é um paradigma deste comportamento a que me refiro. Andou primeiro meses a fio a dizer que não havia drama (não choveu quase nada em Novembro, Dezembro e Janeiro) - o que, de facto, configurava algo dramático; depois acordou com as «calças na mão» e achou agora conveniente arranjar uma seca de carácter excepcionalíssimo, com um período de retorno de 300 anos!!!! Ou seja, acordou tarde e agora tenta fazer crer que a culpa é só do São Pedro.

Vou tentar investigar este assunto (com o tempo que me é possível), mas embora estejamos, de facto, com uma grande seca, não me parece que seja assim tão insólita. Nada insólito é sim que quando chove pouco num ano em Portugal é sempre um ai Jesus!
Farpas Verdes CCVI

A Direcção-Geral dos Impostos (DGCI) detectou um desvio superior a 538 milhões de euros entre os valores declarados nas escrituras de venda de imóveis e a avaliação feita pelo Fisco, revelou ontem a comunicação social. Este é um velho problema - sobre o qual já aqui e noutros sítios (e tempos) escrevi - e que se deve «somente» ao facto de existir um imposto denominado sisa (com o novo nome que não há jeitos de o decorar).

Enquanto este imposto existir nos moldes actuais, haverá sempre fugas (embora possam ser menos flagrantes do que até agora). Por isso, continuo a defender que mais valia (e daria mais-valias ao Estado) que se terminasse com este imposto, de modo a que o comprador não tivesse qualquer interesse em fazer uma escritura com o valor inferior. Assim sendo, os lucros das imobiliárias seriam reais - e não fictícios, como até agora - e o Estado receberia mais em sede de IRC.
Derivações Ambientais XVI

A posição do escritor cabo-verdiano Germano de Almeida (vd. notícia Expresso Online)sobre a eventualidade da entrada de Cabo Verde na União Europeia - apoiada por Mário Soares e Adriano Moreira - é uma pérola de lucidez e uma crítica sibilina aos países ditos desenvolvidos de «obrigarem» os outros países a seguirem-lhe o modelo.

Diz Germano de Almeida, de forma lapidar, «Nós - Cabo Verde - não podemos ser europeus, porque somos pretos!». Esta frase, em si mesma, é de uma lógica cristalina; e chama as coisas pelos nomes, sem qualquer conotação racista de parte a parte (embora se fosse um europeu a dizê-lo desta forma, obviamente ficava com essa fama...). Tal como a Turquia nada tem a ver com a cultura europeia (e a sua inclusão, serve apenas para abrir uma porta ao Médio Oriente), também Cabo Verde nada tem a ver com a Europa. Alegar que Cabo Verde estar na regoião macaronésica (como Açores, Madeira e as Canárias) e por isso perto de territórios europeus, seria o mesmo que defender a inclusão da Argentina porque está perto das inglesas ilhas Falkland.

Mas, um apsecto importante da mensagem de Germano de Almeida infere que o futuro de Cabo Verde pode não ser o melhor sem entrar na União Europeia, mas preservam o direito ao seu futuro, qualquer que ele seja. E isso, por vezes, é sagrado.

4/09/2005

Derivações ambientais XVI

A decisão do Governo em limitar os mandatos dos presidentes das autarquias em 12 anos é uma medida de salutar frescura no panorama político do país, por razões óbvias e conhecidas.

Contudo, convém ver o diploma que irá concretizar, esta medida, para ver como se resolvem as seguintes questões/dúvidas:

a) depois de um período de 12 anos, o presidente poderá recandidatar-se para o mesmo cargo quatro anos depois?

b) caso presidente da autarquia interrompa, ao longo dos 12 anos, o mandato por um certo período (mínimo que seja, nem que seja nas férias) - de modo a não completar os 12 anos completos no terceiro mandato), poderá recandidatar-se a um quarto mandato, mantendo-se assim no cargo por um período de mais quatro anos, tendo em conta que não será «possível» demiti-lo de um lugar elegível?

c) pode o presidente da autarquia que complete os 12 anos, candidatar-se numa lista como vereador? E se sim, poderá depois assumir o cargo de presidente por eventual desistência do presidente eleito?

d) e mesmo que não possa, como garantir que esse presidente eleito não seja um «fantoche» do vereador, antigo presidente por 12 anos?

e) esta contagem incluirá vereadores? E se sim (como seria lógico), como se procederá? Um vereador que o seja, por exemplo, em dois mandatos, somente poderá ser eleito como presidente da autarquia por um mandato?

Estas são, apenas, algumas dúvidas (outras haverá), mas por certo suficientes para criar engulhos no sistema de partidirite aguda. Se o Governo conseguir uma boa lei, felizes estaremos. Se não, mais vale estarem quietos.

4/08/2005

Farpas Verdes CCV

O «chumbo» do Presidente da República à instalação de um casino em pleno Parque Natural da Serra da Estrela é uma decisão a aplaudir. Mais uma vez estamos perante uma tentativa de última hora de um Governo em relação a um projecto que já há alguns anos (julgo que em 2000) tinha sido anunciado (e «chumbado») pelos impactes ambientais (já para não falar sociais) que implicaria na região.É uma pena ver que os empresários e autarcas consideram como projectos estruturantes para o desenvolvimento de uma região a instalação de um casino. Aliás, não vale a pena sequer fazer grandes análises económicas para mostrar que a viabilidade económica de um casino «apenas» seria obtido se a reboque surgissem empreendimentos turísticos, vivendas de segunda habitação, centro comerciais, etc. E querer criar uma Las Vegas na Serra da Estrela, não obrigado!

4/07/2005

À Margem Ambiental LVII

Depois de um longo período de inoperacionalidade, o Weblog retomou o ranking dos blogs no Technorati. O Estrago da Nação conseguiu, pela primeira vez na sua existência, chegar ao top 100. Na última classificação está colocado num honroso 97º lugar, com uma média de 145 visitantes diários.

Já um blog-irmão, o Ambiente no Mundo - não actualizável, que contém um conjunto de textos que escrevi sobre o estado do ambiente a nível mundial, a pretexto da Conferência de Joanesburgo de 2002 - está também a registar um aumento relevante. Tem uma média de 63 visitas diárias, ocupando o 181º lugar. Aliás, este blog atinge, para mim, os objectivos de divulgação ambiental que pretendi e, curiosamente, a nível internacional. Na verdade, regra geral, cerca de 2/3 dos visitantes fazem acesso através do Brasil, recorrendo a pesquisadores como o Google ou Yahoo.

4/05/2005

Derivações ambientais XV

O impagável José Maria Martins, advogado do Bibi da Casa Pia, está na blogoesfera. Pela amostra do post inicial, teme-se o pior. Estamos aqui, estamos a vê-lo na política, talvez entre o PND e o PNR.
Á Margem Ambiental LVI

Nas minhas deambulações internáuticas reparei que tenho um xará brasileiro que escreve sobre ambiente. Chama-se Pedro Vieira, embora tenha como primeiro nome próprio Tarcísio. Também é certo que a faceta ecológica é versada numa vertente mais mística da ecologia: Deus. O livro intitula-se «Nosso Deus: Um Deus Ecológico».

Quando puder, hei-de comprar o livro, pela curiosidade. A sinopse que apresento em baixo promete boas «revelações».

Clique aqui para ver Nosso Deus: um Deus Ecológico, de TARCÍSIO PEDRO VIEIRA no Submarino.com.br
Nosso Deus: um Deus Ecológico
TARCÍSIO PEDRO VIEIRA

Sinopse: Já não há mais dúvidas: a crise ecológica é expressão e conseqüência de uma crise profunda entre o ser humano e Deus. Ao deixar Deus de lado, à margem, o ser humano tornou-se desumano, esqueceu-se que era ¨co-criador¨, guardião da netureza. Desvirtuou o sentido da criação. Pensou ser o ¨senhor absoluto de tudo¨. Somente re-descobrindo o Deus da Vida. Experienciando a Vida de Deus, será possível uma verdadeira transformação da situação atual da crise ecológica.

Farpas Verdes CCIV

Lembro-me que, em 2002, escrevi uma reportagem na revista então mensal Grande Reportagem sobre o litoral alentejano, onde além de referir as pressões imobiliárias sobre aquela região, revelava que o Supremo Tribunal Administartivo tinha considerado o PROTALI ferido de nulidade. Juridicamente, é inexistente. Desde essa altura nada foi feito - ou para corrigir a portaria ferida de nulidade ou para rever o regulamento, prometido há não sei quantos anos. O tempo passa, as coisas esquecem-se, mas os interesses nunca morrem (vd. Herdade da Vargem Fresca, em Benavente).

Por isso, é com apreensão que recebo um mail de um leitor com o seguinte aviso:

Venho somente alertar para dois projectos que estão em consulta pública durante mais alguns dias. Trata-se de uma urbanização turística e de um campo de golfe para a zona das Fontaínhas, cerca de 5 km a norte de Melides.
Entendo como desejável que a magnífica costa que vai de Tróia a Sines seja turísticamente aproveitada. Mas temo que, sob a capa de turismo sustentável e amigo do ambiente, estejamos a estragar aquele magnífico litoral.
Em Janeiro, se não me falha a memória, saiu um artigo no Público sobre um empreendimento que julgo ser este...coitado do Suiço que não o deixam construir este empreendimento de qualidade e amigo do ambiente.

O PROTALI está em revisão há imenso tempo ... o que se tem feito?. Deverá ser este o instrumento que deve ter a visão de conjunto. Não basta dizer que os projectos são de qualidade...até porque a soma de vários projectos de qualidade não significa automaticamente qualidade. Pelos jornais ouve-se falar em vários projectos para aquela área.
É o PROTALI o momento adequado para promover a participação das pessoas, em especial dos locais.

Confesso que me faz uma certa confusão ver o estado da Praia de Melides (que depois de há uns anos se terem demolido as barracas pouco mais se fez) ou da Praia de Sto André e depois ver investimentos noutras Praias (classificadas como no POOC para terem uma carga menor) que acabam por favorecer o aumento do número de pessoas.
Farpas Verdes CCIII

Considero que existem pessoas para as quais as suas declarações ou posições nem devem merecer comentários, pois, em si mesmas, mostram a sua «qualidade». Por isso, somente aqui ficam as afirmações da estilista Fátima Lopes (chamada de atenção do Ondas) sobre o uso de peles verdadeiras, feitas durante o Portugal Fashion. Diz a senhora que «não mato animais, apenas compro as peles e faço negócios legais», acrescentando depois que «sou uma criadora internacional e Portugal não pode continuar a ser um país de Terceiro Mundo! Não percebo porque é que se pode matar uma vaca e uma raposa não!?».

Somente vale a pena discutir a diferença entre legalidade e ética, entre matar ou promover a matança, entre países do Terceiro Mundo e desenvolvido, e entre uma vaca e uma raposa, com pessoas imputáveis. E Fátima Lopes é inimputável. Uma coisa é certa: no dia em que o seu negócio for prejudicado por usar peles, ainda a veremos em manifestações públicas a mostrar os seus implantes a favor das peles sintéticas.
Farpas Verdes CCII

O ex-presidente da República, Mário Soares, veio ontem criticar o Governo socialista por ter mantido a tutela do Mar no Ministério da Defesa. Esta «aberração» introduzida pelo Governo de Santana Lopes deveria ter sido a primeira das medidas de «sanitárias» a ser tomada. Não fa zqualquer sentido olhar para o mar numa perspectiva de defesa nacional, mas sim numa defesa de recursos naturais. Não significa isso que por a tutela ficar no Ministério do Ambiente não haja a (devida) colaboração das autoridades da defesa (nomeadamente no combate ao tráfico e de controlo pesqueiro e de navegação marítima).

Por outro lado, o anterior Ministério da Defesa tinha ainda mais uma outra aberração: tutelava os troços navegáveis dos rios.

Penso que ainda há tempo do Primeiro-Ministro corrigir esta situação; ficariamos assim apenas a pensar que foi uma distracção.

4/01/2005

Farpas Verdes CCI

O argumento do presidente da autarquia de Lisboa, Santana Lopes, ao «chumbar» o pedido de referendo do túnel do Marquês, de que este projecto constava nas suas promessas eleitorais e que, portanto, tinha sido «ratificado» pelo voto popular e alvo de uma audiência pública (fantoche, acrescento eu), constitui um desrespeito pela democracia.

A diferença entre um ditador e um democrata não está apenas no facto de o primeiro gerir uma ditadura e o segundo gerir uma democracia. Não está também de um ter sido legitimado pela força e o outro pelo voto. Está, sim, na forma como se exerce o poder. O túnel do Marquês é um projecto que deveria merecer uma análise mais cuidada e ponderada pelos evidentes efeitos para o futuro da cidade e da sua envolvente. Avançar, desta forma, é um capricho que sairá caro a todos os títulos. E demonstra, afinal, o receio de Santana Lopes de que afinal Lisboa poderá não concordar tanto assim com este projecto (aliás, é anedótico julgar que ele foi eleito «apenas» por prometer um túnel).

Por outro lado, a atitude dos socialistas - ao votar também o «chumbo» do referendo - é uma lamentável jogada eleitoralista apenas para evitar as eventuais críticas do PSD. Não lhes fica bem, porque a coragem de defender causas, mesmo custando eventuais votos, é que faz ganhar eleições.
Farpas Verdes CC

Não fiquei nada surpreendido com os dados estatísticos que revelaram que Portugal, no ano passado, mesmo com o Euro 2004 e a proliferação das viagens «low cost», tenha decrescido em 0,4% as receitas do turismo. Esta é uma questão estrutural que radica no desordenamento e na evidente perda das qualidades paisagísticas do país. E tem tendência a agravar; não a inverter.
À Margem Ambiental LV

Terminou a sondagem sobre a avaliação da «costela ambiental» do Governo. Votaram 59 visitantes e a média final ficou em 6,02 pontos. Atendendo, contudo, que 56% dos votantes atribuiram 7 ou mais pontos, pode-se dizer que as expectativas estão bastante elevadas.

Revelo que atribui 8 pontos a este Governo, advindo das razões que coloquei noutros posts. E somente não atribui a nota máxima, na esperança de que, com o passar do tempo, possa ainda subir a minha apreciação. No entanto, por outro lado, foi também para evitar elevar em demasia as expectativas. Em todo o caso, reitero que Portugal tem uma, talvez derradeira, oportunidade de inverter o estado caótico em matéria de ambiente e urbanismo.


Como avalia (1-10) a composição do Governo em termos de ambiente?
Selection
Votes
1 ponto 19%11
2 pontos 7%4
3 pontos 3%2
4 pontos 3%2
5 pontos 7%4
6 pontos 5%3
7 pontos 12%7
8 pontos 15%9
9 pontos 12%7
10 pontos 17%10
59 votes total