6/29/2007

Meteu água, mais uma vez

São conhecidas as histórias de pacientes que entram num bloco operatório para serem operados a uma coisa e, por engano, saem de lá operados a outra coisa qualquer. Mas nunca tinha vista uma operação de demolição que arrasa o edifício errado, ainda mais estando a mais de três quilómetros de distância daquele que deveria ter sido. O Correio da Manhã conta aqui a história rocambolesco de uma demolição feito no âmbito das obras de recuperação ambiental das margens da Lagoa de Óbidos, a cargo do Instituto da Água. Lá fartar de meter água, fartam-se eles...

Ontem deu-me para isto...

... comprar um CD dos Marylin Manson. E é muito, muito bom. Completamente diferente da parafernália barulhenta, esquizofrénica e incompreensível (sobretudo ao nível da voz, que surge agora mais cristalina e audível) dos anteriores álbuns.

O respeitinho no país cinzentão

O ministro da Saúde, numa entrevista, terá dito que nunca entrara num Serviço de Atendimento Permanente (SAP) - pressuponho que na qualidade de utente. Um médico de Vieira do Minho fez uma fotocópia da dita entrevista, acrescentou um "Façam como o ministro, não venham ao SAP" e afixou-a no centro de saúde. Para mim, isto é ironia refinada, acho piada, mesmo se com crítica, mesmo se num local como um centro de saúde.

Ora, parece que alguém não gostou, escreveu no livro de reclamações, esta chegou ao ministro e a directora do centro de saúde foi exonerada, mesmo se o tal médico confessou a autoria.

Este - mais um - episódio revela apenas que o país sisudo e controleiro está outra vez aí. Durante séculos tivemos a Inquisição, onde qualquer laivo de humor poderia levar à fogueira. Depois tivemos o Estado Novo onde o respeitinho era muito lindo e quem saísse da linha seguia com os costados para a choldra. Agora, como somos uma democracia, exoneram-se as pessoas ou marginalizam-se profissionalmente. Os métodos podem agora ser mais brandos, mas nisto vai resultar a mesma coisa: um povo (cada vez mais) cinzentão.

P.S. E se os contornos deste episódio, contado hoje no DN, tiverem sido mesmo estes, a coisa ainda é pior.

6/25/2007

O paraquedismo dá nisto

Chega a ser confrangedor assistir à entrevista de Fernando Negrão ao Rádio Clube Português, que o Público aqui destaca. Melhor do que ler a notícia é ouvir a entrevista propriamente dita (que se encontra no mesmo link). Além de ideias vazias, Negrão repetidamente refere-se à EPUL chamando-a de IPPAR. E depois, na segunda parte, quando o jornalista até lhe dá, subrepticiamente, oportunidade para se corrigir fornecendo-lhe a dica de que aquilo que ele chamava IPPAR se chamava EPUL, Negrão nem se apercebe disso e pega antes na palavra EPUL para falar de águas, porque «como todos sabemos, [a EPUL é] a empresa de abastecimento de água de Lisboa», confundindo-a com a EPAL. O homem até pode ter dificuldades em siglas, como admitiu mais tarde a sua candidatura, mas meter tanta água numa entrevista tão curta apenas revela que o paraquedismo político dá, quase sempre, maus resultados...

Clima aquecido

Um blog que recomendo: o Clima Aquecido, que tem sobretudo notícias actuais relacionadas com alterações climáticas e aquecimento global.

Prioridade? Concerteza que sim,senhor Primeiro-Ministro

Prioridades para o interior, segundo o primeiro-ministro José Sócrates, é construir auto-estradas, conforme se comprova nesta notícia, em que se anuncia a ligação entre Vila Real e Bragança. E isto porque, segundo José Sócrates, o distrito de Bragança «ainda não tem um único quilómetro de auto-estrada». Ora, todos nós, contribuintes, devemos achar isso intolerável, né?

Enfim, não valerá a pena sequer relembrar que, por exemplo, a Irlanda conseguiu chegar ao topo do desenvolvimento sem apostar nas auto-estradas.

Enfim, não valerá a pena sequer relembrar que existem outros motivos para o atraso da região de Trás-os-Montes que nada têm a ver com a ausência de auto-estradas.

Enfim, não valerá a pena sequer relembrar que uma auto-estrada de 130 quilómetros custará mais de 650 milhões de euros e que haveria, por certo, melhor destino a dar-lhes, mesmo se investindo-os todos naquela região.

Enfim, não valerá a pena sequer relembrar mais uma série de coisas....

Afinal, se o Governo diz que é prioritário, o nosso dever é dizer amen.

6/23/2007

Um rato especial

Será, pelos teasers que se podem ver no Youtube, um delicioso filme de animação da Pixar, que está a estrear nos Estados Unidos e que, espero, venha rapidamente para Portugal. Chama-se Ratatouille e aborda a vida de um rato parisiense que é louco por comida de verdadeiros restaurantes de luxo frequentados por pessoas. E, ah, excelente cozinheiro...

6/22/2007

O fumo aéreo

No ano passado, quando escrevi o livro Portugal: O Vermelho e o Negro solicitei ao então Serviço Nacional de Bombeiros e Protecção Civil, além de outra documentação, o acesso aos contratos dos meios aéreos usados nos combates aos incêndios florestais. Recusaram e, com a conivência da Comissão de Acesso aos Documentos Administrativos, não me foi assim possível usá-los no livro.

Agora, vejo por esta notícia que o Governo recusa revelar pormenores dos contratos de meios aéreos assinado este ano alegando questões de «segurança interna», tendo colocado uma cláusula de confidencialidade. Coincidências, portanto.

Mas extraordinária é a justificação do Governo. Em resposta a um pedido da Lusa, o gabinete do Ministro da Administração Interna esclareceu que «qualquer prestação de serviços ao MAI em ambiente operacional pressupõe a possibilidade de se tomar conhecimento directa ou indirectamente de informação cuja divulgação pode prejudicar o interesse público conexo com a segurança interna». Interesse público conexo com a segurança interna???? Meu Deus, eu desconhecia que a transparência (e, desse modo, saber se há ou não corrupção) é algo que prejudica o interesse público. E que significa interesse público conexo com a segurança interna?

6/21/2007

Ai Benfica, Malfica

Em mais de três anos, esta é - se não me engano - a segunda vez que me refiro ao Benfica. E este é para dizer que, sendo adepto do Benfica desde que me conheço, decidi tornar-me sócio no ano 2000 na segunda-feira seguinte ao Vale e Azevedo ter perdido as eleições. Tenho aguentado alguns depautérios dos presidentes que entretanto foram passando e muitos esquemas esquisitos (imobiliários, alguns...). Mas decididamente parto o cartão de sócio (já não dá para rasgar porque é de plástico), se um senhorque dá pelo nome de Joe Berardo tiver um dia qualquer predominância nos órgãos do clube e/ou da SAD. ...

Deontologia jornalística

Estou integrado na lista do Conselho Deontológico do Sindicato dos Jornalistas, que ontem foi eleita (lista única, convém referir). Significa isto que, mais do que habitualmente, estarei atento ao que se vai passando pelo jornalismo português. Mas, parece-me quase desnecessário referir, não serei corporativista. Muito pelo contrário...

6/16/2007

Aeroporto e embustices

Esta notícia da jornalista Leonor Matias, do Diário de Notícias (manchete de hoje), constitui o paradigma do mau jornalismo.

Escreve a dita jornalista ter apurado que «a opção de construir o novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete pode resultar num apoio comunitário de 800 milhões de euros(...) contra apenas 5,6% dos 3,1 mil milhões de de euros no caso da Ota», acrescentando que «esta diferença explica-se pelo facto de o Campo de Tiro de Alcochete pertencer ao concelho de Benavente, o qual passou a integrar a região do Alentejo, considerada uma zona pobre para efeitos de elegebilidade de apoios comunitários, enquanto a Ota pertence à região de Lisboa e Vale do Tejo, passou a ser considerada uma zona "rica"».

Contudo, na verdade, isto é um disparate em toda a largura e comprimento. Por uma razão muito simples: já nem sequer formalmente existe uma região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e, portanto, Ota não integra uma região «rica». Há poucos anos, exactamente por ter a região LVT passado a ser uma região «rica», decidiu o Governo separar as NUT III do Oeste, Médio Tejo e Lezíria do Tejo da então LVT, passando as duas primeiras para a região Centro e a terceira para o Alentejo. Deste modo, as restantes subregiões Grande Lisboa e Península de Setúbal formaram a actual («rica») região Lisboa.

Deste modo, colocar Benavente (Campo de Tiro) , para efeitos de financiamento comunitário, em vantagem sobre Alenquer (Ota) não é verdade: estão em pé de igualdade, já que Benavente (Médio Tejo) é ,de facto, Alentejo, mas Alenquer (Oeste) não é LVT (que já não existe) nem Lisboa,mas sim Centro - ou seja, ambas as localizações não estão inseridas numa região«rica». E isto arrasa logo a notícia.

Porém, choca-me particularmente também toda a estrutura da notícia. Vejamos por quê , através de algumas passagens:

«(...) apurou o DN junto de fonte ligada ao estudo patrocinado pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) (...).

(...) Fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos regionais explicou ao DN (...)

(...) Fonte do gabinete do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, confirmou ao DN (...)

(...) Fonte da câmara municipal de Benavente lamentou ao DN (...)».

Ou seja, a jornalista usou quatro fontes para elaborar uma notícia. Todas as quatro são fontes anónimas! Nem uma é, portanto, identificada e nem se justifica por haver necessidade de protecção de fontes, pois as informações não são assim tão confidenciais e nem me parece que aqui se justifique a protecção da fonte.

Porém, tendo em conta que a primeira fonte (anónima e ligada ao estudo da CIP) transmite uma informação errada que a jornalista tinha obrigação de saber estar incorrecta (são daquelas coisas que tem de saber...),

que a segunda fonte (a da Comissão Europeia) faz referências que estão, no mínimo desactualizadas e, portanto, incorrecta, como acima se comprovou (a passagem da notícia do DN é a seguinte: «Fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos regionais explicou ao DN que em termos de elegibilidade existem dois tipos de regiões, e Benavente faz parte das zonas mais pobres, em que o Produto Interno Bruto (PIB) está abaixo dos 75%, o que não se passa na região de Lisboa e Vale do Tejo»),

que me parece muito pouco provável (para não dizer impossível) que uma verdadeira e competente «fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos comunitários» desconheça que não existe já LVT e que Alenquer está integrada agora na região Centro (ou seja, numa região que não é «rica»,

torna-se assim lícito questionar se a jornalista falou sequer com as fontes ou se aquilo que escorreu da sua pena foi mera imaginação, mera ignorância ou um contributo para a causa de um dos lobbies. Mau jornalismo, isso sei que é.

Humor perigoso no Largo do Caldas

Começam a descobrir-se coisas interessantes em redor dos financiamentos partidários. A Polícia Judiciária começou, felizmente, a olhar para as análises do Tribunal Constitucional sobre as contas dos partidos e, por causa do caso Portucale, começam-se a desvendar os meandros dos ditos donativos particulares (única forma de financiamento partidário, para além das subvenções públicas).

Sobre esta matéria, a imprensa de hoje revela que nas contas do CDS-PP que enriqueceu no período em que esteve no Governo (coincidência, por certo...), existe uma vasta lista de beneméritos que não se conseguem identificar porque não existe um registo válidos nem sequer número de contribuinte. E ao que parece são tantos os doadores que até consta lá o improvável Jacinto Leite Capelo Rego (leia-se devagarinho, sff, com acento agudo no a). No meio disto, somente me admira que o sr. Óscar Alho não tenha sido confirmado como um dos beneméritos do CDS-PP. Se calhar é de outro partido.

6/13/2007

Um dia por Lisboa

Na próxima Terça-Feira, dia 19 de Junho, no Jardim de Inverno do Teatro São Luiz, ao Chiado, decorrerá uma sessão contínua (das seis da tarde à meia-noite) de expressão da cidadania. Convidámos vários cidadãos, entre eles alguns peritos, para virem falar sobre o que SE DEVE FAZER, e o que acham que absolutamente NÃO SE DEVE FAZER em Lisboa.

Cada convidado terá um máximo de dez minutos para fazer a sua declaração. Entre cada bloco de quatro ou cinco declarações será feito um ponto de situação/resumo das intervenções, por elementos do grupo coordenador. As intervenções estarão balizadas por cinco grandes temas:
Respirar (Ambiente e Paisagem), Relacionar (Vida Urbana e Quotidiano), Mover (Mobilidade e Estacionamento), Projectar (Urbanismo, Construção e Reabilitação) e Governar (Administração, Transparência e Participação).

Em simultâneo, convidamos todos os cidadãos residentes e utentes de Lisboa para virem também dizer o que FAZER E NÃO FAZER nos “speakers-corner”, cabines com sistema de gravação, que serão instalados no S. Luiz. Os depoimentos de especialistas e de cidadãos serão posteriormente tratados, sistematizados e divulgados. Poderão também ser vistos na PF tv (http://pftv.sapo.pt ).

Do grupo que promove e coordena a iniciativa fazem parte nomes como: António Câmara, Elisa Vilares, Isabel Peres Gomes, João Seixas, Jorge Barreto Xavier, José António Pinto Ribeiro, José Calisto, Lia Vasconcelos, Leonor Cintra Gomes, Luísa Schmidt, Nuno Artur Silva, Pedro Almeida Vieira, Pedro Matos e Rui Tavares.

Este grupo de cidadãos de Lisboa, não vinculado a qualquer das actuais candidaturas, pretende provocar discussões abertas, desmistificadoras e – sobretudo – motivadoras, em torno da nossa condição de cidadãos de uma cidade tão fascinante, intrigante, desejada e mal tratada. Assim, promove a sua primeira iniciativa – colectiva – em plena maré do período eleitoral, ciente de que compete a todo o cidadão, o direito e a responsabilidade de pensar e de actuar sobre a sua cidade. Sendo direito e responsabilidade permanentes, outras iniciativas se seguirão, no futuro.

Em breve divulgaremos a lista dos intervenientes. Quaisquer informações podem ser esclarecidas pelo telefone 213864554 (isabelperesgomes@mail.telepac.pt )

6/12/2007

O futuro está na altanaria

No meio do disparate nacional que se chegou em relação ao futuro aeroporto de Lisboa, surge agora a hipótese concreta do Campo de Tiro de Alcochete. Eu já nem discuto o disparate de colocar o aeroporto numa zona militar que, nos últimos anos,se transformou num modelo de boa gestão ambiental (que já ganhou até prémios). Nem quero ir à questão do ordenamento do território, que alongaria os abortos urbanísticos do Seixal-Barreiro até Porto Alto. Nem à questão da proximidade (ali mesmo ao lado) de uma reserva natural. Discuto sim o perigo real de colocar um aeroporto parede-meias com uma zona que alberga, em alguns anos, cerca de 100 mil aves migratórias. E nem é pelas aves, é pelos aviões.

Se esta espatafúrdia ideia avançar, decididamente dedico-me à criação, em aviário e em dose massiva, de falcões para afugentar as aves. Ou então abro uma agência funerária... e nunca comprarei acções de seguradoras nem de aviação.

6/10/2007

Destes casos está o Governo PS livre

Casos de polícia, como o da Portucale, não aconteceriam se o Governo PSD/PP se tivesse lembrado de criar, como o actual Governo socialista, os Planos de Interesse Nacional (PIN). A coisa era aprovada por um regime de excepção, podia à mesma envolver à tráfico de influências, dinheiros para partidos e afins. Seria imoral, anti-democrático, de grande injustiça social, faria tábua rasa de tudo o que é ordenamento e planeamento do território... mas não havia processos em tribunal.

6/08/2007

Não vale a pena

Não vale a pena esperar nada do Governo Federal dos Estados Unidos em matéria de alterações climáticas enquanto George W. Bush se mantiver como presidente. Como se confirmou agora na reunião do G8.

A melhor decisão ambiental em Lisboa nos últimos anos

Durante anos a fio, em plena cidade de Lisboa, uma fornalha queimou lixos hospitalares,mais precisamente no Hospital Júlio de Matos, ao pé da Avenida do Brasil. Não estava sozinha: ao longo do país existiam cerca de 40 que nos «tratavam» da saúde, lançando para o ar perigos poluentes, como as dioxinas. Era a suprema ironia: hospitais a causarem doenças.

Entretanto, todas foram encerrando, à medida que soluções tecnológicas e a reciclagem de lixos hospitalares foram sendo, felizmente, adoptadas. Mas restou a fornalha do Júlio de Matos, que os SUCH insistiam em manter, apesar de todos os perigos. E que perigos! De facto, apesar de tanta polémica em torno das centrais de incineração de lixos perigosos ou urbanos e da co-incineração, certo é que esta fornalha é, desde sempre, a principal fonte individual de dioxinas do país. A manutenção do seu funcionamento em plena cidade de Lisboa deveria ser um crime.

Finalmente, soube por aqui, o Governo decidiu encerrar definitivamente a fornalha do hospital Júlio de Matos, transferindo a queima para a Chamusca. A medida foi feita quase de forma envergonhada, como quem não quer admitir que peca por tardia. Mas é uma boa decisão. E isso merece aplauso.

6/07/2007

Sete pecados capitais (III) - Pobreza

Com um poder de compra que ultrapassa o dobro do índice médio nacional, o concelho de Lisboa apresenta, porém, significativas franjas de pobreza. Apesar dos investimentos massivos na erradicação de barracas e na construção de bairros sociais durante a década de 90, os Censos 2001 identificaram ainda 3.548 barracas na capital portuguesa, um terço das quais nas freguesias de Charneca (732) e Marvila (469). Estes valores deverão ser agora mais baixos, por via dos realojamentos entretanto concluídos no Bairro da Musgueira e em outras zonas, sobretudo de Chelas.

Mas a existência ou não de barracas não é o único indicador para apurar as condições de vida das populações da capital. De facto, o Recenseamento da Habitação em 2001 apurou que em alojamentos clássicos (excluindo, portanto, as barracas) viviam3.800 pessoas que não tinham água canalizada, cerca de dez mil não tinham acesso a local próprio para tomar banho e 12 mil não tinham retrete. Além disso, 740 pessoas viviam em alojamentos sem electricidade, água e casa de banho.

A capital portuguesa possui também concentra uma população flutuante de sem-abrigos. Segundo um estudo da Santa Casa da Misericórdia na segunda metade dos anos 90, existiriam então entre duas mil e 3,5 mil sem-abrigos em Lisboa.

A pobreza extrema também fica patente no número de famílias e pessoas que necessitam de apoio financeiro do Estado. Os mais idosos solitários, sobretudo nas freguesias centrais, e as famílias mais numerosas das freguesias periféricas são os dois grupos que apresentam as mais graves situações de carência económica e de condições de vida. De acordo com os dados dos últimos Censos,em Março de 2001 viviam quase 3.200 pessoas com mais de 15 anos que se sustentavam com o então denominado Rendimento Mínimo Garantido e outras duas mil eram apoiadas por instituições de solidariedade nacional.

6/05/2007

Só por hoje

Hoje vai falar muita gente sobre ambiente. Por isso, eu silencio-me...

6/04/2007

Um apelo tardio

Ontem, o Presidente da República, Cavaco Silva, apelou à comunicação social para dar uma imagem mais positiva da agricultura portuguesa, de modo a que «os portugueses não absorvam a ideia de que o sector está atrasado, não se moderniza, está em crise».

O Presidente tem razão, de facto - muitos sectores agrícolas do país têm um enorme potencial. Mas torna-se evidente que está em crise, não tanto por causa das produtividades (que em muitos casos têm melhorado, exactamente por via da modernização), mas porque perdeu capacidade competitiva, fruto do abandono agrícola e por, durante muitos anos, os Governos considerarem que apostar na agricultura era um sinal de atraso do país...

Os Governos de Cavaco Silva (1985-1995), por exemplo, assim procederam. E pior, com a falta de fiscalização, permitiram tudo neste sector, menos que se desenvolvesse e se preparasse para o embate da actual Política Agrícola Comum.

6/03/2007

Os bombeiros - a velha questão que se renova

Começa a aparecer mais do que evidente que o actual Governo está numa campanha para profissionalizar e controlar os serviços até agora executados pelas corporações de bombeiros voluntários. Começou no ano passado com os incêndios, estende-se agora à emergência pré-hospitalar.

Esta medida governamental é, talvez, das poucas que merece a minha inteira aprovação, porque defendo que a profissionalização será a forma mais eficaz e até barata de melhorar a eficácia e evitar esquemas pouco transparentes.

Não está aqui, obviamente, em causa a abnegação dos bombeiros voluntários, mas sim, como defendo, a necessidade de se criar uma estrutura com bombeiros (podendo-se aproveitar mesmo muitos dos voluntários... profissionalizando-os) que estejam bem equipados, bem treinados, com disponibilidade assegurados e... obviamente, imputáveis.

Dir-se-á: bom, isso pode ser feito com as actuais corporações. Na prática, sim - e até já funciona parcialmente. Grande parte - se não quase a totalidade - dos serviços prestados pelas corporações de bombeiros voluntários é feito á base (ou exclusivamente) de profissionais. Porém, terá sempre uma grande desvantagem. O Estado não controla os gastos e nunca pode responsabilizar ninguém. Criando uma estrutura autónoma, de raíz - em suma, causando uma revolução (porque isto jánão vai com reformas).

Ora, é isto que a Liga dos Bombeiros Portugueses mais receia, daí as reacções que começam a mostrar (vd., p. ex., aqui). Veremos se o Governo terá coragem para concretizar esta questão que é essencial para o país.

6/01/2007

Feira do livro

Amanhã, dia 2, estarei a partir das 17 horas na «barraquinha» da Dom Quixote da Feira do Livro de Lisboa para conversar com quem o desejar e, para quem quiser, meter umas dedicatórias em algum dos meus livros. Enfim, na verdade, lá estarei sobretudo para tentar que se vendam mais uns quantos, que é também para isso (ou sobretudo por isso) que escrevo...

Quem não gostar de mim ou dos meus livros, que não seja por isso que evite passar pelo stand da Dom Quixote, pois estará bem apetrechada. Presentes estarão, a saber: António Lobo Antunes, José Eduardo Agualusa, João de Melo e Pepetela.

Hoje sinto-me pouco patriota

Decididamente, os espanhóis andam doidos. Não contentes em chumbar uma piscicultura na Galiza por estar prevista em sítio de Rede Natura (que vai agora para a portuguesa praia de Mira, que por acaso também é Rede Natura), agora ainda reprovaram a construção de uma bela auto-estrada na Andaluzia de 300 quilómetros entre Toledo e Córdova para proteger muitas espécies de animais em perigo, em especial o lince ibérico (vd. aqui).

Muito têm os espanhóis para aprender com os políticos lusitanos. Auto-estradas a atravessar zonas de conservação temos aos pontapés. Uma delas, aliás, atravessou exactamente uma região onde, supostamente, havia linces em Portugal. Temos mais duas outras auto-estradas a atravessar zonas protegidas. Mais uma barragem a ser construída em zona de habitat do lince. Temos empreendimentos turísticos a nascer em sítios da Rede Natura. Uma cimenteira noutra, ainda por cima onde o Governo quer queimar resíduos perigosos. Indústrias em zona de Reserva Ecológica Nacional. A lista é longa...

Enfim, nós por cá, somos um país com um Governo muito ambientalista; com muitos governantes sensíveis à ecologia; com um primeiro-ministro que faz jogging e ganhou fama por ser ministro do Ambiente; com muita zona classificada como área protegida; com muita teoria; com muitas promessas; com muitas loas à Natureza; com muitas conferências eruditas de Al Gores e Kofi Anans, em que participa a nata política e empresarial - mas que, na hora da verdade, se borrifa para o essencial do ambiente. Dir-me-ão: é o custo do progresso. Eu direi: é o caminho para o desastre. E os espanhóis sabem isso.