11/20/2005

Farpas Verdes CDXXX

Em 1987, quando entrei na Universidade de Évora, as minhas viagens para casa dos meus pais , em Anadia, eram quase épicas., sobretudo de fosse de comboio. Havia duas alternativas: entrava na Curia e seguia pela Linha do Norte até Lisboa ou então saía num estação chamada Setil. No primeiro caso, chegado a Santa Apolónia, seguia a pé (o dinheiro não abundava) até ao Terreiro do Paço, apanhava o barco para o Barreiro, daí o comboio até Casa Branca e seguia noutro para Évora. No segundo caso, apanhava-se uma automora que, já não me recordo bem, parava também em Casa Branca e depois seguia-se em comboio para Évora. Eram uma viagem que demorava horas infindáveis.

Recordei-me destas viagens, por duas razões: a primeira, por causa do TGV. A segunda porque hoje irei para Évora e, como tinha alguma dispononibilidade horária, estava disposto a ir de comboio, numa espécie de viagem nostálgica. Pois bem, de Lisboa a Évora, as coisas nada mudaram em duas décadas. As duas cidades distam cerca de 140 quilómetros, mas dos quatro comboios, o trajecto mais «rápido» demora 3 horas e 10 minutos, enquanto que o menos «rápido» 4 horas e 9 minutos. Ou seja, no mais «rápido» faz-se 46 km/h e no menos «rápido» 36 km/h. A «culpa» disto não é apenas da travessia do Tejo, mas sobretudo da espera na ligação em Porto Alto ou, em alguns casos, em Casa Branca, em que se «desespera» quase uma hora.

Claro está que, assim, não admira que as pessoas optem pelo veículo privado ou então de camioneta (que, aliás, na minha última viagem a Évora usei). Só a Rodoviária Nacional tem hoje 18 autocarros para Évora e demora 1 hora e 45 minutos. E a um preço 0,5 euros superior!

Conclusão: num país que jamais apostou no transporte ferroviário - e quando o fez, fez mal, desperdiçando recursos para parcos benefícios (vd. remodelação da Linha do Norte) - e que afasta os cidadãos do seu uso, a construção da TGV só se justifica por uma razão: criar emprego a todo o custo e dar dinheiro aos empreiteiros. A factura, essa, será paga pelos contribuintes que, na sua grandessíssima maioria, pouco irão beneficiar desse investimento. Mas que muito beneficiariam (e o ambiente também) com uam eficaz rede ferroviária interna.

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