Nos últimos anos, o Instituto Regulador de Água e Resíduos (IRAR) divulga o relatório anual da qualidade das água para consumo humano.
Candida e docemente, lá surgem os habituais cerca de 2%
(um pouco mais)
de análises que violam os limites máximos admissíveis, sobretudo nos parãmetros microbiológicos.
A percentagem de violações em si mesmo pouco diz sobre a situação em concreto da qualidade da água. Mostra apenas, em números globais, se a situação apresenta
uma tendência de agravamento ou de melhoria. Mas esconde sobretudo uma realidade que se mantém inalterável nas últimas
décadas: a qualidade da água nos pequenos sistemas (sobretudo do interior) é cronicamente má. O facto de serem sistemas onde se exige uma menor quantidade de análises acaba por não fazer pesar na percentagem global. Porém, mostra bem que, em pleno século, ainda existem portugueses (pode vir o Governo dizer que
são apenas um milhares) que não têm acesso a um bem básico nas mínimas condições.
Aliás, é por isto que a Comissão Europeia tem vindo sistematicamente,
ano após ano, a aplicar processos contra Portugal, mesmo se apenas estamos a falar
em cerca de 2% de violações.
Mas aquilo que mais me choca na atitude do IRAR é a placidez com que trata estas questões.
De acordo com a imprensa (vd. aqui, por exemplo), esta entidade defende mesmo que
os ligeiros agravamentos entre 2005 e 2006 se devem ao aumento do número de análises e, portanto, ao menor desconhecimento.
Ora, chamemos os bois pelos nomes: a qualidade da água não
está mais ou menos degradada por se fazerem mais ou menos análises, nem vai melhorar apenas porque se fazem mais análises. É uma falácia.
A água estará mais ou menos degradada em função do grau de
prioridade que o IRAR colocar na fiscalização e na pressão a doer às autarquias
que prestam o serviço aos consumidores. Choca-me por isso que o IRAR
venha docemente dizer que «as entidades gestoras têm vindo a adoptar uma atitude
pró-activa de identificação das causas desses problemas e de adopção de medidas para a sua resolução, cujos efeitos começam a ser visíveis». Porque não são visíveis, há muitos anos,
em grande parte dos concelhos do interior.
Enquanto o IRAR tiver esta atitude administrativista e diplomática nada vai mudar.
E eu acho que não deveria ser aceitável que enquanto a ASAE anda a fechar suiniculturas porque a qualidade da água que os porcos bebem não está em condições, o IRAR deixa,
impune e irresponsavelmente, que alguns milhares de portugueses bebam água
conspurcada.
Nota: Irritantemente, alguns dos meus posts começaram a ficar desalinhados,
fugindo da mancha de texto, o que me obriga a quebrar linhas e tudo fica muito
esquisito. Se alguém souber qual o motivo por que acontece isto
e a forma de resolver, agradecia sinceramente.
10/23/2007
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2 comentários:
Os problemas com o alinhamento do texto e com a necessidade das quebras de linha manuais podem resultar de um erro na configuração do blog. Na página "Settings", tab "Formatting", aparece a opção "Convert line breaks". Eu tenho esta opção desactivada ("No") e não tenho problemas desses. Pode ser que seja só isso.
Saudações
José Amoreira
Obrigado pela sugestão, mas parece-me não ser isso, porque já estava desactivado (No).
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