10/19/2007

Tudo é bom para o ambiente!

O Instituto de Conservação da Natureza e Biodiversidade (ICNB) tem vindo a assinar um conjunto de protocolos com várias empresas nacionais no âmbito de um projecto denominado Business and Biodiversity. Este tipo de protocolos têm um alcance muito vago e ambíguo, embora sirvam sobretudo para «enverdecer» as entidades que, por regra, não têm uma postura assim tão ambientalista no seu quotidiano. Basta, por exemplo, referir que estão neste projecto um BES (sim , o banco que anda há anos a cortar sobreiros... e está a aguçar o dente ao litoral alentejano, uma Secil (sim, a cimenteira que arrasa a Arrábida...) e também, por exemplo, uma Portucel.

E lembrei-me da Portucel porque no exacto dia em que se assinou o protocolo entre esta empresa e o ICNB (vd. aqui, no Sol), o presidente executivo deste grupo empresarial fez umas estrambólicas afirmações. Disse José Honório ser «errado» que os e-mails sensibilizem os destinatários para que não sejam impressos. «Gaste papel, compre móveis em madeira, isso é que é cuidar bem da floresta», afiançou este responsável da Portucel. Business, portanto - e que rica sensibilização ambiental se transmite, patrocinada pelo Ministério do Ambiente. Um dia chegar-se-á, talvez através de um protocolo, à conclusão de que também o diaparate é bom para o ambiente. E estará o ICNB a assiná-lo.

1 comentário:

Henrique Pereira dos Santos disse...

Caro Pedro,

Que de facto tens razão em dizer que não faz sentido apelar ao consumo, estamos de acordo.

Que é admissível que se diga que os consumo de papel e madeiras em detrimento de outros materiais não renováveis contribui pra a sustentabilidade de boa gestão da floresta penso que também estamos de acordo.

Onde não estamos é no papel do ICNB nesta iniciativa.

Não sei se tens acompanhado esta iniciativa desde os seus primórdios na Convenção da Diversidade Biológica e as experiências existentes noutros países, sobretudo Reino Unido.

Se tens acompanhado saberás que esta iniciativa é uma iniciativa que é das empresas.

O ICNB tem tido um papel enzimático, não é responsável pelo que fazem as empresas no quadro da iniciativa. As empresas assumem compromissos públicos e é o público, por exemplo com posts destes, que leva as empresas a empenharem-se ou não nos compromissos que assumem.

Com certeza que o ICNB procura influenciar as decisões das empresas sobre biodiversidade e colabora com elas no sentido de integrar a Biodiversidade nos seus sistemas de gestão, mas não é o fiscal da iniciativa. Esse é o público.

Ainda que me faça alguma impressão a forma como selecionas algumas empresas para suportar a tua tese e ponhas de lado as que contrariam a tua tese de que por regra as empresas aderentes têm posturas de conflito ambiental (e nem discuto sequer se tens razão na análise da postura das empresas que citas) não deixo de te perguntar: é melhor que essas empresas assumam estes compromissos ou não?

henrique pereira dos santos