4/01/2008

Uma idiotice bem pensante

Um tal de Henrique Raposo, que aparece agora como colunista do Expresso e é director da Atlântico - uma revista muito conceituada para uma certa elite de direita (qualquer que seja o significado disso) e de pessoas bem pensantes -, é senhor de prosa escorreita.

Neste artigo de opinião escreve ele, a pretexto do Minuto Verde da RTP, protagonizado pela Quercus, que aquilo é «uma espécie de Alcorão ambientalista» (não sei por que não há-de ser uma espécie de Bíblia, Tora, Talmud ou Guru Granth Sahib ambientalista, mas, pronto, o que está a dar é referir os muçulmanos para assim se dar uma piscadela de olho ao leitor, indicando-lhe o mal...).

Depois disto, Henrique Raposo decreta sentenças doutrinárias. Assim: «A Quercus ama o ambiente enquanto odeia a sociedade onde vive; ama a bicharada árctica enquanto despreza todos os meus hábitos. Querem o quê? Que deixe de tomar banho em nome da fraternidade que une homens e ursos? Lamento: entre o sacrossanto gelo do Árctico e a heresia ecologicamente incorrecta, escolho a segunda. Nunca um urso polar me pagou um copo pela Páscoa».

Tenho que confessar que o homem, este «opinion maker» (denominação para quem foi convidado para escrever artigos de opinião supostamente para formar a opinião pública a pensar melhor), sabe escrever e tem ideias muito concretas. Elogiá-lo é um dever, portanto. Por isso mesmo, como escreve bem, a sua composição é uma idiotice. Se estivesse mal escrito, era apenas uma parvoíce.

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