Farpas Verdes CCVIII
Tendo tido oportunidade de analisar, muito rapidamente, alguns dados sobre as precipitações ao longo dos anos (em 44 estações com mais de 50 anos de registos), nota-se que o actual ano hidrológico está, em muitos casos, a ser o mais severo. No entanto, isso apenas se verifica em 12 estações (27%).
Existem, de uma forma marcante, nas últimas seis décadas, anos particularmente severos de seca (embora esta análise seja obviamente superficial, por estar apenas a considerar os valores extremos). Por exemplo, o ano de 1945 continua a ser o mínimo em 9 estações). De salientar, contudo, que duas estações, Setúbal e Fonte Boa - que atingiram este ano o mínimo - não estavam em funcionamento em 1945.
O ano de 1981 também continua a ser o mais seco em 7 estações (sobretudo localizadas no Alentejo e Beira Interior).
O ano de 1992 também continua a ser o mais seco em 4 estações (Évora, Portalegre, Alvega e Chouto)
Uma evidência que estes dados permitem retirar é a de que as precipitações baixas têm estado a registar-se com maior intensidade desde a década de 80: em 25 estações (57% do total), o valor extremo registou-se entre 1981 e 2005. No entanto, a década de 40 (particularmente os anos de 1945 e 1949) também foram bastante secos (seis estações ainda registam os recordes dos valores mínimos).
Ou seja, estamos muito longe de poder considerar esta situação inédita e é completamente estapafúrdio dizer, como o Instituto da Água defende, estarmos perante uma seca com períodos de retorno de 300 anos em algumas regiões.
O problema da seca não tem, como por vezes se confunde, apenas a ver com a precipitação, mas também - e por vezes sobretudo - com a gestão dos recursos hídricos. Comparar um período de reduzida precipitação em 1945 e em 2005 nem sequer faz muito sentido se quisermos comparar situações de seca. Isto porque, se por um lados, em 1945 não tinhamos os consumos de água que hoje temos, também é verdade que a capacidade de armazenamento da água em albufeiras era ínfima (a maioria das barragens somente começaram a ser construídas a partir da década de 50 do século passado).
Se esta seca tem alguma virtude é a de fazer repensar a estratégia do uso da água em Portugal. Não podemos continuar a pensar que o São Pedro há-de ser sempre benévolo e não fazer uma gestão prudente da água. Se a gestão dos recursos hídricos fosse feita partindo sempre do pressuposto de que no ano seguinte teriamos uma seca, provavelmente nunca mais sofreriamos os seus efeitos...
4/18/2005
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