6/29/2007

O respeitinho no país cinzentão

O ministro da Saúde, numa entrevista, terá dito que nunca entrara num Serviço de Atendimento Permanente (SAP) - pressuponho que na qualidade de utente. Um médico de Vieira do Minho fez uma fotocópia da dita entrevista, acrescentou um "Façam como o ministro, não venham ao SAP" e afixou-a no centro de saúde. Para mim, isto é ironia refinada, acho piada, mesmo se com crítica, mesmo se num local como um centro de saúde.

Ora, parece que alguém não gostou, escreveu no livro de reclamações, esta chegou ao ministro e a directora do centro de saúde foi exonerada, mesmo se o tal médico confessou a autoria.

Este - mais um - episódio revela apenas que o país sisudo e controleiro está outra vez aí. Durante séculos tivemos a Inquisição, onde qualquer laivo de humor poderia levar à fogueira. Depois tivemos o Estado Novo onde o respeitinho era muito lindo e quem saísse da linha seguia com os costados para a choldra. Agora, como somos uma democracia, exoneram-se as pessoas ou marginalizam-se profissionalmente. Os métodos podem agora ser mais brandos, mas nisto vai resultar a mesma coisa: um povo (cada vez mais) cinzentão.

P.S. E se os contornos deste episódio, contado hoje no DN, tiverem sido mesmo estes, a coisa ainda é pior.

1 comentário:

Anónimo disse...

Parece-me grave que um médico faça um comentário "não venham ao SAP..." desta natureza. O resto é um exagero da hierarquia, na ânsia de pôr ordem na casa.