7/27/2005

Farpas Verdes CCLXII

Eu sei que neste tipo de encontros, os políticos têm de ser diplomáticos, mas espero que tenha sido esse o caso das declarações do ministro do Ambiente, Nunes Correia, ao pedido da sua homóloga espanhola para que Portugal ceda água à Extremadura através da albufeira de Alqueva. Nunes Correia, segundo a imprensa, disse que «ttemos disponibilidade para entregar a água necessária, mas essa questão ainda tem de ser trabalhada do ponto de vista técnico».

De facto, na verdade, a «questão» tem sim de ser «trabalhada» do ponto de vista político, porque Portugal necessita urgentemente de garantir algumas reformulações no convénio luso-espanhol dos recursos hídricos que começam sobretudo pela definição de um caudal mínimo e de volumes mensais de escoamento. E também de uma rectificação no ponto de controlo no caso do rio Tejo (a barragem de Cedillo é alimentada também por cursos de água portugueses e, por isso, não é um bom indicador das afluências espanholas ao território nacional).

Por outro lado, Portugal pode meter-se, com esta cedência, numa camisa de sete varas. Como parece evidente que o Governo português tudo fará para «subsidiar» a água aos agricultores nacionais, das duas uma: ou vende a água a Espanha ao preço da chuva ou vende mais cara e acaba por ser acusado de estar a fazer concorrência desleal...

Por fim, esta cedência de água do Alqueva para a agricultura espanhola vai acabar por ser mais um sinal da inépcia do Plano de Rega do Alentejo (do elefante branco já esperado). Quase apostaria que os primeiros agricultores a regarem directamente da água proveniente da albufeira de Alqueva vão mesmo ser os espanhóis. E, aliás, mesmo em território nacional, é sabido que muitas herdades são já de espanhóis. Afinal, para o Governo e os empresários portugueses, basta a água para regar campos de golfe e construir empreendimentos turísticos à beira da albufeira. Ou seja, os dinheiros públicos a servirem para criar mais-valias aos interesses privados...

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