Esta notícia da jornalista Leonor Matias, do Diário de Notícias (manchete de hoje), constitui o paradigma do mau jornalismo.
Escreve a dita jornalista ter apurado que «a opção de construir o novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete pode resultar num apoio comunitário de 800 milhões de euros(...) contra apenas 5,6% dos 3,1 mil milhões de de euros no caso da Ota», acrescentando que «esta diferença explica-se pelo facto de o Campo de Tiro de Alcochete pertencer ao concelho de Benavente, o qual passou a integrar a região do Alentejo, considerada uma zona pobre para efeitos de elegebilidade de apoios comunitários, enquanto a Ota pertence à região de Lisboa e Vale do Tejo, passou a ser considerada uma zona "rica"».
Contudo, na verdade, isto é um disparate em toda a largura e comprimento. Por uma razão muito simples: já nem sequer formalmente existe uma região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e, portanto, Ota não integra uma região «rica». Há poucos anos, exactamente por ter a região LVT passado a ser uma região «rica», decidiu o Governo separar as NUT III do Oeste, Médio Tejo e Lezíria do Tejo da então LVT, passando as duas primeiras para a região Centro e a terceira para o Alentejo. Deste modo, as restantes subregiões Grande Lisboa e Península de Setúbal formaram a actual («rica») região Lisboa.
Deste modo, colocar Benavente (Campo de Tiro) , para efeitos de financiamento comunitário, em vantagem sobre Alenquer (Ota) não é verdade: estão em pé de igualdade, já que Benavente (Médio Tejo) é ,de facto, Alentejo, mas Alenquer (Oeste) não é LVT (que já não existe) nem Lisboa,mas sim Centro - ou seja, ambas as localizações não estão inseridas numa região«rica». E isto arrasa logo a notícia.
Porém, choca-me particularmente também toda a estrutura da notícia. Vejamos por quê , através de algumas passagens:
«(...) apurou o DN junto de fonte ligada ao estudo patrocinado pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) (...).
(...) Fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos regionais explicou ao DN (...)
(...) Fonte do gabinete do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, confirmou ao DN (...)
(...) Fonte da câmara municipal de Benavente lamentou ao DN (...)».
Ou seja, a jornalista usou quatro fontes para elaborar uma notícia. Todas as quatro são fontes anónimas! Nem uma é, portanto, identificada e nem se justifica por haver necessidade de protecção de fontes, pois as informações não são assim tão confidenciais e nem me parece que aqui se justifique a protecção da fonte.
Porém, tendo em conta que a primeira fonte (anónima e ligada ao estudo da CIP) transmite uma informação errada que a jornalista tinha obrigação de saber estar incorrecta (são daquelas coisas que tem de saber...),
que a segunda fonte (a da Comissão Europeia) faz referências que estão, no mínimo desactualizadas e, portanto, incorrecta, como acima se comprovou (a passagem da notícia do DN é a seguinte: «Fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos regionais explicou ao DN que em termos de elegibilidade existem dois tipos de regiões, e Benavente faz parte das zonas mais pobres, em que o Produto Interno Bruto (PIB) está abaixo dos 75%, o que não se passa na região de Lisboa e Vale do Tejo»),
que me parece muito pouco provável (para não dizer impossível) que uma verdadeira e competente «fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos comunitários» desconheça que não existe já LVT e que Alenquer está integrada agora na região Centro (ou seja, numa região que não é «rica»,
torna-se assim lícito questionar se a jornalista falou sequer com as fontes ou se aquilo que escorreu da sua pena foi mera imaginação, mera ignorância ou um contributo para a causa de um dos lobbies. Mau jornalismo, isso sei que é.
Escreve a dita jornalista ter apurado que «a opção de construir o novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete pode resultar num apoio comunitário de 800 milhões de euros(...) contra apenas 5,6% dos 3,1 mil milhões de de euros no caso da Ota», acrescentando que «esta diferença explica-se pelo facto de o Campo de Tiro de Alcochete pertencer ao concelho de Benavente, o qual passou a integrar a região do Alentejo, considerada uma zona pobre para efeitos de elegebilidade de apoios comunitários, enquanto a Ota pertence à região de Lisboa e Vale do Tejo, passou a ser considerada uma zona "rica"».
Contudo, na verdade, isto é um disparate em toda a largura e comprimento. Por uma razão muito simples: já nem sequer formalmente existe uma região de Lisboa e Vale do Tejo (LVT) e, portanto, Ota não integra uma região «rica». Há poucos anos, exactamente por ter a região LVT passado a ser uma região «rica», decidiu o Governo separar as NUT III do Oeste, Médio Tejo e Lezíria do Tejo da então LVT, passando as duas primeiras para a região Centro e a terceira para o Alentejo. Deste modo, as restantes subregiões Grande Lisboa e Península de Setúbal formaram a actual («rica») região Lisboa.
Deste modo, colocar Benavente (Campo de Tiro) , para efeitos de financiamento comunitário, em vantagem sobre Alenquer (Ota) não é verdade: estão em pé de igualdade, já que Benavente (Médio Tejo) é ,de facto, Alentejo, mas Alenquer (Oeste) não é LVT (que já não existe) nem Lisboa,mas sim Centro - ou seja, ambas as localizações não estão inseridas numa região«rica». E isto arrasa logo a notícia.
Porém, choca-me particularmente também toda a estrutura da notícia. Vejamos por quê , através de algumas passagens:
«(...) apurou o DN junto de fonte ligada ao estudo patrocinado pela Confederação da Indústria Portuguesa (CIP) (...).
(...) Fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos regionais explicou ao DN (...)
(...) Fonte do gabinete do ministro das Obras Públicas, Mário Lino, confirmou ao DN (...)
(...) Fonte da câmara municipal de Benavente lamentou ao DN (...)».
Ou seja, a jornalista usou quatro fontes para elaborar uma notícia. Todas as quatro são fontes anónimas! Nem uma é, portanto, identificada e nem se justifica por haver necessidade de protecção de fontes, pois as informações não são assim tão confidenciais e nem me parece que aqui se justifique a protecção da fonte.
Porém, tendo em conta que a primeira fonte (anónima e ligada ao estudo da CIP) transmite uma informação errada que a jornalista tinha obrigação de saber estar incorrecta (são daquelas coisas que tem de saber...),
que a segunda fonte (a da Comissão Europeia) faz referências que estão, no mínimo desactualizadas e, portanto, incorrecta, como acima se comprovou (a passagem da notícia do DN é a seguinte: «Fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos regionais explicou ao DN que em termos de elegibilidade existem dois tipos de regiões, e Benavente faz parte das zonas mais pobres, em que o Produto Interno Bruto (PIB) está abaixo dos 75%, o que não se passa na região de Lisboa e Vale do Tejo»),
que me parece muito pouco provável (para não dizer impossível) que uma verdadeira e competente «fonte da Comissão Europeia ligada aos fundos comunitários» desconheça que não existe já LVT e que Alenquer está integrada agora na região Centro (ou seja, numa região que não é «rica»,
torna-se assim lícito questionar se a jornalista falou sequer com as fontes ou se aquilo que escorreu da sua pena foi mera imaginação, mera ignorância ou um contributo para a causa de um dos lobbies. Mau jornalismo, isso sei que é.
5 comentários:
Essa divisão não foi avante. Continua tudo como está. Benavente e Alenquer continuam a pertencer a Lisboa e Vale do Tejo
http://www.ccdr-lvt.pt
sem papas na língua.Isso é que é jornalismo. Chapelada.
Comissário Cuinmari
Tudo certo, excepto a conclusão: a mim parece-me que a jornalista nada inventou, apenas escreveu o que os autores/donos do estudo da CIP lhe ditaram.
Caro Luís Bonifáciom
foi sim, conforme se pode ver em todos os dados mais recentes do INE. Porém, isto foi apenas uma farsa para UE ver, porque efectivamente em termos de gestão territorial as coisas estão como estavam. Por exemplo, o PROT do Oeste e Vale do Tejo (ou seja, que apanha as três NUT III que se separaram da Grande Lisboa e da Península de Setúbal) está a ser feita pela CCDR de Lisboa. Em todoo caso, independentemente de separação ou não, Alcochete e Alenquer estarão sempre em pé de igualdade perante os fundos comunitários.E isso a jornalista do DN deveria saber...
Caro anónimo,
um jornalista não deve apenas escrever o que lhes ditam; deve sim analisar e ter os conhecimentos suficientes para evitar ser enganado. Porque, como aqui se vir na minha critica, quando o engano é tão espantoso (e com as intenções que se imaginam), é o jornalista que fica mal na fotografia. Uns pequenis conhecimentos nesta área e ela não teria sido enganada nem teria transmitido informação incorrecta.
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