12/27/2007

Enterrar dinheiro

Em Portugal, todos os projectos idiotas têm tantas vidas como os gatos.  Este aqui, o de atravessar o maciço central da Serra da Estrela com túneis, já tinha sido pensado há cerca de uma década (recordo-me de escrever sobre isso no Expresso), num Governo socialistas, ficando (e ainda bem) em águas de bacalhau. Mas não morto nem enterrado. Surge agora de novo, o que demonstra que autarcas e políticos pensam que o país é rico e que se desenvolve com estradas. Não aprendem nada, portanto.

12/22/2007

Planeamento volúvel

Ontem saiu em Diário da República a aprovação de um conjunto de planos de ordenamento de albufeiras. Nisto, o que mais me chama a atenção são as alterações nas áreas de Reserva Ecológica Nacional que isso implicou em mais de uma dezena de municípios. Acredito, pelo que tem sido norma, que essas alterações tenham sido não acrescentos, mas sim reduções de área.

Mas independentemente de terem sido acréscimo ou reduções, é interessante reparar no carácter volúvel destes instrumentos de planeamento em Portugal, que têm funcionado sobretudo como formas de especulação e criação de mais-valias. Nada é perene no nosso país, basta a vontade de um Conselho de Ministros: o que ontem era protegido, hoje deixa de o ser. E há quem bata palmas de contentamento, com a conta bancária a inchar de mais-valias a encaixar num futuro breve. Tudo dentro da legalidade, claro.

12/20/2007

O Estado não deveria ser como uma empresa?

Se o presidente de uma holding mandasse uma sua empresa-filha investir no Brasil e o presidente dessa empresa-filha nem pestanejasse apesar de ser um negócio de elevado risco e, passado uns anos, se confirmasse o descalabro financeiro – com a holding a ter de encaixar um prejuízo de 100 milhões de euros, o que acham que aconteceria?

Agora, imaginemos (vd. aqui, porque é verdade) que um ministro do Ambiente propõe que a Águas de Portugal invista no Brasil – apesar de haver tanta necessidade de investimento em Portugal – e que o presidente da Águas de Portugal diz amen, e que passado uns anos o Estado tem de se encaixar um prejuízo de 100 milhões de euros, o que acham que acontecerá?

Eu respondo: nada! Porque o ministro do Ambiente é agora primeiro-ministro e o presidente das Águas de Portugal é agora ministro das Obras Públicas.

12/18/2007

Pedro e o lobo

Já não há pachorra. Prevê-se uma chuva, vem a Protecção Civil e o Instituto de Meteorologia avisar que há não sei quantos distritos em alerta. Prevê-se uma ondulação, idem. Prevê-se frio, novo aviso. Prevê-se vento, mais uns alertas. Vai-se depois a ver e ou nada acontece ou aquilo que acontece é coisa, portanto, natural. Um dia em que venha mesmo algo excepcional já ninguém acreditará. E a tragédia apanhará todos desprevenidos.

A montanha pariu um rato

O abaixo-assinado contras as supostas normas da Autoridade Nacional de Segurança Alimentar e Económica (que já contava com 9 mil assinaturas) parece que é um disparate. Está aqui a confirmação. É por essa e por outras que abaixo-assinados via Internet só assino quando sei quem são os promotores (e reconheço a sua seriedade) tenho mesmo a certeza absoluta do que está em causa.

12/17/2007

Um ministro impressionável

Como se sabe, a conferência em Bali sobre alterações climáticas deu em nada. Ou melhor, nada mais fez do que dizer que, sim senhor, é importante reduzir ainda mais as emissões de gases com efeito de estufa, que todos se comprometem a reduzi-los no futuro (até os Estados Unidos), mas não houve compromissos expressos, que ficaram adiados.

Mas o ministro do Ambiente português, Nunes Correia, parece que esteve num filme diferente e veio dizer-nos, via Agência Lusa, que a Conferência de Bali registou momentos de «grande tensão e suspense» e de um «dramatismo enorme». Impressiona-se com pouco, o nosso ministro...

12/15/2007

Bacalhau e bom proveito

Surgiu na blogosfera – e não só – uma polémica em torno da sugestão dos ambientalistas que recomendaram que se reduzisse o consumo de bacalhau no Natal por causa da regressão desta espécie. Gostaria de fazer uma premissa incial: não concordo, na maior parte dos casos, com a mensagem que alguns ambientalistas transmitem para alertar sobre algum problema; porém (e sabe-se bem isso nos media), por vezes na selecção dos «soundbytes» a imprensa sintetiza explicações e destaca as «bojardas» mais polémicas.

Posto isto, é certo que os portugueses não são os únicos «devoradores de bacalhau». Se assim fosse, cada português teria que despachar 84 Kg/ano de fiel amigo (e, na verdade, cada português, no total de toda a bicheza com escamas anda em pouco menos de 60 Kg/ano, o que até, salvo erro, o valor mais elevado da UE). Muitos outros países europeus e não só dão ao dente com bacalhau na boca. E não surpreende, visto que esta espécie é a 12ª mais pescada a nível mundial.

Ora, a questão essencial é saber se essa aparente abundância justifica alarmismos do género «não coma tanto bacalhau». E aí depende das perspectivas, sendo assim necessário olhar e analisar indicadores. Se actualmente se captura, por ano, um pouco menos de 900 mil toneladas, talvez o facto de na década de 60 se ter pescado por ano quase sempre mais de 3 milhões toneladas (o recorde foi em 1968 com cerca de 3,94 milhões de toneladas) mostre que algo não está a correr bem.

Esta profunda regressão (estamos a falar numa redução de mais de 75% nas capturas em apenas 40 anos!) poder-se-ia justificar por uma questão de menor procura (esforço de captura diminuia) ou então por uma exasutão dos stocks (captura diminui por razões ecológicas de sobrepesca anterior). Ora, é nesta segunda hipótese em que se encontra o bacalhau: o esforço de pesca foi excessivo (e não é de agora) e não está a ocorrer uma reposição sustentável dos stocks.

Obviamente que não é por deixar de se comer bacalhau num Natal que as coisas mudam. Nem será previsível que o bacalhau desapareça completamente. O problema será outro, sobretudo económico. A pesca do bacalhau é apetecível apenas quando pescado em grandes quantidades e, por isso, naturalmente que agravando-se a «oferta» no mar começará a diminuir o esforço de pesca, o que garante a sobrevivência do bacalhau como espécie, mas não como espécie de interesse comercial. Donde advirá, nessas circunstãncias, que o bacalhau aumentará ainda mais de preço, transformando-se num produto alimentar de luxo (diminuindo a oferta no mercado, aumenta o preço unitário). Mas, em suma, nunca será previsível que ocorra uma simples extinção do bacalhau. Pode sim «extinguir-se» como peixe comummente usado na gastronomia portuguesa.

Porém, pode ser até que este problema nem se coloque. Há cerca de um ano tive conhecimento de que existem aquaculturas de bacalhau em exploração, embora com quantidades ainda bastante reduzidas! De acordo com dados da FAO, essa exploração terá até começado nos finais dos anos 80, tendo atingido 3.812 toneladas em 2004. Será actualmente uma gota de água nas capturas totais (não chega a meio por cento), mas pode ser que evolua no futuro e que aconteça com o bacalhau aquilo que ocorreu com a dourada. De facto, a dourada até aos anos 60 era apenas capturada no mar, mas agora é maioritariamente de «aviário» (o ano de 1991 foi o último em que as capturas em mar foram superiores às de aquacultura; e em 2004 as capturas em mar representavam menos de 9% do total de toda a dourada capturada). Resta saber se a aquacultura de bacalhau pode ter crescimento similar e, sobretudo, se o sabor será semelhante ao que actualmente comemos, mas sobre esta última parte saberás melhor do que eu.

Deixo aqui um link dos dados do Ecoline (que tratei há cerca de um ano), onde basta clicar no bacalhau, na info, para se ver a evolução das capturas de bacalhau nas últimas décadas.



12/12/2007

Extremismos duplos

Corre, por aí, um abaixo-assinado sobre o extremismo da ASAE com as normas higieno-sanitárias. Pessoalmente, também considero que existe algum extremismo, mas isso não é decorrente da acção da ASAE, mas sim da legislação comunitária cega que o Governo português não soube negociar e adaptar a algumas tradições nacionais.

Por mim, não assino este abaixo-assinado porque, pela primeira vez, se vê uma autoridade exercer a lei de forma igualitária e rigorosa - e as vantagens superam as desvantagens (que devem, é certo, ser discutidas). Mas, por exemplo, assinaria um abaixo-assinado no sentido de atribuir as competências de fiscalização da água para consumo humano à ASAE em vez de continuar no insonso Instituto Regulador de Águas e Resíduos. É que enquanto por exemplos um suinicutor pode ser multado se não der água com qualidade aos seus porcos, aos autarcas portugueses nada acontece se derem água de má qualidade às suas populações. E a água contaminada é, provavelmente, uma das causas principais de doenças do foro alimentar. 

12/09/2007

Ainda os plásticos

Este meu post sobre a idiota proposta do Ministério do Ambiente suscitou reacções de alguns dos meus leitores. Ora, gostaria de concretrizar que a ideia é idiota, porque de forma descarada pretendia tão-somente sacar um financiamento que nem sequer se destinava ao sector dos resíduos mas sim para o Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade.
Não sendo os sacos de plástico a questão mais candente na área dos resíduos, não me parece que um imposto de 5 cêntimos (o que faria que houvesse um duplo imposto, já que se pagam os sacos como embalagens à Sociedade Ponto Verde) levasse a uma significativa redução da quantidade de plásticos nos resíduos.
Na verdade, preocupa-me mais - e aí sim há um campo enorme para intervir - a forma como tem vindo a aumentar a quantidade de embalagens que acabam, obviamente, no lixo. Por exemplo,as normas que a ASAE pretende impor de trocar copos de vidro por copos de plástico ou embalar tudo e mais alguma coisa acaba por ser muito mais lesivo para o ambiente, sem que haja uma evidente vantagem do ponto de vista da segurança alimentar.
Por outro lado, gostaria mais de ver uma estratégia de redução que tentasse demonstrar às pessoas o custo económico do excesso de embalagens, que as pudesse levar a uma postura mais adequada aquando da escolha dos produtos. Por exemplo, cada produto que se comprasse numa loja poderia - e não me parece que seja complicado - ter expresso o valor que se paga à Sociedade Ponto Verde por causa das embalagens.E aí o consumidor vinha para casa com a factura e a matutar naquilo que pagou pelo produto em si, pelo IVA e pelas embalagens que acabam no lixo. Dessa forma, talvez começasse a olhar com outros olhos para esta questão e passar a tomar melhores opções ambientais e económicas.

12/05/2007

Sugestão ao Ministério do Ambiente

Que tal começar a aplicar um imposto sobre o dióxido de carbono que emitimos dos nossos pulmões? Podia servir para financiar, digamos por exemplo, o Instituto da Água...

Ideia idiota

De quando em vez, lá para os lados da rua do Século, surgem ideias. O nascimento de uma ideia, em si mesmo, é de aplaudir. Porém, quando se ouve a ideia, alguém de bom senso consegue saber se ela tem pernas para andar ou se, a dita ideia, é uma idiotice.

Vem isto a pretexto da ideia do Ministério do Ambiente em aplicar uma eco-taxa de 5 cêntimos aos sacos de plástico. E isto porque os referidos sacos dificultavam «as operações de recolha e tratamento de resíduos sólidos» e afectavam «as redes de saneamento de águas e contribuindo para a deterioração da paisagem e para a poluição». Ora, parece-me a mim que, por estranho que possa parecer, os sacos de plástico até facilitam as operações de recolha de lixos (imaginemos como seria despejar o lixo directamente nos contentores ou, como é o caso da minha rua, em plena via público porque a autarquia de Lisboa não coloca aqui qualquer contentor). Além disso, os sacos de plástico das compras podem ser reutilizados substituindo os normais sacos do lixo (por exemplo, há que não os compro). Por outro lado, não me parece que seja por causa de sacos de plástico que as redes de saneamento são afectadas.

Mas onde achei mais piada a esta proposta - e que mostrou que a «coisa» tinha pouco de ambientalista mas sim de um simples imposto - foi no destino da verba recolhida. Tratando-se de um imposto que tinha como objectivo reduzir os problemas na área dos resíduos e águas residuais, não fazia nenhum sentido que as verbas fossem destinadas às áreas protegidas. Dava a ideia de que alguém terá andado a magicar onde ir sacar mais uns punhados de cobres aos cidadãos. Alguém de pouco senso ter-se-á lembrado dos sacos de plástico. Esdrúxula ideia que, poucas horas depois de sair no jornal Público, foi deitada ao lixo.... talvez num saco de plástico.

11/30/2007

Um secretário alheado

O secretario de Estado do Ordenamento do Território, JoãoFerrão, de quem tenho especial apreço como técnico, continua alheado do fundamental e não consegue vislumbrar o descrédito da política ambiental do próprio Ministério que ocupa. Ontem, surgiu a anunciar a sua intenção de rever a Lei dos Solos, lesgislação que não sofre alterações desde 1980. Seria iniciativa a aplaudir não fosse o caso de ser essa lei completamente inócua e inócua será sempre enquanto o seu Ministério e ele próprio, nem que seja por omissão, continuarem a dizer amen sempre que o Governo decreta um regime de excepção para pespegar um PIN em qualquer lado. Mesmo em solos de boa qualidade.

E já agora, anunciou ele também que o documento será colocado em consulta pública no primeiro trimestre do próximo ano. Será, pergunto, uma consulta pública do género daquela anunciada pelo ministro do Ambiente para o Plano Nacional das Barragens? Ou seja, que é feita mas não serve para nada porque a decisão está atomada?

11/27/2007

Estradas sim, hospitais não

O primeiro-ministro, José Sócrates, prometeu, no fim-de-semana passado, que dentro de quatro anos a população de Bragança não terá mais de se deslocar por Espanha para andar em boas estradas. E que era «altura de fazer justiça ao único distrito do país sem um quilómetro de auto-estrada» daí que até 2011 existirão quase 400 quilómetros de novas vias, em que se incluem itinerários.

Eis aqui o conceito de desenvolvimento e de justiça propalada pelo Governo: estradas numa região sem gente. Com estradas mostraremos aos espanhóis que não precisamos deles. Mas já agora mantenham eles os hospitais nas cidades junto à fronteira. Disso os portugueses continuarão a necessitar...

O princípio do preservador-recebedor

A proposta da Indonésia, já secundada pelo Equador - e espera-se que seja seguida por outros países -, de que se crie um fundo de apoio para os países que detenham grandes áreas florestais, devido ao seu contributo para a retenção de dióxido de carbono, constitui uma ideia justa e que, aliás, deveria ser levada à prática noutros sectores.

Por exemplo, em Portugal deveriam os concelhos com áreas protegidas receber muito mais dinheiro do que as «migalhas» actualmente previstas no Orçamento Geral do Estado, tal como os concelhos abrangidas por bacias hidrográficas que constituem importantes origem de água ou de energia hidroeléctrica também deveriam ser compensadas. Tal como o princípio do poluidor-pagador, deveria começar-se a impor o princípio do «preservador-recebedor».

11/26/2007

O mundo dos advogados

Colocado no Reportagens Ambientais, o meu último trabalho publicado na revista Notícias Sábado. Não é sobre ambiente - mais uma vez (estou a querer variar) -, mas sim sobre advogados.

11/25/2007

Lágrimas de corcodilo

O Presidente da República lamenta a desertificação do interior, dizendo que se deve à «escassez de iniciativa empresarial». O Presidente da República, porém, deveria também lamentar-se por todos os Governos, incluindo os seus. Lembremo-nos, aliás, que esteve à frente do Governo entre 1985 e 1995 – a época de ouro em termos de fundos comunitários que deveria, exactamente, promover também a iniciativa empresarial no interior. Mas, pronto, tudo isto é normal: governantes que ajudam a enterrar o interior surgiram, mais tarde, com outra roupagem, chorar lágrimas de corcodilo.
 
No Reportagens Ambientais, coloquei um dos capítulos do livro «Estrago da Nação». Tem já mais de quatro anos, mas mantém-se actual.

Cumprir com o nosso dinheiro

No seu estilo de nos julgar tolos, veio o Governo na sua página de propaganda garantir que «Portugal vai cumprir o Protocolo de Quioto na íntegra». E como vai isso acontecer quando todas as estimativas apontam para que o nosso país vai exceder largamente os compromissos internacionais. Diz o Governo que de três modos, a saber:

- com o Programa Nacional para as Alterações Climáticas, revisto em 2006, elencando um conjunto reforçado de medidas internas de redução de emissões;
- com o Plano Nacional de Atribuição de Licenças de Emissão, em fase final de aprovação, e pelo qual se limitam as emissões do sector industrial e electroprodutor;
- com o Fundo Português de Carbono, pelo qual se investirá até 348 milhões de euros até 2012 para aquisição de créditos de redução de emissões.
No caso do PNAC, as medidas são tão pífias e praticamente sem ser aplicadas que as reduções serão quase irrisórias. No caso do PNALE, as benesses concedidas às indústrias não vão aplicar, para elas, qualquer esforço de redução, passando a nós, contribuintes, a batata quente.

Resta assim o Fundo Português de Carbono – ou seja, os tais 348 milhões de euros até 2012. Mas, pergunta simples e pertinente: mas o que é este fundo senão financiado por receitas provenientes dos impostos pagos pelos contribuintes? Ou seja, Portugal cumprirá porque os contribuintes portugueses pagam. E se pagam, porque o Governo em muitos casos foi negligente – e até promoveu o aumento das emissões de dióxido de carbono, aumento esse que não se repercutiu em melhoria económica –, deveríamos ser, pelo menos, mais respeitados e não nos julgarem parvos. É que cumprir um protocolo com o dinheiro dos outros é muito fácil.

11/20/2007

O País (In)Sustentável

No próximo dia 22, quinta-feira, a Luísa Schmidt irá lançar o seu mais recente livro: «O País (In)Sustentável», que é sobretudo uma compilação actualizada dos seus artigos publicados no Expresso ao longo dos últimos anos. Será no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, em Lisboa (junto ao Chiado), pelas 18 horas, e conta com a apresentação de Carlos Pimenta e João Cravinho. Apareçam...

11/19/2007

Obrigado, santo xará

Se não fosse o São Pedro, os incêndios não terminavam. A chuvinha veio, finalmente, acabar com os incêndios deste ano. Ainda ontem houve mais uns quantos (centenas de fogachos e fogos, parece), uns dos quais com mais de 24 horas a lavrar. Para o ano há mais - e provavelmente pior, porque isso de haver Verões com chuva copiosa não dura sempre.

Foi um erro

Tive a triste ideia de passar a noite do meu aniversário em Leiria a ver o jogo da Selecção Nacional (deveria escrever com minúsculas). Aos três minutos, Simão faz o mais díficl e acerta no poste. Dois minutos depois, uns cinco polícias vão à bancada, onde estou, buscar um suposto ladrão, enchendo-o de porrada e arrastando-o por entre filas onde estavam imensas crianças. O espectáculo e a emoção acabaram aqui! (dizem que alguém marcou um golo, entretanto...)

O resto do jogo só não foi um bocejo porque a boca não quis abrir por causa do frio. Mas a minha mente desejava ardentemente que uns quantos grupos de cinco polícias da pesada fossem ao relvado e arrastassem os jogadores como fizeram com o outro na bancada.

 

11/18/2007

A demissão florestal

A demissão do director-geral dos Recursos Florestais, Francisco Rego, é mais um aviso para os perigos de técnicos credenciados meterem-se em cargos políticos. Podem acabar demitidos sumariamente por gente de menores créditos. Se o sector primário em Portugal está moribundo, o actual ministro tem mostrado que não tem ideias sobre o sector florestal, mais ainda porque o secretário de Estado, Rui Gonçalves, está engavetado há muito. Esta demissão – que surgiu no dia em que se divulgou uma história esquisita da futura sede da DGRF (vd. aqui notícia no Público) – terá também a ver com as operações de erradicação do nemátodo do pinheiro, uma praga cuja evolução está longe de estar erradicada porque provavelmente interessará a muita gente que continue porque passou a ser um bom negócio...

Nota: Sobre a questão do nemátodo voltarei ao tema, em breve.

Fogo para aquecer

Em Vila Real e em Viana do Castelo estavam, à meia-noite de hoje, 8 graus centígrados. Ou seja, um frio que já dá para rachar. Mesmo assim, três fogos encontravam-se activos há mais de seis horas nestes dois distritos. Fica aqui o registo para mostrar, à saciedade, que o fogo em Portugal prolonga-se em função da falta de chuva, não das temperaturas mais ou menos elevadas. 

11/12/2007

1000 posts depois ainda dura...

Este post aqui foi a 1000º colocado desde a criação do Estrago da Nação no já longínquo dia 1 de Janeiro de 2004. Só agora reparei, fica portanto o registo.

Um Dia por Lisboa, no Teatro São Luiz

Numa iniciativa do grupo “Um dia Por Lisboa”, vai discutir-se hoje, dia 12 de Novembro, das 18 às 24h, no Teatro S. Luís, no Jardim de Inverno, questões relacionadas com as intervenções na frente ribeirinha de Lisboa. O modelo segue a anterior iniciativa de Junho, em que haverá intervenções de diversas personalidades, seguindo-se, desta vez, um debate a partir das 21:30 horas. Em baixo, segue a lista dos temas e dos particpantes.

Estarão também disponíveis “Speakers Corner”, cabines com sistema de gravação, onde qualquer pessoa poderá deixar os seus depoimentos e opiniões sobre os temas em discussão

O Tejo de Lisboa

António Câmara
Gonçalo Ribeiro Telles
Pedro Prista
Rui Tavares
Augusto Mateus
Raquel Henriques da Silva
José Sarmento Matos


A margem ribeirinha, função e projectos

Nuno Teotónio Pereira
Mário Alves
Luis Ribeiro
João Belo Rodeia
Jorge Gaspar
Rui Alexandre
Duarte Mata
João Gomes da Silva

A administração da margem ribeirinha

João Carvalho
Nuno Portas
José António Pinto Ribeiro
Paulo Saragoça da Matta
Henrique Andrade
Claudia Brandão


Debate Institucional

Fonseca Ferreira
António Costa
Manuel Salgado
Manuel Frasquilho
José Miguel Judice
Rolando Borges Martins

11/08/2007

Uma no cravo, outra na ferradura

Já não me apetece muito falar sobre a co-incineração – o tal processo que foi escolhido em 1996 (há 11 anos) pelo então secretário de Estado-adjunto do Ambiente José Sócrates por ser um processo mais rápido de implementar do que a incineração dedicada.

Apenas gostava de fazer notar duas questões:

a) mais uma vez a Justiça mostra que é muito complexa e que, por vezes, parece um jogo de futebol: tivemos duas deliberações favoráveis à providência cautelar - Tribunais Central Administrativo do Norte e Administrativo e Fiscal de Coimbra – e agora uma decisão contrária do Supremo Tribunal Administrativo que faz valer a sua posição.

b) o caso não vai ficar por aqui, porque a acção principal ainda vai ser julgada, o que, receio, traga novas peripécias a esta(e) interminável novela(o)

Reportagem sobre microcrédito

No Reportagens Ambientais coloquei um trabalho publicado na edição passada da Notícias Sábado. Não é sobre ambiente - aborda os casos de sucesso do microcrédito -, mas quem quiser pode ir até lá...

Chuva ou fogo, eis a questão!

Muita gente está surpreendida pela existência destes incêndios de Outono tardio, alguns dos quais estão a durar pela noite dentro. A questão é muito simples: falta a chuva.

No Verão deste ano, como no do ano passado, não ardeu muito porque anormalmente choveu. Este Outono arde (mesmo com temperaturas amenas, quanto muito primaveris, inferiores a 25 graus) porque anormalmente não chove há mais de duas semanas. Em conclusão: quando chove não arde, quando não chove arde. É este o linear fenómeno dos fogos em Portugal.

11/04/2007

Onde estão os bombeiros voluntários?

Os fogos tardios deste Outono estão a demonstrar sobretudo a falácia do voluntarismo das associações de bombeiros. Terminados os apoios financeiros do Estado para contratação de bombeiros (ou seja, profissionais), poucos são os bombeiros voluntários - do universo dos tais que são 40 mil - que se deslocam para apagar um incêndio.

Vejamos, em concreto: no momento em que escrevo (18:00 horas) estão quatro incêndios não circunscritos, a saber

  • Arcos de Valdevez, que começou às 8:20 horas e tem apenas 15 combatentes
  • Montalegre, que começou às 13:02 horas e tem apenas 15 bombeiros, mas segundo indicações da Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC) alguns são do ICNB, pois está a lavrar em zona do Parque Nacional da Peneda-Gerês
  • Vinhais, que começou às 16:32 horas e que, segundo a ANPC, estão 13 combatentes a caminho (mais de uma hora a lá chegar)
  • Ponte da Barca, que começou às 17:07 horas e tem 6 combatentes.

É certo que estando as temperaturas baixas e a humidade relativa elevada, estes incêndios podem não causar grandes estragos, mas acabam por mostrar que o sistema de voluntariado não existe e apenas está travestido durante o Verão porque os voluntários são pagos. E, portanto, mais uma razão para que sejam profissionalizados e responsabilizados.

Ainda o Business & Biodiversity

Sobre este post na Ambio do Henrique Pereira dos Santos, em resposta ao meu texto (aqui) sobre o programa Business & Biodiversity não tenho muito a acrescentar. Apenas reafirmar que não está em causa se uma empresa tem ou não tem mácula ambiental. É mais uma questão ética. Muitas empresas, com este tipo de programas, choram lágrimas de crocodilo e esfregam as mãos porque, com estas parcerias, compram 
verde a preço barato.

Fui ver, com algum detalhe, os compromissos que, por exemplo, o BES assume com o programa B&B. Basicamente são estudos, promessas, um prémio monetário a atribuir a projectos de conservação (o que fica sempre bem) e investimentos em protecção de três espécies numa zona (Herdade da Poupa, em Idanha-a-Nova), onde o próprio BES tem interesses, pois ali possui um hotel de turismo rural que vive exactamente da biodiversidade.

Ou seja, o BES - e as outras empresas - estão neste programas apenas viradas para si mesmas, para os seus investimentos. Não têm uma postura social, isto é, não se comprometem a investir fora dos seus interesses. Não fazem aquilo que se pode chamar de mecenato ambiental. E, por isso, os benefícios para a sociedade são residuais.

10/30/2007

Comentários sem moderação

Os comentários passam agora, em nova fase experimental, a não necessitar de passar pelo crivo da moderação. Espero que haja contenção, o que, obviamente, significa que, como única regra, os insultos ad hominem devem ser apenas dirigidos para a minha caixa de correio...

A lata não tem limites

Nesta notícia conta-se que José Sócrates, durante a cerimónia de assinatura da parceria internacional sobre o mercado de emissões de carbono, José Sócrates pediu desculpa pela «imodéstia», antes de apresentar país como exemplo a seguir em termos de energias.

E isto porque «colocámos a fasquia em 45 por cento do consumo de electricidade, a partir de energias renováveis, já em 2010», e também porque «em 2005, Portugal foi o pais da UE que mais cresceu na capacidade de produção de energia eólica» e ainda porque « em 2006, tivemos o segundo maior crescimento» e, para finalizar, porque «em 2007 e 2008, temos esperança de nos manter na liderança ao nível da utilização do vento como fonte de energia».

Ora, nem me apetece estar aqui a desmontar este discurso. Já muitos posts escrevi sobre o facto de o crescimento da energia eólica não estar sequer a «tapar» o crescimento dos consumos totais de electricidade. Já também aqui referi que a electricidade representa apenas 1/5 da energia consumida em Portugal e que a energia eólica atinge menos de 2%.

Mas acho que é preciso ter lata para fazer um discurso «imodesto» em que apresenta o caso português como um modelo para a Europa. As imagens que apresento em baixo (que mostram a evolução de Portugal nas emissões de CO2 desde 1990 - base 100) falam bem por si.

10/26/2007

Entrevista a João Soares

Coloquei aqui, no Reportagens Ambientais, a entrevista que fiz a João Soares, antigo presidente da autarquia de Lisboa, publicada na edição de 9 de Outubro da revista Notícias Sábado.

O verdadeiro choque tecnológico

As carmelitas de Fátima estão na crista da onda na tecnologia, conforme se pode ver aqui neste interessante artigo do Diário de Notícias. Painéis solares, piso radiante (e ainda bem, pois são carmelitas descalças) e aproveitamento da água das chuvas.

10/25/2007

Os protocolos lavam mais verde?

Henrique Pereira dos Santos, técnico do Instituto de Conservação da Natureza e que escreve também na Ambio, reagiu a este post, em que eu colocava as minhas reservas sobre os protocolos entre o ICNB e as empresas no âmbito do programa Business & Biodiversity. Escreveu ele o seguinte:

«(...) O ICNB tem tido um papel enzimático, não é responsável pelo que fazem as empresas no quadro da iniciativa. As empresas assumem compromissos públicos e é o público, por exemplo com posts destes, que leva as empresas a empenharem-se ou não nos compromissos que assumem.

Com certeza que o ICNB procura influenciar as decisões das empresas sobre biodiversidade e colabora com elas no sentido de integrar a Biodiversidade nos seus sistemas de gestão, mas não é o fiscal da iniciativa. Esse é o público.

Ainda que me faça alguma impressão a forma como seleccionas algumas empresas para suportar a tua tese e ponhas de lado as que contrariam a tua tese de que por regra as empresas aderentes têm posturas de conflito ambiental (e nem discuto sequer se tens razão na análise da postura das empresas que citas) não deixo de te perguntar: é melhor que essas empresas assumam estes compromissos ou não?».


Num aspecto, concordo com o Henrique: cabe ao público - ou seja, ao mercado -«fiscalizar» as empresas, sobretudo ao nível da coerência entre o seu «quotidiano» e as promessas bem-intencionadas num protocolo. Nesse aspecto, eu não posso, como cidadão, julgar aceitável que uma empresa prometa fazer uma gestão sustentável da floresta e depois diga que é bom gastar papel à fartazana. Eu não posso aceitar que uma instituição bancária (BES) prometa ser verde (até no logotipo), mas esteja maculada com cortes de sobreiros cheio de expedientes (ainda mais sendo reincidente) sem que tenha, até agora, decidido pelo abandono definitivo do projecto imobiliário (e já agora que transformem a zona a Herdade da Portucale num modelo de gestão ambiental). Eu não posso aceitar que uma cimenteira, como a Secil, prometa ter uma postura ambiental e ande a «comer» a Arrábida e não se importa de queimar lixos numa área protegida.

Claro que, independentemente destas máculas, é sempre bom que as empresas assumam compromissos ambientais, embora eu prefira que não apenas os assumam como os cumpram. Muitas empresas têm, de forma convicta, posturas ambientais. Mas para mim, verdadeiras posturas ambientais são aquelas que vão para além do simples cumprimento da legislação ou das regras do mercado. Por exemplo, não se pode aplaudir uma empresa que diga: «nós assumimos que cumpriremos a legislação ambiental», porque não nos fazem nenhum favor, é um dever e cabe à Administração fazer cumpri-la. Tal como não faz sentido que uma celulose defenda as florestas sustentáveis, sabendo que os mercados mais apetecíveis exigem que o papel seja proveniente de florestas sustentáveis.

Na minha opinião, uma empresa com verdadeira postura ambiental é aquela que investe fora do seu «core business» ou de uma forma que apenas indirectamente possa beneficiar do ponto de vista financeiro. Está acima de tudo, e antes de mais, uma postura social de cariz ambiental, embora seja certo que, legitimamente, lhe traga benefícios económicos. Contudo, isso não implica que uma mão lave a outra. Isto é, uma empresa não pode «enverdecer» a sua imagem maculada apresentando um projecto ambiental. Seria a mesma coisa que um ladrão se redimir do roubo, dando esmolas aos pobres (a menos que, como Robin dos Bosques, fosse entregar todo o pecúlio).

E onde aparece aqui o ICNB? Pois bem, o Henrique defende que esta entidade tem «um papel enzimático» e que «colabora com elas no sentido de integrar a Biodiversidade nos seus sistemas de gestão, mas não é o fiscal da iniciativa». Pois bem, então não está lá a fazer mais do que servir de «ramo de flores». Primeiro, porque as empresas não precisam de «enzimas», mais ainda do ICNB – as grandes empresas sabem e, se não sabem, contratam (contratam para tudo e mais alguma coisa, porque não também neste sector?). Segundo, como entidade da Administração Pública, o ICNB deve ter uma atitude equidistante das empresas privadas. Não é uma questão de «dormir com o inimigo» (nem eu vejo estas empresas como inimigas, longe disso...), mas sim de independência em situações em que, no âmbito das suas competências, o ICNB tenha de agir em matérias relacionadas com essas empresas.

Mas, independentemente disso, para as empresas do programa Business & Biodiversity é interessantíssimo que haja o «patrocínio» do ICNB, porque em termos de marketing a «coisa» funciona bem, mas não me parece que dê garantias de que os seus projectos em prol da biodiversidade melhorem. Aliás, não vi ainda nada que se possa apontar às empresas que tenha deixado de existir depois da assinatura dos ditos «protocolos verdes». Mas talvez seja desconhecimento ou distracção da minha parte...
Nota: Agradeço as atentas correcções relativamente à Secil do Outão e não Cimpor, como escrevi na primeira versão. Mas a Cimpor também tem máculas, ai isso tem...

10/24/2007

O ministro «conservador»

«Entre o lince e as pessoas, ainda prefiro as pessoas», declarou ontem Nunes Correira, ministro do Ambiente, a pretexto da alteração do traçado da linha de muito alta tensão entre Portimão e Tunes.

Estas declarações de Nunes Correia são óptimas do ponto de vista do senso comum (mas, que raio!, alguém de bom senso colocou alguma vez, os linces à frente das pessoas?), mas desastrosas para um governante da área ambiental. Nunes Correia mostrou-se assim um «conservador» que opta pela solução mais fácil, mais populista... a pior! 

Porque, na verdade, um ministro do Ambiente não pode justificar o sacrifício de uma zona natural apenas porque as pessoas estão à frente e seguir
para a sua vidinha.  Ele é ministro do Ambiente, e pagam-lhe, para preferir as pessoas, mas de todas as gerações, e sobretudo para conseguir compatilibilizar esses interesses colectivos com os valores naturais. E não me digam que é impossível proteger as pessoas da linha de alta tensão sem afectar um habitat - tudo é possível, é uma questão de custo, mas isso mostra a atitude de um Governo. Olhe-se para aquilo que Espanha tem feito - e proibido fazer - para 
proteger os linces.

Aliás, se hoje o lince ibérico (eu já lhe chamo lince espanhol) está em pré-extinção em Portugal (eu diria extinto) é porque outros, como ele, tiveram exactamente a mesma postura de Nunes Correia. Veja-se a auto-estrada do Sul, veja-se a barragem de Odelouca, veja-se o abandono a que está votada a serra de Monchique (palco de incêndios devastadores) e conclua-se que somente por milagre se poderia esperar encontrar agora linces.

Pessoalmente, tenho pena dos linces espanhóis que, ao abrigo de um protocolo ibérico, virão de Espanha para um suposto repovoamente em Portugal. Vão morrer todos, porque o ministro do Ambiente prefere as pessoas e, na sua mentalidade, isso significa borrifar-se para os linces, o que será morte certa para aqueles desgraçados.
 

10/23/2007

Os porcos estão mais protegidos que alguns portugueses

Nos últimos anos, o Instituto Regulador de Água e Resíduos (IRAR) divulga o relatório anual da qualidade das água para consumo humano. 
Candida e docemente, lá surgem os habituais cerca de 2% 
(um pouco mais) 
de análises que violam os limites máximos admissíveis, sobretudo nos parãmetros microbiológicos.

A percentagem de violações em si mesmo pouco diz sobre a situação em concreto da qualidade da água. Mostra apenas, em números globais, se a situação apresenta 
uma tendência de agravamento ou de melhoria. Mas esconde sobretudo uma realidade que se mantém inalterável nas últimas
décadas: a qualidade da água nos pequenos sistemas (sobretudo do interior) é cronicamente má. O facto de serem sistemas onde se exige uma menor quantidade de análises acaba por não fazer pesar na percentagem global. Porém, mostra bem que, em pleno século, ainda existem portugueses (pode vir o Governo dizer que 
são apenas um milhares) que não têm acesso a um bem básico nas mínimas condições.
Aliás, é por isto que a Comissão Europeia tem vindo sistematicamente,
ano após ano, a aplicar processos contra Portugal, mesmo se apenas estamos a falar
em cerca de 2% de violações.

Mas aquilo que mais me choca na atitude do IRAR é a placidez com que trata estas questões.
De acordo com a imprensa (vd. aqui, por exemplo), esta entidade defende mesmo que
os ligeiros agravamentos entre 2005 e 2006 se devem ao aumento do número de análises e, portanto, ao menor desconhecimento.

Ora, chamemos os bois pelos nomes: a qualidade da água não 
está mais ou menos degradada por se fazerem mais ou menos análises, nem vai melhorar apenas porque se fazem mais análises. É uma falácia.

A água estará mais ou menos degradada em função do grau de 
prioridade que o IRAR colocar na fiscalização e na pressão a doer às autarquias 
que prestam o serviço aos consumidores. Choca-me por isso que o IRAR 
venha docemente dizer que «as entidades gestoras têm vindo a adoptar uma atitude
pró-activa de identificação das causas desses problemas e de adopção de medidas para a sua resolução, cujos efeitos começam a ser visíveis». Porque não são visíveis, há muitos anos,
em grande parte dos concelhos do interior.

Enquanto o IRAR tiver esta atitude administrativista e diplomática nada vai mudar.
E eu acho que não deveria ser aceitável que enquanto  a ASAE anda a fechar suiniculturas porque a qualidade da água que os porcos bebem não está em condições, o IRAR deixa, 
impune e irresponsavelmente, que alguns milhares de portugueses bebam água
conspurcada.

Nota: Irritantemente, alguns dos meus posts começaram a ficar desalinhados,
fugindo da mancha de texto, o que me obriga a quebrar linhas e tudo fica muito 
esquisito. Se alguém souber qual o motivo por que acontece isto 
e a forma de resolver, agradecia sinceramente.


  

10/19/2007

Tudo é bom para o ambiente!

O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) tem vindo a assinar um conjunto de protocolos com várias empresas nacionais no âmbito de um projecto denominado Business and Biodiversity. Este tipo de protocolos têm um alcance muito vago e ambíguo, embora sirvam sobretudo para «enverdecer» as entidades que, por regra, não têm uma postura assim tão ambientalista no seu quotidiano. Basta, por exemplo, referir que estão neste projecto um BES (sim , o banco que anda há anos a cortar sobreiros... e está a aguçar o dente ao litoral alentejano, uma Secil (sim, a cimenteira que arrasa a Arrábida...) e também, por exemplo, uma Portucel.

E lembrei-me da Portucel porque no exacto dia em que se assinou o protocolo entre esta empresa e o ICNB (vd. aqui, no Sol), o presidente executivo deste grupo empresarial fez umas estrambólicas afirmações. Disse José Honório ser «errado» que os e-mails sensibilizem os destinatários para que não sejam impressos. «Gaste papel, compre móveis em madeira, isso é que é cuidar bem da floresta», afiançou este responsável da Portucel. Business, portanto - e que rica sensibilização ambiental se transmite, patrocinada pelo Ministério do Ambiente. Um dia chegar-se-á, talvez através de um protocolo, à conclusão de que também o diaparate é bom para o ambiente. E estará o ICNB a assiná-lo.

10/15/2007

Aleluia, uma medida boa em prol do Ambiente

O Orçamento de Estado para o próximo ano prevê uma bonificação de até cerca de 800 euros em sede de IRS para os invetimentos domiciliários em energias renováveis. Embora estes apoios não sejam inovadores, relativamente aos anos anteriores, na prática não eram aplicados na generalidade dos casos. Isto porque esse benefício fiscal para as energias renováveis estava no mesmo item das amortizações dos empréstimos de habitação, que têm um limite baixo. Ou seja, por regra, quem tivesse um empréstimo de habitação esgotava esse benefício, pelo que se investisse em energias renováveis nada receberia em troca.

Ora, pelo que saiu nas notícias sobre o OE, a Quercus veio dizer que, para o próximo ano, esse benefício fiscal estará separadao da parte respeitante ao empréstimo para habitação. Confirmando-se isto, o Governo está de parabéns.

P.S. Contudo, já estou a preparar-me para ouvir o primeiro-ministro e o ministro do Ambiente a perorarem durante um ano inteiro sobre esta medida. Será a demagogia a toda a escala, para justificar nada fazerem em matéria, por exemplo, de transportes.

10/14/2007

Um prémio merecido

A atribuição do Prémio Nobel da Paz a Al Gore e ao IPCC mereceu reacções díspares. Algumas negativas, mesmo dos meios ambientalistas - como foi o caso do Partido Ecologista Os Verdes (mas, esses, nem sequer os deveria considerar integrados nos ditos «meios ambientslistas»). Todas essas críticas apontam algumas incoerências em Al Gore e mesmo erros no «Uma Verdade Inconveniente».

Ora, é certo que terá pesado, neste prémio, factores políticos; é certo que Al Gore poderia ter feito mais (pode-se sempre, não é?) em prol do ambiente durante o consulado de Bill Clinton; é certo que Al Gore usou a sua imagem mediática para conseguir aquilo que muitos já tinham estado a fazer.

Mas todas essas críticas fogem ao essencial: a Paz no Mundo, como 
confirma o Comité Nobel, não depende apenas de se lutar contra as guerras, mas sim de também, e sobretudo, de não lutar contra a Terra. Ou melhor, de lutar em prol da Terra. E Al Gore, com a sua atitude missionária (que, diga-se, não é recente e vem mesmo do período anterior à sua vice-presidência dos Estados Unidos) concentrou em seu redor um tema ambiental da maior importância para o futuro do Mundo. Só por isso, esse prémio é merecido.

Lei seca em Monchque

Coloquei no Reportagens Ambientais uma reportagem publicada na passada semana na revista Notícias Sábado sobre a «perseguição» pelas autoridades sanitárias e económicas à aguardente de medronho na serra de Monchique. Não é bem um caso de se ser forte com os fracos e fraco com os fortes - porque a ASAE até tem actuado de forma imparcial -, mas mostra como uma das regiões deprimidas, que até tem um produto de qualidade, é pouco acarinhada e as autoridade só se lembram dela para fazer cumprir uma lei que, na minha opinião, é desprorpocionada.

10/09/2007

Breves e soltas reflexões ao plano de barragens

Na semana passada, com a habitual pompa e circunstância, o primeiro-ministro José Sócrates anunciou a construção de 10 barragens para os próximos anos. Projectos sempre, como habitualmente, travestidos de ambiente, de energias renováveis, de progresso...

Daquilo que foi apresentado, uma síntese das questões que considero mais relevantes:

a) o Governo, cada vez mais, assume-se como o dono do país: simplesmente anuncia projectos como factos consumados que acabam por ser apenas do conhecimento do próprio Governo e... obviamente dos empresários, sempre lestos em elogios.

b) o ministro do Ambiente, Nunes Correia, confirma que está no Governo apenas com o simples e singelo objectivo de ser manter ministro. Nunca antes o ouvira contestar, torcer o nariz, franzir o sobrolho sobre algo que venha da cabeça de Sócrates. É o «Fernando Real» de José Sócrates (para quem não se recorda, Fernando Real foi ministro do Ambiente no segundo governo cavaquista, no início dos anos 90, e ficou conhecido por Fernando Irreal...). Mas já não se admite que tenha a desfaçatez de anunciar uma consulta pública garantindo que não vai mudar absolutamente nada da decisão governamental. Isto não é autismo; é patetice, é falta de cultura democrática. É, em suma, gozarem connosco.

c) este anúncio de 10 barragens para produção hidroeléctrica acaba por surgir poucas semanas depois da aprovação da barragem do Baixo Sabor, cuja construção parecia ser assumida pelo Governo como a única e derradeira forma de combate às alterações climáticas (estou a caricaturar, obviamente). A questão que se deveria colocar era: será necessário sacrificar um vale como o do Baixo Sabor se se vão construir 10 barragens?

d) Estas barragens em quase nada vão contribuir para tornar mais verde o consumo energético do país e a dependência externa de energia. Por um lado, porque a dependência energética do exterior se deve sobretudo ao sector dos transportes (recordem-se que a energia eléctrica apenas assume 20% dos consumos totais). Por outro, não está previsto qualquer encerramento de uma central convencional que use combustíveis fosséis. Aliás, quanto maior for a capacidade de produção de electricidade, menor será o esforço para que haja eficiência energética.

e) Como já em situações anteriores tinha referido, a construção de barragens é uma «imposição» do fortíssimo lobby das eólicas. Não sou contra as eólicas (pelo contrário), mas julgo que se está a cair no absurdo. O país não se pode transformar alegremente num rectângulo de ventoinhas. As eólicas são um negócio da China (as empresas têm preços mais elevados e asseguram sempre a venda de electricidade) e necessitam de barragens para manterem o ritmo de crescimento (por razões técnicas, a potência instalada num país não deve ultrapassar os 15%, salvo erro, em eólicas) para que estas sirvam de «armazenamento energético (em regime de complementaridade, ou seja, a electricidade das eólicas destinar-se-á sobretudo para bombagem de água que permita potenciar as descargas das hidroeléctricas). Ora, quer as eólicas quer as barragens têm impactes importantes. No caso das eólicas sobretudo paisagístico, no caso das barragens são múltiplas (erosão costeira, submersão de áreas sensíveis e até aquecimento global, por via do metano que acabarão por produzir...). Por isso, na minha opinião dever-se-ia fazer um plano integrado de energia, que contemplasse os impactes económicos e ambientais de todos os projectos (eólicos, hidroeléctricos, de centrais térmicas, etc.).

f) Mais importante ainda: actualmente, Portugal tem potência instalada em excesso, pelo que com mais eólicas, com mais barragens e sem encerrar qualquer central térmica (ao invés, prevêem-se mais), a electricidade produzida pelos novos projectos servirão sobretudo para exportação. Não seria mal, não fosse o caso de que as empresas espanholas estão a lançar-se em força em território nacional, vendo como o Governo português dá tantas facilidades em projectos que, em Espanha, não são assim tão fáceis.

Uma entrevista de bradar aos Céus

Pelo que vi pela blogosfera, a minha entrevista ao monsenhor Luciano Guerra, reitor do Santuário de Fátima,  publicado na revista Notícias Sábado no passado fim-de-semana, teve eco, particularmente nas suas posições em relação à 
agressão conjugal e ao divórcio . Não sendo obviamente um tema ambiental - embora o Santuário tema um departamento de ambiente -, coloquei no Reportagens Ambientais o texto integral, não editado. Podem espreitar.

9/29/2007

Um Estado dentro do Estado?

Há cerca de uma década, a Administração do Porto de Lisboa (APL) tentou impôr um megalómano projecto de urbanização na faixa ribeirinha do Tejo, apenas não tendo avançado devido à contestação popular (isto é, de alguns grupos de cidadãos mais dinâmicos). Entretanto, apesar do chumbo deste projecto, a APL manteve a sua postura de tentar tudo fazer ao arrepio das populações e mesmo contra as posição da autarquia lisboeta, como fica patente no caso do terminal de cruzeiros em Santa Apolónia (que é mais do que isso, pois tem componente comercial e turística, ou seja, uma frente de betão de 30 metros).
Mas, independentemente desta subversão democrática, aquilo que mais me choca é que, com esta ou outra APL, nenhum Governo consegue impôr, como tutela, uma outra atitude, como se a APL fosse um Estado dentro do Estado. Ora, como isso não acontece (ou não é admissível que aconteça), tem de se concluir que é a tutela (Ministério das Obras Públicas) que cauciona e aprova este tipo de atitudes das gentes da APL. Donde, deveria ser o ministro a ser chamado à pedra, caso se mantenha o autismo. E sobretudo tem este Governo a obrigação de redefinir as competências da APL.

9/25/2007

E viva o betão

Se, como foi anunciado pela comunicação social, a autarquia de Lisboa se apresta para duplicar o Imposto Municipal sobre Imovéis (IMI) então pode concluir-se, sem margem para dúvidas, que é o betão que orienta as preocupações de António Costa. E, portanto, é de prever que ele também deseje ter muitas transacções com vendas de terrenos, com muita especulação, com casas de preço astronómico. Quanto mais ele desejar ter isso, menos pessoas passarão a viver em Lisboa. Mas isso é história que parece não interessar por agora. Como nunca interessou...

Propaganda & ignorância

Muito se tem falado na máquina propagandística do Governo. Mas daquilo que pouco se tem criticado é o contributo da comunicação social. E tem sido muita. Por vezes por se ver envolvida numa teia de promiscuidades, noutros casos por ignorância.

Ora, a ignorância é, na minha opinião, tão ou mais perigosa do que a promiscuidade. Porque se a promiscuidade pode a todo o tempo terminar, a ignorância é mais perene.

Isto a propósito da forma como a generalidade da comunicação social tem divulgado, irresponsavelmente por ignorância, as supostas maravilhas energéticas do Governo. E também sobre as (não) medidas de combate ao aquecimento global.

Ontem, como se sabe, José Sócrates foi discursar na Conferência de Alto Nível das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas. Ora, até se lhe desculpa que, por ser como presidente em exercício das União Europeia, dissertasse sobre maravilhosas que estão longe de ser nacionais.

Porém, mais grave é ter, mais tarde (e acredito numa daquelas conversas em tom informal, como ele bem sabe fazer), começa a debitar loas às medidas do Governo no que diz respeito às emissões de gases de efeito de estufa. Nesta notícia da Lusa, aqui transcrita pelo Público Online, Sócrates terá dito que Portugal assumiu já «metas mais ambiciosas do que as definidas dentro da União Europeia». Isto daria vontade para rir, se não fosse grave, porquanto é bem sabido que estamos muito longe de cumprir as metas previstas no protocolo de Quioto, que nos tinha concedido um regime de excepção dentro da União Europeia (ou seja, a UE deveria reduzir 8% as emissões no período 2008-12 em relação a 1990, enquanto Portugal poderia subir 27%).

Mas há mais. Sócrates disse também - e amorfamente o jornalista da Lusa divulgou, que «em matérias como as energias renováveis, Portugal está na linha da frente da Europa, tendo já 39 por cento da sua energia eléctrica com base renovável». Isso está longe de ser verdade - nem neste ano chuvoso tal acontecerá - e é bom salientar que a electricidade representa apenas 20% dos consumos energéticos, além de que gases de efeito de estufa têm ainda outras origens.

Em conclusão, os jornalistas (e os seus editores) deveriam ter a obrigação de ter um olhar mais crítico - e já agora saber qualquer coisinha antes de escreverem - sempre que o Governo fala sobre energia, ambiente e alterações climáticas. Caso contrário, ainda se pensa que Sócrates diz a verdade. O que, convenhamos, não foi o caso.

9/24/2007

Enfim...

Estou à espera que o Engenheiro José Sócrates crie a loja do cidadão de quinquagésima sétima geração com o balcão «Perdi a paciência»...

Suiniculturas, ASAE & Ambiente

Coloquei no Reportagens Ambientais a entrevista completa da minha autoria feita ao presidente da Autoridade de Segurança Alimentar e Económica (ASAE), António Nunes, que saiu publicada na edição do passado sábado da Notícias Sábado (NS). Não é obviamente sobre ambiente, mas tem alguma squestões que abordam a intervenção da ASAE às suiniculturas que, como se sabe, nunca foram alvo de uma intervenção mais musculada (leia-se, legal) por parte da inspecção do Ministério do Ambiente.

Em baixo, está o trecho desa parte, onde se nota que o presidente da ASAE chutando para o canto denota uma diferença abisssal relativamente à inspecção ambiental...

Apesar actuação positiva da ASAE, independentemente das críticas que se possam fazer...

... poucas, poucas...

... fica-se com a sensação de ser caso único no país. Estou a recordar-se das suiniculturas. Durante anos, poluíram impunemente, sem que nada fosse feito pelo Ministério do Ambiente. E agora, a ASAE mandou encerrar algumas e deteve mesmo os proprietários, por razões de bem-estar animal e segurança alimentar. Por que razão a ASAE actua assim e as outras não?

Não faço ideia. Vai ter de fazer o favor de perguntar isso às 16 inspecções que existem no país (risos).

Mas se fosse inspector-geral do Ambiente já teria actuado para acabar com a poluição das suiniculturas?

Não conheço a legislação dos outros organismos, por isso tenho dificuldade em lhe responder. Alguma legislação de controlo ambiental tem prazos, se calhar demasiado alargados, para que as suiniculturas corrijam processos.

Pois, prazos que duram há décadas...

Terá de fazer uma entrevista, sobre essa matéria ao inspector-geral do Ambiente. No nosso caso, verificámos que as águas e as rações não estavam em condições e que o número de efectivos era excedido largamente. E como os proprietários não retiraram os animais a mais, detivemo-los cinco dias depois por crime de desobediência.

Isso parece-me aquele filme dos mafiosos que não se prendem por homicídios, mas sim por evasão fiscal...

Não sei o que é isso. A função da ASAE é fazer inspecções e cumprir a lei. Qualquer que seja o equipamento ou operador.

9/20/2007

A sorte de ser porco

Muitos talvez estejam ainda recordados das detenções de proprietários de suiniculturas há uma semanas devido a uma operação conjunta da Autoridade de Segurança Almentar e Económica (ASAE) e da Inspecção-Geral do Ambiente e do Ordenamento do Território (IGAOT). 

Esta semana, numa entrevista que fiz para a revista NS ao presidente da ASAE, tive oportunidade de esclarecer algumas coisas, entre as quais o papel da IGAOT. Pois bem, se a inspecção tivesse sido feita apenas pela IGAOT, nada teria acontecido aos suinicultores, donde se conclui que poluir vale menos do que o bem-estar animal que foi a razão primeira das detenções (ou seja, existia efectivo a mais, os proprietários foram detidos porque desobedeceram ao prazo de 5 dias dado pela ASAE para retirar os porcos em excesso...).

Mas um outro aspecto interessante (e que, infelizmente, por razões de espaço não será incluída na edição de sábado da NS) sobre a actividade da ASAE é que tem jurisdição sobre a qualidade da água usada em sistemas industriais e, também, nas suiniculturas e outras explorações pecuárias. Isto é, se houver problemas, a ASAE multa forte e feio (na entrevista o presidente da ASAE é peremptório ao dizer que não faz inspecções pedagógicas). Porém, por acordo feito a nível administrativo considerou-se que a fiscalização do abastecimento

doméstico de água continuaria no Instituto Regulador de Água 
e Resíduos (IRAR), que como se sabe nada faz para acabar com a pouca vergonha das contaminações em inúmeros sistemas de abastecimento, tendo uma atitude complacente com as autarquias.

Ora, este acordo para não ter a ASAE a fiscalizar a água potável (não há produto económico e questão de saúde pública mais comum na casa dos portugueses) traz água no bico. Eu, aliás, imagino as noites mal dormidas de muitos autarcas 
se em vez do cenourento IRAR  vissem a caceteira ASAE a fiscalizar a água que dão aos seus munícipes. Mas tem necessariamente que concluir que, em matéria de qualidade da água, os porcos devem estar mais descansados porque sabem que haverá bordoada se lhes for fornecida água de má qualidade.

9/09/2007

Jornalismo assassino

Cada vez me choca mais a forma como a quase generalidade dos órgãos de comunicação social abordam o triste caso da criança desaparecida no Algarve em Maio. Usa e abusa-se das fontes anónimas, das especulações mais torpes. Podem até as especulações se confirmarem como verídicas - mas são tantas que algumas serão, por certo, falsas. E, no final, muitos podem sentir-se lesados, sem culpa, dos atropelos às normas deontológicas dos jornalistas. Uma coisa sei eu: o papel do jornalismo não é este. Um caso que procurarei, no âmbito das minhas funções no Conselho Deontológico, que seja abordado.

Oxigénio para o moribundo interior

A medida do Governo de, através de incentivos fiscais, beneficiar as empresas do interior e aquelas que para aí se criem ou deslocalizem é, convenhamos, uma medida bastante positiva, embora com décadas de atraso e, sobretudo, acompanhada por um conjunto de medidas inversas. O interior está despovoado, de pessoas e de know-how, e com os atrasos e carências estruturais aí existentes, não se pode ter grande esperanças. Parece mais um balão de oxigénio a um moribundo, cujo seu estado débil de saúde se deveu muito às políticas deste e dos anteriores Governos.

A força do betão em Tróia

Coloquei no Reportagens Ambientais, a reportagem que foi publicada na revista Notícias Sábado do passado dia 1 de Setembro sobre os projectos imobiliários na Península de Tróia.

9/06/2007

Notas florestais

Os últimos dois Verões foram uma benesse dos Céus que, fazendo chover, nos deram um tempo-extra para passar a gerir melhor a floresta e a remodelar a forma de combate aos fogos florestais. No entanto, como arde pouco, vive-se na ilusão de que houve melhoria, como se a causa principal não fosse simplesmente a chuva. Na verdade, continua-se, no substancial, com os mesmíssimos problemas dos anos anteriores.

Se durante a próxima semana não chover, asseguro que vai arder um pedaço, sobretudo - ou apenas por isso - por não chover há mais de uma semana, o que tem sido coisa rara neste Verão.

Nota final em relação às declarações de um responsável da Autoridade Nacional de Protecção Civil, queixando-se de muitos incêndios nocturnos. Eu não tenho muitos elementos, mas parece-me claro ser normal que, num ano de muito poucos incêndios (por causa da meteorologia), a percentagem de incêndios nocturnos possa ser substancialmente mais elevada, por a sua origem ser, quase na totalidade, criminosa - e o criminoso «incentiva» sempre mais uma ignição do que alguém que provoca um fogo por negligência.

Porém, a ANPC não devia andar-se a queixar nem destacar esse aspecto. Dever-se-ia sim reforçar-se a vigilância nocturna. Falar por falar, apenas dá um sorriso de satisfação aos incendiários com insónias.

P.S. Nem de propósito, neste momento que escrevo está quatro fogos activos, todos com início após a meia noite, e todos a lavrar em mato. Não é preciso ser polícia para saber que estamos perante as «habituais» queimadas para pastoreio...

Lisboa com melhor cara,parece...

Duas boas medidas da autarquia de Lisboa durante a última semana. A primeira, de um alcance extraordinário para a implementação da democracia efectiva, refere-se à possibilidade da participação das populações ao nível de bairro na definição das prioridades de investimento na zona. A zona é a suspensão da actividade do campo de tiro de Monsanto até serem tomadas medidas de protecção do solo e do ruído. Neste último caso, finalmente o lobby dos atiradores alfacinhas - muito poderoso - teve de se vergar, depois de anos a fio.

9/02/2007

Monchique - um balanço depois do fogo

Coloquei no Reportagens Ambientais, uma reportagem da minha autoria publicada na revista NS do passado dia 25 de Agosto sobre Monchique quatro anos depois dos grandes incêndios. Dentro de dias, publicarei a reportagem sobre Tróia, que saiu na mesma revista no passado sábado.


A União Europeia já não é o que era...

Durante anos, a União Europeia esteve na vanguarda na conservação da natureza impondo um conjunto de legislação e de medidas activas. A obrigatoriedade de delimitar áreas de interesse ecológico com valor europeu - ZPEs e Rede Natura - foram assim o corolário dessa estratégia. Porém, depois de vários comissários de ambiente - e sobretudo de Margot Wallstrom - com um cunho mais nórdico, a actual Comissão Barroso tem dado mostras de fraca sensibilidade nestas questões.

Por isso, no caso português, começam a suceder-se os casos de empreendimentos em plena Rede Natura sem que coloquem, por parte da Comissão Europeia, quaisquer entraves, «exigindo» apenas medidas de minimização ambiental que, no caso português, são de duvidosa aplicabilidade e sucesso. Por agora, já contam duas barragens em Rede Natura (que implicam destruição pura e simples das áreas inundadas e afectação relevante em outras), sabendo-se que não eram projectos essenciais. No caso da barragem de Odelouca, no Algarve, a sua construção apenas permite caminhar-se ainda mais para o caos (até em termos de ordenamento) e no caso da barragem do Sabor pouca importância terá em termos de redução das emissões de dióxido de carbono, tanto mais que, tal como noutros projectos energéticos ditos ambientais, este também não vai implicar qualquer substituição de centrais térmicas.

8/28/2007

Breves apontamentos

Em quase duas semanas sem escrita, muita coisa se tem passado. Apenas uns breves apontamentos:

1 - A acção do Verde Eufémia acabou por ter efeitos contraproducentes para os opositores dos transgénicos. Não pelos métodos - que acarretam riscos, mas não comungo que seja ecoterrorismo, porque a Greenpeace, por exemplo, tem acções muito mais «violentas» e com efeitos relevantes - pela forma encenada como se realizou, mais ainda porque quis apoiar-se em demasia na comunicação social, saindo-lhes o tiro pela culatra. Além disso, como era um grupo maioritariamente de jovens, perdeu algum élan. Por outro lado, o modo cordato como foram tratados pela GNR - muito diferente da célebre acção de arranque de eucaliptos em Valpaços em 1989, em que houve uma carga policial violentíssima - também não os ajudou.

2 - Este Verão não poderia ser mais favorável para não existirem incêndios florestais. Conseguiu-se um período mais ameno do que o de 2006, pois praticamente não passa mais de uma semana sem haver chuva. Mesmo assim alguns incêndios no Alentejo mostram que esta região continua numa tendência bastante grave.

3 - Como em outros anos, um pequeno incêndio na Grande Lisboa vale mais do que um incêndio devastador no interior do país. Na semana passada, em Sintra, que queimou cerca de 200 hectares, teve honras de ter a presença de um governante. Folclore...

4 - Os recentes e calamitosos incêndios na Grécia são um sério aviso para Portugal, se é que precisávamos. Desde 2001, a área ardida naquele país não ultrapassava os 15 mil hectares por ano, em certa medida fruto de algumas medidas de reformulação no combate. Mas em circunstâncias particularmente gravosas do ponto de vista meteorológico, tudo arde se a gestão não for cuidada. Mas garanto que se tivéssemos incêndios em Portugal com ventos de 70 quilómetros por hora, o cenário seria idêntico - ou até pior.

5 - Fui fazer uma reportagem a Tróia para a NS, que sairá no próximo sábado. Um novo Algarve vai nascer no litoral de Grândola,não apenas por via dos projectos da Sonae, mas sobretudo por tudo o que está a ser projectado e a ser iniciado. Mais baixo, é certo, mas não muito diferente em termos de densidade de betão.

8/16/2007

Uma praia de selvagens

Publiquei aqui no Reportagens Ambientais uma pequena reportagem sobre a Praia do Amado, em pleno Parque Natural do Sudoeste Alentejano e Costa Vicentina: que poderia ser uma bela praia selvagem, mas que se transformou numa bela praia de selvagens. Por causa, enfim, do desleixo e da incúria do Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade.

Nota: Quem leu o artigo da NS do passado sábado, talvez se tenha apercebido de um irritante erro. Em algumas passagens, em vez de escrever Aljezur (concelho da praia) saiu Aljustrel (que fica no distrito de Beja e nem sequer tem praia). Acontece...

Porcos há muitos

No meio da sórdida porcalhice das suiniculturas de Leiria, finalmente uma boa notícia: dois «empresários» foram detidos por dseobediência às exigência da inspecção ambiental. É certo que deveriam antes ser detidos por andarem a emporcalhar este país, mas haver já uma medida que doe na pele de quem polui é um grande avanço. Insuficiente, mas positivo.

Bombeiros de betão

O novo Regime Jurídico das Associações Humanitárias de Bombeiros permitem que as organizações de bombeiros possam desenvolver outras actividades, nomeadamente de cariz económico, desde que apliquem as receitas no seu objectivo primordial: o seu corpo de bombeiros.

Como eu só vejo uma forma fácil de desenvolver actividades de cariz económico que seja fácil e que, dentro do contexto local em que os bombeiros são sempre muito acarinhados pelas autarquia, já imagino a quantidade de projectos imobiliários que vão começar a surgir um pouco por todo o lado, patrocinadas pelas associações de bombeiros. Vão ver se me engano...

8/09/2007

Festejemos ou esperemos?

Cinco mil hectares de área ardida até finais de Julho. Motivos para confraternizar? É, de facto, um valor muito, muito baixo, mas talvez ainda seja um pouco cedo: afinal, mais uma vez o São Pedro tem sido bondoso num Verão, com temperaturas amenas e chuva que vai caindo sem deixar que, até agora, decorressem duas semanas contínuas sem precipitação.

A CP no seu pior

Decididamente, a CP não tem jeito nenhum para gerir os caminhos de ferro em Portugal. No passado sábado, desejava ir de comboio para o Algarve. Seria, da minha parte, uma escolha ecológica, uma vez que para o serviço que me estava destinado tinha deslocação no Algarve e, de regresso para Lisboa, viria de boleia.

Porém, quando cheguei à estação de Entrecampos, às 10 da manhã, fui surpreendido com o facto de todos os lugares do Intercidades das 10:30 horas estarem esgotados desde as 7 horas da manhã. Na altura em que estava na fila, muitos foram os potenciais viajantes que bateram com o «nariz na porta».

A «coisa» não me transtornou em demasia - apenas perdi tempo -, pois optei por ir no meu carro particular, sendo que os gastos me serão ressarcidos.

Mas, porém, umas questões me assolam: será que a CP não consegue reforçar a oferta para um fim-de-semana de Agosto numa linha que quase não tem movimentação. Ou será que interessa aos senhores da CP não terem trabalho algum e inconfessadamente anseiam que todos os seus clientes fujam dos seus serviços?

Por mim, vos digo: começo a ficar farto da CP...

7/31/2007

Os PIN algarvios

Confesso que tenho andado com pouca disposição para escritas e mesmo para acompanhar a vida. Mas não poderia deixar de comentar a visita do primeiro-ministro José Sócrates ao Algarve para apresentar 10 projectos turísticos. Disse ele que muitos se arrastavam há anos e que com o regime dos Projectos de Interesse Nacional (PIN) se conseguiu desbloquear a burocracia.

Ora, por um lado, aquilo que o Governo lá foi apresentar com parangonas - e todos aqueles milhões de euros de investimento - não são apenas os tais hotéis de 5 e 6 estrelas, mas sim, sobretudo, a componente imobiliária para segunda habitação. Os hotéis são apenas meros adereços. Por outro lado, muitos daqueles projectos não estavam a arrastar-se na burocracia. Na verdade, grande parte tinha sido chumbado. E estariam enterrados, caso entretanto José Sócrates não tivesse desenterrado essa coisa inqualificável do ponto de vista social e ambiental que são os PIN.

Alentejo ardente

Enquanto escrevo, decorre há oito horas um incêndio em Mourão. Num Verão que tem sido muito muito ameno (com excepção dos últimos dias as temperaturas são relativamente moderadas e choveu, pelo menos, em três períodos distintos do mês de Julho), destaca-se porém os fogos de alguma dimensão no Alentejo. Esta situação, aliás, tem vindo a agravar-se ano após ano.

No ano passado, fiz um artigo para o Diário de Notícias sobre esta situação que, julgo, ser pertinente aqui recordar.

«O Alentejo arrisca tornar-se um inferno de chamas nos próximos anos, caso se mantenha a tendência de agravamento dos últimos cinco anos. O recente incêndio da serra de Ossa - que terá queimado mais de seis mil hectares - apenas veio confirmar que esta região, praticamente imune aos fogos até finais da década de 90, começa a figurar cada vez mais no mapa dos incêndios devastadores de Portugal.

Para já, os três distritos alentejanos (Portalegre, Évora e Beja) ainda estão longe de estar no topo dos mais incendiáveis do País, mas a evolução dos últimos anos é terrível. Com efeito, olhando para as estatísticas oficiais, o distrito de Portalegre sofreu um agravamento da taxa média anual de 2891% quando se compara o período 2000-2005 com a década de 90. Os distritos de Évora e Beja atingiram agravamentos de 617% e 866%, quando em termos nacionais o incremento foi de 264%, já em si um valor elevadíssimo.

Apesar de esta tenebrosa evolução estar ainda longe de colocar o Alentejo no topo das regiões mais incendiáveis do País, certo é que, de entre os 20 maiores incêndios do último quinquénio, seis iniciaram-se no Alentejo (v. quadro). O maior incêndio de sempre - em Nisa, que queimou 41 mil hectares - é algo assombroso a nível nacional e sobretudo regional, sabendo-se que antes de 2003 o pior ano neste distrito tinha sido 2001, com apenas 2461 hectares queimados.

Os outros dois distritos ainda não tiveram anos tão avassaladores, mas Beja já registou dois anos acima dos 10 mil hectares ardidos (em 2003 e 2005), quando o máximo nos anos 90 tinha rondado os dois mil hectares (em 1994). Em Évora, onde raramente ardiam mais de mil hectares nos anos 90, já arderam quase 10 mil hectares em 2003, valor que deverá ser ultrapassado este ano. Nos últimos anos, destacam-se na zona os incêndios em Almodôvar, Portel e Odemira, que devastaram milhares de hectares.

Do ponto de vista meteorológico, o Alentejo é potencialmente a zona mais susceptível aos incêndios em Portugal: temperaturas elevadas e humidade relativa baixa e praticamente sem chuva durante o Verão. No entanto, tem a seu favor a baixa incidência de fogos - somente 0,8% do total nacional -, para além de o coberto vegetal ser dominado por montados de sobro e azinho, que se tiverem uma boa gestão são quase imunes aos fogos, a que acresce uma menor densidade do arvoredo que dificulta a propagação do fogo.

Contudo, a repentina alteração na incidência de fogos destrutivos deve-se, exactamente, ao progressivo abandono rural e florestal, que permitiu criar matagais por entre o arvoredo, o que constitui autênticos "barris de pólvora". Essa situação, embora afectando mais os pinhais e eucaliptais desta região, começa também a evidenciar-se nas manchas de montado de sobro. Aliás, o sobreiro começa a ser uma espécie florestal ameaçada, dado que no último quinquénio cerca de 80 mil hectares já foram afectados pelas chamas, embora uma parte significativa tenha ocorrido nos distritos de Faro e Santarém.

No entanto, existem ainda outros motivos para que os incêndios no Alentejo sejam bastante destrutivos: esta região é das menos vigiadas por postos fixos e com a pior cobertura de corporações de bombeiros e brigadas de primeira intervenção. Por isso, não surpreende que no ano passado, dos 196 fogos nesta região, 15 chegaram a ultrapassar os 10 hectares. Uma taxa de quase 8%, cerca de quatro vezes superior à média nacional. Ora, quando um destes incêndios "sobrevive" e atinge uma área vegetal contínua e com tempo seco, acontecem as desgraças. E milhares de hectares de floresta ardem, como palha».
in Diário de Notícias, 14 de Agosto de 2006

7/26/2007

Depois queixem-se

A viagem de Grândola para Lisboa deveria ser feita a partir das 21:22 horas. Não foi: o comboio intercidades chegou mais de 40 minutos atrasado. A viagem custou 10,50 euros, um valor que me parece excessivo para menos de 150 quilómetros, mas pronto até se concede. O que já é inconcebível é que chegado a Lisboa, o comboio passa por Sete Rios e pára em Entrecampos. E aí fico a saber que já não há metropolitano disponível para ir para o centro da cidade, por via das obras que, durante seis meses (previsão) se desenrolam à noite naquela estação. Ou seja, se parasse em Sete Rios, os passageiros da CP teriam acesso a metropolitano. Mas os senhores da CP, Refer e Metropolitano não devem saber os respectivos números de telefone para combinar estas coisas.

Pior ainda é que, querendo reclamar - com uma sugestão - não consegui fazê-lo. Na estação de Entrecampos somente estavam dois funcionários de uma empresa de segurança. Funcionários da Refer e da CP nem vê-los, estava tudo fechado e, portanto, sem acesso ao livro de reclamações. Somente estava aberto o guichet da Fertagus (empresa privada), mas esses não eram chamados ao assunto. Resultado de tudo isto: arrelias e uma viagem que demoraria de carro cerca de uma hora e meia acabou por consumir cerca de três horas, já que tive de ir a pé até à estação de metro do Areeiro.

Os funcionários da empresa de segurança sugeriram-me que voltasse no dia seguinte para fazer a reclamação. Eu vou é ver se evito andar mais de comboio nestas circunstâncias, por muito que a minha consciência ambiental me critique.

7/24/2007

Os riscos das privatizações

Nos últimos anos, as privatizações em Portugal têm sobretudo funcionado para tapar buracos financeiros do Estado. Ora, não sendo contra as privatizações, julgo porém que devem ser feitas com um cuidadoso critério. E não estão a ser. Se existem alguns sectores da economia que podem e devem ser dinamizados pelos privados, sendo que o Estado deve apenas exercer o seu papel de regulador, mas exigente, noutros casos existe interesses estratégicos que deveriam ser salvaguardados para a esfera pública. O caso da água para consumo humano é um deles.

Com a anunciada privatização da holding Águas de Portugal - que integra a componente do saneamento (desde água até esgotos passando pelos resíduos) e muitos outras empresas de sectores ambientais -, o Governo dá de barato o uso e usufruto de um bem que deveria estar sempre na esfera pública, por razões que parecem óbvias. Mais ainda quando ainda existem atrasos significativos em algumas regiões relativamente ao abastecimento público de água e á drenagem e tratamento de esgotos urbanos, cujo financiamento poderia e deveria vir dos chorudos lucros da parte mais litoral dos investimentos daquela holding. Aliás, não se pode esperar que os privados que entrem no capital da Águas de Portugal estejam muito interessados em «esturrar» dinheiro em regiões cujos investimentos somente seriam aceitáveis se os preços dos serviços subissem a valores incomportáveis. Ou seja, o que vai acontecer em vastas regiões do país é a completa ausência de investimentos no futuro naqueles dois sectores.

Já em relação aos resíduos sólidos urbanos, começo a ser, cada vez mais, favorável às privatizações, pois se conseguiriam sinergias (por vezes, em alguns concelhos existem quatro entidades distintas a mexer nos lixos) e melhoraria a qualidade do serviço.Aliás, basta comparar Lisboa (um horror em termos de limpeza urbana e recolha de resíduos), cujos lixos são recolhidos pela autarquia, e alguns outros concelhos onde estão empresas privadas. Nestes casos, salvaguardar este sector para a esfera pública não faz sentido e, embora lamente, começo a ser apologista de que, aqui, o privado é melhor do que o público.

Nota: Gostaria de explanar melhor todas estas questões, mas por manifesta falta de tempo fica, por agora, este apontamento.

7/18/2007

Ambiente em imagens

Interessante, a iniciativa da Quercus de criar a Quercus TV, onde se encontram alguns vídeos da associação (sobretudo d'O Minuto Verde, transmitido na RTP) e de outras origens.

7/17/2007

Cruzes canhoto

O meu amigo Fernando Moital foi, na passada semana, visitar o Parque Natural da Ria Formosa. Ficou chocado, porque formosura havia pouca. Das várias fotos que registam a sua passagem por aquele antro natural, salvo seja, que aqui podem ser visualizadas, uma se destaca - e que em cima apresento -, tirada a uma parede do centro de interpretação ambiental.

Quando a olhei para a foto, recordei-me da descrição de um incêndio em 1750 no Hospital de Todos-os-Santos, em Lisboa. Então, muitos padres, em vez de tentarem arranjar água ou qualquer outro meio de extinção, usaram cruzes para afugentar as chamas. Logo pensei, portanto que aquele objecto que ali surge pendurado por debaixo da tabuleta «Uso Exclusivo Combate a Fogo» era um crucifixo que não deveria ser usado nunca em funções religiosas, mas sim no ataque aos incêndios. Depois, ele explicou-me: aquilo servia para prender um extintor, que não estava lá...

7/16/2007

O dedinho

O dedinho que me dizia que António Costa não ultrapassaria os 30% - contrariando todas as previsões das sondagens -, esteve certo. E como as coisas ficaram em termos de mandatos, parece-me quase impossível coligações. A única possível será Costa-Carmona, mas não me parece que o próprio PS queira aceitar essa hipótese, pois numa situação em que os escândalos urbanísticos aumentem - e esturriquem o agora vereador Carmona Rodrigues -, António Costa e o PS ficariam muito chamuscados.

7/14/2007

O pessoal quer é música

«'Live Earth' fez disparar queixas para o provedor» da RTP, de acordo com o Diário de Notícias, por causa da «conversa a mais e música a menos». Eu sou suspeito - porque participei na «conversa a mais». Talvez tenha existido (sobretudo no caso dos VIPs... e, felizmente, da zona onde estava no estúdio não os ouvia, além de estar entretido a falar com os meus entrevistados. Mas é pena que num dia em que também deveria ser de reflexão sobre o ambiente,as pessoas só se queixem de que houve música a menos.

7/13/2007

Lisboa a votos

As eleições de domingo em Lisboa podem trazer algumas surpresas. Embora pareça incontornável uma vitória de António Costa, tenho um dedinho que me diz que não deverá ultrapassar os 30% dos votos. E que, em relação aos outros candidatos, embora nenhum venha a ultrapassar os 20%, é muito difícil apostar na sequência. Isto, obviamente, é um palpite, mas tanto é como as próprias sondagens feitas pelas empresas - que, recorde-se, falharam redondamente em 1999 quando davam como certa uma vitória esmagadora de João Soares.

Independentemente disto, certo é que a autarquia manter-se-á ingovernável durante os próximos dois anos até às novas eleições. Um cenário de coligação parece-me muitíssimo pouco provável: Costa não pode coligar-se com Carmona, porque se queimaria; Roseta não aceitará juntar-se, porque tornaria irrelevante a sua candidatura, o que daria a entender ter sido uma birra contra o PS; de Negrão, nem valeria a pena falar, porque nunca o PSD aceitaria um Bloco Central em Lisboa; PCP não desejará apoiar um ex-ministro de um Governo que combate; e Sá Fernandes, com o Bloco de Esquerda, mesmo que quisesse (o que me surpreenderia), provavelmente não elegerá vereadores suficientes. Claro que esta situação de ingovernabilidade não desagradará muito a António Costa: poder-lhe-á ser mesmo útil, pois não se cansará, ao longo dos próximos anos, de se queixar de estar a oposição a fazer-lhe a vida negra, e que só com uma maioria absoluta conseguirá endireitar a Câmara. E assim, em 2009, conseguir algo que o PS nunca obteve sozinho: maioria na autarquia de Lisboa.

7/11/2007

Investigação com esmola

Uma das pessoas que entrevistei na RTP, no programa dedicado ao Live Earth, foi o director de departamento de energias renováveis do INETI. Enquanto não entrávamos no ar, fui falando com ele e perguntei-lhe que verba possuía o INETI para investigação neste sector (e ele falou-me em vários projectos muito interessantes...). Disse-me que 2,5 milhões de euros (cerca de 500 mil contos em moeda antiga), que teriam também de servir para os salários de aproximadamente 50 pessoas. Ou seja, não dá para nada. E depois fala o Governo em criar um cluster e coisas do género.

P.S. Infelizmente, muitas questões não puderam ser desenvolvidas nessas micro-entrevistas (da minha parte foram cerca de vinte, a que se juntaram outras tantas feitas pela jornalista Rita Saldanha). Fiz o melhor que podia... e sabia.

Um país de porcos

A inspecção feita pelos serviços do Ministério do Ambiente às suiniculturas é apenas fogo de vista. Fazem esta acção, bastante mediatizada, encerram uma ou outra exploração e vão hibernar durante mais uns anos. Como, aliás, tem acontecido ao longo dos anos. Se assim não fosse não se teria detectado 31 infracções ambientais em apenas oito suiniculturas inspeccionadas.

7/10/2007

Endoidaram, por certo

Nos últimos tempos, o Diário de Notícias tem sido um manancial de diversão. Hoje, não aguentei destacar e comentar a totalidade desta notícia que me chamou a atenção pelo título: «Foi nadar no rio depois de almoço e morreu». A coisa parecia-me mais uma daquelas notícias do cão que morde o homem, típicas da silly season, quando não se encontra nada mais importante. Porém, esta notícia é especial, tanto assim que para cada parágrafo segue o meu comentário,em itálico e bold. Espero que se divirtam tanto como eu.

«Um indivíduo com cerca de 30 anos perdeu ontem a vida, numa altura em que nadava no rio Douro próximo da praia do Areinho, em Vila Nova de Gaia. Segundo alguns populares, o alerta terá sido dado por crianças que brincavam junto a uma pequena marina, depois de perderem o indivíduo de vista.»

Comentário - Ficamos a saber que um indivíduo (estranha palavra num jornal) perdeu a vida e que crianças perderam o dito de vista. Tantas perdas. Comecei logo a achar que esta notícia me ia divertir.

«O alerta para os bombeiros foi dado por volta das 14.30. Um homem com cerca de 30 anos tinha desaparecido no rio Douro. Para o local foram de imediato os mergulhadores dos Sapadores do Porto e dos bombeiros da Aguda. A estes juntaram-se vários elementos dos Sapadores de Vila Nova de Gaia e de Avintes.»

Comentário - Para o caso de não se ter reparado na primeira frase, o jornalista volta a dar a idade da vítima (cerca de 30 anos). A diferença é ter o indivíduo passado a ser homem.

«Segundo os Sapadores de Gaia e o piquete da Polícia Marítima, as informações recolhidas no local indicam que o indivíduo terá decidido nadar no rio após o almoço. "Tudo leva a acreditar que se terá sentido indisposto, talvez uma congestão ou assim, já que o corpo não apresentava qualquer ferimento", disse ao DN um elemento da Polícia Marítima.»

Comentário - Bolas, o homem passou outra vez a indivíduo. Mas há mais: há bitates para encher sobre a causa do afogamento. E é assim mesmo, de forma coloquial: «talvez uma congestão ou assim». Lindo...

«O alerta foi dado por algumas crianças que brincavam próximo do local e que haviam visto o indivíduo a saltar para a águas. Algum tempo depois, tendo deixado de o ver à tona da água, alertaram alguns adultos para o desaparecimento do homem.»

Comentário - Deixem ver se entendo: as crianças alertaram os adultos, os adultos alertaram supostamente os bombeiros. Isto parece-me coisa para encher. Ah!, e o indivíduo já passou outra vez a ser homem.

«Nas roupas da vítima, que estavam penduradas numa pequena embarcação de pescadores ancorada no local, não foi encontrado qualquer documento que permitisse a identificação. "Houve quem dissesse que o conhecia de vista e que sabia, mais ou menos, onde morava, mas sem grandes certezas", adiantou a mesma fonte. O homem seria solteiro, não tinha filhos e morava próximo do Areínho, com um tio. O corpo foi levado para o Instituto de Medicina Legal do Porto para autópsia que irá determinar as causas da morte e a posterior identificação da vítima mortal.»

Comentário - Essencial, o pormenor de as roupas da vítima estarem penduradas num barco de pescadores. Mas fiquei curioso de saber como eram, e as suas cores e tecidos. Também gostei do «houve quem dissesse». E com tantas dúvidas sobre a identidade do indivíduo ou homem - mas há uns bitates - , aprendi, pela frase do jornalista, que a autópsia também determinará a identificação da vítima. Ah, e ainda bem que a vítima é uma vítima mortal, caso contrário a autópsia provavelmente ia doer um bocadinho...

«Segundo o comandante Martins dos Santos, da Capitania do Douro, "as únicas mortes registadas este ano no rio, nada têm a ver com afogamentos deste género". Os seis casos verificados até ontem reportam-se a "acidentes ou incidentes" diferentes deste caso.»

Comentário - Mais outra informação fundamental: ficamos a saber que houve seis mortes naquele rio, mas que foram apenas «acidentes ou incidentes», sem especificar. E nós que até tínhamos ficado a saber que o indivíduo, ou homem, tinha pendurado a roupa numa embarcação de pescadores.

Conclusão final: Mas que raio de notícia é esta????!

7/09/2007

Que se há-de fazer?

36 milhões de sacos de plástico, spots televisivos e pacotes de açúcar: são estes os «meios» usados pelo Ministério da Administração Interna para nos sensibilizarem para os fogos florestais. Tudo vai custar, aos cofres públicos, dois milhões de euros. Estes senhores não sabem o que fazer ao nosso dinheiro, por certo.

Refazer a história

No debate sobre alterações climáticas da RTP, apresentado por Maria Elisa, oiço estupefacto um médico de saúde pública, de nome Paulo Nogueira, a cantar loas ao sistema de vigilância que terá evitado, supostamente, muitas mortes pela onda de calor de 2003. E, com a concordância de Maria Elisa, garantiu que, devido ao tal sistema, se evitou tragédia semelhante à França. Arrepiam-me estas coisas...

Quem se recordar, aquando dessas elevadas temperaturas, o Governo nada sabia e até chegou a apontar valores ridículos de mortalidade (para aí meia dúzia de pessoas). Nada se sabia, nada se fez de prevenção nem de minimização. Só mais tarde, um ano depois, se apuraram os resultados da mortalidade (por sinal, muito próximos de umas estimativas que eu fiz, com base em dados de mortalidade do INE, e que foi publicado meses antes).

Na verdade, conforme se pode ver aqui, morreram em Portugal 2.696 pessoas. É certo que na França se atingiram 19.490 pessoas. Porém, não se pode ver os valores em termos absolutos, mas sim ao nível da população residente. E assim, temos a seguinte taxa de mortalidade causada pela onda de calor de 2003:

Itália - 341 mortes por milhão de habitantes
França - 306 mortes por milhão de habitantes
Espanha - 338 mortes por milhão de habitantes
Alemanha - 114 mortes por milhão de habitantes
Portugal - 254 mortes por milhão de habitantes

Ou seja, não me parece que a situação portuguesa seja assim tão boa. Aliás - e tenho pena de já não encontrar a notícia -, é bom recordar que a onda de calor de 2003 atingiu sobretudo o interior do país, mais despovoado. E, portanto, nessas regiões a taxa de mortalidade foi seguramente muitíssimo superior á verificada em outros países.

7/07/2007

Live Earth

A RTP faz hoje uma emissão non stop, a partir das 8 da matina, em volta dos concertos do Live Earth, tendo também, em estúdio, diversos convidados, entre os quais mais de quatro dezenas de personalidades ligadas às questões ambientais. Eu, com a jornalista Rita Saldanha, faremos essas pequenas entrevistas mais temáticas. Estarei no ar - salvo seja - a partir das 17 horas até às 4 da manhã de domingo. Algo de peso face à minha (in)experiência em ser entrevistador em televisão. Façam figas, pf

7/06/2007

Energias

Um blog com notícias actuais sobre energias renováveis: Energias. Para quem quiser estar informado sobre o que se vai passando por esse mundo.

Alentejo a ferro e fogo

Os incêndios desta semana começam a atacar em força no Alentejo. Coisa impensável há umas décadas, mas que revelam que a região sul do país, que possuía uma estrutura agrária e florestal quase imune aos grandes incêndios, está agora a transformar-se num extenso matagal. E isso paga-se agora caro, com tendência a piorar. Já tinha destacado isso no livro Portugal: O Vermelho e o Negro, e no ano passado num artigo que escrevi no Diário de Notícias.

7/05/2007

Mata que não é protegido

O Diário de Notícias considerou hoje ser relevante publicar um artigo sobre uma raposa pilha-galinhas que anda a atacar nas imediações de um bairro de Viseu, escondendo-se num matagal, e que, como relata uma moradora, «só não matou mais criação porque alguns moradores mudaram as galinhas de sítio enquanto outros reforçaram a vedação».

O caso poderia ter aqui uma solução simples - ou seja, exactamente, reforçar as vedações dos galinheiros ou mudar as ditas aves para sítio mais seguro. Mas a população quer sangue de raposa. E para ajudar a festa surge um suposto ambientalista, supostamente «ligado à associação Quercus» (assim aparece identificado). De seu nome Gastão Antunes diz que como «a raposa (...) não está em perigo de extinção, em meio humano deve ser abatida porque pode transmitir doenças ao homem», devendo assim «ser organizadas batidas».

Uma pequena sugestão: e que tal arranjar-se uma armadilha para apanhar o bicho vivo e levá-lo para outro sítio? Seria simples e inodoro. E já agora, uma pequena pergunta ao ambientalista: será que a raposa transmitirá potencialmente mais doenças do que, por exemplo, as ditas galinhas ou mesmo a rataria que, por certo, existirá no dito matagal nas imediações do bairro?

7/04/2007

As podas em F

No A Sombra Verde encontro uma série de fotografias - de que reproduzo, aqui ao lado, uma delas - que mostra o terrorismo municipal muito em voga contra as árvores dos arruamentos. Estas foram mutiladas num concelho que só sabe fazer a variante F das podas. É o concelho de Anadia, por sinal de onde sou natural.

Mais um disparate

O jornalismo desportivo é, sabe-se, um caso à parte do jornalismo. Não apenas pelos perigosos pactos que se criam com as fontes e pelas represálias a que estão sujeitos os jornalistas, além de se usar uma linguagem muito própria. Mas nada disto justifica que quem escreva sobre desporto tenha a liberdade de escrever mal e, pior ainda, sem sentido. Hoje, no Correio da Manhã, numa caixa desta notícia, consta uma pérola do disparate (e já faço o desconto às vírgulas...):

«Leandro Lima, médio ofensivo de 19 anos que foi contratado ao São Caetano, é, a par do seu compatriota Helton, do argentino Lucho Gonzalez e do uruguaio Jorge Fucille o grande ausente neste arranque para a nova época» (sic).

Ou seja, na mesma linha, eu sou o único português vivo, a par de de mais uns 10 milhões de pessoas.