Vai um grande chinfrim no blog do Provedor do Leitor do Público por causa da iniciativa daquele jornal em colocar à votação os 7 Horrores de Portugal. Tudo por se ter incluído o estádio do Sporting e mais uns quantos edifícios religiosos na lista de candidatos.
Esta iniciativa do Público, de carácter meramente lúdico, tem a virtude de discutir aspectos da nossa arquitectura que tem, de facto, alguns abortos. Mas esta celeuma fez-me lembrar sobretudo um episódio histórico assaz engraçado. Hoje, ninguém colocará em causa a beleza e imponência da arcaria do vale de Alcântara do Aqueduto das Águas Livres, um monumento nacional e ex-libris da cidade de Lisboa, e que foi projectado por Custódio Vieira e concluído por Carlos Mardel. Porém, na altura da sua construção, no segundo quartel do século XVIII era considerado por alguns como uma autêntica aberração arquitectónica, sobretudo por usar linhas góticas. Na linha do frente dos detractores esteve João Frederico Ludovice, o arquitecto do Convento de Mafra. Numa carta que escreveu já depois da morte de Custódio Vieira, a quem chama «Herodes do aqueduto», Ludovice diz o seguinte (textualmente):
«Com tudo á força de immensas despesas se conseguiu atravessar hum valle de mais de trezentos palmos de fundo, buscando de propósito para mostrar esta barbara valentia, sem compostura de alguma artificiosa, bella, e agradavel forma; mas até neste objecto barbaro, tosco e espantoso, com grande descredito da Nação, e do tempo presente, em que pretende terem-se apurado mais as obras; e isto executado com pedra de cantaria tão vergonhosamente, podendo-lhe com as mesmas fiadas das pedras algum tanto mais fóra, ou mais dentro, quasi com o mesmo custo, dar-lhe muyta graça, e alma, sem cuidar em nada mais, como seria prevenir, que a água, em quanto se occupavão na monstruosidade referida (...). E morto [está agora] quem teve tanta astúcia, e atrevimento para reduzir huma Corte tão principal da Europa a obra tão escusada, damnosa, da forma, á vista de toda a qualidade de pessoas, que como encantadas, não podiam fallar, por mais vontade que tivessem (...)».
Esta iniciativa do Público, de carácter meramente lúdico, tem a virtude de discutir aspectos da nossa arquitectura que tem, de facto, alguns abortos. Mas esta celeuma fez-me lembrar sobretudo um episódio histórico assaz engraçado. Hoje, ninguém colocará em causa a beleza e imponência da arcaria do vale de Alcântara do Aqueduto das Águas Livres, um monumento nacional e ex-libris da cidade de Lisboa, e que foi projectado por Custódio Vieira e concluído por Carlos Mardel. Porém, na altura da sua construção, no segundo quartel do século XVIII era considerado por alguns como uma autêntica aberração arquitectónica, sobretudo por usar linhas góticas. Na linha do frente dos detractores esteve João Frederico Ludovice, o arquitecto do Convento de Mafra. Numa carta que escreveu já depois da morte de Custódio Vieira, a quem chama «Herodes do aqueduto», Ludovice diz o seguinte (textualmente):
«Com tudo á força de immensas despesas se conseguiu atravessar hum valle de mais de trezentos palmos de fundo, buscando de propósito para mostrar esta barbara valentia, sem compostura de alguma artificiosa, bella, e agradavel forma; mas até neste objecto barbaro, tosco e espantoso, com grande descredito da Nação, e do tempo presente, em que pretende terem-se apurado mais as obras; e isto executado com pedra de cantaria tão vergonhosamente, podendo-lhe com as mesmas fiadas das pedras algum tanto mais fóra, ou mais dentro, quasi com o mesmo custo, dar-lhe muyta graça, e alma, sem cuidar em nada mais, como seria prevenir, que a água, em quanto se occupavão na monstruosidade referida (...).
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