Farpas Verdes CCLXXIII
O Diário de Notícias decidiu hoje enveredar pela ficção e pespegou uma manchete com o título «100 mil novas casas nos próximos anos - O novo 'assalto' do betão». O texto deveria, aliás, ir para os anais do jornalismo e ser ensinado como «case-study» daquilo que não se dever fazer em jornalismo.
A notícia abre com o senguinte parágrafo: «É um novo assalto do betão ao Algarve. Há mais de cem mil apartamentos e moradias que já têm projectos aprovados e que devem ser construídos nos próximos três a cinco anos, confirmou ao DN fonte do turismo da região». Notem no pormenor «confirmou ao DN fonte do turismo da região»... A notícia baseia-se numa fonte anónima e depois, ao longo do texto, não aparecem quaisquer dados que consubstanciem a dimensão dos números avançados, mas apenas meras pretensões de autarcas e de empreendores turísticos.
Tem, além disso, erros grosseiros. Não se entende como existem 30 mil casas para venda agora em 2005, quando os Censos da Habitação de 20001 apontavam para a existência de 4.589 fogos para venda.
Claro que quem já anda nisto há alguns anitos, percebe o esquema: alguém lança um número espatafúrdio para o ar par tomar o pulso; acrescenta que não deve haver atitudes fundamentalistas do ambiente; passado uns tempos dá um «sinal de boa vontade» e admite «recuar» em algumas pretensões, de modo a conseguir, deste modo, construir algo. É o verdadeiro estilo do vendedor da banha da cobra: faz o primeiro preço 10 vezes acima daquilo que desejaria vender e depois vai descendo, descendo até que, dando tantas demonstrações de «boa vontade» acaba, com esta estratégia, por vender 2 ou 3 vezes acima do preço inicial que desejaria.
Enfim, eu não levaria muito isto a sério. Mas, de qualquer modo, para mim o Algarve está já perdido: com mais 100 mil ou sem mais 100 mil novas casas. Se querem afundar-se ainda mais, afundem-se à vontade, se fazem favor...
8/18/2005
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