4/10/2010

Quando os lobos uivam...

Como tenho defendido há já alguns anos, os parques eólicos transformaram-se num negócio que de ambiente já têm pouco. Daí que as contestações populares começam a surgir, como esta aqui em Sortelha (vd. esta notícia), onde até já intimidações aos que pretendem defender o património natural e construído. Será que as ventoinhas se estão a tornar no «eucalipto» do século XXI?

3/22/2010

Ciclo de debates ENERGIA E AMBIENTE na livraria Almedina do Atrium Saldanha

Na próxima semana inicia-se um ciclo de debates na livraria Almedina do Atrium Saldanha (Lisboa) sobre Ambiente e Energia, numa parceria com a Agência Municipal de Energia e Ambiente (Lisboa E-Nova).

A primeira sessão realiza-se já na terça-feira, dia 23 de Março, pelas 19:00 horas, subordinada ao tema «A CONFERÊNCIA DE COPENHAGA E O CLIMATEGATE», com a presença de João Corte Real (Universidade de Évora) e Virgílio de Azevedo (jornal Expresso), e com moderação de José Delgado Domingos (Presidente da Lisboa E-Nova e professor catedrático jubilado do Instituto Superior Técnico).

Nesta sessão serão apresentados e discutidos os argumentos científicos emredor do aquecimento global por um reconhecido e prestigiado climatologista internacional. E será debatido o papel da ComunicaçãoSocial na formação da opinião pública, através de um jornalista experiente que assistiu à Conferencia de Copenhaga.

Consulte o programa completo está aqui.

2/20/2010

O Pedro não viu o lobo

Depois de sermos inundados este Inverno com alertas «arco-íris» do Instituto de Meteorologia, andei à procura na Net se ontem tinha sido lançado algum alerta vermelho para a Madeira. Não encontrei nada; apenas hoje foi emitido. Depois da desgraça...

2/19/2010

Eis que, quando menos se espera...

Este blog, pela frequência de posts dos últimos meses - e particularmente do início deste ano - , tem sido o reflexo do meu estado de alma em matéria de ambiente. Leio, ouço, mas não me apetece comentar. O país deprime-me, o estrago da Nação é cada vez mais uma evidência. Também por motivos de «ossos do ofício», tenho cada vez escrito menos em jornais e revistas. Tenho outras ocupações, outros gostos - a escrita de romances e de ensaios de cariz nada ambiental - que me têm levado a estar cada vez mais afastado destas andanças do ambiente.

Longe vai o tempo em que me sentia um certo «guerreiro», e depois de tanto levar «tiros», alguns (os mais cruéis) de suposto «fogo amigo» (os mais traiçoeiros), estava longe de imaginar que, afinal, ainda há quem se lembra de mim, daquilo que fiz (e eu daquilo que poderia ter feito...).

Serve isto para dizer que, com grande surpresa, me vejo nomeado para a categoria Comunicação do Prémio Rock in Rio Atitude Sustentável. Vale aquilo que vale, mas esta nomeação (o Ricardo Garcia e a Lurdes Ferreira, ambos do Público, são os outros nomeados) não é de todo merecida à luz daquilo que tenho feito na imprensa sobretudo nos últimos três anos. Não foi por opção voluntária, antes tão-só por as portas se terem fechado ou a vida de jornalista freelancer andar pela hora da morte; e, portanto, tive que me fazer à vida...

Não vejam isto um lamento, pelo contrário. Há males que vêm por bem. Sem esta minha «crise» jornalística, jamais me poderia dedicar, como tenho dedicado, à escrita de romances. E, por maioria de razão, não poderia estar na situação invulgar de, neste preciso momento, ser «finalista» de «galardões» em duas áreas tão distintas: ambiente e literatura (neste último caso, para o Prémio Literário Casino da Póvoa, com o meu romance A Mão Esquerda de Deus).

P.S. Já agora, em Abril, sairá novo romance: A Corja Maldita (e não, não é sobre os nossos políticos, mas poderia ser...).

12/11/2009

É só fumaça

É curioso que os responsáveis de um tão amorfo e displicente Ministério do Ambiente - refiro-me aos dos dois Governos socialistas -, que tudo tem feito para deixar passar qualquer projecto com impacte ambiental negativo, ande a ser brindado com epítetos como cretino e imbecil. Há pouco tempo foi Fernando Ruas, presidente da ANMP; agora vem o polícia Moita Flores, aqui.

10/23/2009

Under profile

Dulce Pássaro é uma senhora simpática, uma técnica que há anos tem passado por diversas funções na Administração Pública na área do ambiente. Mas esta sua nomeação para o cargo de ministra do Ambiente do novo Governo Sócrates tem apenas um significado: o primeiro-ministro não gostou do low profile de Nunes Correia; e por isso escolheu alguém que é under profile. Está garantido que, da Rua do Século, ninguém chateará Sócrates...

9/15/2009

Assim vai o jornalismo

Esta notícia do Correio da Manhã é antológica. Um incendiário que supostamente bebe «sete litros de vinho tinto por dia», causou em Belas «um dos piores incêndios deste ano». Se o dito fogo em Belas queimou menos de 1% do maior em fogo deste ano (Sabugal), este exagero do jornalista (a somar ao excesso de horas de duração, que ele diz ter sido de 96 horas, 4 dias!) leva-nos a desconfiar que afinal o incendiário bebia apenas um cálice de vinho do Porto... e se calhar branco.

9/02/2009

Sabugal

Já ultrapassámos a fasquia dos 50 mil hectares de área ardida este ano. O maior fogo do Sabugal, que foi extinto ontem, «limpou» 8.618 hectares, mais do que a superfície da cidade de Lisboa, de acordo com dados da União Europeia. Mas como é longe de Lisboa, não se passou nada.

8/21/2009

Para que servem os avisos, afinal?

Deixem-me ver se entendo: as arribas da praia Maria Luísa tinham placas avisando que as arribas estavam «instáveis» e o presidente do Instituto da Água diz que acidentes como o de hoje «são imprevisíveis». Há aqui qualquer coisa que me escapa...

8/10/2009

Recensão no Expresso deste sábado

A Mão Esquerda de Deus, de Pedro Almeida Vieira, Dom Quixote

Romance - História do homem que ascendeu no reinado de D. João III à custa de burlas e falsificações.

É, em minha opinião, o romance a levar para férias. Vou na quarta visita - desta feita salteada -, apenas pelo gosto de reler determinadas passagens, e, de cada vez que o reencontro, acontece dar por mim quase incrédula com a relativamente discreta recepção ao livro desde que foi publicado. Se somos apenas distraídos ou descaradamente invejosos, pelo menos que nos sirva de lição o exemplo de Ruiz Zafón, cujo romance "A Sombra do Vento" obrigou o mercado espanhol a referir-se-lhe quando, de boca em boca, o romance excedeu as expectativas dos críticos e distribuidores. Enquanto espero que o fenómeno aconteça, abster-me-ei de contar a história, receosa de dizer de mais, mas, sobretudo, de ficar aquém dela própria.

Referirei apenas que se situa temporalmente na primeira metade do século XVI e que vai muito mais longe do que a reconstituição ficcionada sobre as pretensas confissões de Alonso Pérez de Saavedra, que teria sido núncio apostólico em Lisboa e inquisidor-geral do Reino de Portugal, no reinado de D. João III. Para além da perfeita história de amor que condimenta o romance, há todo um contexto muito rigoroso em que todas as personagens que rodeiam o protagonista são verdadeiras no sentido histórico, começando pelo seu primeiro protector, Frei Hernando de Talavera, co-governador de Granada e bispo-confessor de Isabel de Castela.

Mas não só: também são rigorosos os contornos político-sociais, em particular a sucessão ao trono após a morte da rainha e a coincidência biográfica com D. Rodrigo Ponce de Léon, duque de Arcos, de quem terá sido espião na corte de D. Fernando. Absolutamente crucial para o envolvimento do leitor na trama é a descoberta de que Saavedra vivia quase em permanência com uma luva na mão esquerda; e que essa mão era, por si só, prodigiosa: deformada, aleijada, aparentemente inútil, mas que sabia pulsar e aquecer quando em contacto com homens de coração perfeito, e gelar, enrijecer como uma pedra, em presença da malignidade. Outros dons assombrosos vivem nesta personagem trazida pela lenda, ambígua na força da sua incomensurável dor.

Luísa Mellid-Franco

7/18/2009

Crime, vão dizer eles

Na página da Autoridade Nacional de Protecção Civil aparece que às 19h11 de hoje a Polícia Judiciária está no local do incêndio no Seixal. Incêndio esse que começou ontem e reacendeu hoje. Não consta, note-se que a PJ esteve lá ontem. Portanto, das duas uma: ou a PJ vai lá contar carvão ou prepara-se a «tese do crime» para apagar o falhanço no combate (reacendimentos são sempre fogos mal apagados).

7/15/2009

O somatório imperfeito

Uma eventual coligação entre o movimento Cidadãos por Lisboa, de Helena Roseta, e o Partido Socialista para a autarquia alfacinha não dará necessariamente um somatório de votos. Quem vai acabar por beneficiar de potenciais votantes de Helena Roseta mas que se recusam a votar PS, será o Bloco de Esquerda e, marginalmente, o PCP. E, portanto, pode estragar as contas.

7/14/2009

Ricochete

Em Junho de 2006, Fernando Ruas, presidente da autarquia de Viseu e também líder da ANMP, perante queixas de um autarca da freguesia de Silgueiros relativamente às multas por infracções ambientais, disparou esta: «Arranjem lá um grupo e corram-nos à pedrada. A sério, nós queremos gente que nos ajude e não que obstaculize o desenvolvimento». As pedradas fizeram ricochete: o tribunal acaba de o multar em 100 dias, num total de 2.000 euros devido a estas declarações na Assembleia Municipal. Aliás, convém salientar, Ruas aquando desta frase afirmou o seguinte: «eu estou a medir muito bem aquilo que estou a dizer». Resultado: ou falhou o alvo ou as palavras funcionaram como boomerang.

Nota: Entretanto, segundo se diz aqui, já se faz uma colecta para pagar a multa do senhor presidente da autarquia de Viseu, «ameaçando-se» que será através de moedas de um cêntimo. Patetices.

7/04/2009

Com que então, a tirar a água do capote...

O Público está a tentar desresponsabilizar-se por ter, inadvertidamente, causado a demissão de Manuel Pinho, que tão-só fez os chifres para avisar que hoje seria publicado no suplemento Fugas uma reportagem sobre touros em Navarra, conforme eu defendi no post anterior.

Uma evidência disto é esta notícia no Público Online, que termina assim: «Entretanto, já circula nos locais de encontro de alentejanos uma explicação para a mímica que colocou Pinho fora do Governo. Diz-se que o gesto do ex-governante foi apenas e tão-só um convite a Bernardino Soares para que os dois fossem beber um café a Barrancos». Para mim, insisto, essa do cafézinho em Barrancos não pega (de caras); o que estava em causa era mesmo a reportagem dos touros de Navarra, donde se conclui que se o Público deixasse Navarra e os touros em paz, Pinho ainda continuaria ministro.

7/03/2009

A culpa é do Público


Foi precipitada, na minha opinião, a demissão de Manuel Pinho. Afinal, como se pode ver aqui na imagem em anexo, o ex-ministro da Economia somente explicava ao líder parlamentar do PCP que no próximo sábado o suplemento Fugas do Público trará uma reportagem sobre touros em Navarra...

6/29/2009

Não ouviram o António Barreto

Escreve aqui o Público que «o Instituto da Construção e Imobiliário (InCI), organismo público que ficou responsável pela execução do Código dos Contratos Públicos, e pela criação de um portal, onde devem ser publicitados todos os ajustes directos e derrapagens, em nome da transparência e do rigor no uso dos dinheiros públicos» adjudicou o serviços para a criação de um portal à Microsoft sem concurso público e já há derrapagem financeira. Isto seria cómico se não fosse grave. Mais um «bom» exemplo desta nossa estranha democracia.

6/27/2009

Se....

Se Sócrates já disse publicamente que punha as mãos no fogo pela legalidade do processo de aprovação do Freeport, se um dos arguidos numa gravação acusou Sócrates de ser corrupto, se Sócrates já assumiu que esteve presente numa reunião a pedido do então presidente da autarquia de Alcochete, se este então presidente da autarquia de Alcochete foi agora constituído arguido, se arguido também está o então presidente do Instituto de Conservação da Natureza, se o antigo secretário de Estado Rui Gonçalves (agora fora do Governo) foi já ouvido como testemiunha, se o procurador-geral da República assumiu que ninguém terá neste caso tratamento preferencial, então expliquem-me as razões por que José Sócrates, cidadão português, não foi ainda ouvido como mera testemunha nesta investigação? Não é oprtuno ou está a aguardar-se momento, digamos assim, mais «oportuno»?

6/22/2009

O ministro e a baleia

Portugal é um dos países que, depois da proibição à caça de baleias, melhor soube aproveitar mesmo do ponto de vista económico a «exploração» de cetáceos por via do turismo. Em vez de defender esta posição, vem agora o já inenarrável ministro do Ambiente, Nunes Correia, defender na reunião anual da Comissão Baleeira Internacional (CBI), que se realiza no Funchal, que é aceitável «o regresso de alguma caça à baleia a nível internacional, em troca de mais medidas de conservação para os grandes cetáceos».

Ora, parece-me que a melhor e principal medida de conservação dos grandes cetáceos é exactamente não os caçar. E depois mostrar e demonstrar que as eventuais valias económicas da exploração turística são maiores do que a exploração que implica o abate. E isto já sem falar nas questões de conservação das espécies e das questões éticas de abater espécies consideradas inteligentes. Mas isto era pedir muito ao ministro do Ambiente português que não gosta de levantar ondas, paninhos quentes para aqui e para acolá, amanhando compatibilidadezinhas bonitas para agradar a gregos e troianos. Enfim, só consegue ser uma coisa: mau ministro do Ambiente.

6/21/2009

Descubra as diferenças

O site do Governo, reparo agora, foi remodelado. Antes era sóbrio. Com o lifting , só por acaso, passou a assemelhar-se agora ao site do Partido Socialista. Coincidências.

Nota: Na operação, desapareceu o sempre útil Arquivo Histórico dos governantes desde os Governos Provisórios, razão principal para as minhas pontuais visitas ao site do Estado.

6/19/2009

O cerco

Carlos Guerra, ex-presidente do Instituto de Conservação da Natureza, foi constituído arguido no caso Freeport. O cerco a Sócrates aperta-se.

Caciquismo, clientelismo e a lentidão da justiça

Está aqui tudo. Nem merece comentário; é um paradigma do país.

6/15/2009

Conselhos pagos

A Direcção-Geral do Consumidor (DGC) - que já se chamou Instituto do Consumidor - tem uma linha de atendimento: o 707 788 787. Funciona, segundo o site apenas nos dias úteis, das 9:30 horas ás 14:30 horas. Já aqui, a «coisa» é estranha: um serviço da Administração Central com um serviço a part-time. Mas pior ainda é reparar que, ao contrário daquilo que sempre foi pensado em relação aos princípios da defesa do consumidor (a informação), esta DGC faz-se pagar: €0,10 por minuto nas ligações com origem nas redes fixas e €0,25 por minuto nas ligações originadas nas redes móveis.
Acho isto um abuso. A quem me posso queixar? À própria Direcção-Geral do Consumidor?
Nota: E reparo também - passou-me despercebido - que a DGC (ou Instituto do Consumidor) está agora tutelada pelo Ministério da Economia e Inovação, quando antes estava no Ministério do Ambiente (Sócrates chegou a tutelar esta áreas quando era secretário de Estado-Adjunto do Ambiente) ou na Presidência do Conselho de Ministros. Uma estranha inovação, diga-se.

6/10/2009

Do sonho das sondagens ao pesadelo da realidade

Durante vários anos, o Governo foi vivendo à sombra das sondagens. Apesar dos protestos de rua, do mal-estar quase geral, do medo com a arrogância de Sócrates e de seus acólitos, as sondagens lá apareciam risonhas para o chefe de Estado, que fazia como se o Estado fosse o Governo e o Governo fosse do PS e o PS se portasse como o dono absolutista do Estado - isto é, do país. As eleições legislativas deste ano tinham então, pelas sondagens e pela petulância assumida pelo PS, a mera curiosidade de saber se haveria ou não nova maioria absoluta socialista.
Como se viu agora pelos falhanços rotundos das empresas de sondagem para as eleições europeias, o PS-Governo-Estado fiou-se nesses delicodoces números. Agora acordou de um sonho e a realidade é afinal um pesadelo. Merecido.

Preparem-se

A comunicação social que, para quem não se recorda, «fabricou» José Sócrates, vai agora calciná-lo. O tempo da imprensa favorável ao Governo é atroz e costuma «cheirar» fins de ciclo. Se tivermos um Verão cheio de fogos, então preparem-se para uma reviravolta eleitoral impensável há uns meses.

Banho de humildade

Depois deste fim-de-semana, até já vemos agora José Sócrates a concordar com o presidente da República por aquele ter vetado o escandoloso diploma - aprovado pelo PS, com todos os outros partidos (e umas poucas excepções e votos contra), e patrocinado pelo Governo - que permitiria que o nebuloso esquema de financiamento partidário se fizesse ainda com maior desfaçatez.
Com esta mudança de atitude, Sócrates mostra que está mesmo aflito de todo depois das eleições. A máscara vai cair.

6/06/2009

O Al Gore português

O título é uma inocente brincadeira (sugestão minha) para chamar a atenção. O resto, fala por isso. A entrevista publicada hoje na revista NS, feita por mim, a Filipe Duarte Santos, sobre alterações climáticas e questões relacionadas, pode ser lida aqui (temporariamente) e aqui (em definitivo).

6/04/2009

Política à la Rua do Século

«O programa hoje apresentado não traz detalhes sobre como será posto em prática, que tipo de infra-estruturas serão necessárias, nem onde se irá buscar dinheiro ou incentivos para a sua implementação». Esta é a última frase desta notícia do Público sobre o Programa Nacional de Prevenção de Resíduos Urbanos, que estabelece uma série de metas. Se o Ministério do Ambiente quer mesmo reduzir o lixo, talvez devesse evitar gastar papel em elaborar apenas documentos que, mais tarde ou mais cedo, vão parar ao lixo.

6/02/2009

Orgulho, mas nem tanto

No editorial do DN, João Marcelino orgulha-se da evolução muito favorável da taxa de mortalidade infantil, destacando que «em 1979, com uma população bem menor do que a actual, morriam neste país 8000 crianças antes de cumprirem um ano de vida; hoje, morrem 320». Se o valor mais recente está correcto e é um facto que Portugal teve uma evolução nas últimas décadas que o encostam aos melhores países - na generalidade, os países desenvolvidos -, não é preciso exagerar. Em 1979, a taxa de mortalidade infantil rondava os 40 óbitos até ao ano de idade por mil nascimentos, o que então nascendo cerca de 100 mil crianças dará 4.000 óbitos - e não o dobro como o indicado (vd. aqui um relatório do INE).

Mas se é uma evidência que houve a este nível uma evolução muito favorável - que, em certa medida, se deve mais à evolução médica global e, não sendo irrelevante, á possibilidade de se realizarem abortos por malformações congénitas detectadas durante a gravidez -, há uma questão essencial a colocar. Se na assistência médica dos recém-nascidos e até aos cinco anos de idade, Portugal apresenta dos melhores resultados a nível mundial, por que razão então apenas ocupamos um pouco prestigiante 32º lugar a nível mundial em termos de taxa de sobrevivência em idade adulta? Com efeito, tendo em conta que segundo o último relatório da Organização Mundial de Saúde a probabilidade de se morrer entre os 15 e os 65 anos é de 9,3%, há então ainda um longo caminho a percorrer em termos de cuidados de saúde para ombrearmos com os outros países desenvolvidos. A menos que a táctica do Estado português seja salvar o máximo de futuros contribuintes, mas evitando simultaneamente que haja muitos reformados, ou seja, que se chegue a idoso.

Adenda: N'As Escolhas do Beijokense explora-se ainda melhor o erro de análise estatístico de João Marcelino no editorial em relação à taxa de mortalidade infantil. Eu tinha a percepção de que, apesar de ter então uma menor população, havia mais nascimentos nos anos 70 do que actualmente (e isso altera as contas da taxa de mortalidade infantil). Por preguiça, não foi escapelizar esses dados, porque eram apenas pormenores. Mas, no blog acima referido, apresentam-se esses dados. Ora, em 1979, este índice era de 26 por mil, uma vez que nasceram 160 mil crianças e faleceram um pouco menos de 4.200. Aliás, se o número de nascimento em 2007 (últimos dados) tivessem sido semelhantes a 1979, e assumindo a taxa de mortalidade infantil de 2007, teriam morrido 552 crianças com menos de um ano, em vez das 353 verificadas.


6/01/2009

O bode expiatório começa a nascer

A máquina de comunicação do Governo já está a arrepiar caminho. Temendo que este Verão não seja tão verdejante em matéria de incêndios florestais, já anda a fazer passar para a comunicação social um eventual bode expiatório: as eleições.

Hoje, numa notícia no Correio da Manhã - que, aliás, mostra que a desorganização de competências ainda campeia nos teatros de operações - apresentam-se algumas curiosas estatíticas. Diz-se que «entre 1980 e 2007 realizaram-se sete eleições autárquicas. E o número de fogos aumentou nesses períodos 6,68 por cento face à média de anos sem escrutínios. Em ano de Legislativas, verificou-se mais 16,8 % de área devastada. Perante estes dados, até o secretário de Estado das Florestas, Ascenso Simões, já admitiu: 'Vamos ter um Verão difícil' em matéria de incêndios florestais».

Ora, sem colocar aqui em causa o jornalista que escreveu esta notícia, a minha experiência induz-me a afirmar, com baixa probabilidade de erro, que quem fez estas contas foi o próprio Governo, que as transmitiu depois ao jornalista. Como quem diz: olhem, se as coisas correrem mal, a culpa é das eleições, a culpa dos incêndios é daqueles que estão contra o Governo. Aliás, pela análise que fiz e escrevi no livro Portugal: O Vermelho e o Negro, em 2006, é que sempre que os incêndios de Verão sucedem em épocas de eleições, surgem os governantes a fazerem incendiários brotarem que nem cogumelos.

Já agora, convém referir que os dois piores anos de incêndios - 2003, com cerca de 420 mil hectares, e 2005, com 350 mil hectares - não foram anos de eleições.

Ecossistemas de parceiros ou o jardim zoológico da nossa democracia

Parece que os senhores deputados se andaram a divertir no dia 30 de Abril na Assembleia da República e votaram uma resolução a recomendar ao Governo a criação de uma Fábrica de Ideias. Da parafernália de intenções ocas, também despontam algumas pérolas de puro humor. Entre outras coisas, a futura Fábrica de Ideias desse estar assente num «Ecossistema de parceiros para a inovação — definição dos parceiros a envolver, designadamente instituições particulares de solidariedade social (IPSS), empresas, universidades, organizações não governamentais (ONG),
co -investidores, etc.)» (sic).