Poucos ainda se aperceberam que estes 12 mil milhões de euros de investimento no sector energético que o ufano ministro da Economia não pára de anunciar nos vais sair bem caro nas finanças domésticas sem que isso represente qualquer diminuição nas emissões de dióxido de carbono.
A coisa explica-se de forma mais ou menos fácil. Neste momento, conjunturalmente, é uma óptimo altura para investimentos na produção de centrais electroprodutoras, porque como os diversos países da União Europeia concederam às indústrias generosas quotas de emissão de CO2, as cotações do mercado de carbono sofreram quedas abruptas, donde os custos futuros serão menores do que seria de esperar para os investidores de novas centrais.
Por outro lado, Portugal concede preços exageradamente altos pela energia eólica produzida (98 euros por MWh, contra 77 euros em Espanha e 76 euros em França). Ou seja as empresas produtoras recebem mais do que depois a EDP nos cobra (as empresas recebem 0,098 euros por KWh, enquanto num tarifário bi-horário paga-se 0,092 euros). Isto é, o mercado está aparentemente em défice, e apenas não está porque no final são os nossos impostos que pagam o diferencial.
Ora, a questão é que se os preços da eólica pagos aos empresários se mantiverem e se aumentar muito a produção (no ano passado a eólica chegou aos 8% do total da electridade distribuída), toda a gente quer investir em parques cá na terrinha, mas o contribuinte ou o consumidor português é que vai pagar os lucros dessas empresas. Por isso, se aumentar muito mais o parque eólico instalado mantendo-se estes preços, os encargos no preço da electricidade (ou nos impostos) vai doer. Paga-se porque se faz eólica, o que é um contra-senso e apenas justificável porque o cento se tornou um mero investimento financeiro cá no burgo.
Sou, por natureza, adepto das energias renováveis. Mas estão-me a custar muito duas coisas nisto: que os parques eólicos estejam a ser uma mera negociata e que o país esteja a ficar inundado de moinhos (em parques eólicos temos já cerca de metade da potência instalada que Espanha, embora este país tenha quase seis vezes o nosso território). Ou seja, daqui a nada voamos.
Nota: Há uma coisa que me causa estranheza: há pouco tempo divulgou-se que, pela primeira vez nos últimos cinco anos, o aumento do consumo eléctrico tinha sido inferior ao aumento do PIB (1,8% vs. 1,9%). No entanto, no relatório anual da EDP, esta empresa diz que a distribuição de electricidade em Portugal cresceu 3% (sem correcção das temperaturas). Em que ficamos, afinal?
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