5/23/2008

E agora, amigo, a quem eu vou roubar livros?

Nos últimos anos, nas minhas visitas esporádicas à redacção da Grande Reportagem e, mais recentemente, da NS, eu tinha um hábito: acercava-me da sua secretária e perguntava-lhe: «Torcato, que livros posso levar?». E ele, com o seu olhar profundo, aquela barba e cabelo comprido imaculadamente brancos, parecendo-me sempre um daqueles deuses do Olimpo, no seu vozeirão respondia-me, apontando para uma das pilhas: «Estes, não!». E eu, das outras pilhas, lhe pilhava tudo o que me interessava e cabia na minha mochila.

Assim o fiz, até há um mês, quando por lá passei. Mas se me recordo disto, mais ainda me recordo das conversas, discussões, com um homem cultíssimo, bon vivant (demasiado, talvez, mas que importa isso agora), befiquista (o que importa muito), bom conversador, que adorava a polémica pelo gosto de polemicar sem rancor (o que importa muitíssimo), das conversas no Bar Inglês ou num qualquer café.

Agora, Torcato, que partiste assim tão de repente, responde-me: «A quem vou agora perguntar: que livros posso levar?». Caramba, é que tinha vontade de levar mais uns quantos, para te continuar a ouvir dizer: «Estes, não!».

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