6/26/2008

Não há almoços de borla

A compra deste quadro aqui ao lado, cujos pormenores são relatados no DN, soa-me a coisa muito esquisita. Ora, se entendo, o Estado português combina com uma pessoa não identificada a compra do quadro num leilão em França, mas com uma estranha condição: o Estado pode exercer um direito potestativo ao fim de um ano, comprando-o ao particular ao mesmo preço e, enquanto isso, o dito quadro fica exposto no Museu de Arte Antiga.


Ou seja, o Estado não tem, por agora, dinheiro - 230 mil euros, caramba! - e pede a um empresário que lhe empreste dinheiro, fica-lhe já com o quadro e «promete-lhe» que lhe paga este valor, sem juros, ao fim de um ano, e mesmo que esse proprietário se arrependa fica obrigado a vendê-lo. São condições leoninas, mas que temo tragam água no bico.

E isto porque me parece que o empresário não identificado não quis mesmo ficar com o quadro e fez apenas um favor ao Governo, como um amigo empresta dinheiro a outro amigo. Mas o primeiro amigo espera sempre que o segundo o apoie numa necessidade. E o Governo deveria evitar que se fique a pensar que pode compensar, noutras coisas, o dito empresário, sobretudo se este se mantiver no anonimato. E, além de tudo isto, fica sempre mal o Estado andar a mendigar uns trocos para a Cultura - e já nem é a primeira vez, nos últimos tempos.

1 comentário:

Nuno Castelo-Branco disse...

E o dinheiro da indemnização recebida pelo escandaloso roubo das jóias da coroa? Digo isto, porque a compra do tal Tiepollo, custou apenas uma fracção dos 6 milhões. Para já não falar no absoluto desleixo neste campo, pois sempre que se realiza um leilão com objectos pertencentes à casa real, o Estado português não aparece para licitar, embora por vezes - como foi no caso Hohenzollern-Sigmaringen -, os proprietários ofereçam excelentes condições de aquisição.
Não há dinheiro para estas ninharias, mas para os carrões topo-de-gama de suas excelências e para as dúzias de assessores de Belém, sempre se arranjam uns valentes milhões.

*Coincidência: este quadro pertenceu à colecção real e foi levado pelo Regente para o Brasil.