12/23/2006

A sindicância para lavar mais branco

O presidente e a vereadora do Urbanismo da Câmara Municipal de Lisboa anunciaram ontem a realização de uma sindicância para aferir a «transparência, isenção e legalidade» dos actos de licenciamento de obras» na capital, justificando-a pelo «actual clima de suspeição que põe em causa não só a dignidade e o brio de todos os funcionários, como também a credibilidade e prestígio" da autarquia.

Ora, elogia-se - e digo isto, obviamente, em tom irónico - que os dois responsáveis máximos pelas questões urbanísticas de Lisboa tenham, por fim, tomado consciência de que os sucessivos casos nebulosos criaram um clima de suspeição - e, em algumas situações, mais do que isso. Mas uma sindicância, anunciada e «comandada» por eles apenas serve para aumentar a desconfiança. Por uma razão muito simples: o clima de suspeição também os abrange - directa e/ou indirectamente. E, portanto, uma sindicância interna acaba por ser um exercício sem qualquer efeito que não seja a sua desresponsabilização política e como gestores autárquicos, mais ainda se, no fim, se encontrarem os convenientes bodes expiatórios (funcionários).

Em suma, os casos de urbanismo com a autarquia de Lisboa, ou de outro qualquer concelho, não se desvendam ou esclarecem com (auto)sindicâncias. São casos de polícia - e que, portanto, devem ser tratados como tal. E pela Polícia Judiciária, já agora.

1 comentário:

José disse...

É isso mesmo. É o sistema regurgitando no seu melhor...

jc