1/31/2009

Freeport, Google Earth e conservação da Natureza

O caso Freeport - ou Freeportgate - já deixou há muito de ser uma mera questão de índole ambiental, para ser sobretudo um caso de polícia. Mas vale sempre a pena mostrar onde está o outlet - e ter assim uma ideia da sua dimensão -, de forma a evidenciar a sua proximidade ao estuário do Tejo (zona de sapais e salinas), razão máxima para se ter incluído aquela área em Zona de Protecção Especial (ZPE) de Aves. A imagem que aqui coloco é do Google Earth, mostrando no canto inferior esquerdo o Freeport, agora mesmo a paredes-meias com as zonas de sapais e antigas salinas do estuário do Tejo (a cor verde). Penso que as aves não devem andar a fazer compras em lojas de desconto...
Aliás, choca-me particularmente ver algumas pessoas - muitas que até considero - a fazer alusões à pouca importância ecológica da área onde está o outlet pelo facto de estar inserido na zona da antiga fábrica da Firestone. De facto, parte dessa área, antes do outlet, estava algo debgradada, mas por não ter então qualquer ocupação constituía uma zona-tampão das áreas de maior importância. Relativizar isso demonstra alguma ignorância por se desconhecerem os pressupostos que devem reger as políticas (medidas) de conservação da natureza. Com o outlet, aquilo que aconteceu foi a pura eliminação dessa zona-tampão, daí que tenha sido, só por si, quase criminoso a aprovação daquele projecto.

3 comentários:

Henrique Pereira dos Santos disse...

Pedro,
Penso que sou insuspeito de fazer fretes e de ser completamente ignorante em matéria de conservação e acho, sempre achei, aliás, mesmo quando fiz um parecer negativo por entender que o projecto violava o PDM, que de facto o projecto não tinha grande impacto nas aves.
O tempo aparentemente tem demostrado isso mesmo porque não me lembro de um só indício de afectação significativa de aves desde a sua abertura.
Não quer dizer que não possa haver, estou apenas a dizer que desconheço qualquer indício nesse sentido.
henrique pereira dos santos

Luís Bonifácio disse...

Ainda está online o site do Instituto geográfico do exército com as fotos aéreas de Portugal em 1998. Em alcochete está lá a antiga fábrica da Firestone. É giro vermos o antes e o depois do Freeport.

http://ortos.igeo.pt/ortofotos/

Pedro Almeida Vieira disse...

Caro Henrique,
parece-me um sofisma a última parte do teu comentário. Se bem entendo, queres dizer que como antes do Freeport não havia impactes sobre as aves e agora aparentemente não se verificam impactes sobtre as aves, então significa que o Freeport não representou qualquer impacte sobre as aves. Acontece, porém, que na minha opinião a classificação de uma Zona de Protecção Especial para Aves não se deve circunscrever a preservar (no sentido de manter o existente), mas sim a promover. Ou seja, quando se classificam áreas protegidas, também se deve procurar renaturalizar as partes degradadas (como era o caso da zona da antiga fábrica da Firestone) que têm potencial como habitat ou, pelo menos, que constituam zonas-tampão. Ora, quando não há qualquer problema em ocupar uma zona-tampão com algo com a dimensão do Freeport, algo está mal. Ou está mal a sua ocupação ou está mal a criação da zona-tampão. Assusta-me, aliás, a forma recorrente como se usa o argumento do pouco interesse ecológico de zonas classificadas. Se é um facto de que isso pode suceder (por vezes por incompreensíveis erros técnicos, mas também porque, após a classificação, deixou-se a a área degradar), certo é que me parece uma forma habilidosa de contornar os princípios de conservação da natureza.