Nos últimos tempos, o Diário de Notícias tem sido um manancial de diversão. Hoje, não aguentei destacar e comentar a totalidade desta notícia que me chamou a atenção pelo título: «Foi nadar no rio depois de almoço e morreu». A coisa parecia-me mais uma daquelas notícias do cão que morde o homem, típicas da silly season, quando não se encontra nada mais importante. Porém, esta notícia é especial, tanto assim que para cada parágrafo segue o meu comentário,em itálico e bold. Espero que se divirtam tanto como eu.
«Um indivíduo com cerca de 30 anos perdeu ontem a vida, numa altura em que nadava no rio Douro próximo da praia do Areinho, em Vila Nova de Gaia. Segundo alguns populares, o alerta terá sido dado por crianças que brincavam junto a uma pequena marina, depois de perderem o indivíduo de vista.»
Comentário - Ficamos a saber que um indivíduo (estranha palavra num jornal) perdeu a vida e que crianças perderam o dito de vista. Tantas perdas. Comecei logo a achar que esta notícia me ia divertir.
«O alerta para os bombeiros foi dado por volta das 14.30. Um homem com cerca de 30 anos tinha desaparecido no rio Douro. Para o local foram de imediato os mergulhadores dos Sapadores do Porto e dos bombeiros da Aguda. A estes juntaram-se vários elementos dos Sapadores de Vila Nova de Gaia e de Avintes.»
Comentário - Para o caso de não se ter reparado na primeira frase, o jornalista volta a dar a idade da vítima (cerca de 30 anos). A diferença é ter o indivíduo passado a ser homem.
«Segundo os Sapadores de Gaia e o piquete da Polícia Marítima, as informações recolhidas no local indicam que o indivíduo terá decidido nadar no rio após o almoço. "Tudo leva a acreditar que se terá sentido indisposto, talvez uma congestão ou assim, já que o corpo não apresentava qualquer ferimento", disse ao DN um elemento da Polícia Marítima.»
Comentário - Bolas, o homem passou outra vez a indivíduo. Mas há mais: há bitates para encher sobre a causa do afogamento. E é assim mesmo, de forma coloquial: «talvez uma congestão ou assim». Lindo...
«O alerta foi dado por algumas crianças que brincavam próximo do local e que haviam visto o indivíduo a saltar para a águas. Algum tempo depois, tendo deixado de o ver à tona da água, alertaram alguns adultos para o desaparecimento do homem.»
Comentário - Deixem ver se entendo: as crianças alertaram os adultos, os adultos alertaram supostamente os bombeiros. Isto parece-me coisa para encher. Ah!, e o indivíduo já passou outra vez a ser homem.
«Nas roupas da vítima, que estavam penduradas numa pequena embarcação de pescadores ancorada no local, não foi encontrado qualquer documento que permitisse a identificação. "Houve quem dissesse que o conhecia de vista e que sabia, mais ou menos, onde morava, mas sem grandes certezas", adiantou a mesma fonte. O homem seria solteiro, não tinha filhos e morava próximo do Areínho, com um tio. O corpo foi levado para o Instituto de Medicina Legal do Porto para autópsia que irá determinar as causas da morte e a posterior identificação da vítima mortal.»
Comentário - Essencial, o pormenor de as roupas da vítima estarem penduradas num barco de pescadores. Mas fiquei curioso de saber como eram, e as suas cores e tecidos. Também gostei do «houve quem dissesse». E com tantas dúvidas sobre a identidade do indivíduo ou homem - mas há uns bitates - , aprendi, pela frase do jornalista, que a autópsia também determinará a identificação da vítima. Ah, e ainda bem que a vítima é uma vítima mortal, caso contrário a autópsia provavelmente ia doer um bocadinho...
«Segundo o comandante Martins dos Santos, da Capitania do Douro, "as únicas mortes registadas este ano no rio, nada têm a ver com afogamentos deste género". Os seis casos verificados até ontem reportam-se a "acidentes ou incidentes" diferentes deste caso.»
Comentário - Mais outra informação fundamental: ficamos a saber que houve seis mortes naquele rio, mas que foram apenas «acidentes ou incidentes», sem especificar. E nós que até tínhamos ficado a saber que o indivíduo, ou homem, tinha pendurado a roupa numa embarcação de pescadores.
Conclusão final: Mas que raio de notícia é esta????!
«Um indivíduo com cerca de 30 anos perdeu ontem a vida, numa altura em que nadava no rio Douro próximo da praia do Areinho, em Vila Nova de Gaia. Segundo alguns populares, o alerta terá sido dado por crianças que brincavam junto a uma pequena marina, depois de perderem o indivíduo de vista.»
Comentário - Ficamos a saber que um indivíduo (estranha palavra num jornal) perdeu a vida e que crianças perderam o dito de vista. Tantas perdas. Comecei logo a achar que esta notícia me ia divertir.
«O alerta para os bombeiros foi dado por volta das 14.30. Um homem com cerca de 30 anos tinha desaparecido no rio Douro. Para o local foram de imediato os mergulhadores dos Sapadores do Porto e dos bombeiros da Aguda. A estes juntaram-se vários elementos dos Sapadores de Vila Nova de Gaia e de Avintes.»
Comentário - Para o caso de não se ter reparado na primeira frase, o jornalista volta a dar a idade da vítima (cerca de 30 anos). A diferença é ter o indivíduo passado a ser homem.
«Segundo os Sapadores de Gaia e o piquete da Polícia Marítima, as informações recolhidas no local indicam que o indivíduo terá decidido nadar no rio após o almoço. "Tudo leva a acreditar que se terá sentido indisposto, talvez uma congestão ou assim, já que o corpo não apresentava qualquer ferimento", disse ao DN um elemento da Polícia Marítima.»
Comentário - Bolas, o homem passou outra vez a indivíduo. Mas há mais: há bitates para encher sobre a causa do afogamento. E é assim mesmo, de forma coloquial: «talvez uma congestão ou assim». Lindo...
«O alerta foi dado por algumas crianças que brincavam próximo do local e que haviam visto o indivíduo a saltar para a águas. Algum tempo depois, tendo deixado de o ver à tona da água, alertaram alguns adultos para o desaparecimento do homem.»
Comentário - Deixem ver se entendo: as crianças alertaram os adultos, os adultos alertaram supostamente os bombeiros. Isto parece-me coisa para encher. Ah!, e o indivíduo já passou outra vez a ser homem.
«Nas roupas da vítima, que estavam penduradas numa pequena embarcação de pescadores ancorada no local, não foi encontrado qualquer documento que permitisse a identificação. "Houve quem dissesse que o conhecia de vista e que sabia, mais ou menos, onde morava, mas sem grandes certezas", adiantou a mesma fonte. O homem seria solteiro, não tinha filhos e morava próximo do Areínho, com um tio. O corpo foi levado para o Instituto de Medicina Legal do Porto para autópsia que irá determinar as causas da morte e a posterior identificação da vítima mortal.»
Comentário - Essencial, o pormenor de as roupas da vítima estarem penduradas num barco de pescadores. Mas fiquei curioso de saber como eram, e as suas cores e tecidos. Também gostei do «houve quem dissesse». E com tantas dúvidas sobre a identidade do indivíduo ou homem - mas há uns bitates - , aprendi, pela frase do jornalista, que a autópsia também determinará a identificação da vítima. Ah, e ainda bem que a vítima é uma vítima mortal, caso contrário a autópsia provavelmente ia doer um bocadinho...
«Segundo o comandante Martins dos Santos, da Capitania do Douro, "as únicas mortes registadas este ano no rio, nada têm a ver com afogamentos deste género". Os seis casos verificados até ontem reportam-se a "acidentes ou incidentes" diferentes deste caso.»
Comentário - Mais outra informação fundamental: ficamos a saber que houve seis mortes naquele rio, mas que foram apenas «acidentes ou incidentes», sem especificar. E nós que até tínhamos ficado a saber que o indivíduo, ou homem, tinha pendurado a roupa numa embarcação de pescadores.
Conclusão final: Mas que raio de notícia é esta????!
2 comentários:
O pior é que aposto como o DN não voltará nunca mais a dizer-nos nada sobre o assunto. A menos que o homem na autópsia se revele uma mulher. Por mim, acho que todas as notícias começadas deveriam ser acompanhadas até ao fecho do dossier. Mas o jornalismo é apenas uma arte menor nas mãos de quase todos os que a praticam. Por isso, para mim, o melhor dos jornais são as crónicas. Aqui está como a tua brincadeira com o teu inimigo de estimação me pôs a pensar. Casimiro
Caro Casimiro,
isto não tem nada a ver com inimigos de estimação. Se reparares, tenho por vezes destacado outros disparates jornalísticos. E mais: o meu inimigo de estimação já nem se encontro no DN, e uma das pessoas que está na direcção é minha amiga de longa data e da qual tenho muito respeito profissional. O problema acaba por ser mais vasto e, por isso, mais grave: a falta de qualidade do jornalismo e a forma por vezes leviana como passam o crivo e são publicadas,manchando indelevelmente toda a credibilidade de um jornal.
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