6/30/2005

Memória de Elefante III

«Centrais nucleares estão previstas para Freixo de Espada-à-Cinta, Mértola, Mira e Vila Nova de Milfontes», in Expresso (13 de Agosto de 1983)

Artigo que revela, segundo um estudo do grupo de trabalho da Direcção-Geral de Energia, que Freixo de Espada-à-Cinta, Mértola, Mira e Vila Nova de Milfontes são os locais propostos para as quatro centrais previstas do Plano Energético Nacional. O artigo saliente que o estudo teve por base os critérios da Agência Internacional de Energia Atómica e as orientações das agências francesa e americana.

Nota: Como se pode ver, de quando em vez, a opção nuclear surge em Portugal. Esta é curiosa: foi uma proposta dos anos 80 que indicava não uma, não duas, não três, mas logo quatro centrais nucleares em Portugal. Uns "modestos" os empresários de agora...
Memória de Elefante II

«Central nuclear dentro de 7 anos», in Expresso (21 de Fevereiro de 1976)

Artigo que revela estar previsto para norte de Peniche ou perto do complexo de Sines, a localização da primeira central nuclear em Portugal, podendo estar construída dentro de sete ou oito anos.


Nota: Lembrei-me desta notícia de 1976... ou seja, tem quase 30 anos. Tanta certeza deu no que deu. Hoje quando ouvi que a central nuclear proposta por uns empresários «paladinos» poderia construir-se em sete anos, sorri. Estas gentes não entendem o país: então se para se conseguir queimar lixo industrial foi o que se viu, imaginem encontrar agora local para uma central nuclear. Esqueçam esta ideia, senhores empresário, dediquem a energia dos vossos neurónios a melhorar a eficiência energética do país...

6/29/2005

Derivações Ambientais XXIX

Ainda a pretexto das confusões com o Orçamento Rectificativo, apenas um pormenor: não deixa de ser irónico que um Governo que veio apresentar um défice até à centésimas (6,83%) e um contrato para meios aéreos de combate aos fogos até às céntesimas de euro, tenha afinal se enganado em contas tão essenciais. E durante um dia vimos o ministro das Finanças a dizer que não sabia qual seria o peso do sector Estado nos gastos do PIB (disse ele que eram entre 49% e 50%... mais tarde lá veio com 49,2% e até me admirei de não aparecer, enfim, o valor das centésimas...).
Farpas Verdes CCXLIV

No mesmo dia em que é anunciado o avanço do projecto para construção do primeiro reactor de fusão nuclear - que poderá vir a ser a solução energética para o futuro -, renasce a ideia peregrina de uns quantos industriais portugueses para se construir uma central nuclear em Portugal. E ainda por cima alegando a actual subida dos preços do petróleo.

Veio-me logo à memória aquilo que aconteceu em Portugal há uma década atrás, quando os «lobbies» internacionais das centrais de incineração se viraram para o nosso país ao repararem que sempre poderiam vender por cá a tecnologia que outros países já estavam a abandonar.

Por outro lado, alegar a subida dos preços do petróleo - uma situação conjuntural e artificial - para construir uma central nuclear é de uma enorme desonestidade intelectual. Se não se sabe qual será, ao certo, o preço do petróleo dentro de dois, três ou quatro anos, ainda menos é possível prever qual será o seu preço dentro de uma década ou que evolução haverá ao nível das tecnologias energéticas a nível energético (vd. fusão e «fuel cell» para o sector rodoviário). Aquilo que mais gostaria de ver nos nossos empresários era propostas concretas para a melhoria da eficiência e dependência energética do país - e não como se pode produzir mais energia...

6/28/2005

Farpas Verdes CCXLIII

Se a situação do rio Tejo já era dramática, vejam o gráfico de tendência retirado hoje do Ministério do Ambiente espanhol. Na última semana, as disponibilidades hídricas na bacia espanhola desceu 121 hm3 . No período de Verão, em média, as reservas descem cerca de 2.000 hm3, o que significa que este ano hidrológico terminará em Setembro com uma disponiblidade entre 25% e 30%. Ou seja, não é apenas este ano que me preocupa, mas sim o próximo: caso não haja um ano hidtológico de 2005-2006 excepcionalmente chuvoso, a situação será dramática nos tempos mais próximos.

ESTADO DE LA RESERVA HIDRAULICA EN EMBALSES PENINSULARES


Gráfico: /cache/graficos/2005268002032.jpg

6/27/2005

Memória de Elefante I

«Portugal consome pouco cimento», in O Século Ilustrado (25 de Julho de 1970)

Artigo que salienta que Portugal é o país da Europa com mais baixa produção e consumo de cimento, embora tenha triplicado esse rácio nos últimos 20 anos, acrescentando que um dos motivos se deve ao fraco dinamismo na construção de infra-estruturas, como auto-estradas. O artigo recorda que a primeira fábrica existente em Portugal para o fabrico do cimento foi inaugurada em 1866, com sede em Alcântara, em Lisboa, sendo depois obrigada a fechar devido à concorrência e à má qualidade do cimento. O artigo refere ainda que as actuais fábricas de cimento tornam a «vida das populações circunvizinhas particularmente ingrata», uma vez que «toda a paisagem se transforma e uniformiza pelo cair constante da poeira branca que o vento arrasta», a que acresce o ruído das explosões nas pedreiras e das pedras nas britadeiras, bem como do ruído mecânico dos moinhos.

Nota: Estando actualmente a editar as sínteses de notícias de ambiente para o projecto ECOLINE, do Instituto de Ciências Sociais (coordenado pela Luísa Schmidt), que abrange artigos de orgãos comunicação social entre 1900 e 2000, vou começar a colocar aqui alguns casos curiosos que mostram como Portugal se foi modificando. Já agora, estes conteúdo estarão disponíveis on-line a partir do final deste ano.

6/25/2005

À Margem Ambiental LXXV

Coloquei uma sondagem para avaliar o desempenho do Ministério do Ambiente nos primeiros quatro meses de função. Será interessante depois comparar com aquilo que se obteve quanto à costela ambiental do Governo quando estava para entrar em funções.

Continuam no activo as outras duas sondagem relacioandas com a floresta e os fogos florestais (este vai ser, infelizmente, mais um ano muito complicado....).
À Margem Ambiental LXXIV

Há já bastante tempo que estava colocada esta sondagem sobre o caso Portucale, portanto é hora de terminá-la. Os resultados falam por si, mas temo bastante que o nosso sistema judicial venha a mostrar-nos que afinal a Portucale foi um «caso isolado». A menos que, de facto, comecem a aparecer mais casos de investigação a dar alguns frutos...

Considera que o caso da Portucale...

Votos
É uma "cabala" 2%2
É um caso isolado 0%0
É um caso frequente em Portugal 45%38
É um caso mais que frequente; é a norma em Portugal 52%44
84 votos
Farpas Verdes CCXLII

Num balanço tardio dos primeiros 100 dias do Governo, infelizmente não posso estar satisfeito com a perfomance do Ministério do Ambiente.

Confesso que me desagradou ver, mais uma vez, um tique que generalizadamente grassa na vida política cá do burgo que é transformar o dia 5 de Junho - Dia Mundial do Ambiente - num «foguetório» de medidas ambientais. Faz-me sempre lembrar as beatas que na hora da missa fazem muitas jaculatórias em graça do Senhor e que, saídas da igreja, têm comportamentos contrários aquilo que prometeram fazer. E faz-me lembrar sempre uma Resolução de Conselho de Ministros do Governo de António Guterres em 1998 que estabelecia bonificações nos projectos em zonas abrangidas por áreas protegidas. Jamais foi cumprida e nada foi feito; e hoje temos a situação vergonhosa que todos conhecemos.

Em termos concretos, este primeiros quatro meses do Ministério do Ambiente têm sido marcados pela situação da seca. E que vemos nós no sector dos recursos hídricos? Um Ministério que parece apenas preocupado em fazer relatórios circunstanciados da seca (ora sobe x%, ora desce y% a seca extrema), mas que andou distraída com a situação que se está a passar há meses no Douro e Tejo Internacional. Nesse aspecto, o Instituto da Água tem sido uma autêntica anedota e continuo sem compreender o motivo pelo qual continua sem existir sequer uma estação de controlo de caudais em contínuo nas estações de controlo dos caudais no âmbito do convénio luso-espanhol dos rios internacionais (em Cedilho e Saucelle, respectivamente no Tejo e no Douro). Continuo também sem compreender a razão por não haver coragem política para aumentar o preço da água (para dar um sinal aos consumidores da situação de seca). Continuo sem entender a razão pela qual se insiste em construir a barragem de Odelouca que me faz lembrar as medidas de gestão do tráfego suburbano através do alargamento de estradas ou da construção de túneis... Salva-se nisto, a aprovação da Lei da Água, uma exigeância comunitária, mas é bom relembrar que a falada introdução de uma taxa pela utilização dos recursos hídricos está prevista desde 1994 e a falta de coragem política foi adiando a sua aplicação. Espera-se que, desta vez, tal não venha a acontecer...

Em relação à conservação da natureza, a situação das áreas protegidas e da Rede Natura é tão má, tão escandalosa que envergonha o país. Ainda há dias vi uma notícia na SIC que referia ter uma empresa de limpeza colocado a direcção do Parque Natural de Montesinho - há uns anos considerada a jóia da coroa das áreas protegidas - em tribunal por falta de pagamento. de serviços. É o grau zero! Também aparentemente existiram cedências no regulamento da Arrábida e continua sem haver uma solução para os casos escandalosos de construções ilehais nessa área protegida. Em relação ao POOC do Sotavento Algarvio, ou me engano muito, ou aquilo vai ser uma motanha que parirá um rato (até porque ainda se desconhece que casas e quantas serão demolidas).

No urbanismo, estava á espera de mais. Conheço bem o secretário de Estado, João Ferrão, mas ainda não vi nada de muito concreto. Estou, aliás, bastante curioso em saber como decidirá em relação aos projectos previstos para o litoral alentejanos em zonas de Rede Natura, sendo certo que, aprovado um, significa que é dado o tiro de partida para o fim daquela zona como hoje a conhecemos...

No caso dos resíduos industriais, aprovados que foram os CIRVER - curiosamente os dois na Chamusca, numa zona pouco industrializada -, a situação parece caminhar para uma solução. Contudo, receio que se o Governo insistir na co-incineração, como complemento do CIRVER, o caldo vai entornar (além de que dá-me a sensação que a forma pacífica, ou melhor, a ausência de reacção das populações da Chamusca, pode vir a transformar-se na altura em que as obras estejam a avançar....).

De resto, no sector energético, de transportes, não vi ainda nada de muito concreto.

Por agora, fico-me por estas breves análises. Confesso também que sobretudo nas últimas semanas tenho estado bastante afastado e, por isso, só agora estarei mais atento e a escrever com mais regularidade...

6/24/2005

Terminado o livro, hoje à noite regresso à escrita no blog. Até porque começo a não gostar de muita coisa no Ministério do Ambiente. Por acção e inacção...

6/22/2005

Amanhã, regresso do século XVIII...

6/17/2005

Derivações Ambientais XXVIII

O Tribunal Constitucional (TC) divulgou ontem as habituais coimas aplicadas ao diversos partidos políticos por irregularidades nas contas, neste caso no exercício de 2002. Os valores são para todos os gostos; dos partidos com assento parlamentar temos o seguinte: PS com 60.900 euros; CDS/PP com 59.160 euros; PSD com 52.200 euros; BE com 20.880 euros; PCP com 13.920 euros.

Aquilo que mais me choca é a normalidade com que este assunto é tratado. O TC analisa, pede esclarecimentos; os partidos não dão; o TC aplica umas coimas; essas coimas para os partidos parecem não ser assim tão grandes, porque voltam a repetir as irregularidades; e no ano seguinte acontece o mesmo. Andamos nisto desde 1998...

Pode-se pensar que são pequenas irregularidades que podem acontecer a qualquer empresa e que em estruturas disseminadas é complicado ter uma contabilidade bem feita. Mesmo não sendo sensato que partidos políticos que nos governam tenham atitudes destas, na verdade por detrás destas irregularidades destes procedimentos estão situações muito mais nebulosas. Basta, aliás, ler parte dos acórdão do TC e, particularmente o de 2002, o ano em causa.

Ou seja, toda a santa gente sabe que a generalidade dos partidos vivem acima dos números que aparecem e que num sistema como este, de falta de transparência, é meio caminho andado para a corrupção e tráfico de influências.

A título de exemplo, deixo aqui em baixo, uma das muitas falhas detectadas no PS (e poderia elencar outros, pois este problema não é exclusivo deste partido), com os negritos da minha responsabilidade, para mostrar a opacidade das receitas e dos donativos.

«9 - No tocante ao determinado no n.º 7 do artigo 10.º da Lei n.º 56/98, o Partido Socialista não apresentou declaração relativa às receitas decorrentes do produto da actividade de angariação de fundos, com identificação do tipo de actividade e data de realização, não obstante os dados constantes do anexo I, «Relação de receitas».
O Partido Socialista não respondeu a este ponto. Em todo o caso, juntou cópia, «a título de amostragem», de extracto de contas bancárias abertas para angariação de fundos e recepção de donativos.

10 - Do mesmo modo, o Partido não apresentou, em lista própria e anexa à sua contabilidade, como o exige a alínea a) do n.º 7 do artigo 10.º da Lei n.º 56/98, na redacção da Lei n.º 23/2000, os extractos bancários de movimentos de contas e os extractos de conta de cartão de crédito.
Sobre este ponto, o Partido Socialista expressou o entendimento de que não se justificaria «divulgar nas peças relativas às contas, os movimentos [de conta bancária] um a um ao público em geral e à comunicação social», alegando tratar-se de «matéria sigilosa», mas que se encontra arquivada em local próprio e à disposição do Tribunal. Juntou, porém, um documento, que intitulou «Lista de extractos bancários e de extracto de cartões de crédito», e onde recenseia contas bancárias e de cartão de crédito com indicação do número e da data de emissão dos extractos a elas referentes.

Nota final, neste caso: E o TC foi lá ver aos arquivos; e conferiu a lista de extractos com os próprios extractos?

6/15/2005

Farpas Verdes CCXLI

Continuamos a não aprender nada na estratégia de combate aos fogos florestais. Em vez de helicópteros de transporte de brigadas de primeira intervenção para atacar os focos de raiz, continuamos a apostar em helicópteros que despejam baldes de água em fogos já bem alimentados. E logo 22...

E, aliás, uma análise rápida, sugere-me que a factura final será, por certo, muito superior à anunciada (9.439.451,28 euros*). Isto porque para tantos helicópteros (22) e tão poucas horas (2550) , das duas uma: ou se irá pagar chorudas horas extraordinárias ou receio que nem se chegue a Agosto.

Basta fazer umas simples contas: em média, cada helicóptero voará cerca de 116 horas; se se considerar apenas que irão estar disponíveis durante Julho, Agosto e Setembro, temos 92 dias. Contas feitas, dá uma hora e um quarto de vooa por dia para cada helicóptero. Parece-me pouco, sobretudo porque com tantos helicópteros a tentação dos comandantes dos bombeiros (e das populações) é exigir um em qualquer fogo.

* - Este Governo continua com a mania das décimas para dar ares de rigoso. Já se viu com o défice (6,83%) e agora com um contrato de quase 10 milhões de euros vai até aos 28 cêntimos. Que raio!, por que não 29 cêntimos; ou 27 cêntimos?! Penso que este vai passar a ser conhecido pelo Governo Centesimal.

6/13/2005

Farpas Verdes CCXL

Peço desculpa, mas nos últimos dias não tenho tido tempo (revisões, revisões.... e sonos trocados...).

Mas quero deixar aqui a referência ao tal rio seco de que ninguém fala, incluindo a comunicação social: é mesmo o rio Tejo. No último boletim hidrológico espanhol, a descarga da barragem de Cedillo marcava 0-zero-0 metros cúbicos por segundo. Ou seja, a Espanha fechou a torneira do rio Tejo!

As autoridades portuguesas ou não sabem ou fazem de conta que não sabem (não sei o que será mais reprovável). E o pior está ainda para vir (ainda me hão-de explicar para que serviu o convénio luso-espanhol do ano 2000...).

P.S. Aprofundarei esta questão quando me for possível. E o mesmo se aplica aos outros temas candentes...

6/08/2005

À Margem Ambiental LXXIII

Havia tanta coisa para escrever: sobre Odelouca, POOC do Sotavento Algarvio, Sabor, nova lei da água, CIRVER e... sobre um rio (especial) que está sem água e ninguém dá por ela!

Mas fica para amanhã.
Farpas Verdes CCXXXIX

Os fogos começaram em força. Procurei saber quem é o santo protector contra os incêndios. Uns dizem que é Santa Catarina de Sena; outros, São Benito de Aniano; outros ainda, Santa Irene; aqueloutros São Egidio; ainda há quem indique Santa Bárbara ou São Lourenço.

Eu, por mim, aconselho que se rezem a todos.

Até porque, se este ano não for terrível em matéria de incêndios, é por milagre, porque nada se fez de substancial para evitar a tragédia. E, assim, no caso de o saldo final não for demasiado catastrófico, se deve entregar os méritos a quem de direito...

Nota: E, claro, há o São Marçal, patrono dos bombeiros... mas esse, visto está, tem valido de pouco nos anos anteriores.

6/06/2005

Derivações Ambientais XXVII

Ainda a pretexto das polémicas acumulações de reforma e salários. Sempre achei estranho que uma pessoa que recebe uma reforma, sendo portanto reformado (aposentado) conseguisse continuar a trabalhar noutro sítio mantendo a dita. Aquilo que os governadores do Banco de Portugal, deputados, administradores públicos, etc., etc. recebem depois de sair da sua função são tenças (costume secular português...). Seria bom, nem que fosse para não ofender aqueles que trabalham 30 ou 40 anos para receber a reforma, que aqueles que trabalham seis ou 12 anos (independentemente da valia dos cargos desempenhados) que se fizesse essa distinção na denominação.

Não sou contra as tenças (embora a conotação seja depreciativa por razões históricas, tal como as côngruas), mas a solução deveria caminhar para o seguinte modelo:

a) A pessoa opta inteiramente pela tença, deixando de trabalhar.

b) A pessoa continua a trabalhar e opta pelo salário desse novo trabalho, começando apenas a receber a tença quando se reformar. Nesse caso, se porventura o seu rendimento anual for inferior ao valor da tença, o Estado atribuiu-lhe, em sede de IRS, o valor remanescente até atingir um montante até perfazer o valor da tença.

Poderia eventualmente, como estimulo, que no caso b) houvesse uma bonificação (20%, 30% ou uma percentagem a definir para a generalidade dos casos), mas que nunca chegasse a atingir um montante superior a 150% do valor anual da tença. Este acerto seria feito em sede de IRS.

Este sistema parece-me socialmente justo, transparente e moralizador.
Derivações Ambientais XXVI

Sobre o caso da acumulação da reforma com o salário de ministro por parte de Campos e Silva, o que mais me choca nem é o aspecto moral, mas de coerência. Há dias no Farpas Verdes CCXXXII lamentava que o ministro das Finanças se tivesse rendido à «real politik» ao descartar-se , sem complexos, de uma ideia que defendeu, pessoalmente, num artigo de opinião publicada no jornal Público sobre fiscalidade nos prédios rústicos.

Constato agora que outra das sete medidas que defendia - eram sete - também foi descartada. Defendia ele o seguinte:

4. Mas é também necessário atrair mais e melhores pessoas para a actividade política. Há dias, por mero acaso, revi a lista dos deputados-constituintes de 1975-76. De facto, estava lá o melhor que o país tinha e, comparativamente, a situação actual é triste e paupérrima, pese embora o empenho de algumas andorinhas em fazerem a Primavera... Sugiro, assim, como quarta proposta, que o vencimento das pessoas em cargos públicos seja (apenas como exemplo) 50 por cento acima da média dos rendimentos do trabalho declarados em IRS nos 3 anos anteriores a tomar posse! Em cargos estritamente políticos é necessário remunerar a função, mas também a pessoa. Desta forma afastar-se-iam da política os menos honestos e poderíamos contar com pessoas mais qualificadas. O impacto na despesa pública seria mais que compensado pelos resultados na qualidade e transparência da governação do país.

Mais valia que nos avisasses, desde já, que afinal aquele artigo de opinião tinha sido um desvario - é que assim, com estes exemplos, além de desacreditar nos políticos, deixo de acreditar em todas as propostas de cariz político...

6/05/2005

Farpas Verdes CCXXXVIII

O ministro António Costa deseja que o Governo, por razões de racionalização, promova fusões de concelhos e de juntas de freguesia. Para o primeiro caso, estou 100% de acordo, em termos abstractos; no segundo caso, nem tanto, sobretudo por causa do critério referido pelo governante.

Em relação às autarquias, a evolução demográfica do país fez com que 109 concelhos portugueses tenham, actualmente, menos de 10 mil habitantes. Em muitas regiões, conseguem-se encontrar zonas contínuas formadas po vários concelhos em que nenhum tem mais de 6 mil habitantes. O caso mais flagrante é na região do Norte Alentejo: Crato, Alter do Chão, Avis, Fronteira, Sousel, Mora, Monforte, Gavião, Castelo de Vide, Marvão e Arronches têm, no total, 48.353 habitantes. Ou seja, 11 concelhos contínuos. Na zona do Pinhal do distrito de Coimbra e Leiria, também se encontra situações semelhantes (com menor número de concelhos). No Alto Douro, idem.

Por outro lado, existem concelhos que, pela sua dimensão geográfica, não justificam o estatuto de concelhos, podendo, numa base de racionalidade, ser fundidos com outros. Por exemplo, São João da Madeira, Constância, Entroncamento, etc..

Do ponto de vista político (não politiqueiro), as fusões trariam vantagens para as respectivas populações, por lhes darem um maior peso reivindicativo. Claro que a nível politiqueiro, haverá muita gente que estrebuchará e, demagogicamente, dirá que as populações perdem peso (sobretudo as daquelas que deixariam de ser sede de concelho). No entanto, convém lembrar que alterações no estatuto de concelhos sempre existiram em Portugal; basta recuar ao século XIX para ver a quantidade colosssal de pequenas terrolas que eram então sede de concelho.

Em relação às juntas de freguesia, uma fusão não deveria, contudo, ter uma base populacional. Eliminar freguesias por mera contabilidade demográfica pode, isso sim, representar problemas para as populações das regiões menos povoadas. Nos concelhos em que se fizesse fusões não deveria, por princípio, haver extinção de freguesias. E a eliminação de fregueias deveria ser ponderado numa base de dimensão geográfica.

Onde, aliás, deveria haver fusão (e reajustamentos territoriais) de freguesias era exactamente nos conelhos urbanos. Por exemplo, a situação de Lisboa é um desses casos. Existem já 10 freguesias que têm menos de 2 mil habitantes - por sinal, na zona da Baixa. As 19 freguesias menos populosas totalizam 40.852 habitantes, enquanto a mais populosa (Olivais) tem 46.410 habitantes.

Em outras regiões, sobretudo no Norte do país, também não se justifica tanta junta de freguesia: por exemplo, no distrito de Braga existem 514 freguesias!!!

Ou seja, resumindo e concluindo, se a ideia de António Costa é de saudar, convinha que fosse feita uma análise séria e ponderada em que estivessem em cima da mesa um conjunto de critérios objectivos. O da população pode e deve ser um deles; mas jamais o único. Mas que Portugal está a necessitar de mexer nesta estrutura administrativa, ai isso está.

6/04/2005

Derivações Ambientais XXV

O presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira (que apesar de ter o memso nome de um meu irmão, não é da minha família), ameaça demitir-se se o clube não atingir os 300 mil sócios até Outubro.

Estou a pensar dar o meu contributo... rasgar o meu cartão de sócio do Benfica. Já não há pachorra...
Farpas Verdes CCXXXVII

Seria interessante algum jornalista no activo (não é o meu caso actual) compilasse, desde o início do ano, as variações do Instituto da Água em relação à seca que já começava a dar indícios de evidente em Dezembro de 2004.

Assim de repente, escrevendo de cor, estas eram as posições oficiais: em Janeiro não havia problema nenhum, em Fevereiro diziam que ainda não, em Março que talvez, em Abril que sim, mas que podia melhor; em Maio era a pior seca dos últimos anos; agora é a dos últimos 60 anos.

Além disso, continuam a confundir seca com níveis de precipitação. Já aqui expliquei que é uma estupidez estar a comparar as secas em 1945 com 2005, porque os efeitos das precipitações num e noutro ano são distintas. Os coonsumos de água em 1945 eram muito menores, mas a capacidade de armzenamento idem. ..

Por outro lado, estarem agora (tarde demais) a bater sempre na mesma tecla de estarmos numa seca terrível começa a soar a desculpa de que não dêem conta do recado... Assim, sempre podem culpar o São Pedro à vontade...

6/03/2005

Farpas Verdes CCCXXXVI

O actual primeiro-ministro, José Sócrates, aprovou há uns anos o Plano Regional do Ordenamento do Território da Área Metropolitana de Lisboa (PROT-AML). Como se sabe os PROT têm primazia sobre os planos directores municipais.

Ora, na zona da serra da Carregueira, o PROT-AML determinou ser uma Área Nuclear para a Conservação da Natureza. No entanto, a autarquia de Sintra insisti em autorizar a construção urbanística para um total de 25 mil pessoas.

Conviria que o ministro do Ambiente, o secretário de Estado do Ordenamento e mesmo o primeiro-ministro avisassem já, publicamente, o presidente da autarquia de Sintra para não perderem mais tempo na elaboração do projecto, porque viola o PROT-AML. Contribuiria, por certo, para poupar dinheiro ao país...

A menos que a aprovação do PROT-AML tenha sido uma brincadeira. Não quero acreditar que assim seja!
Farpas Verdes CCXXXV

Um certo António Candeias, em Melides, terá gritado um destes dias; «Eu é que sou o Preeesidente da Junta!!!» e vai daí, como forma de retaliação às críticas da Quercus aos empreendimentos turísticos previstos em Rede Natura do litoral alentejano, cortou os financiamentos de 500 míseros euros ao Centro de Recuperação de Aves instalado naquela zona.

Que o senhor Candeias não goste das críticas da Quercus, até se compreende; mas que use o seu estatuto de «Preeesidente da Junta!!!» como retaliação mesquinha é não compreender que um «Preeesidente da Junta!!!» não se deve comportar como um cacique caprichoso.
Farpas Verdes CCXXXIV

Depois do protesto da Quercus e da Greenpeace em finais de Março, a Vicaima decidiu rever a sua política de compra de madeira tropical, prometendo que irá adquirir matéria-prima certificada pelo Forest Stewardship Council, tendo-se ainda associado ao Tropical Forest Trust.

A seguir a um acto imponderado - a reacção intempestiva de um administrador ao protesto dos ambientalistas -, eis aqui um acto ponderado. Se foi ditado pelas regras comerciais ou por um acto de contrição de cariz ecológico, pouco importa. Essencial sim é ver que acções deste género dão os seus frutos.
À Margem Ambiental LXXII

No próximo domingo, dia 5 de Junho - por sinal, Dia Mundial do Ambiente -, estarei a partir das 16 horas num dos dos pavilhões da Dom Quixote da Feira do Livro de Lisboa, para aquecer uma cadeira, comer rebuçados (no ano passado havia e eram bons...), conversar, enfim para mostrar os meus dois livros publicado nesta editora - «O Estrago da Nação» e o «Nove Mil Passos». Quem quiser fazer-me uma visita, agradeço.

Entretanto, para Setembro ou Outubro, lá haverá uma novidade editorial, pois estou quase a terminar o meu novo romance histórico, que se intitulará «O Profeta do Castigo Divino».

6/01/2005

Farpas Verdes CCXXXIII

Segundo notícia do Público, o presidente da Secil, Pedro Queirós Pereira, afirmou-se ontem «magoado» com as críticas de alguns sectores da comunidade setubalense à cimenteira do Outão e advertiu que a empresa está preparada para produzir em qualquer parte do mundo.

Julgo que quem se sente «magoado» é a serra da Arrábida e, em consequência, o património natural do país. Depois de décadas em que os industriais faziam chantagem com os empregos, a nova doutrina é a de ameaçarem sair do país se não os deixarem detruir o ambiente. Talvez se a Secil fosse embora, o cimento ficaria mais caro e, proventura, esse seria o melhor estímulo para, em vez de se continuar a construir, apostar na reabilitação - que, já agora, também dá empregos...