8/26/2004

Farpas Verdes CXIX

Pela leitura do Diário de Notícias soube que a gestão da extracção de inertes no rio Douro passou para a tutela da Secretaria de Estados dos Assuntos do Mar, integrado no Ministério da Defesa. Que os assuntos do mar sejam integrados na pasta da Defesa, já é esquisito; que a gestão de uma componente ambiental e de recursos hídricos esteja numa pasta dos Assuntos do Mar é quase anedótico, não fosse o caso de ser grave.

Nas últimas décadas, a gestão dos inertes nas zonas portuárias têm sido uma das principais causas para a erosão das praias. Sem qualquer sensibilidade, as juntas e administrações portuárias sempre viram as areias como uma espécie de mealheiro para irem sacando receitas - por vezes de forma algo nebulosa - sem se importarem com os danos ambientais e sociais, e cujas facturas são pagas pelos contribuintes e com a degradação.

Não encontro qualquer lógica para esta decisão do Governo, mas também já nada me surpreende. Continuamos no belo caminho para o desastre.

8/21/2004

Farpas Verdes CXVIII

Chegado a Portugal, eis que vejo o candidato à liderança socialista, José Sócrates, dizer que é importante desligar as finanças das autarquias da dependência das licenças de construção. Se este for o seu cavalo de batalha e conseguir um famoso «pacto de regime» para alterar essa dependência merece todo o meu aplauso.


Farpas Verdes CXVII

Estive nos últimos dias na Andaluzia para preparar uma reportagem sobre a estratégia de incêndios naquela região espanhola. Fazer a comparação com a realidade portuguesa dá vontade de chorar. Eles não têm heróis, mas têm floresta. O sistema é profissional e bem feito. Em breve as minhas impressões e comparações serão feitas.


8/12/2004

Farpas CXVI

É com imensa pena que vejo que a até agora comissária de Ambiente da Comissão Europeia, a sueca Margot Wallstrom, não se vai manter numa pasta onde exerceu uma postura bastante positiva ao longo do mandato. Em sua substituição, surge o grego Stavros Dimas. Por princípio, preferia um comissário de Ambiente de um país nórdico, devido à maior sensibilidade que têm para as questões ambientais. Ao invés, os países mediterrânicos nunca foram muito vocacionados para este sector, mais ainda Grécia e Portugal - de longe os dois países da Europa-15 com pior «perfomance» ambiental. Além disso, pelo que vejo do currículo de Stavros Dimas, não me parece que tenha uma preparação para estas áreas: é um economista e jurista que passou pelo Governo grego em três ocasiões nas décadas de 80 e início de 90, com passagens pelas pastas do Comércio, depois Agricultura e mais tarde da Indústria, Energia e Tecnologia.

8/10/2004

Farpas Verdes CXV

O concelho da Amadora é um dos que possui maior densidade urbana e , por isso mesmo, foi o único município da Grande Lisboa (com a capital) que apresentou na última década um saldo migratório negativo. Compreende-se: com tamanha massificação e falta de qualidade de vida, quem pode, vai embora.

Eis que chega o momento da revisão do PDM. E quais são as linhas estratégicas da autarquia? Segundo o Público, o presidente da autarquia, Joaquim Raposo, diz que «ao contrário do que se passa normalmente nestas revisões, que só servem para que se permita construção em áreas em que anteriormente não era permitido, isso não se vai passar na Amadora». Pudera, quase já não há espaço.

Depois faz a apologia da construção de arranha-céus, com o argumento de que «a ideia é sim construir edifícios mais altos para que seja possível libertar terreno e utilizá-lo para a construção de infra-estruturas necessárias, como jardins e parques de estacionamento". Não devo estar a compreender isto: então se tenho um terreno sem construção, tenho que construir para libertar terreno para jardins e parques de estacionamento?

8/05/2004

À Margem Ambiental LXVII

Por vezes, rir é o melhor remédio...


8/04/2004

Farpas Verdes CXIV

Triste país o nosso como diz Pacheco Pereira: os dados provisórios da Direcção-Geral dos Recursos Florestais estimam que este ano tenham ardido já cerca de 108 mil hectares. Continuamos com os olhos postos no ano passado - seria quase impossível repetir o drama de 2003 -, mas devagar, devagar lá estamos a ultrapassar, mais uma vez, a fasquia dos 100 mil hectares.

Desde 1998 - ou seja, nos últimos sete anos - apenas houve um em que não ultrapassamos os 100 mil hectares (em 1999, com cerca de 70 mil). Antes daquele ano apenas existem registos de cinco anos acima desse valor (1985, 1989, 1990, 1991 e 1995). O somatório da área ardida dos últimos sete anos - contando com os de 2004 - já atinge a cifra de 1,167 milhões de hectares - isto é, um terço da propalada área florestal do país. Conclusão (que não é uma hipótese académica nem insensata): em menos de duas décadas a floresta (como a conhecemos no passado) terá desaparecido!


8/03/2004

Farpas Verdes CXIII

Parece que a Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa conseguiu apurar que a mortes de peixes na semana passada no rio Alviela teve causa indeterminada. Já estamos habituados a estas conclusões. Conviria saber que tipo de parâmetros são usados nessas análises. Se me doer o peito e me medirem a febre, de certeza que não me vão apurar complicações cardíacas, não é?


8/02/2004

À Margem Ambiente LXVI

No âmbito da cadeira «Ambiente e Energia», do terceiro ano do curso de Engenharia do Ambiente do Instituto Superior Técnico, da responsabilidade do Prof. Delgado Domingos e da Eng. Margarida Coelho, o livro «Estrago da Nação» foi «escalpelizado» e analisados pelos alunos.

Alguns dos trabalhos de grupo apresentados podem ser consultados e «descarregados» no Extractos do Estrago da Nação.


8/01/2004

Farpas Verdes CXII

Na nova orgânica do Governo, o futuro do litoral e do mar decide-se no Largo do Caldas, ou seja, por um partido que jamais mostrou um pingo de sensibilidade ambiental. Assim, temos o ministro Nobre Guedes a gerir grande parte do litoral; as franjas restantes (os portos), a serem geridos pela Secretaria de Estado dos Assuntos do Mar; o turismo (que em Portugal quase sempre significa a delapidar o litoral) a ser tutelado pelo ministro Telmo Correia; e a segurança marítima e a gestão da ZEE pelo ministro Paulo Portas. Nós é que temos de começar a rezar à Nossa Senhora de Fátima.


Farpas Verdes CXI

Lembro-me que há cerca de cinco anos, numa operação inaugural de trasfega no terminal da Petrogal houve uma explosão que causou dois mortos. A probabilidade de ocorrência era de uma por um mihão, sendo que essa operação só se fazia uma vez. Desta vez não houve mortos, mas cada vez são maiores os incidentes envolvendo a Petrogal: há cerca de um mês foi em Sines, ainda na semana passada tinha havido um outro mais pequeno também em Leixões. Estamos mesmo à espera de uma tragédia. E em Portugal as tragédias costumam ser repentinas, mas não inesperadas.