Farpas CDIV
Segundo consta, o Governo decidiu passar, depois das fases Alfa e Bravo, para a fase Charlie em termos de meios operacionais de combate aos fogos florestais.
Apenas um pequeno comentário: Bardamerda para esta fantochada de denominações miltares numa pornográfica e descarada tentativa de dar uma ideia de algo que jamais existiu: estratégia, comando e organização. Para mim, só houve uma fase - a fase D (Desastre)!
9/30/2005
Farpas Verdes CDIII
Hoje, no Correio da Manhã, surge a notícia (ver aqui) de um caso paradigmático das negociatas em torno dos planos directores municipais. Alegadamente, antes da aprovação do PDM de Mafra, a autarquia vende uns terrenos não urbanizáveis (portanto, de baixo valor) a umas quantas pessoas, uma deles, «por acaso» pai do presidente da autarquia. O PDM é entretanto aprovado e o dito terreno é considerado urbanizável. Assim, de uma noite para o dia, os ditos empresários enriquecem...
Isto não é uma excepção; foi, infelizmente, a regra neste triste país. Fez-se à descarada!
Hoje, no Correio da Manhã, surge a notícia (ver aqui) de um caso paradigmático das negociatas em torno dos planos directores municipais. Alegadamente, antes da aprovação do PDM de Mafra, a autarquia vende uns terrenos não urbanizáveis (portanto, de baixo valor) a umas quantas pessoas, uma deles, «por acaso» pai do presidente da autarquia. O PDM é entretanto aprovado e o dito terreno é considerado urbanizável. Assim, de uma noite para o dia, os ditos empresários enriquecem...
Isto não é uma excepção; foi, infelizmente, a regra neste triste país. Fez-se à descarada!
Farpas CDII
Na semana passada, praticamente não escrevi, e portanto não fiz qualquer referência ao (mais um) Dia Europeu sem Carros. Em todo o caso, não se perdeu nada. Ainda me recordo do foguetório de 2001 quando então o ministro José Sócrates gastou um milhão de euros em propaganda mediática. Além disso, começa a ser vergonhoso como as medidas ao nível dos transportes em Portugal andam a passo de caracol.
P.S. A única medida com algum relevo foi a intenção de reduzir o imposto automóvel (IA) aos carros menos poluentes. Parece que em 10% do IA. A intenção é boa, mas temo que, por um lado, 10% num imposto destes não é dinheiro que se veja quando se opta por comprar um carro (poupa-se umas míseras dezenas de contos, num carro de milhares), e por outro, que haja uma prolongada discussão para definir o que é um carro poluente e o que não é. A questão deveria ser tratada de uma forma integrada, como já algumas pessoas têm defendido: uma redução do imposto automóvel que, na verdade, constitua uma transferência de pagamento de taxa para o imposto de circulação, esse sim a ser aumentado e definido, caso a caso, em função dos níveis de emissão de poluentes. Além disso, numa fase mais avançada, seria preferível arranjar uma taxa de circulação que fosse obtida ao quilómetro. Neste caso, em cada ano, o automobilista declararia os quilómetros que andara no ano anterior, havendo depois uma confirmação quando fosse feita as inspecções automóveis. Isso beneficiaria os automobilistas que andam menos de carro do que os outros. Claro está que há sempre as trafalhices de alteração do contra-quilómetros, mas aí era uma questão de impor um sistema inviolável.
Na semana passada, praticamente não escrevi, e portanto não fiz qualquer referência ao (mais um) Dia Europeu sem Carros. Em todo o caso, não se perdeu nada. Ainda me recordo do foguetório de 2001 quando então o ministro José Sócrates gastou um milhão de euros em propaganda mediática. Além disso, começa a ser vergonhoso como as medidas ao nível dos transportes em Portugal andam a passo de caracol.
P.S. A única medida com algum relevo foi a intenção de reduzir o imposto automóvel (IA) aos carros menos poluentes. Parece que em 10% do IA. A intenção é boa, mas temo que, por um lado, 10% num imposto destes não é dinheiro que se veja quando se opta por comprar um carro (poupa-se umas míseras dezenas de contos, num carro de milhares), e por outro, que haja uma prolongada discussão para definir o que é um carro poluente e o que não é. A questão deveria ser tratada de uma forma integrada, como já algumas pessoas têm defendido: uma redução do imposto automóvel que, na verdade, constitua uma transferência de pagamento de taxa para o imposto de circulação, esse sim a ser aumentado e definido, caso a caso, em função dos níveis de emissão de poluentes. Além disso, numa fase mais avançada, seria preferível arranjar uma taxa de circulação que fosse obtida ao quilómetro. Neste caso, em cada ano, o automobilista declararia os quilómetros que andara no ano anterior, havendo depois uma confirmação quando fosse feita as inspecções automóveis. Isso beneficiaria os automobilistas que andam menos de carro do que os outros. Claro está que há sempre as trafalhices de alteração do contra-quilómetros, mas aí era uma questão de impor um sistema inviolável.
Farpas Verdes CDI
Finalmente, Portugal aprovou a Lei-Quadro da Água, transpondo assim a directiva comunitária (lembremo-nos que José Sócrates, ainda em 2001, a tinha «pronta»). Tenho acompanhado um pouco ao longe a polémica que existiu por causa da alegada «mercantilização» da água e a aplicação de taxas. Embora desconheça os pormenores daquilo que virá a ser essa taxa, por uma questão de princípio sou favorável ao pagamento de uma tarifa para o consumo/usufruto da água, desde que as verbas sejam depois investidas no sector. Esta não é, aliás, novidade alguma no nosso quadro jurídico, pois desde 1994 está prevista, embora jamais tenha sido aplicada. Espero apenas que tal não acontecça com esta nova legislação.
Relativamente aos aspectos mais polémicos, a existirem irregularidades na transposição, o caminho a seguir será a comunicação à União Europeia. Mais vale aprovar a Lei-Quadro com algumas falhas que depois a Comissão Europeia «obrigará» a rectificar do que estarmos a adiar indefinidamente esta questão.
Finalmente, Portugal aprovou a Lei-Quadro da Água, transpondo assim a directiva comunitária (lembremo-nos que José Sócrates, ainda em 2001, a tinha «pronta»). Tenho acompanhado um pouco ao longe a polémica que existiu por causa da alegada «mercantilização» da água e a aplicação de taxas. Embora desconheça os pormenores daquilo que virá a ser essa taxa, por uma questão de princípio sou favorável ao pagamento de uma tarifa para o consumo/usufruto da água, desde que as verbas sejam depois investidas no sector. Esta não é, aliás, novidade alguma no nosso quadro jurídico, pois desde 1994 está prevista, embora jamais tenha sido aplicada. Espero apenas que tal não acontecça com esta nova legislação.
Relativamente aos aspectos mais polémicos, a existirem irregularidades na transposição, o caminho a seguir será a comunicação à União Europeia. Mais vale aprovar a Lei-Quadro com algumas falhas que depois a Comissão Europeia «obrigará» a rectificar do que estarmos a adiar indefinidamente esta questão.
9/29/2005
Farpas Verdes CD
O Governo socialista deveria «agradecer» ao ano 2003 por ter sido tão catástrófico, porque se assim não tivesse sido, este ano de 2005 teria sido um inferno indescritível. Digo isto porque, analisando o padrão de área ardida em termos regionais e históricos, o interior do país apenas não ardeu tanto porque a maioria da «área incendiável» (aliás, proponho que se mude para esta terminologia aquilo que, geralmente, é denominada «área florestal») já ardeu há dois anos e, portanto, «safou-se» este ano.
De facto, basta fazer algumas comparações interessentes, para retirar algumas conclusões pertintentes:
Este ano de 2005 registou mais incêndios superiores a 100 hectares do que em 2003 (273 contra 175). Desagregando: na classe de incêndios com uma área ardida entre 100 e 500 hectares, 2005 também ultrapassa 2003 (181 contra 90). Na classe 500-1000 hectares idem (44 contra 31). Na classe 1000-5000 equivalem-se (ambos com 39). E apenas nos incêndios de grandesssíssimas dimensões - mais de 5000 hectares - o ano 2003 (com 15 incêndios) é pior do que 2005 (com 9 incêndios).
Ora, mas é aqui que se mostram as diferenças que justificam a «sorte» do Governo. Em 2003, as regiões mais afectadas por incêndios de grandessíssimas dimensões concentraram-se sobretudo no interior do país, a saber por distritos:
No total, estes 15 incêndios dizimaram 254.839 hectares (60,2%).
Este ano, porém, os 9 incêndios superiores a 5000 hectares «desviaram-se» sobretudo para o litoral, a saber por distritos:
No total, estes incêndios dizimaram 88.865 hectares (31,0%).
Convém também salientar que os distritos do litoral a norte de Lisboa foram, este ano, particularmente fustigados comparativamente aos anos anteriores. E foi mesmo a excepção à regra de um aparente paradoxo que mostrava que onde há mais incêndios há menos área ardida. Com efeito, este ano ardeu mais onde houve mais incêndios. Basta reparara que, entre 1980 e 2004, a média anual de área ardida dos seis distritos do litoral a norte de Lisboa (Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro e Leiria) atingia, no total, 51.376 hectares. Isto representava 27,7% do total nacional da área ardida. Porém, este ano de 2005, nestes seis distritos ardeu 156.308 hectares, o que representa 54,6% do total nacional. Fazendo uma extrapolação simples, significa isto que, em situação normal - ou seja, nestes distritos arder 27,7% do total -, então em todo o país em 2005 deveria ter ardido 564 mil hectares!
A questão que estes dados mostram é, assim, muito simples: o interior do país foi «poupado» apenas porque a «área incendiável» nestas regiões diminuiu bastante em 2003.
O Governo socialista deveria «agradecer» ao ano 2003 por ter sido tão catástrófico, porque se assim não tivesse sido, este ano de 2005 teria sido um inferno indescritível. Digo isto porque, analisando o padrão de área ardida em termos regionais e históricos, o interior do país apenas não ardeu tanto porque a maioria da «área incendiável» (aliás, proponho que se mude para esta terminologia aquilo que, geralmente, é denominada «área florestal») já ardeu há dois anos e, portanto, «safou-se» este ano.
De facto, basta fazer algumas comparações interessentes, para retirar algumas conclusões pertintentes:
Este ano de 2005 registou mais incêndios superiores a 100 hectares do que em 2003 (273 contra 175). Desagregando: na classe de incêndios com uma área ardida entre 100 e 500 hectares, 2005 também ultrapassa 2003 (181 contra 90). Na classe 500-1000 hectares idem (44 contra 31). Na classe 1000-5000 equivalem-se (ambos com 39). E apenas nos incêndios de grandesssíssimas dimensões - mais de 5000 hectares - o ano 2003 (com 15 incêndios) é pior do que 2005 (com 9 incêndios).
Ora, mas é aqui que se mostram as diferenças que justificam a «sorte» do Governo. Em 2003, as regiões mais afectadas por incêndios de grandessíssimas dimensões concentraram-se sobretudo no interior do país, a saber por distritos:
- Castelo Branco - 5
- Portalegre - 5
- Faro - 3
- Santarém - 2
No total, estes 15 incêndios dizimaram 254.839 hectares (60,2%).
Este ano, porém, os 9 incêndios superiores a 5000 hectares «desviaram-se» sobretudo para o litoral, a saber por distritos:
- Leiria - 2
- Coimbra - 2
- Viana do Castelo - 1
- Aveiro - 1
- Santarém - 1
- Vila Real - 1
- Guarda - 1
No total, estes incêndios dizimaram 88.865 hectares (31,0%).
Convém também salientar que os distritos do litoral a norte de Lisboa foram, este ano, particularmente fustigados comparativamente aos anos anteriores. E foi mesmo a excepção à regra de um aparente paradoxo que mostrava que onde há mais incêndios há menos área ardida. Com efeito, este ano ardeu mais onde houve mais incêndios. Basta reparara que, entre 1980 e 2004, a média anual de área ardida dos seis distritos do litoral a norte de Lisboa (Viana do Castelo, Braga, Porto, Aveiro e Leiria) atingia, no total, 51.376 hectares. Isto representava 27,7% do total nacional da área ardida. Porém, este ano de 2005, nestes seis distritos ardeu 156.308 hectares, o que representa 54,6% do total nacional. Fazendo uma extrapolação simples, significa isto que, em situação normal - ou seja, nestes distritos arder 27,7% do total -, então em todo o país em 2005 deveria ter ardido 564 mil hectares!
A questão que estes dados mostram é, assim, muito simples: o interior do país foi «poupado» apenas porque a «área incendiável» nestas regiões diminuiu bastante em 2003.
Farpas Verdes CCXCIX
A Direcção-Geral dos Recursos Florestais introduziu este ano umas quantas alterações na forma como acompanha os incêndios florestais. A mais importante foi a de começar a fazer relatórios semanais com divulgação quinzenal (apenas no meio do Verão mudou a denominação «relatório semanal» para «relatório quinzenal»). Até ao ano passado, fazia-se o ponto da situação semana a semana. Não é uma alteração de pormenor, nem tem nenhuma base técnica: é claramente uma decisão política para atenuar o efeito nos media...
Agora reparo que o relatório que ontem saiu (com uma área ardida desde o início do ano com uns espantosos 286 mil hectares...) fez uma alteração ainda mais profunda: agora os grandes incêndios são apenas os que têm uma área ardida superior a 500 hectares (antes eram aqueles com área superior a 100 hectares). Esta «mudança» mostra como o conceito «grande incêndio» se alterou nos últimos anos. Se antes um fogo de 100 hectares já era considerado grave, agora banalizou-se tanto que já nem sequer se lhe dá qualquer relevância. Temo que, a continuar assim, daqui a uns anos um «grande incêndio» seja para a Direcção-Geral dos Recursos Florestais apenas aquele em que arda 1000 hectares ou 5000 hectares...
A Direcção-Geral dos Recursos Florestais introduziu este ano umas quantas alterações na forma como acompanha os incêndios florestais. A mais importante foi a de começar a fazer relatórios semanais com divulgação quinzenal (apenas no meio do Verão mudou a denominação «relatório semanal» para «relatório quinzenal»). Até ao ano passado, fazia-se o ponto da situação semana a semana. Não é uma alteração de pormenor, nem tem nenhuma base técnica: é claramente uma decisão política para atenuar o efeito nos media...
Agora reparo que o relatório que ontem saiu (com uma área ardida desde o início do ano com uns espantosos 286 mil hectares...) fez uma alteração ainda mais profunda: agora os grandes incêndios são apenas os que têm uma área ardida superior a 500 hectares (antes eram aqueles com área superior a 100 hectares). Esta «mudança» mostra como o conceito «grande incêndio» se alterou nos últimos anos. Se antes um fogo de 100 hectares já era considerado grave, agora banalizou-se tanto que já nem sequer se lhe dá qualquer relevância. Temo que, a continuar assim, daqui a uns anos um «grande incêndio» seja para a Direcção-Geral dos Recursos Florestais apenas aquele em que arda 1000 hectares ou 5000 hectares...
9/21/2005
Farpas Verdes CCXCVIII
Será que ninguém na Comissão da Seca já se apercebeu ainda que naquela arrazoado de páginas (publicadas quinzenalmente) não se consegue ter a mínima percepção da evolução do estado da dita seca em Portugal? Se alguém quiser saber a evolução de um determinado parâmetro de qualidade, da evolução da água no solo ou das albufeiras entre um relatório e outro, népias, não consegue, a menos que consulte todos os maçudos textos.
Irra, um relatório grande nem sempre é um grande relatório...
Será que ninguém na Comissão da Seca já se apercebeu ainda que naquela arrazoado de páginas (publicadas quinzenalmente) não se consegue ter a mínima percepção da evolução do estado da dita seca em Portugal? Se alguém quiser saber a evolução de um determinado parâmetro de qualidade, da evolução da água no solo ou das albufeiras entre um relatório e outro, népias, não consegue, a menos que consulte todos os maçudos textos.
Irra, um relatório grande nem sempre é um grande relatório...
9/19/2005
Farpas Verdes CCXCVI
As associações ambientalistas insistem em promover iniciativas que, se em teoria seriam producentes, na prática são contraproducentes. Estou a referir-me às manifestações e, em especial, à que for organizada contra o programa da TVI «Primeira Companhia» no Parque Natural de Sintra-Cascais pelo Movimento Cívico que integra as associações Olho Vivo e Quercus, o Grupo Ecológico de Cascais e a Liga para a Protecção da Natureza.
Segundo o Diário de Notícias estariam ontem entre 15 e 20 manifestantes. Portanto, muito poucos, direi eu. Ridiculamente poucos, dirá a esmagadora maioria dos portugueses.
Claro está que os ambientalistas defenderão que este é um sinal do desinteresse cívico dos portugueses (por exemplo, jamais em Portugal teriamos uma manifestação como a que se fez em Espanha por causa do Prestige). E isso é verdade. Mas as associações portuguesas, por isso mesmo, devem ponderar com cautela as formas de «luta». Não dar passos maiores do que conseguem. Enquanto os ambientalistas nacionais não tiverem a capacidade de mobilização das suas congéneres estrangeiras ou dos sindicatos deviam prescindir destas iniciativas que, sendo mediáticas, se podem virar contra elas. E, aliás, cada vez mais sou a favor que mais importante do que as manifestações como forma de pressão, são as diligências junto dos tribunais. Por exemplo, através das providências cautelares...
As associações ambientalistas insistem em promover iniciativas que, se em teoria seriam producentes, na prática são contraproducentes. Estou a referir-me às manifestações e, em especial, à que for organizada contra o programa da TVI «Primeira Companhia» no Parque Natural de Sintra-Cascais pelo Movimento Cívico que integra as associações Olho Vivo e Quercus, o Grupo Ecológico de Cascais e a Liga para a Protecção da Natureza.
Segundo o Diário de Notícias estariam ontem entre 15 e 20 manifestantes. Portanto, muito poucos, direi eu. Ridiculamente poucos, dirá a esmagadora maioria dos portugueses.
Claro está que os ambientalistas defenderão que este é um sinal do desinteresse cívico dos portugueses (por exemplo, jamais em Portugal teriamos uma manifestação como a que se fez em Espanha por causa do Prestige). E isso é verdade. Mas as associações portuguesas, por isso mesmo, devem ponderar com cautela as formas de «luta». Não dar passos maiores do que conseguem. Enquanto os ambientalistas nacionais não tiverem a capacidade de mobilização das suas congéneres estrangeiras ou dos sindicatos deviam prescindir destas iniciativas que, sendo mediáticas, se podem virar contra elas. E, aliás, cada vez mais sou a favor que mais importante do que as manifestações como forma de pressão, são as diligências junto dos tribunais. Por exemplo, através das providências cautelares...
9/15/2005
Farpas Verdes CCXCV
Existem sempre muitas formas para olhar o profundo drama dos incêndios florestais. A pretexto do relatório quinzenal ontem apresentado pela Direcção-Geral dos Recursos Florestais, fui ver a taxa de afectação dos povoamentos florestais (excluindo, portanto os matos). O valor de referência é o Inventário Florestal Nacional de 1995 que apontava para a existência de 3,2 milhões de hectares de povoamentos florestais. Deste modo, tendo em conta a área ardida de floresta por ano (repito, excluindo os matos), a perda foi a seguinte ao longo dos últimos 11 anos (como referência, saibam que a estimativa de deflorestação da Amazónia ronda os 1,1% ao ano):
Significa isto que cerca de 30% dos povoamentos florestais que foram «fotografados» pelo IFN de 1995 desapareceram por acção dos fogos florestais!
Por outro lado, nos últimos três anos, a taxa de deflorestação em Portugal atingiu uma média de 5,3% - ou seja, quase 5 vezes aquela que se regista na Amazónia! Não há nenhum país, nem do Terceiro Mundo, com indicadores desta ordem de grandeza para os seus povoamentos florestais.
P.S. Este é o post número 500 do Estrago da Nação. E o país não melhorou nada desde que comecei a escrever no blog...
Existem sempre muitas formas para olhar o profundo drama dos incêndios florestais. A pretexto do relatório quinzenal ontem apresentado pela Direcção-Geral dos Recursos Florestais, fui ver a taxa de afectação dos povoamentos florestais (excluindo, portanto os matos). O valor de referência é o Inventário Florestal Nacional de 1995 que apontava para a existência de 3,2 milhões de hectares de povoamentos florestais. Deste modo, tendo em conta a área ardida de floresta por ano (repito, excluindo os matos), a perda foi a seguinte ao longo dos últimos 11 anos (como referência, saibam que a estimativa de deflorestação da Amazónia ronda os 1,1% ao ano):
- 1995 - 2,7%
- 1996 - 1,0%
- 1997 - 0,4%
- 1998 - 1,8%
- 1999 - 1,0%
- 2000 - 2,1%
- 2001 - 1,4%
- 2002 - 2,0%
- 2003 - 8,9%
- 2004 - 1,8%
- 2005 - 5,2%
Significa isto que cerca de 30% dos povoamentos florestais que foram «fotografados» pelo IFN de 1995 desapareceram por acção dos fogos florestais!
Por outro lado, nos últimos três anos, a taxa de deflorestação em Portugal atingiu uma média de 5,3% - ou seja, quase 5 vezes aquela que se regista na Amazónia! Não há nenhum país, nem do Terceiro Mundo, com indicadores desta ordem de grandeza para os seus povoamentos florestais.
P.S. Este é o post número 500 do Estrago da Nação. E o país não melhorou nada desde que comecei a escrever no blog...
9/10/2005
Farpas Verdes CCXCIV
Dei-me ao trabalho de ir consultar o último relatório de acompanhamento da seca feito pelo Instituto da Água. Não aconselho a leitura: é uma autêntica «seca». Maçudo, indigesto, com excesso de informação irrelevante, com falta de informação essencial, incompreensível para 99% da população portuguesa. De quando em vez, no meio de alguma página, existem alguns dados que mostram o modo como o país «acompanha» a seca e as medidas que têm sido tomadas.
Por exemplo, em 143 concelhos de Portugal Continental foram adoptadas medidas de poupança de água. Contudo, destas todas somente 18 (8,3%) sabem que resultados se obtiveram, pois as restantes desconhecem os efeitos das medidas adoptadas. Por exemplo, no Algarve, 15 das 16 autarquias tomaram medidas, mas apenas uma apresentou uma estimativa de poupança (por sinal, uma poupança mediocre de 3%). Ou seja, as autarquias e o Estado adoptam medidas - terão gasto rios de dinheiro em campanhas de sensibilização -, mas não avaliam os resultados.
No mesmo relatório (página 28) refere-se que «a falta de equipamento de medição à saída das ETA (estações de tratamento de águas) é certamente a principal razão para este desconhecimento». Ou seja, isto demonstra, aliás, um problema mais grave: as autarquias nem sequer conseguem calcular a percentagem de perdas da sua rede, pois nem sequer sabem o volume que captam; apenas conhecem o volume que chega aos consumidores...
Eu, por exemplo, acho que campanhas de marketing - daquelas tipo postal e spots televisivos - não resultam. E que o uso eficiente da água em tempo de seca se promove sobretudo ao nível do preço. Mas como não se fazem avaliações jamais se saberá se tenho ou não razão. Assim, as campanhas só servem para descansar consciências; não para resolver problemas...
Dei-me ao trabalho de ir consultar o último relatório de acompanhamento da seca feito pelo Instituto da Água. Não aconselho a leitura: é uma autêntica «seca». Maçudo, indigesto, com excesso de informação irrelevante, com falta de informação essencial, incompreensível para 99% da população portuguesa. De quando em vez, no meio de alguma página, existem alguns dados que mostram o modo como o país «acompanha» a seca e as medidas que têm sido tomadas.
Por exemplo, em 143 concelhos de Portugal Continental foram adoptadas medidas de poupança de água. Contudo, destas todas somente 18 (8,3%) sabem que resultados se obtiveram, pois as restantes desconhecem os efeitos das medidas adoptadas. Por exemplo, no Algarve, 15 das 16 autarquias tomaram medidas, mas apenas uma apresentou uma estimativa de poupança (por sinal, uma poupança mediocre de 3%). Ou seja, as autarquias e o Estado adoptam medidas - terão gasto rios de dinheiro em campanhas de sensibilização -, mas não avaliam os resultados.
No mesmo relatório (página 28) refere-se que «a falta de equipamento de medição à saída das ETA (estações de tratamento de águas) é certamente a principal razão para este desconhecimento». Ou seja, isto demonstra, aliás, um problema mais grave: as autarquias nem sequer conseguem calcular a percentagem de perdas da sua rede, pois nem sequer sabem o volume que captam; apenas conhecem o volume que chega aos consumidores...
Eu, por exemplo, acho que campanhas de marketing - daquelas tipo postal e spots televisivos - não resultam. E que o uso eficiente da água em tempo de seca se promove sobretudo ao nível do preço. Mas como não se fazem avaliações jamais se saberá se tenho ou não razão. Assim, as campanhas só servem para descansar consciências; não para resolver problemas...
Farpas Verdes CCXCII
Muito, muito bom o editorial do Diário de Notícias de hoje, sábado, da autoria de Paulo Cunha e Silva, a propósito da implosão das torres de Tróia e do (des)ordenamento do território. Na mouche, como se costuma dizer. Leitura imprescindível.
P.S. Burlesco e provinciano todo o cerimonial da implosão das torres da Torralta. Foi apenas a confirmação de que tudo isto é uma encenação, um símbolo; não uma forma de inverter o desordenamento do país. Infelizmente, Sócrates já nos tinha dado esse exemplo do folclorismo com o Programa Polis: o tal que até tinha relógios «countdown».
Muito, muito bom o editorial do Diário de Notícias de hoje, sábado, da autoria de Paulo Cunha e Silva, a propósito da implosão das torres de Tróia e do (des)ordenamento do território. Na mouche, como se costuma dizer. Leitura imprescindível.
P.S. Burlesco e provinciano todo o cerimonial da implosão das torres da Torralta. Foi apenas a confirmação de que tudo isto é uma encenação, um símbolo; não uma forma de inverter o desordenamento do país. Infelizmente, Sócrates já nos tinha dado esse exemplo do folclorismo com o Programa Polis: o tal que até tinha relógios «countdown».
9/09/2005
Farpas Verdes CCXCI
Pois é, parece que vamos ter 500 bombeiros profisionais, anunciou o ministro da Administração Interna. Faltou dizer como serão distribuídos no território e em que condições (remuneratórias, inclusive). Se a ideia é colocá-los numa lógica de densidade demográfica, o seu efeito será nulo. Se for numa lógica de bombeiros itinerantes, também é errado,l porque o conhecimento do local de intervenção é fundamental. Caramba, espero que não inventem; façam uma viagem até à Andaluzia para verem como eles fizeram...
Pois é, parece que vamos ter 500 bombeiros profisionais, anunciou o ministro da Administração Interna. Faltou dizer como serão distribuídos no território e em que condições (remuneratórias, inclusive). Se a ideia é colocá-los numa lógica de densidade demográfica, o seu efeito será nulo. Se for numa lógica de bombeiros itinerantes, também é errado,l porque o conhecimento do local de intervenção é fundamental. Caramba, espero que não inventem; façam uma viagem até à Andaluzia para verem como eles fizeram...
9/06/2005
Farpas Verdes CCXC
Foi apenas uma chuvita de final de Verão a que caiu esta manhã em Lisboa, mas olhando para as sarjetas era notório que estavam entupidas, pelo menos na zona onde resido. Temo bem que à conta de estarmos em seca, muitas autarquias se esqueceram que, por vezes, basta uma chuva intensa de meia hora ou uma hora para provocar inundações em meio urbano.
Foi apenas uma chuvita de final de Verão a que caiu esta manhã em Lisboa, mas olhando para as sarjetas era notório que estavam entupidas, pelo menos na zona onde resido. Temo bem que à conta de estarmos em seca, muitas autarquias se esqueceram que, por vezes, basta uma chuva intensa de meia hora ou uma hora para provocar inundações em meio urbano.
Farpas Verdes CCLXXXIX
Ainda a pretexto do Katrina, umas quantas reflexões avulsas.
O modo como sentimos as catástrofes dependem de muitos factores. Infelizmente, raro é olharmos para a dimensão desses flagelos numa perspectiva «humanista» e «histórica» . Se assim fosse, o nosso choque seria «calibrado» pelo número de vítimas e não por factores meramente geográficos. E não é. Como indivíduos de uma sociedade ocidental somos sempre tentados a sentir mais uma catástrofe de um país desenvolvido do que de um país do Terceiro Mundo.
Este «estrabismo» - compungimo-nos com o vizinho, mas mantemo-nos quase indiferentes aos outros - tem, claro, atenuantes. Uma delas é uma questão de ordem política. Obviamente que cobrir uma catástrofe num país como a China - que sofre imensas, mas tem um regime fechado - é mais complicado do que nos Estados Unidos ou na Europa. Outra, tem razões «operacionais» e de «interesse público», discutíveis mas incontornáveis. Enviar jornalistas para o Bangladesh não é o mesmo que enviar para os Estados Unidos. Tanto mais que o critério jornalístico que vigora é sempre aquele que diz que uma notícia é algo que é anormal. Ora, no Bangladesh ou outros países asiáticos é «normal» haver inundações. Morrem sempre pessoas e, portanto, dá-se o mesmo (pouco) destaque quer morram meia dúzia quer morram centenas de milhar. Assim sendo, dentro de alguns anos, todos os ocidentais se recordarão do que aconteceu agora nos Estados Unidos, mas poucos se recordam agora, por exemplo, do ciclone do Bangladesh em 1991 que matou quase 140 mil pessoas. E muito menos daquele que em 1970 matou 300 mil.
Por outro lado, o factor destruição - «ingrediente» apetecível pelos media e «saboreado» pelo voyeurismo humano - é também determinante. Aí pouco interessa o factor geográfico. Por exemplo, um tsunami ou um ciclone deixa uma marca que perdura (pode ser fotografado e filmado); uma onda de calor letal, não, mesmo se ambos são pouco frequentes numa determinada região do mundo ocidental. Assim se compreende que, por exemplo, no ano de 2003 tenham morrido cerca de 45 mil europeus devido a uma onda de calor (em Portugal foi de cerca de 2 mil pessoas, o que representou um acréscimo de 2% na taxa de mortalidade desse ano) e os efeitos mediáticos tenha sido bastante reduzidos, porque aí a morte foi silenciosa e sem marcas visíveis na «paisagem». Aliás, a mesma analogia pode aplicar-se, por exemplo, aos efeitos da poluição urbana e aos acidentes rodoviários: mesmo se morrem mais pessoas por ano devido aos poluentes dos gases de escape, as imagens mediáticas dos desastres automóveis têm sempre mais destaque (deturpando até a percepção da realidade).
Contudo, convém referir que, independentemente das estatísticas mostrarem que haverá um agravamento dos fenómenos extremos que têm por base as alterações climáticas, há também que acrescentar, em abono da verdade, que os cataclismos naturais são hoje menos letais do que em décadas passadas. Ora, isso não serve, obviamente, de consolo, pelo contrário Sobretudo porque hoje a tecnologia de previsão de algumas destas catástrofes é muito superior, tal como a capacidade de minimizar os seus efeitos. Mas está aqui, talvez, um dos paradoxos humanos: conseguimos compreender melhor a Natureza, mas continuamos a não respeitar a sua força.
Deixo aqui uma lista de algumas das principais catástrofes (as mais letais) ocorridas no Mundo desde 1900 até à data, retirados de uma base de dados da Universidade Católica de Louvain, da Bélgica. Certamente apoiam aquilo que atrás referi...
Ciclones mais letais
Casos mais letais de seca
Terramotos mais letais
Casos mais letais de fome
Inundações mais letais
Tsunamis mais letais
Ainda a pretexto do Katrina, umas quantas reflexões avulsas.
O modo como sentimos as catástrofes dependem de muitos factores. Infelizmente, raro é olharmos para a dimensão desses flagelos numa perspectiva «humanista» e «histórica» . Se assim fosse, o nosso choque seria «calibrado» pelo número de vítimas e não por factores meramente geográficos. E não é. Como indivíduos de uma sociedade ocidental somos sempre tentados a sentir mais uma catástrofe de um país desenvolvido do que de um país do Terceiro Mundo.
Este «estrabismo» - compungimo-nos com o vizinho, mas mantemo-nos quase indiferentes aos outros - tem, claro, atenuantes. Uma delas é uma questão de ordem política. Obviamente que cobrir uma catástrofe num país como a China - que sofre imensas, mas tem um regime fechado - é mais complicado do que nos Estados Unidos ou na Europa. Outra, tem razões «operacionais» e de «interesse público», discutíveis mas incontornáveis. Enviar jornalistas para o Bangladesh não é o mesmo que enviar para os Estados Unidos. Tanto mais que o critério jornalístico que vigora é sempre aquele que diz que uma notícia é algo que é anormal. Ora, no Bangladesh ou outros países asiáticos é «normal» haver inundações. Morrem sempre pessoas e, portanto, dá-se o mesmo (pouco) destaque quer morram meia dúzia quer morram centenas de milhar. Assim sendo, dentro de alguns anos, todos os ocidentais se recordarão do que aconteceu agora nos Estados Unidos, mas poucos se recordam agora, por exemplo, do ciclone do Bangladesh em 1991 que matou quase 140 mil pessoas. E muito menos daquele que em 1970 matou 300 mil.
Por outro lado, o factor destruição - «ingrediente» apetecível pelos media e «saboreado» pelo voyeurismo humano - é também determinante. Aí pouco interessa o factor geográfico. Por exemplo, um tsunami ou um ciclone deixa uma marca que perdura (pode ser fotografado e filmado); uma onda de calor letal, não, mesmo se ambos são pouco frequentes numa determinada região do mundo ocidental. Assim se compreende que, por exemplo, no ano de 2003 tenham morrido cerca de 45 mil europeus devido a uma onda de calor (em Portugal foi de cerca de 2 mil pessoas, o que representou um acréscimo de 2% na taxa de mortalidade desse ano) e os efeitos mediáticos tenha sido bastante reduzidos, porque aí a morte foi silenciosa e sem marcas visíveis na «paisagem». Aliás, a mesma analogia pode aplicar-se, por exemplo, aos efeitos da poluição urbana e aos acidentes rodoviários: mesmo se morrem mais pessoas por ano devido aos poluentes dos gases de escape, as imagens mediáticas dos desastres automóveis têm sempre mais destaque (deturpando até a percepção da realidade).
Contudo, convém referir que, independentemente das estatísticas mostrarem que haverá um agravamento dos fenómenos extremos que têm por base as alterações climáticas, há também que acrescentar, em abono da verdade, que os cataclismos naturais são hoje menos letais do que em décadas passadas. Ora, isso não serve, obviamente, de consolo, pelo contrário Sobretudo porque hoje a tecnologia de previsão de algumas destas catástrofes é muito superior, tal como a capacidade de minimizar os seus efeitos. Mas está aqui, talvez, um dos paradoxos humanos: conseguimos compreender melhor a Natureza, mas continuamos a não respeitar a sua força.
Deixo aqui uma lista de algumas das principais catástrofes (as mais letais) ocorridas no Mundo desde 1900 até à data, retirados de uma base de dados da Universidade Católica de Louvain, da Bélgica. Certamente apoiam aquilo que atrás referi...
Ciclones mais letais
País | Data | Mortos |
Bangladesh | 12-Nov-1970 | 300,000 |
Bangladesh | 30-Abr-1991 | 138,866 |
China | 27-Jul-1922 | 100,000 |
Bangladesh | Out-1942 | 61,000 |
India | 1935 | 60,000 |
China | Ago-1912 | 50,000 |
India | 14-Out-1942 | 40,000 |
Bangladesh | 11-Mai-1965 | 36,000 |
Honduras | 26-Out-1998 | 14,600 |
India | 12-Nov-1977 | 14,204 |
Casos mais letais de seca
País | Data | Mortos |
China | 1928 | 3,000,000 |
India | 1942 | 1,500,000 |
India | 1900 | 1,250,000 |
União Soviética | 1921 | 1,200,000 |
China | 1920 | 500,000 |
Terramotos mais letais
País | Data | Mortos |
China | 27-Jul-1976 | 242,000 |
China | 22-Mai-1927 | 200,000 |
China | 16-Dez-1920 | 180,000 |
Japão | 1-Set-1923 | 143,000 |
União Soviética | 5-Out-1948 | 110,000 |
Casos mais letais de fome
País | Data | Mortos |
União Soviética | 1932 | 5,000,000 |
Bangladesh | 1943 | 1,900,000 |
Coreia do Norte | 1995-200 | 220,000 |
Inundações mais letais
País | Data | Mortos |
China | Jul-1931 | 3,700,000 |
China | Jul-1959 | 2,000,000 |
China | Jul-1939 | 500,000 |
China | 1935 | 142,000 |
China | 1911 | 100,000 |
Tsunamis mais letais
País | Data | Mortos |
Indonesia, Sri Lanka, Índia, Tailândia e mais oito países | 26-Dez-2004 | 280,931 |
Japão | 3-Mar-1933 | 3,000 |
União Soviética | 4-Nov-1952 | 2,300 |
Papua Nova Guiné | 17-Jul-1998 | 2,182 |
Japão | 1-Set-1923 | 2,144 |
9/05/2005
À Margem Ambiental LXXXI
Foi apenas minha impressão (tendenciosa por ser seu apoiante) ou acabei mesmo agora de assistir a um massacre televisivo na SIC Notícias em que o José Sá Fernandes cilindrou o Manuel Maria Carrilho? Na minha humilde opinião, Sá Fernandes mostrou como se pode esvaziar um discurso, já de si oco e sem ideias, de um político profissional.
Foi apenas minha impressão (tendenciosa por ser seu apoiante) ou acabei mesmo agora de assistir a um massacre televisivo na SIC Notícias em que o José Sá Fernandes cilindrou o Manuel Maria Carrilho? Na minha humilde opinião, Sá Fernandes mostrou como se pode esvaziar um discurso, já de si oco e sem ideias, de um político profissional.
9/04/2005
Farpas Verdes CCLXXXVIII
Já não suporto a terminologia usada pelos bombeiros e outros responsáveis (?). A pior expressão deste «bombeirês» (quase tão risível como o conhecido «futebolês») que mais abomino é «teatro das operações» - se eu fosse actor de teatro processava-os.
Nota: Retirei a sondagem que coloquei há meses sobre a previsão da área ardida este ano. Já deveria ter sido retirada há algum tempo, de modo a poder comparar com a realidade. Em sua substituição, coloquei uma sondagem sobre o modelo de combate aos incêndios que Portugal deveria adoptar.
Já não suporto a terminologia usada pelos bombeiros e outros responsáveis (?). A pior expressão deste «bombeirês» (quase tão risível como o conhecido «futebolês») que mais abomino é «teatro das operações» - se eu fosse actor de teatro processava-os.
Nota: Retirei a sondagem que coloquei há meses sobre a previsão da área ardida este ano. Já deveria ter sido retirada há algum tempo, de modo a poder comparar com a realidade. Em sua substituição, coloquei uma sondagem sobre o modelo de combate aos incêndios que Portugal deveria adoptar.
9/03/2005
Farpas Verdes CCLXXXVII
Infelizmente, em relação aos efeitos das alterações climáticas, o Homem somente aprende através da pedagogia da catástrofe. Provavelmente é o que acontecerá com os Estados Unidos em relação ao furacão Katrina.
Fui consultar uma base de dados da Universidade belga de Louvain e verifica-se que os Estados Unidos têm registado um aumento impressionante nas últimas décadas no número de ciclones (tufões e quejandos). Desde 1900 estão inventariados 432 tufões/furacões neste país, dos quais 369 desde 1961. Mesmo considerando que possam não ter sido registados alguns nas primeiras décadas do século XX, a partir dos anos 60 - período em que esta base de dados foi criada -, a evolução tem sido a seguinte:
Década de 60 (1961-1970) - 32 ocorrências
Década de 70 (1971-1980) - 25 ocorrências
Década de 80 (1981-1990) - 99 ocorrências
Década de 90 (1991-2000) - 151 ocorrências
Década de 2000 (2001-2005) - 63 ocorrências (incluindo Katrina)
Embora antes do Katrina , dos cinco ciclones mais letais, apenas um tenha ocorrido nos últimos 25 anos (em 1984, no Estado do Colorado, que matou 600 pessoas; o mais letal foi em 1900 no Texas, em que morreram 6 mil pessoas), tem que se ter em consideração que agora a tecnologia da construção e a capacidade de previsão é incomparavelmente superior. Contudo, os prejuízos económicos têm sido cada vez maiores. De qualquer modo, espera-se agora que o Katrina sirba, pelo menos, de lição à autista Administração Bush que acreditou sempre na capacidade de adaptação deste país num cenário de alterações climáticas. Como se viu, nem sempre se conseguirá evitar uma catástrofe humana apenas com a tecnologia humana. E outra constatação - que já se sabia - é que os mais afectados pelas alterações climáticas são aqueles que menos contribuem para o aquecimento global: ou seja, os países pobres e os pobres dos países ricos... mesmo quando estamos a falar dos Estados Unidos.
Nota: Em relação a um comentário de um leitor, gostaria de esclarecer dois aspectos. De facto, existem terminologias distintas para os ciclones no Pacífico e aqueles que se originam em terra ou no mar. Para todos os efeitos, são ciclones (wind storms). Em relação à lista que apresentei, baseada na Universidade de Louvain, tem como base de selecção os seguintes critérios: 10 ou maos pessoas mortas, mais de 100 pessoas afectadas, um pedido de assistência internacional e uma declaração de estado de emergência.
Infelizmente, em relação aos efeitos das alterações climáticas, o Homem somente aprende através da pedagogia da catástrofe. Provavelmente é o que acontecerá com os Estados Unidos em relação ao furacão Katrina.
Fui consultar uma base de dados da Universidade belga de Louvain e verifica-se que os Estados Unidos têm registado um aumento impressionante nas últimas décadas no número de ciclones (tufões e quejandos). Desde 1900 estão inventariados 432 tufões/furacões neste país, dos quais 369 desde 1961. Mesmo considerando que possam não ter sido registados alguns nas primeiras décadas do século XX, a partir dos anos 60 - período em que esta base de dados foi criada -, a evolução tem sido a seguinte:
Década de 60 (1961-1970) - 32 ocorrências
Década de 70 (1971-1980) - 25 ocorrências
Década de 80 (1981-1990) - 99 ocorrências
Década de 90 (1991-2000) - 151 ocorrências
Década de 2000 (2001-2005) - 63 ocorrências (incluindo Katrina)
Embora antes do Katrina , dos cinco ciclones mais letais, apenas um tenha ocorrido nos últimos 25 anos (em 1984, no Estado do Colorado, que matou 600 pessoas; o mais letal foi em 1900 no Texas, em que morreram 6 mil pessoas), tem que se ter em consideração que agora a tecnologia da construção e a capacidade de previsão é incomparavelmente superior. Contudo, os prejuízos económicos têm sido cada vez maiores. De qualquer modo, espera-se agora que o Katrina sirba, pelo menos, de lição à autista Administração Bush que acreditou sempre na capacidade de adaptação deste país num cenário de alterações climáticas. Como se viu, nem sempre se conseguirá evitar uma catástrofe humana apenas com a tecnologia humana. E outra constatação - que já se sabia - é que os mais afectados pelas alterações climáticas são aqueles que menos contribuem para o aquecimento global: ou seja, os países pobres e os pobres dos países ricos... mesmo quando estamos a falar dos Estados Unidos.
Nota: Em relação a um comentário de um leitor, gostaria de esclarecer dois aspectos. De facto, existem terminologias distintas para os ciclones no Pacífico e aqueles que se originam em terra ou no mar. Para todos os efeitos, são ciclones (wind storms). Em relação à lista que apresentei, baseada na Universidade de Louvain, tem como base de selecção os seguintes critérios: 10 ou maos pessoas mortas, mais de 100 pessoas afectadas, um pedido de assistência internacional e uma declaração de estado de emergência.
9/02/2005
Farpas Verdes CCLXXXVI
No discurso no Porto, esta noite, o primeiro-ministro, José Sócrates, acabou por admitir que existem causam estruturais para o problema dos fogos e que estes não se devem apenas à seca. Já não foi mau admitir isso. Prometeu também que, após a época dos fogos, o Governo irá impor medidas de ordenamento, de prevenção, de fiscalidade e de «luta» contra os incendiários e as acções de negligência (a propósito, o jornalista da SIC Notícias que acompanhava o discurso sintetizou tudo dizendo que Sócrates promete dar «luta» aos incendiários, como se isso fosse o mais importante).
Contudo, José Sócrates borrou, mais uma vez, a pintura, ao referir que o combate foi eficiente (um dia alguém me há-de explicar os critérios que os Governos usam para aquilatar issso) e que a situação está a ser melhor do que 2003. Ou seja, mostrou que, afinal, o ano de 2003 teve um efeito contraproducente na atitude política face aos fogos. Agora, qualquer Governo para se «desculpabilizar» e «ameninzar» os incêndios florestais compara com 2003. Para mim, qualquer ano com uma área ardida superior a 50 mil hectares já é mau; mais de 100 mil é péssimo; acima de 200 mil é catastrófico. E, na verdade, já há mais de 10 anos que não temos menos de 50 mil hectares ardidos e há 6 anos que não temos menos de 100 mil.
Já agora, Humberto Rosa, secretário de Estado do Ambiente, refez o seu discurso delicodoce de há três semanas sobre os incêndios nas áreas protegidas durante uma visita que fez ontem ao Parque de Montesinho. As férias fizeram-lhe bem...
No discurso no Porto, esta noite, o primeiro-ministro, José Sócrates, acabou por admitir que existem causam estruturais para o problema dos fogos e que estes não se devem apenas à seca. Já não foi mau admitir isso. Prometeu também que, após a época dos fogos, o Governo irá impor medidas de ordenamento, de prevenção, de fiscalidade e de «luta» contra os incendiários e as acções de negligência (a propósito, o jornalista da SIC Notícias que acompanhava o discurso sintetizou tudo dizendo que Sócrates promete dar «luta» aos incendiários, como se isso fosse o mais importante).
Contudo, José Sócrates borrou, mais uma vez, a pintura, ao referir que o combate foi eficiente (um dia alguém me há-de explicar os critérios que os Governos usam para aquilatar issso) e que a situação está a ser melhor do que 2003. Ou seja, mostrou que, afinal, o ano de 2003 teve um efeito contraproducente na atitude política face aos fogos. Agora, qualquer Governo para se «desculpabilizar» e «ameninzar» os incêndios florestais compara com 2003. Para mim, qualquer ano com uma área ardida superior a 50 mil hectares já é mau; mais de 100 mil é péssimo; acima de 200 mil é catastrófico. E, na verdade, já há mais de 10 anos que não temos menos de 50 mil hectares ardidos e há 6 anos que não temos menos de 100 mil.
Já agora, Humberto Rosa, secretário de Estado do Ambiente, refez o seu discurso delicodoce de há três semanas sobre os incêndios nas áreas protegidas durante uma visita que fez ontem ao Parque de Montesinho. As férias fizeram-lhe bem...
9/01/2005
Farpas Verdes CCLXXXV
Os efeitos do furacão Katrina na zona de Nova Orleães deve motivar dois tipos de reflexões: por um lado, a construção urbana em zonas sensíveis torna mais susceptíveis a desastres naturais; por outro, nem países com a dimensão económica como os Estados Unidos estão imunes à força da Natureza, que ganhará poder de destruição num cenário de alterações climáticas.
Os efeitos do furacão Katrina na zona de Nova Orleães deve motivar dois tipos de reflexões: por um lado, a construção urbana em zonas sensíveis torna mais susceptíveis a desastres naturais; por outro, nem países com a dimensão económica como os Estados Unidos estão imunes à força da Natureza, que ganhará poder de destruição num cenário de alterações climáticas.
Farpas Verdes CCLXXXIV
Uma notícia do Público de hoje começa assim: «O membro do conselho directivo da Associação Nacional de Municípios (ANMP) com responsabilidades na área da Protecção Civil, Jaime Soares, acusou ontem o ministro da Agricultura, Jaime Silva, de estar a ser "política e intelectualmente desonesto" quando anuncia a aplicação de coimas às autarquias que não adoptaram as medidas preventivas que alegadamente lhes cabiam para a prevenção de incêndios. "Caso notifique as autarquias, conforme disse, o senhor ministro terá não só a resposta política às asneiras que proferiu, mas também a dos tribunais", assegurou».
Não vale a pena ter ilusões: o país político não aprende. Este ano continuaremos a ter incêndios florestais e casas a arder. Para o ano também, no ano seguinte idem e assim sucessivamente até que a irresponsabilidade transforme este país num carvão rectangular.
Uma notícia do Público de hoje começa assim: «O membro do conselho directivo da Associação Nacional de Municípios (ANMP) com responsabilidades na área da Protecção Civil, Jaime Soares, acusou ontem o ministro da Agricultura, Jaime Silva, de estar a ser "política e intelectualmente desonesto" quando anuncia a aplicação de coimas às autarquias que não adoptaram as medidas preventivas que alegadamente lhes cabiam para a prevenção de incêndios. "Caso notifique as autarquias, conforme disse, o senhor ministro terá não só a resposta política às asneiras que proferiu, mas também a dos tribunais", assegurou».
Não vale a pena ter ilusões: o país político não aprende. Este ano continuaremos a ter incêndios florestais e casas a arder. Para o ano também, no ano seguinte idem e assim sucessivamente até que a irresponsabilidade transforme este país num carvão rectangular.
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