11/07/2005

Farpas Verdes CDXXIV

O mês de Outubro foi chuvoso, mas o espectro da seca está muito longe de se ter esfumado, apesar da imprensa, por via das informações vindas do Ministério do Ambiente, parecem dizer o contrário.

Já várias vezes aqui alertei para o risco de fazer uma «gestão» das disponibilidades hídricas baseadas na capacidade máxima de armazenamento (como faz o Instituto da Água), não tendo assim em conta o volume morto (que apenas se poderá usar através de bombagem, com custos incomprtáveis). Na minha opinião, torna-se mais prudente, quando o objectivo é a gestão dos recursos hídricos com vista a evitar situações de seca, considerar a capacidade útil máxima (ou seja, o volume que pode ser efectivamente utilizado, que é a capacidade máxima de armazenamento menos o volume morto). Com efeito, numa situação de seca, apenas devemos contar com a água que está acessível, sendo que o volume morto apenas se deveria considerar como uma reserva de emergência, mas com custos económicos bastante significativa em caso de necessidade premente (e mesmo contraproducente/impossível para, por exemplo, produção hidroeléctrica)

Vejam, a este respeito, as diferenças entre a perspectiva de gestão que defendo e a do Instituto da Água para duas grandes albufeiras:

Alqueva (Guadiana)
Capacidade máxima de armazenamento (CMA): 4.150.000 hm3
Volume morto (VM): 1.033.000 hm3
Capacidade útil máxima (CUM = CMA - VM): 3.117.000 hm3
Volume de armazenamento (VA) em Outubro de 2005: 2.754.713 hm3
VA actual (em Outubro de 2005 em relação ao CMA): 66,4% (cf. dados no site do Instituto da Água)
Volume de armazenamento útil (VA - VM): 1.721.713 hm3
VA útil (em Outubro de 2005 em relação à CUM): 55,2% (cf. minha proposta)

Aguieira (Mondego)
Capacidade máxima de armazenamento (CMA): 423.030 hm3
Volume morto (VM): 207.000 hm3
Capacidade útil máxima (CUM = CMA - VM): 216.030 hm3
Volume de armazenamento (VA) em Outubro de 2005: 278.290 hm3
VA actual (em Outubro de 2005 em relação ao CMA): 65,8% (cf. dados no site do Instituto da Água)
Volume de armazenamento útil (VA - VM): 71.290 hm3
VA útil (em Outubro de 2005 em relação à CUM): 33,0% (cf. minha proposta)

Ora, como podem verificar, as diferenças são significativas. E mostra, acima de tudo, que as chuvas de Outubro são bastante insuficientes para pensarmos que estamos livres de uma seca extrema para o próximo ano.

P.S. Eu até faria este exercício para muitas outras barragens se o site do Instituto da Água não fosse tão confuso e moroso de consultar...

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