6/12/2004

Farpas Verdes LXXXII

Anteontem, sexta-feira, no Público, surgiu um interessantíssimo artigo de opinião do arquitecto José Tudela que disserta sobre a «filosofia» de expansão da rede de metropolitano de Lisboa, assente sobretudo em radiais para o exterior, mas com dificuldades de conexão, o que torna as deslocações morosas e, portanto, pouco eficientes. Subscrevo todas as suas opiniões e até vou mais longe: a lógica deste expansionismo repentina das linhas de metroipolitana em radiais para a Falagueira, Odivelas, Reboleira, Pontinha, etc., tem uma lógica especulativa e de alimentação das grandes empresas de construção civil.

No caso da construção da linha amarela - que vai para o Parque das Nações - já foi evidente os objectivos especulativos, sabendo-se que então existia uma alternativa mais barata e de igual eficácia através de um metro de superfície ligeiro que, além do mais, serviria também de ligação a Santa Apolónia, evitando-se, assim, o buraco que ocorreu no Terreiro do Paço.

Nas últimas expansões, o caso repete-se. Já todos sabem do absurdo da estação de Telheiras - a 400 metros de uma outra estação - que não mais serviu do que "oferecer" uma valorização dos prédios à conta dos contribuintes, pois a sua utilidade pública é duvidosa. Agora, se repararem na maior parte das localizações das novas estações repararão que, em redor, existe muito para urbanizar. Veja-se o caso da Falagueira e recorde-se o negócio da venda dos terrenos públicos ao empresário Pereira Coutinha. Quanto já valorizaram, por via de uma linha de metro, os seus terrenos e os futuros prédios sem que ele tenha gasto um tostão (nós é que gastámos)? E já agora olhem para a nova linha que se dirige para muito próximo dos terrenos da Bombardier (e nos projectos iniciais do Metropolitana, a direcção não era aquela). Aposto que há jogada também aqui.

Por fim, surgiu recentemente essa ideia obtusa de se construir um túnel sob o rio Tejo para ligação à outra margem. Para onde? Margueira, pois é. Lembram-se da Manhattan de Cacilhas?

Já agora, talvez muitos não saibam mas existe uma lei que permite ao Estado receber um imposto especial pelas mais-valias dos imovéis que tenham sido beneficiados com infra-estruturas rodoviárias e ferroviárias. Um dia destes hei-de saber quanto é que o Estado já recebeu. Se se anda a portar como um pato-bravo a jogar com a especulação ou simplesmente deixa que outros (privados) beneficiem de tudo. Por mim, não sei o que será pior.

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