7/09/2007

Refazer a história

No debate sobre alterações climáticas da RTP, apresentado por Maria Elisa, oiço estupefacto um médico de saúde pública, de nome Paulo Nogueira, a cantar loas ao sistema de vigilância que terá evitado, supostamente, muitas mortes pela onda de calor de 2003. E, com a concordância de Maria Elisa, garantiu que, devido ao tal sistema, se evitou tragédia semelhante à França. Arrepiam-me estas coisas...

Quem se recordar, aquando dessas elevadas temperaturas, o Governo nada sabia e até chegou a apontar valores ridículos de mortalidade (para aí meia dúzia de pessoas). Nada se sabia, nada se fez de prevenção nem de minimização. Só mais tarde, um ano depois, se apuraram os resultados da mortalidade (por sinal, muito próximos de umas estimativas que eu fiz, com base em dados de mortalidade do INE, e que foi publicado meses antes).

Na verdade, conforme se pode ver aqui, morreram em Portugal 2.696 pessoas. É certo que na França se atingiram 19.490 pessoas. Porém, não se pode ver os valores em termos absolutos, mas sim ao nível da população residente. E assim, temos a seguinte taxa de mortalidade causada pela onda de calor de 2003:

Itália - 341 mortes por milhão de habitantes
França - 306 mortes por milhão de habitantes
Espanha - 338 mortes por milhão de habitantes
Alemanha - 114 mortes por milhão de habitantes
Portugal - 254 mortes por milhão de habitantes

Ou seja, não me parece que a situação portuguesa seja assim tão boa. Aliás - e tenho pena de já não encontrar a notícia -, é bom recordar que a onda de calor de 2003 atingiu sobretudo o interior do país, mais despovoado. E, portanto, nessas regiões a taxa de mortalidade foi seguramente muitíssimo superior á verificada em outros países.

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