A discussão em torno da criação do museu Salazar/Estado Novo em Santa Comba Dão (vd. aqui) dá uma sensação de dejá vù, fazendo recordar as acesas discussões que decorreram ao longo da segunda metade do século XIX até às primeiras décadas do século XX em torno do marquês de Pombal. Tal como Salazar, o marquês de Pombal foi «persona non grata» durante muitas décadas após a sua morte. Falar bem de Sebastião José de Carvalho e Melo nos trinta ou quarenta anos a seguir era um sacrilégio tão grande como hoje é dizer bem de Salazar. Somente depois das suas ossadas - que, em Pombal, andaram em bolandas durante as invasões napoleónicas - serem trasladadas para Lisboa por volta de 1857, é que começaram a surgir alguns defensores da obra de Sebastião José. Mas também ferozes detractores - como Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão, para apenas dizer os mais sonantes. A discussão atingiu o auge aquando do centenário da sua morte. E prolongou-se até que a estátua foi erigida em 1937 (salvo erro), depois do projecto ter sido executado no início desse século. O resultado, sabe-se: o Marquês de Pombal é hoje venerado como modelo de estadista.
Ora, o que pretendo dizer com isto é que se Salazar foi um ditador, o Marquês de Pombal ditador foi. Mas ambos fizeram coisas positivas. E que, por isso, devem ser convenientemente lembradas, porque o pior que pode acontecer a um país é perder a memória, pois criam-se mitos. Se hoje a figura de Salazar «renasce» como estadista - como aconteceu com o Marquês de Pombal ao longo da segunda metade do século XIX - foi exactamente por se ter pretendido apagar tudo o que fez (de bom e de mau) nos anos seguintes à sua morte. O país não interiorizou a sua acção e, perante uma certa desilusão da classe política, o povo vira-se para o passado, mesmo para aqueles políticos que as gerações mais antigas tanto abominaram.
Ora, o que pretendo dizer com isto é que se Salazar foi um ditador, o Marquês de Pombal ditador foi. Mas ambos fizeram coisas positivas. E que, por isso, devem ser convenientemente lembradas, porque o pior que pode acontecer a um país é perder a memória, pois criam-se mitos. Se hoje a figura de Salazar «renasce» como estadista - como aconteceu com o Marquês de Pombal ao longo da segunda metade do século XIX - foi exactamente por se ter pretendido apagar tudo o que fez (de bom e de mau) nos anos seguintes à sua morte. O país não interiorizou a sua acção e, perante uma certa desilusão da classe política, o povo vira-se para o passado, mesmo para aqueles políticos que as gerações mais antigas tanto abominaram.
3 comentários:
Mais uma vez o senhor está coberto de razão. Por isso sou seu fã! Simples, claro e objectivo.
coisas boas... salazar... não digo que não, mas a que custos? fome? analfabetização? guerra colonial?
concordo como princípio. no entanto, não me parece que o que se pretende com esta "iniciativa" seja assim tão inocente. se dúvidas houvesse, tivemos a manifestação de há uns dias atrás.
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