10/01/2008

Onde estava no dia em que recebeu a sua casinha?

À luz do escândalo Lisboagate - nu e lodoso retrato do burgo -, esta entrevista de Baptista-Bastos ao Jornal de Notícias no Verão do ano passado torna-se deliciosa, ironica e pungentemente deliciosa.

Primeiro, porque foi feita ao telefone a partir da sua casa de Constância - sim, aquela que ele comprou logo a seguir a «receber» a casinha da autarquia de Lisboa por razões económicas.

Segundo, porque mostra um Baptista-Bastos esquecido (ele que tentava obrigar sempre os seus entrevistados a relembrarem onde estavam antes do 25 de Abril) ou então ingrato. A páginas tantas, diz ele o seguinte: «Eu tenho três filhos formados e vi-me à nora para os licenciar. Tive que abdicar de muitas coisas. Ninguém nos ajudou». A não ser a câmara de Lisboa com uma casinha - coisa pouca, irrelevante, portanto...

Terceiro, porque mostra uma estranha forma de aplicar os ensinamentos dos mestres que se orgulha de ter conhecido. Disse ele, naquela entrevista a seguinte pérola: «Ainda ontem estive a terminar um texto sobre Aquilino Ribeiro. Eu conheci-o. Ele gostava muito de mim. Foi essa gente que formou o homem que eu sou. Gente que tinha o conceito da ética, da moral, da deontologia, e que a aplicava a todos os sistemas de vida».

Pela boca morre o peixe, portanto. E a aura de alguém que se colocava sempre num lugar de superioridade moral perante os outros. O que não era criticável, não fosse ter ele telhados de vidro sob a forma de casinha recebida por meios que, além de serem de duvidosa legalidade, são de certa imoralidade.

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