7/02/2007

Escrita com os pés

Começa a ser desesperante reparar na fraquíssima qualidade de algumas notícias que surgem nos jornais de âmbito nacional. Ontem deu-me para reparar nesta notícia do DN que aborda o início da «época oficial» dos fogos florestais.

Vejamos algumas incorrecções sobre as matérias abordadas pelo jornalista:

a) «No ano passado ficou longe das cifras negras de 2003 e 2004, com mais de 300 mil hectares ardidos», escreve o jornalista, quando, na verdade, foram os anos de 2003 e 2005.

b) «A área ardida tem vindo a registar um decréscimo significativo face à média dos últimos cinco anos, segundo a Direcção-Geral dos Recursos Florestais», escreve o jornalista, quando não faz sentido algum comparar um ano com a média dos 5 anos anteriores e dizer depois que se está a registar um decréscimo (ou seja, uma tendência).

c) «O objectivo do Governo é que até 2012 a área de floresta ardida em Portugal diminua cem mil hectares», quando, na verdade, o objectivo é que a partir de 2012 se consiga que, por ano, menos de 100 mil hectares de área ardida por ano.

Mais chocante, porém, são os sucessivos erros de construção das frases e uma escrita quase macarrónica, sem vírgulas onde deveriam estar e com incoerências várias. Eu próprio cometo erros e lapsos quando escrevo, mas nesta notícia abundam excessivamente. São mais do que lapsos. Vejamos alguns exemplos:

a) «No ano passado ficou longe das cifras negras de 2003 e 2004, com mais de 300 mil hectares ardidos». Deveria ser «O ano passado (...).

b) «O melhor exemplo é o do corrente ano, em que a área ardida diminuiu até agora 60% face ao mesmo período de 2006, segundo dados divulgados pela Autoridade Nacional de Protecção Civil (ANPC)». A expressão «é o do» é horrível.

c) «A promessa consta do plano nacional de defesa da floresta aprovada em Conselho de Ministros». Fica-se a ser que a promessa foi aprovada em Conselho de Ministros; pensava que tinha sido o plano...

d) «Para já a grande ajuda para o combate aos fogos florestais vem da meteorologia, e, apesar do início do Verão, as previsões insistem no céu nublado e elevadas humidades relativas». As previsões insistem? Por amor de Deus, pelo menos que se escrevesse qualquer coisa do género «as previsões apontam para a manutenção de céu nublado».

Podem-me dizer que são pormenores, mas continuo a insistir que são estes pormenores de falta de qualidade que contribuem para afugentar os leitores. Pelo menos os mais exigentes.

1 comentário:

Anónimo disse...

Não podemos focar os erros só no jornalista!!
O editor, e o revisor de provas, não existem?

PS - Quando puder leia o Correio da Manhã. Tenho lido algumas barbaridades no que se refere aos textos ilustrativos dos problemas que a Terra terá face ao (não consensual!) aquecimento global de origem antropogénica.