3/29/2007

Um passo de demagogia

Eufórico, como é seu timbre, o ministro da Economia, Manuel Pinho, embandeirou em arco ontem durante a inauguração da central fotovoltaica em Brinches. Não esteve com meias palavras: disse que «estamos na linha da frente, na União Europeia e mesmo a nível mundial, no que diz respeito às energias renováveis», acrescentando ainda que é «um passo importante» para se atingir as metas portuguesas de, em 2020, produzir «45 por cento da energia nacional» através de energias renováveis.

Ora, o ministro só pode estar a brincar, por certo, pois se considerarmos toda a energia consumida em Portugal por fonte, temos o seguinte, respeitante a 2004:
  • Carvão: 12,8%
  • Petróleo: 58,3%
  • Gás natural: 12,5%
  • Electricidade: 5,7%
  • Biocombustíveis: 10,7%
Considerando que, sendo benevolente, 1/3 da electricidade foi produzida por fontes renováveis, temos então que uns míseros 12,6% da energia consumida em Portugal naquele ano foi recorrendo a fontes renováveis. Estamos à frente do quê????

Por outro lado, a central fotovoltaica, sem pretender menosprezá-la, é completamente irrelevante. Pode ser a maior do Mundo, mas é-o porque do ponto de vista da produção de electricidade, a energia solar é ainda pouco atractiva. A central de Brinches - a tal que é a maior do Mundo - tem 11 MW de potência, ou seja, representa em Portugal apenas 0,11% da potência total instalada!!! Na verdade, a energia solar deveria ser mais incentivada - e com muito maiores vantagens económicas e ambientais - como aquecimento e disseminado pelas habitações. Claro que, obviamente, apostar nesta linha não daria oportunidade ao ministro da Economia para fazer inaugurações e mandar uns bitates.

4 comentários:

Plataforma de Debate e Intervenção Ambiental disse...

Concordo. Além disso, segundo o especialista Prof. Collares Pereira, centrais deste tipo são "um disparate". 50.000 painéis concentrados não produzem mais electricidade que 50.000 painéis dispersos por habitações (neste caso, a concentração, em vez de economias de escala, porventura traz ineficiências relacionadas com as perdas de energia na rede ). Mas há dinheiros públicos para multinacionais para se ficar bem na fotografia, mas o apoio à microgeração doméstica por agora ainda é uma miragem.

Anónimo disse...

Não discordando em nada do que afirma (sou ignorante na matéria!), apenas me confundiu não ver nas fontes de produção energética, a rede de barragens construídas para o efeito.
Cumprimentos.

Pedro Almeida Vieira disse...

Caro velho da montanha,

A produção através das barragens está incorporada na parte da electricidade, quando se assumo que cerca de 1/3 desta componente é proveniente de recursos renováveis (água, vento, etc.). Dependendo do ano hidrológico, em Portugal entre 20% e 30% da electricidade é produzida através das centrais hidroeléctricas. Porém, como a electricidade é apenas uma pequena parte de toda a energia que se gasta, o peso das barragens obviamente se reduz no total...

Anónimo disse...

Não esquecer que a electricidade produzida pela central é comprada a 31 cêntimos / kWh.
Ou seja, três vezes mais cara do que pagamos na nossa conta da luz...

Assim temos maior e mais cara central de produção eléctrica da Mundo.
Não nos deveríamos ficar por instalações piloto, ou em locais onde não seja economicamente viável levar cabos de transporte de energia?

Suponho que o Ministro deveria querer dizer "45 por cento da energia" ELÉCTRICA através de energias renováveis até 2020(?)