Portugal é um dos países que, depois da proibição à caça de baleias, melhor soube aproveitar mesmo do ponto de vista económico a «exploração» de cetáceos por via do turismo. Em vez de defender esta posição, vem agora o já inenarrável ministro do Ambiente, Nunes Correia, defender na reunião anual da Comissão Baleeira Internacional (CBI), que se realiza no Funchal, que é aceitável «o regresso de alguma caça à baleia a nível internacional, em troca de mais medidas de conservação para os grandes cetáceos».
Ora, parece-me que a melhor e principal medida de conservação dos grandes cetáceos é exactamente não os caçar. E depois mostrar e demonstrar que as eventuais valias económicas da exploração turística são maiores do que a exploração que implica o abate. E isto já sem falar nas questões de conservação das espécies e das questões éticas de abater espécies consideradas inteligentes. Mas isto era pedir muito ao ministro do Ambiente português que não gosta de levantar ondas, paninhos quentes para aqui e para acolá, amanhando compatibilidadezinhas bonitas para agradar a gregos e troianos. Enfim, só consegue ser uma coisa: mau ministro do Ambiente.
Ora, parece-me que a melhor e principal medida de conservação dos grandes cetáceos é exactamente não os caçar. E depois mostrar e demonstrar que as eventuais valias económicas da exploração turística são maiores do que a exploração que implica o abate. E isto já sem falar nas questões de conservação das espécies e das questões éticas de abater espécies consideradas inteligentes. Mas isto era pedir muito ao ministro do Ambiente português que não gosta de levantar ondas, paninhos quentes para aqui e para acolá, amanhando compatibilidadezinhas bonitas para agradar a gregos e troianos. Enfim, só consegue ser uma coisa: mau ministro do Ambiente.
1 comentário:
Surpreendente... ou talvez não.
Bom li esta notícia e fiquei estupefacto. Porquê esta posição? A que propósito? Com que fundamento?
Pareceu-me realmente despropositada e deslocada.
Não é só por não termos interesse próprio nacional na referida caça (se fosse a pesca ao bacalhau haveria propósito). Mas não é só por isso pois não deverão(iam) ser apenas os interesses próprios a moverem-nos.
Também não é só por aparecer numa contra-corrente, atirando-nos para uma posição menos confortável em termos de opinião pública nacional e internacional. De facto também não deve ser o aconchego das posições confortáveis a mover-nos.
Mas uma posição tão inopinada, tão ao arrepio do sentir das gentes... cria estupfacção, dificuldade de compreensão. O que se almeja? Haverá algo escondido?
Depois lê-se a notícia e, apesar de não se entrever o objectivo, apercebe-se talvez a postura.
1º a moratória «tem sido um sucesso» (é o início bem ao estilo do protesto de 'não há ninguém que goste/defenda mais o ambiente/natureza do que eu', já toda a gente sabe que antecede uma qualquer boçalidade ambiental);
mas... (aí vem)
2º «existem momentos em que é necessário ser flexível, porque a inflexibilidade por vezes conduz à intolerância» (pois, mas por vezes temos mesmo que ser intolerantes. A intolerância não é negativa tout court. Ninguém considerará que se deve ser tolerante com crimes, ambientais ou outros, por exemplo. E na sua prevenção e dissuasão deve-se ser inflexível);
o que conduz ao
3º nesta CBI há «posições muito extremadas». (o que pelos vistos continua a assustar as almas nacionais. Isto de se defender uma posição de modo extremo caíu em desuso depois de Aljubarrota);
4º estas tais posições extremadas gerarão «um impasse» (isto não costuma assustar a alma nacional) e «Portugal veio dizer que está disponível, no que for considerado necessário, para ajudar a ultrapassar a situação». (Pasmamos de novo, quase que dá vontade de responder 'enxerguem-se'.)
bom, depois continua o Sr. Ministro com a lenga-lenga das meias tintas de como o «impasse não é benéfico para nenhuma parte» (a custo seguro a pergunta demagógica de se alguém perguntou a opinião da sobrinha-neta da Moby Dick). De como «Nem a preservação das baleias ganha, nem um recurso que é extraordinariamente interessante para muitos países, designadamente países em vias de desenvolvimento, consegue ser desenvolvido como devia.»
!?
Ouvi bem Senhor Ministro? países em vias de desenvolvimento? O quê o Japão!? A Noruega!? A Islândia!? A Dinamarca!?
Terei andado assim tão arredado das notícias económicas? Será que a crise financeira se tornou num cataclismo Bíblico. Um Armagedão apocalíptico?
(e Portugal cá está para repor os eixos do Mundo? O senhor Ministro parece andar a ler muito o Quinto Império e a seguir as profecias do Bandarra).
É um pândego. Mas esta anedota contada pelo senhor Ministro esconde o desenlace da frase. Desenvolver os recursos. É que a caça é exploração (pode ser ou não sustentável, isso é outro assunto).
Mas não será tão surpresa como isso esta posição. É a posição de quem acha que se pode dar o ouro a guardar ao bandido (já estou a ver respostas que se vão agarrar ao colorido da expressão popular em vez de discutir o cerne). É a posição de quem flexibiliza as coimas das contra-ordenações ambientais. É a posição de quem se propõe conservar os ecossistemas com os PIN.
Nisso temos experiência e estamos dispostos a pô-la ao serviço da ordem mundial, divulgou urbi et Orbae o Senhor Ministro do Ambiente.
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