Na autarquia alfacinha, o pântano já está tão líquido que agora até andam à peixeirada. Depois da Bagaparques e EPUL, vem agora a Gebalis. As reacções suicidas entre membros do PSD por causa de um suposto relatório é confrangedor (vd. aqui).
2/24/2007
Uma risota pegada
Continuam os disparates na Costa da Caparica, com os custos a disparar e a própria comunicação social a participar na coisa.
Hoje, a notícia do Diário de Notícias é um must. Começa por revelar que «(...) o trabalho do Instituto da Água feito desde o dia 20, altura em que o mar engoliu seis metros do paredão, de nada serviu, uma vez que 'a maioria do tapamento dos rombos feito terça e quarta-feira ficou danificada com a maré" da última madrugada'», como admitiu um técnico daquela entidade. Portanto, andou a fazer-se que se fazia.
Mais adiante, surge as declarações do vereador da protecção civil da autarquia de Almada a dizer os seus bitates: «explicou ao DN que serão usadas 'mais 200 toneladas de pedra além da que lá existe actualmente'». Ora, o homem não deve saber o que é uma tonelada de pedra, pois não estou a acreditar que um pouco menos de 200 pedregulhos (supondo que cada um tenha a forma de um cubo de um metro de lado) sirva para alguma coisa.
Mas, no meio disto, achei especial piada a este trecho da notícia: «'Neste momento, o nosso objectivo é construir um entroncamento de maior dimensão, dado que a maré cheia desta madrugada destruiu praticamente todo o trabalho que estava a ser feito na defesa aderente desde terça-feira', explicou ao DN João Costa, director do serviço de projectos e obras do Instituto da Água». Ora, como conheço a fonte e não me parece que ele tenha dito ENTRONCAMENTO... talvez, sei lá, terá dito qualquer coisa como ENROCAMENTO (é nisto que dá não se apostar num jornalismo cuidadoso).
Por fim, neste cortar de casaca, gostava de realçar a insistência com que se fala agora de «defesa aderente», quando se aborda a protecção da linha de costa. Na notícia do DN, esta expressão é usada por duas vezes e tenho-a ouvido muitas mais. Ora, como a «defesa aderente» tem estado sempre a a tornar-se inaderente, parece-me encontrar paralelismos com o «fogo circunscrito» muito comum no dicionário de «bombeirês».
Hoje, a notícia do Diário de Notícias é um must. Começa por revelar que «(...) o trabalho do Instituto da Água feito desde o dia 20, altura em que o mar engoliu seis metros do paredão, de nada serviu, uma vez que 'a maioria do tapamento dos rombos feito terça e quarta-feira ficou danificada com a maré" da última madrugada'», como admitiu um técnico daquela entidade. Portanto, andou a fazer-se que se fazia.
Mais adiante, surge as declarações do vereador da protecção civil da autarquia de Almada a dizer os seus bitates: «explicou ao DN que serão usadas 'mais 200 toneladas de pedra além da que lá existe actualmente'». Ora, o homem não deve saber o que é uma tonelada de pedra, pois não estou a acreditar que um pouco menos de 200 pedregulhos (supondo que cada um tenha a forma de um cubo de um metro de lado) sirva para alguma coisa.
Mas, no meio disto, achei especial piada a este trecho da notícia: «'Neste momento, o nosso objectivo é construir um entroncamento de maior dimensão, dado que a maré cheia desta madrugada destruiu praticamente todo o trabalho que estava a ser feito na defesa aderente desde terça-feira', explicou ao DN João Costa, director do serviço de projectos e obras do Instituto da Água». Ora, como conheço a fonte e não me parece que ele tenha dito ENTRONCAMENTO... talvez, sei lá, terá dito qualquer coisa como ENROCAMENTO (é nisto que dá não se apostar num jornalismo cuidadoso).
Por fim, neste cortar de casaca, gostava de realçar a insistência com que se fala agora de «defesa aderente», quando se aborda a protecção da linha de costa. Na notícia do DN, esta expressão é usada por duas vezes e tenho-a ouvido muitas mais. Ora, como a «defesa aderente» tem estado sempre a a tornar-se inaderente, parece-me encontrar paralelismos com o «fogo circunscrito» muito comum no dicionário de «bombeirês».
2/23/2007
Expedientes, pois claro
Os evidentes sinais de colapso do afamado Freeport Alcochete - primeiro, os cinemas, depois as lojas fechadas e agora os restaurantes em vias de ser encerrados (vd. aqui) - vai ter uma única solução. Dentro em breve, a empresa gestora vai fechar aquilo e depois vai sugerir uma reabitação e reformulação da coisa. O que vai significar que parte ou a totalidade dos terrenos ocupados servirão para construção de habitação. E quando isso acontecer, ficar-se-á a saber quais os passos a seguir para retirar um sítio da Rede Natura para construção de habitação.
2/21/2007
Continua a novela «Há mar e mar, há ir e levar»
A novela, com novo episódio, mete muitos camiões de areia, muitas reuniões, muitas declarações para a imprensa, muitas visitas do ministro. Tanta azáfama na Costa da Caparica parece demonstrar à opinião pública que se está a fazer tudo o possível para enfrentar a fúria do mar. Puro engano. Apenas se está a gastar dinheiro. Se durante anos e anos pouco se fez - e recordo-me que as ameaças do mar já vêm de longe naquela zona -, agora nada há a fazer em pleno inverno com marés vivas. Toda e qualquer areia ou enrocamente que se lá meta agora é um remendo que custa muito dinheiro e com efectivos que podem ser nulos - como se está a tornar evidente. Numa situação destas, apenas há uma solução: evacuar o que está em perigo, e aguardar pela Primavera para, assim sim, fazer os reforços necessários e pensar numa intervençãomais adequada para aquela zona. Obviamente que, isto implica assumir uma «derrota» contra o mar. Mas, caramba, poupava-se dinheiro.
A novela, com novo episódio, mete muitos camiões de areia, muitas reuniões, muitas declarações para a imprensa, muitas visitas do ministro. Tanta azáfama na Costa da Caparica parece demonstrar à opinião pública que se está a fazer tudo o possível para enfrentar a fúria do mar. Puro engano. Apenas se está a gastar dinheiro. Se durante anos e anos pouco se fez - e recordo-me que as ameaças do mar já vêm de longe naquela zona -, agora nada há a fazer em pleno inverno com marés vivas. Toda e qualquer areia ou enrocamente que se lá meta agora é um remendo que custa muito dinheiro e com efectivos que podem ser nulos - como se está a tornar evidente. Numa situação destas, apenas há uma solução: evacuar o que está em perigo, e aguardar pela Primavera para, assim sim, fazer os reforços necessários e pensar numa intervençãomais adequada para aquela zona. Obviamente que, isto implica assumir uma «derrota» contra o mar. Mas, caramba, poupava-se dinheiro.
2/17/2007
2/16/2007
Confiança esgotada
Imagino que o Ministério Público quando, por iniciativa de uma investigação, constitui alguém como arguido deverá ter, por certo, indícios fortes para a acusação. Acredita-se também que quando o acusado exerce funções políticas e administrativas - por exemplo, numa autarquia -, os magistrados pensam ainda com maior cuidado. Não por razões de pressão, mas por saberem que uma acusação deste género resulta sempre num distúrbio com repercussões na administração municipal.
Ora, sabe-se que até prova em contrário, todos são inocentes. Porém, começa a atingir dimensões de escândalo aquilo que está a acontecer na autarquia de Lisboa, com a existência de uma infindável quantidade de arguidos entre autarcas e responsáveis de empresas e serviços do municípios. Como os autarcas são eleitos numa base de confiança, convenhamos que todos estes processos judiciais em curso não abonam nada para a sua manutenção.
Donde a demissão do presidente da autarquia deveria ser feita. Não por ser culpado, mas tão-somente por não dar garantias de que consegue manter a confiança dos munícipes até ao fim do mandato.
Ora, sabe-se que até prova em contrário, todos são inocentes. Porém, começa a atingir dimensões de escândalo aquilo que está a acontecer na autarquia de Lisboa, com a existência de uma infindável quantidade de arguidos entre autarcas e responsáveis de empresas e serviços do municípios. Como os autarcas são eleitos numa base de confiança, convenhamos que todos estes processos judiciais em curso não abonam nada para a sua manutenção.
Donde a demissão do presidente da autarquia deveria ser feita. Não por ser culpado, mas tão-somente por não dar garantias de que consegue manter a confiança dos munícipes até ao fim do mandato.
Salazar e Pombal
A discussão em torno da criação do museu Salazar/Estado Novo em Santa Comba Dão (vd. aqui) dá uma sensação de dejá vù, fazendo recordar as acesas discussões que decorreram ao longo da segunda metade do século XIX até às primeiras décadas do século XX em torno do marquês de Pombal. Tal como Salazar, o marquês de Pombal foi «persona non grata» durante muitas décadas após a sua morte. Falar bem de Sebastião José de Carvalho e Melo nos trinta ou quarenta anos a seguir era um sacrilégio tão grande como hoje é dizer bem de Salazar. Somente depois das suas ossadas - que, em Pombal, andaram em bolandas durante as invasões napoleónicas - serem trasladadas para Lisboa por volta de 1857, é que começaram a surgir alguns defensores da obra de Sebastião José. Mas também ferozes detractores - como Camilo Castelo Branco e Ramalho Ortigão, para apenas dizer os mais sonantes. A discussão atingiu o auge aquando do centenário da sua morte. E prolongou-se até que a estátua foi erigida em 1937 (salvo erro), depois do projecto ter sido executado no início desse século. O resultado, sabe-se: o Marquês de Pombal é hoje venerado como modelo de estadista.
Ora, o que pretendo dizer com isto é que se Salazar foi um ditador, o Marquês de Pombal ditador foi. Mas ambos fizeram coisas positivas. E que, por isso, devem ser convenientemente lembradas, porque o pior que pode acontecer a um país é perder a memória, pois criam-se mitos. Se hoje a figura de Salazar «renasce» como estadista - como aconteceu com o Marquês de Pombal ao longo da segunda metade do século XIX - foi exactamente por se ter pretendido apagar tudo o que fez (de bom e de mau) nos anos seguintes à sua morte. O país não interiorizou a sua acção e, perante uma certa desilusão da classe política, o povo vira-se para o passado, mesmo para aqueles políticos que as gerações mais antigas tanto abominaram.
Ora, o que pretendo dizer com isto é que se Salazar foi um ditador, o Marquês de Pombal ditador foi. Mas ambos fizeram coisas positivas. E que, por isso, devem ser convenientemente lembradas, porque o pior que pode acontecer a um país é perder a memória, pois criam-se mitos. Se hoje a figura de Salazar «renasce» como estadista - como aconteceu com o Marquês de Pombal ao longo da segunda metade do século XIX - foi exactamente por se ter pretendido apagar tudo o que fez (de bom e de mau) nos anos seguintes à sua morte. O país não interiorizou a sua acção e, perante uma certa desilusão da classe política, o povo vira-se para o passado, mesmo para aqueles políticos que as gerações mais antigas tanto abominaram.
2/13/2007
Showtime na rua do Século
O Ministério do Ambiente anunciou hoje o «chumbo» de um projecto imobiliário no Algarve que pretendia construir uma ilha artificial em Vale do Lobo. Até aqui, tudo bem - o projecto era estapafúrdio e só se peca por ter sequer passado para o papel.
Porém, há duas coisas, na notícia do Público que me chamaram a atenção. Por um lado, diz-se que o Ministério do Ambiente baseou-se em «dois estudos técnicos encomendados». E eu pergunto por que razão a Administração Pública continua a não ter técnicos capazes de fazer esses estudos - e se os têm, por que razão os mandou fazer por fora, com mais custos para os contribuintes... E, já agora, quanto custaram?
Por outro lado, parece-me inédita a realização de uma conferência de imprensa do Ministério do Ambiente para anunciar formalmente o «chumbo» de um projecto. Claro que esta não é estratégia que surja por acaso. No momento em que o Ministério do Ambiente fecha os olhos a muitos projectos que deveria «chumbar», este projecto - ainda mais por envolver uma questão que lembra sempre o problema da Costa da Caparica - é como mel na sopa para ser apresentado como troféu. A excepção que não confirma a regra.
Porém, há duas coisas, na notícia do Público que me chamaram a atenção. Por um lado, diz-se que o Ministério do Ambiente baseou-se em «dois estudos técnicos encomendados». E eu pergunto por que razão a Administração Pública continua a não ter técnicos capazes de fazer esses estudos - e se os têm, por que razão os mandou fazer por fora, com mais custos para os contribuintes... E, já agora, quanto custaram?
Por outro lado, parece-me inédita a realização de uma conferência de imprensa do Ministério do Ambiente para anunciar formalmente o «chumbo» de um projecto. Claro que esta não é estratégia que surja por acaso. No momento em que o Ministério do Ambiente fecha os olhos a muitos projectos que deveria «chumbar», este projecto - ainda mais por envolver uma questão que lembra sempre o problema da Costa da Caparica - é como mel na sopa para ser apresentado como troféu. A excepção que não confirma a regra.
2/12/2007
Uma breve análise ao referendo
Acho curiosas as tentativas de muitos órgãos de comunicação social para correlacionarem os resultados do referendo com questões político-partidários, procurando vitoriosos e derrotados entre a classe política. Nesse capítulo, não me parece que haja derrotados ou vencedores. Numa rápida análise, as conclusões que retiro dos resultados do referendo são as seguintes:
a) o factor mais decisivo para a vitória do «Sim» foi a redução da abstenção, a par de um aumento do número de eleitores que, obviamente, incidiram sobretudo nas faixas etárias mais jovens e, portanto, mais abertas à «legalização» do aborto.
b) O «Não» não beneficiou desse aumento do número de eleitores; pelo contrário, em relação a 1998 perdeu uma franja importante de «apoiantes» em virtude da taxa de mortalidade (cerca de 100 mil mortos por ano) que «afectou» sobretudo os idosos, a franja mais «conservadora».
c) Confirma-se que a questão do aborto é «fracturante» em Portugal, dado que existe uma regionalização muito marcada. No Norte (com excepção de quase todos os concelhos do Grande Porto, mais urbanos), nos Açores e na Madeira, o «Não» ganhou com maiorias por vezes esmagadoras. No Centro começa a existir um certo equilíbrio e no Sul do país acabou por ser o «Sim» a vencer com larga maioria. No caso do Alentejo mesmo com maiorias esmagadoras.
d) O «Sim» ganha sobretudo por via do voto urbano, mais «liberal», beneficiando assim da litoralização do país.
e) Os resultados parecem mostrar uma perda da influência da Igreja Católica na vida do seu «rebanho». Embora seja matéria para uma análise mais detalhada, parece evidente existir uma fortíssima correlação entre religião e a orientação do voto. E nenhuma em relação à orientação política. Recordo-me particularmente dos resultados dos Censos 2001 em que se perguntava a religião das pessoas. As maiores percentagens de católicos praticantes estava no Norte do país (onde o «Não» venceu largamente) e as menores no Sul (e, em especial, no Alentejo, onde o «Sim» ganhou largamente). Ou seja, onde a Igreja tem (ainda) influência (que também se verifica quando se analisa a percentagem de divorciados) conseguiu «orientar» o votos dos eleitores. Onde não tem, os resultados guindaram para o «Sim».
Nota: Votei em branco. Confesso que estava orientado para o «Sim», mas como sou o quarto de entre cinco filhos... de um casal que então não vivia nada desafogado.
a) o factor mais decisivo para a vitória do «Sim» foi a redução da abstenção, a par de um aumento do número de eleitores que, obviamente, incidiram sobretudo nas faixas etárias mais jovens e, portanto, mais abertas à «legalização» do aborto.
b) O «Não» não beneficiou desse aumento do número de eleitores; pelo contrário, em relação a 1998 perdeu uma franja importante de «apoiantes» em virtude da taxa de mortalidade (cerca de 100 mil mortos por ano) que «afectou» sobretudo os idosos, a franja mais «conservadora».
c) Confirma-se que a questão do aborto é «fracturante» em Portugal, dado que existe uma regionalização muito marcada. No Norte (com excepção de quase todos os concelhos do Grande Porto, mais urbanos), nos Açores e na Madeira, o «Não» ganhou com maiorias por vezes esmagadoras. No Centro começa a existir um certo equilíbrio e no Sul do país acabou por ser o «Sim» a vencer com larga maioria. No caso do Alentejo mesmo com maiorias esmagadoras.
d) O «Sim» ganha sobretudo por via do voto urbano, mais «liberal», beneficiando assim da litoralização do país.
e) Os resultados parecem mostrar uma perda da influência da Igreja Católica na vida do seu «rebanho». Embora seja matéria para uma análise mais detalhada, parece evidente existir uma fortíssima correlação entre religião e a orientação do voto. E nenhuma em relação à orientação política. Recordo-me particularmente dos resultados dos Censos 2001 em que se perguntava a religião das pessoas. As maiores percentagens de católicos praticantes estava no Norte do país (onde o «Não» venceu largamente) e as menores no Sul (e, em especial, no Alentejo, onde o «Sim» ganhou largamente). Ou seja, onde a Igreja tem (ainda) influência (que também se verifica quando se analisa a percentagem de divorciados) conseguiu «orientar» o votos dos eleitores. Onde não tem, os resultados guindaram para o «Sim».
Nota: Votei em branco. Confesso que estava orientado para o «Sim», mas como sou o quarto de entre cinco filhos... de um casal que então não vivia nada desafogado.
A pouca vergonha é, afinal, muito vergonhosa...
Em 20 de Novembro do ano passado, eu escrevia um post intitulado «A pouca vergonha de 350 mil euros queimados», em que abordava um estudo encomendado pelo Ministério do Ambiente à consultora McKinsey. Hoje, no Público (ver aqui), surge a notícia de que o referido estudo (que afinal custou 375,7 mil euros) foi feito sem concurso público e, portanto, com o preço a ser praticado à vontade do freguês. E, segundo especialistas em direitos, foi ilegal...
Recordo aqui aquilo que escrevi em Novembro:
«Sinceramente, penso que começa a ser abjecta a encomenda de estudos pagos a peso de ouro com dinheiros públicos (e, por regra de fraquíssima qualidade), ainda mais quando existem recursos na Administração Pública para os elaborar com menores custos (e, às tantas, com melhor qualidade). E mesmo que não houvesse técnicos disponíveis, atentem no montante em causa: 350 mil euros daria para pagar a 10 técnicos a receber 2.500 euros mensais (nada mau) durante um ano inteiro, incluindo subsídio de férias e 13º mês. Além disto tudo, quando uma empresa de consultoria recebe tão elevada maquia, claro que faz aquilo que o cliente gostaria de ouvir. Mais ainda porque , durante todo o Verão, o Governo não parou de clamar que estava tudo a ser um sucesso. Em suma, para encomendar um encómio - que era isso que o ministro António Costa pretendia -, a «coisa» saiu-nos cara: mais 350 mil euros dos nossos impostos derretidos em estupidez...
Em 20 de Novembro do ano passado, eu escrevia um post intitulado «A pouca vergonha de 350 mil euros queimados», em que abordava um estudo encomendado pelo Ministério do Ambiente à consultora McKinsey. Hoje, no Público (ver aqui), surge a notícia de que o referido estudo (que afinal custou 375,7 mil euros) foi feito sem concurso público e, portanto, com o preço a ser praticado à vontade do freguês. E, segundo especialistas em direitos, foi ilegal...
Recordo aqui aquilo que escrevi em Novembro:
«Sinceramente, penso que começa a ser abjecta a encomenda de estudos pagos a peso de ouro com dinheiros públicos (e, por regra de fraquíssima qualidade), ainda mais quando existem recursos na Administração Pública para os elaborar com menores custos (e, às tantas, com melhor qualidade). E mesmo que não houvesse técnicos disponíveis, atentem no montante em causa: 350 mil euros daria para pagar a 10 técnicos a receber 2.500 euros mensais (nada mau) durante um ano inteiro, incluindo subsídio de férias e 13º mês. Além disto tudo, quando uma empresa de consultoria recebe tão elevada maquia, claro que faz aquilo que o cliente gostaria de ouvir. Mais ainda porque , durante todo o Verão, o Governo não parou de clamar que estava tudo a ser um sucesso. Em suma, para encomendar um encómio - que era isso que o ministro António Costa pretendia -, a «coisa» saiu-nos cara: mais 350 mil euros dos nossos impostos derretidos em estupidez...
2/10/2007
O texto (recusado) do meu direito de resposta
Depois de reflectir - e tendo até em consideração a divulgação do caso na imprensa (vd. aqui) -, julgo ser conveniente colocar aqui o meu texto de direito de resposta ao abrigo da Lei de Imprensa, que foi recusado pela Direcção do Diário de Notícias e sancionado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que alegou não ser eu um cidadão...
Vou, obviamente, lutar pelas vias legais para que seja as autoridades judiciais me reconheçam como cidadão de plenos direitos e que este texto seja finalmente publicado no sítio certo.
Penso, aliás, que um dos motivos para estas recusas se deveu sobretudo ao teor da «reflexão» que fazia neste texto, que extravasa o meu próprio caso.
Na edição do passado dia 3 de Setembro, o Diário de Notícias (DN) insere um texto do presidente do Instituto da Água (INAG), Orlando Borges, sob a forma de «direito de resposta e rectificação», com correspondente chamada de primeira página, na sequência de dois artigos da minha autoria relacionados com os caudais do rio Guadiana e as afluências à albufeira de Alqueva, que tinham sido publicados nas edições de 31 de Agosto e 1 de Setembro.
Relativamente a esse texto de «direito de resposta» não fui previamente auscultado, pelo que, de acordo com os pressupostos da Lei de Imprensa, a Direcção do DN terá considerado – não sei com base em que motivos – que os artigos noticiosos da minha autoria conteriam «referências de facto inverídicas ou erróneas» em relação ao Instituto da Água. De facto, somente nestas condições o «direito de resposta» pode ser exercido (vd. nº 2 do artigo 24º da Lei de Imprensa). Ora, se tal se verificasse, obviamente que estaríamos perante um acto grave, pois significaria que eu, profissionalmente, teria enganado a Direcção do DN e os seus leitores, com o intuito de colocar em causa a reputação e boa fama do INAG.
Porém, como tudo o que escrevi é baseado em factos documentais e comprováveis – e que cumpri, em paralelo, todas as regras deontológicas do jornalismo – estamos então, afinal, perante um outro caso gravíssimo: a Direcção do DN permitiu que o Instituto da Água exercesse ilegitimamente um direito de resposta, colocando assim em causa a «reputação e boa fama» de um jornalista. A Direcção do DN tinha em sua posse os elementos suficientes – e a minha disponibilidade para lhe mostrar mais – para garantir aos leitores e a outras instituições (p. ex., Entidade Reguladora da Comunicação Social e até tribunais) que os meus artigos eram verídicos. Optando pela publicação do «direito de resposta», a Direcção do DN «conseguiu» duas coisas: quebrar a confiança dos leitores sobre o rigor das peças jornalísticas que publica e quebrar a confiança do próprio jornalista.
Com efeito, no texto do presidente do INAG constam diversas difamações, designadamente quando refere que o conteúdo da minha primeira notícia era «em todos os aspectos, incorrecto, destituído de qualquer fundamento e por isso totalmente falso» e que a segunda notícia possuía «um conjunto de aspectos que enfermam de incorrecções de índole técnica». Aliás, o presidente do INAG «gasta» uma parte substancial do seu texto a explicar aspectos de «carácter eminentemente técnico».
Por norma, se o presidente de uma entidade de índole técnica, faz acusações a um jornalista sobre aspectos técnicos – no caso em apreço de hidrologia e hidráulica –, pretende que o leitor conclua que ele terá razão e o jornalista é um ignorante nessas matérias. Isso é verdade? Nem sempre. Este é, aliás, um mau princípio que as direcções dos órgãos de comunicação social não podem, nem devem, alimentar, porque nem todos os jornalistas são leigos nas matérias sobre as quais escrevem. E os que são leigos não deveriam escrever.
Eu nunca colocaria em causa o conhecimento «eminentemente técnico» sobre hidráulica e hidrologia do presidente do INAG por a sua licenciatura ser em Geografia, mas também não poderei aceitar que levianamente ele queira passar-me um atestado de menoridade por eu exercer actualmente a profissão de jornalista. Na verdade, eu não tenho uma licenciatura em Geografia – que, salvo o erro, não tem formação em hidrologia ou hidráulica –, mas possuo uma licenciatura em Engenharia Biofísica, tendo tido quatro cadeiras curriculares específicas nestas áreas, a saber: Hidrologia, Hidráulica, Hidráulica Fluvial e Hidráulica Agrícola.
Aliás, algumas considerações de «carácter eminentemente técnico» fornecidas pelo geógrafo Orlando Borges – ao considerar, por exemplo, que são mais válidas as medições de caudal usando nível hidrométrico do que usando cotas (volumes) – são muito discutíveis. Na verdade, grosso modo, existem cinco métodos de medição de caudal (velocidade e secção; estrutura hidráulica; volumétrico; químico; e calibração de comportas) e todos são aceitáveis, se em bom funcionamento. E parece-me pouco crível que a EDIA e a CPPE estejam a usar métodos incorrectos para medir as afluências de Alqueva. De igual modo, as discrepâncias entre o caudal de Monte das Vinhas – estação que não consta do convénio e que não mede as contribuições dos afluentes nacionais do Guadiana – e as afluências de Alqueva podem perfeitamente advir da retirada de água, a jusante de Monte da Vinha, para regadio da região de Olivença – situação pouco «ortodoxa» feita pelos agricultores espanhóis. Por isto, é perfeitamente possível, «hidrologicamente» falando, que Monte da Vinha tenha maior caudal do que Badajoz (a montante) e também maior do que as afluências a Alqueva (a jusante). Em todo o caso, uma conclusão se terá de retirar: a partir de agora, entidades técnicas de Portugal e de Espanha «podem» sempre vir desmentir dados técnicos anteriormente por si publicados, o que será uma aberração.
Vejo-me também obrigado a lamentar profundamente a atitude de Orlando Borges ao pretender assumir o papel de jornalista e sintetizar aquilo que alegadamente escrevi nas duas notícias. Seria fastidioso apontar as deturpações, por isso «convido» os leitores a comparar os meus textos com a «síntese» feita pelo presidente do Instituto da Água. Em todo o caso, no meu artigo de 31 de Agosto refiro que o caudal nulo em Badajoz está no boletim hidrológico do Ministério do Ambiente de Espanha (aliás, para além da estação de Badajoz, para a bacia do Guadiana constam outras duas estações espanholas a montante: Cubeta, com um caudal de 0,82 m3/s, e Cíjara, com 0,00 m3/s, tornando assim plausíveis os valores da afluência a Portugal) e que os dados das afluências de Alqueva se encontram no site do Instituto da Água. Mais cristalino do que isto não há.
Não posso também admitir que o presidente do INAG invoque a Lei de Imprensa por se ver lesado nos seus direitos. Vamos a factos de ordem deontológica. Na preparação da notícia do dia 31 de Agosto, o INAG obrigou-me a colocar as questões por escrito, tendo apenas respondido às 20h02 do dia 30. Como nem todas as questões foram respondidas, e malgrado a proximidade do fecho da edição, insisti e mesmo assim continuaram sem resposta. Por isso, é falso que, como alega o presidente do INAG, tenham sido enviados «os dados provando, justamente, o contrário do que viria a ser publicado». Já para a preparação da notícia da edição de 1 de Setembro – que viria a ter como título «Alqueva registou ontem valor zero no caudal afluente» – colocaram-se oito questões de índole técnica ao INAG. Uma delas era crucial: «Ontem, a estação de Alqueva apresentou novamente um valor de zero para o caudal afluente. Qual foi então a quantidade de água que afluiu ontem à albufeira de Alqueva?». Nenhuma das oito questões foi respondida. A Direcção do DN tinha conhecimento dessa situação. Por isso, como se pode caracterizar a atitude e a índole pessoal de Orlando Borges que, após recusar responder às minhas questões, exige posteriormente a publicação de um direito de resposta? E da Direcção do DN que publicou um «direito de resposta» difamatório do meu trabalho, sem me dar possibilidade de defesa? Enfim, tudo isto é deplorável. E creiam os leitores que assim é; caso contrário não teria exercido este direito de resposta.
Depois de reflectir - e tendo até em consideração a divulgação do caso na imprensa (vd. aqui) -, julgo ser conveniente colocar aqui o meu texto de direito de resposta ao abrigo da Lei de Imprensa, que foi recusado pela Direcção do Diário de Notícias e sancionado pela Entidade Reguladora para a Comunicação Social, que alegou não ser eu um cidadão...
Vou, obviamente, lutar pelas vias legais para que seja as autoridades judiciais me reconheçam como cidadão de plenos direitos e que este texto seja finalmente publicado no sítio certo.
Penso, aliás, que um dos motivos para estas recusas se deveu sobretudo ao teor da «reflexão» que fazia neste texto, que extravasa o meu próprio caso.
Na edição do passado dia 3 de Setembro, o Diário de Notícias (DN) insere um texto do presidente do Instituto da Água (INAG), Orlando Borges, sob a forma de «direito de resposta e rectificação», com correspondente chamada de primeira página, na sequência de dois artigos da minha autoria relacionados com os caudais do rio Guadiana e as afluências à albufeira de Alqueva, que tinham sido publicados nas edições de 31 de Agosto e 1 de Setembro.
Relativamente a esse texto de «direito de resposta» não fui previamente auscultado, pelo que, de acordo com os pressupostos da Lei de Imprensa, a Direcção do DN terá considerado – não sei com base em que motivos – que os artigos noticiosos da minha autoria conteriam «referências de facto inverídicas ou erróneas» em relação ao Instituto da Água. De facto, somente nestas condições o «direito de resposta» pode ser exercido (vd. nº 2 do artigo 24º da Lei de Imprensa). Ora, se tal se verificasse, obviamente que estaríamos perante um acto grave, pois significaria que eu, profissionalmente, teria enganado a Direcção do DN e os seus leitores, com o intuito de colocar em causa a reputação e boa fama do INAG.
Porém, como tudo o que escrevi é baseado em factos documentais e comprováveis – e que cumpri, em paralelo, todas as regras deontológicas do jornalismo – estamos então, afinal, perante um outro caso gravíssimo: a Direcção do DN permitiu que o Instituto da Água exercesse ilegitimamente um direito de resposta, colocando assim em causa a «reputação e boa fama» de um jornalista. A Direcção do DN tinha em sua posse os elementos suficientes – e a minha disponibilidade para lhe mostrar mais – para garantir aos leitores e a outras instituições (p. ex., Entidade Reguladora da Comunicação Social e até tribunais) que os meus artigos eram verídicos. Optando pela publicação do «direito de resposta», a Direcção do DN «conseguiu» duas coisas: quebrar a confiança dos leitores sobre o rigor das peças jornalísticas que publica e quebrar a confiança do próprio jornalista.
Com efeito, no texto do presidente do INAG constam diversas difamações, designadamente quando refere que o conteúdo da minha primeira notícia era «em todos os aspectos, incorrecto, destituído de qualquer fundamento e por isso totalmente falso» e que a segunda notícia possuía «um conjunto de aspectos que enfermam de incorrecções de índole técnica». Aliás, o presidente do INAG «gasta» uma parte substancial do seu texto a explicar aspectos de «carácter eminentemente técnico».
Por norma, se o presidente de uma entidade de índole técnica, faz acusações a um jornalista sobre aspectos técnicos – no caso em apreço de hidrologia e hidráulica –, pretende que o leitor conclua que ele terá razão e o jornalista é um ignorante nessas matérias. Isso é verdade? Nem sempre. Este é, aliás, um mau princípio que as direcções dos órgãos de comunicação social não podem, nem devem, alimentar, porque nem todos os jornalistas são leigos nas matérias sobre as quais escrevem. E os que são leigos não deveriam escrever.
Eu nunca colocaria em causa o conhecimento «eminentemente técnico» sobre hidráulica e hidrologia do presidente do INAG por a sua licenciatura ser em Geografia, mas também não poderei aceitar que levianamente ele queira passar-me um atestado de menoridade por eu exercer actualmente a profissão de jornalista. Na verdade, eu não tenho uma licenciatura em Geografia – que, salvo o erro, não tem formação em hidrologia ou hidráulica –, mas possuo uma licenciatura em Engenharia Biofísica, tendo tido quatro cadeiras curriculares específicas nestas áreas, a saber: Hidrologia, Hidráulica, Hidráulica Fluvial e Hidráulica Agrícola.
Aliás, algumas considerações de «carácter eminentemente técnico» fornecidas pelo geógrafo Orlando Borges – ao considerar, por exemplo, que são mais válidas as medições de caudal usando nível hidrométrico do que usando cotas (volumes) – são muito discutíveis. Na verdade, grosso modo, existem cinco métodos de medição de caudal (velocidade e secção; estrutura hidráulica; volumétrico; químico; e calibração de comportas) e todos são aceitáveis, se em bom funcionamento. E parece-me pouco crível que a EDIA e a CPPE estejam a usar métodos incorrectos para medir as afluências de Alqueva. De igual modo, as discrepâncias entre o caudal de Monte das Vinhas – estação que não consta do convénio e que não mede as contribuições dos afluentes nacionais do Guadiana – e as afluências de Alqueva podem perfeitamente advir da retirada de água, a jusante de Monte da Vinha, para regadio da região de Olivença – situação pouco «ortodoxa» feita pelos agricultores espanhóis. Por isto, é perfeitamente possível, «hidrologicamente» falando, que Monte da Vinha tenha maior caudal do que Badajoz (a montante) e também maior do que as afluências a Alqueva (a jusante). Em todo o caso, uma conclusão se terá de retirar: a partir de agora, entidades técnicas de Portugal e de Espanha «podem» sempre vir desmentir dados técnicos anteriormente por si publicados, o que será uma aberração.
Vejo-me também obrigado a lamentar profundamente a atitude de Orlando Borges ao pretender assumir o papel de jornalista e sintetizar aquilo que alegadamente escrevi nas duas notícias. Seria fastidioso apontar as deturpações, por isso «convido» os leitores a comparar os meus textos com a «síntese» feita pelo presidente do Instituto da Água. Em todo o caso, no meu artigo de 31 de Agosto refiro que o caudal nulo em Badajoz está no boletim hidrológico do Ministério do Ambiente de Espanha (aliás, para além da estação de Badajoz, para a bacia do Guadiana constam outras duas estações espanholas a montante: Cubeta, com um caudal de 0,82 m3/s, e Cíjara, com 0,00 m3/s, tornando assim plausíveis os valores da afluência a Portugal) e que os dados das afluências de Alqueva se encontram no site do Instituto da Água. Mais cristalino do que isto não há.
Não posso também admitir que o presidente do INAG invoque a Lei de Imprensa por se ver lesado nos seus direitos. Vamos a factos de ordem deontológica. Na preparação da notícia do dia 31 de Agosto, o INAG obrigou-me a colocar as questões por escrito, tendo apenas respondido às 20h02 do dia 30. Como nem todas as questões foram respondidas, e malgrado a proximidade do fecho da edição, insisti e mesmo assim continuaram sem resposta. Por isso, é falso que, como alega o presidente do INAG, tenham sido enviados «os dados provando, justamente, o contrário do que viria a ser publicado». Já para a preparação da notícia da edição de 1 de Setembro – que viria a ter como título «Alqueva registou ontem valor zero no caudal afluente» – colocaram-se oito questões de índole técnica ao INAG. Uma delas era crucial: «Ontem, a estação de Alqueva apresentou novamente um valor de zero para o caudal afluente. Qual foi então a quantidade de água que afluiu ontem à albufeira de Alqueva?». Nenhuma das oito questões foi respondida. A Direcção do DN tinha conhecimento dessa situação. Por isso, como se pode caracterizar a atitude e a índole pessoal de Orlando Borges que, após recusar responder às minhas questões, exige posteriormente a publicação de um direito de resposta? E da Direcção do DN que publicou um «direito de resposta» difamatório do meu trabalho, sem me dar possibilidade de defesa? Enfim, tudo isto é deplorável. E creiam os leitores que assim é; caso contrário não teria exercido este direito de resposta.
2/08/2007
Noutros tempos, já estaria a bater os costados numa cela...
E eis que surgiu a deliberação da Entidade Reguladora para Comunicação Social sobre a recusa do Diário de Notícias em publicar o meu direito de resposta em reacção a um texto também de direito de resposta do presidente do Instituto da Água, relacionado com artigos publicados em Agosto e Setembro de 2006. A deliberação 7-DR-I/2007 merece ir para os anais da justiça, podendo ser consultada aqui.
Perante a situação que se vive em Portugal, actualmente, acabou por não me surpreender que a ERC tenha considerado que um jornalista é um cidadão menor. Nem que a deliberação de 12 páginas tenha demorado quatro meses e meio depois da minha queixa, e três meses e meio após o contraditório exercido pelo director do Diário de Notícias...
Poderia estar aqui a gastar o meu latim, escalpelizando a aberração desta deliberação da ERC e a forma enviesada como defende a sua perniciosa tese. E também sobre a forma como a Direcção do Diário de Notícia «crucificou» a credibilidade de notícias rigorosas que publicou (esta e esta) e, obviamente, de um jornalista.
Mas não me apetece gastar o meu latim. Primeiro, porque eles não merecem. Segundo, porque o caso - aliás, dois casos - ficará, muito em breve, em segredo de justiça. E eu sou um jornalista cumpridor da lei, respeitando os meus deveres, mesmo se amputados dos meus direitos de cidadão.
E eis que surgiu a deliberação da Entidade Reguladora para Comunicação Social sobre a recusa do Diário de Notícias em publicar o meu direito de resposta em reacção a um texto também de direito de resposta do presidente do Instituto da Água, relacionado com artigos publicados em Agosto e Setembro de 2006. A deliberação 7-DR-I/2007 merece ir para os anais da justiça, podendo ser consultada aqui.
Perante a situação que se vive em Portugal, actualmente, acabou por não me surpreender que a ERC tenha considerado que um jornalista é um cidadão menor. Nem que a deliberação de 12 páginas tenha demorado quatro meses e meio depois da minha queixa, e três meses e meio após o contraditório exercido pelo director do Diário de Notícias...
Poderia estar aqui a gastar o meu latim, escalpelizando a aberração desta deliberação da ERC e a forma enviesada como defende a sua perniciosa tese. E também sobre a forma como a Direcção do Diário de Notícia «crucificou» a credibilidade de notícias rigorosas que publicou (esta e esta) e, obviamente, de um jornalista.
Mas não me apetece gastar o meu latim. Primeiro, porque eles não merecem. Segundo, porque o caso - aliás, dois casos - ficará, muito em breve, em segredo de justiça. E eu sou um jornalista cumpridor da lei, respeitando os meus deveres, mesmo se amputados dos meus direitos de cidadão.
2/07/2007
Viva a Revolução
Um lote de 70 cartazes alusivos ao 25 de Abril e de campanhas eleitorais nos anos seguintes - de entre os quais o famoso «Maioria Silenciosa», de Abel Manta - foi ontem a um leilão em Lisboa. Começou a licitação nos 75 euros e só parou nos 1.400 euros. Eis no que deu a Revolução dos Cravos... no capitalismo, pois, pois...
Um lote de 70 cartazes alusivos ao 25 de Abril e de campanhas eleitorais nos anos seguintes - de entre os quais o famoso «Maioria Silenciosa», de Abel Manta - foi ontem a um leilão em Lisboa. Começou a licitação nos 75 euros e só parou nos 1.400 euros. Eis no que deu a Revolução dos Cravos... no capitalismo, pois, pois...
O milagre florestal
Hoje, o World Resource Institute apresenta uma série de informações relacionadas com a floresta no Mundo (consultável aqui), que me deixaram, obviamente, espantado.
E o espanto é o seguinte: sabe-se que, de acordo com os dados oficiais portugueses, ardeu entre 2000 e 2005 uma área de 1,25 milhões de hectares, o que dá uma média de 255 mil hectares por ano. Para facilitar as contas, digamos que metade era floresta, no que resulta que se perdeu por ano um pouco mais de 125 mil hectares.
Porém, de acordo com os dados divulgados pelo WRI, Portugal surge no top 10 dos países com mais crescimento líquido de florestal, com um aumento médio anual de 40 mil hectares.
Ora, isto implicaria que teria sido necessário cobrir, durante aqueles seis anos, a parte que ardeu (cerca de 125 mil hectares) e acrescentar ainda mais 40 mil hectares de novos povoamentos. Algo que , obviamente, não aconteceu.
Por aquilo que conheço das explicações «oficiais» (e isso fica patente nos próprios inventários florestais), um incêndio raramente é considerado uma perda florestal. Portanto, os dados que são transmitidos pelas autoridades portuguesas para as estatísticas internacionais omitem sempre esta componente dos incêndios, colocando apenas aquilo que são novos povoamentos.
Donde se conclui que, em vez de um crescimento líquido de 40 mil hectares, deveria surgir nas estatísticas do WRI uma redução líquida de 85 mil hectares de floresta. Mas, enfim, estou aberto a todas as interpretações, sendo certo que a floresta portuguesa não existe por via de estatísticas (incorrectas), vive da realidade...
Hoje, o World Resource Institute apresenta uma série de informações relacionadas com a floresta no Mundo (consultável aqui), que me deixaram, obviamente, espantado.
E o espanto é o seguinte: sabe-se que, de acordo com os dados oficiais portugueses, ardeu entre 2000 e 2005 uma área de 1,25 milhões de hectares, o que dá uma média de 255 mil hectares por ano. Para facilitar as contas, digamos que metade era floresta, no que resulta que se perdeu por ano um pouco mais de 125 mil hectares.
Porém, de acordo com os dados divulgados pelo WRI, Portugal surge no top 10 dos países com mais crescimento líquido de florestal, com um aumento médio anual de 40 mil hectares.
Ora, isto implicaria que teria sido necessário cobrir, durante aqueles seis anos, a parte que ardeu (cerca de 125 mil hectares) e acrescentar ainda mais 40 mil hectares de novos povoamentos. Algo que , obviamente, não aconteceu.
Por aquilo que conheço das explicações «oficiais» (e isso fica patente nos próprios inventários florestais), um incêndio raramente é considerado uma perda florestal. Portanto, os dados que são transmitidos pelas autoridades portuguesas para as estatísticas internacionais omitem sempre esta componente dos incêndios, colocando apenas aquilo que são novos povoamentos.
Donde se conclui que, em vez de um crescimento líquido de 40 mil hectares, deveria surgir nas estatísticas do WRI uma redução líquida de 85 mil hectares de floresta. Mas, enfim, estou aberto a todas as interpretações, sendo certo que a floresta portuguesa não existe por via de estatísticas (incorrectas), vive da realidade...
2/04/2007
Elogio da loucura
«Procede imprudentemente aquele que não se acomoda às coisas presentes, que não obedece aos costumes, que esquece aquela lei dos banquetes: ‘Bebe ou retira-te’; enfim, que quer que a farsa não seja farsa. Pelo contrário, serás verdadeiramente prudente, vendo que és mortal, não querendo saber mais do que os outros, convivendo ou errando de boa vontade com a universidade dos homens. Dirão que isto é tolice. Não o nego, mas concordai que é essa a maneira de agir na farsa da vida.»
Erasmo de Roterdão, ELOGIO DA LOUCURA (1509)
Em breve, eu explicarei melhor a razão de colocar aqui estas frases de Erasmo. Já têm quase 500 anos, e lembro-me delas, quando vejo que a farsa da vida me leva sempre a melhor...
Erasmo de Roterdão, ELOGIO DA LOUCURA (1509)
Em breve, eu explicarei melhor a razão de colocar aqui estas frases de Erasmo. Já têm quase 500 anos, e lembro-me delas, quando vejo que a farsa da vida me leva sempre a melhor...
2/01/2007
De avião com o poder
«O DN viaja num avião fretado pelo Governo» - esta adenda surge no final de uma reportagem sobre a visita de membros do Governo à China, na edição de hoje do Diário de Notícias. O aviso não é inocente. O jornal pretende, intencionalmente, dizer aos seus leitores que a viagem foi paga pelo Governo, mas que não estão lá comprados. Ou seja, que a cobertura será rigorosa e isenta. Fica bem, dirão muitos - mostra transparência. Conclusão apressada. Na minha opinião, não significa nada.
Com efeito, embora esta atitude surja de quando em vez noutros órgãos de comunicação social, sempre me pareceram estes avisos como pedantes e mostrando mesmo, inconfessadamente, que o próprio órgão de comunicação social tem receios sobre a sua independência. A independência noticiosa não se mede sob a bitola do critério «quem pagou a viagem», mas sim na própria abordagem noticiosa. Como jornalista, já me pagaram muitas viagens ou almoços; porém, estou à espera que me provem que, por causa disso, escrevi «isto» ou «aquilo» de forma diferente. Aliás, se eu não fosse independente, poderia sempre escrever o tal «isto» ou «aquilo», mesmo que a entidade ou pessoa «beneficiada» não me tivesse pago qualquer viagem ou almoço... talvez na esperança de receber, mais tarde, a tal viagem ou almoço... a dobrar.
A questão do pagamento de viagens e outras mordomias aos jornalistas acaba assim por ser uma mera questão entre ética e questão financeira do próprio órgão de comunicação social. Obviamente, em teoria, seria sempre mais sensato que a comunicação social não fosse «financiada» desta forma. Porém, não me choca que o seja. Mas, nesse caso, deve simplesmente omitir essa questão - não é noticiosa, não acrescenta nada e apenas serve de pseudo-marketing em torno da alegada independência -, porque o que estará sempre em causa, repito, é a abordagem noticiosa. E essa será sempre determinada em função da independência do jornalista; não de quem lhe pagou a viagem.
Com efeito, embora esta atitude surja de quando em vez noutros órgãos de comunicação social, sempre me pareceram estes avisos como pedantes e mostrando mesmo, inconfessadamente, que o próprio órgão de comunicação social tem receios sobre a sua independência. A independência noticiosa não se mede sob a bitola do critério «quem pagou a viagem», mas sim na própria abordagem noticiosa. Como jornalista, já me pagaram muitas viagens ou almoços; porém, estou à espera que me provem que, por causa disso, escrevi «isto» ou «aquilo» de forma diferente. Aliás, se eu não fosse independente, poderia sempre escrever o tal «isto» ou «aquilo», mesmo que a entidade ou pessoa «beneficiada» não me tivesse pago qualquer viagem ou almoço... talvez na esperança de receber, mais tarde, a tal viagem ou almoço... a dobrar.
A questão do pagamento de viagens e outras mordomias aos jornalistas acaba assim por ser uma mera questão entre ética e questão financeira do próprio órgão de comunicação social. Obviamente, em teoria, seria sempre mais sensato que a comunicação social não fosse «financiada» desta forma. Porém, não me choca que o seja. Mas, nesse caso, deve simplesmente omitir essa questão - não é noticiosa, não acrescenta nada e apenas serve de pseudo-marketing em torno da alegada independência -, porque o que estará sempre em causa, repito, é a abordagem noticiosa. E essa será sempre determinada em função da independência do jornalista; não de quem lhe pagou a viagem.
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