4/25/2005

Farpas Verdes CCX

Primeiro, ri-me à gargalhada; depois, apeteceu-me chorar.

Através do Ondas, reparei que o presidente da autarquia de Santa Comba Dão comprou um binóculos. Segundo a notícia do Jornal de Notícia, Orlando Mendes diz que os binóculos servirão «para poder ver ao longe, sempre que passo de carro pela estrada, a escala que mede o volume da água da albufeira. Se der conta que a cota está a baixar, é porque as comportas foram abertas e peço imediatamente explicações à EDP. Vou andar sempre com os binóculos no bolso das calças».

O inusitado e arcaico método escolhido pelo autarca é risível, porque o facto de não descer o volume não significa que não tenham sido abertas as comportas. Pior apenas, seria montar um acampamento junto às comportas.

O grave disto é que o presidente desta autarquia parece, com isto, desconhecer os aspectos mais básicos de hidrologia. O nível somente descerá se as descargas forem superiores às afluências. Mas numa albufeira tão grande como a da Agueira, é preciso que as descargas sejam bastante significativas para que haja uma descida relevante de volume. Por exemplo, aos níveis actuais da albufeira da Aguieira, descarregar 15 milhões de metros cúbicos (15 hm3). - que é muita água - faz baixar o nível em cerca de 0,8 metros.

Por outro lado, não parece ser conveniente que a albufeira feche simplesmente as comportas, «esquecendo-se» da necessidade de «alimentar» o troço do Mondego a jusante.

Além disso, convinha também que o presidente da autarquia soubesse (e se não sabe com todos estes anos de autarca, é grave), que existe um método mais cómodo para controlar os caudais e os volumes relacionados com a albufeira da Agueira: a página da Internet do Instituto da Água. Embora continue a ser complexa de consultar, tem ali todos os dados necessários. Patetices como esta dos binóculos, somente lhe retira argumentos nesta aparente guerrilha com a EDP.

P.S. Já agora, fui consultar o site do INAG e, curiosamente, a albufeira da Agueira até tem registado um aumento do seu nível de armazenamento desde o início do ano. Continua baixo comparativamente à média, é certo, mas parece ser este um caso em que a gestão até está a ser ponderada em função da situação de seca.

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