5/28/2007

O perigoso kit

A grande maioria das vítimas de fogos florestais, ao contrário do que se julga, são populares e não propriamente os bombeiros. Essa situação advém da imprudência e desconhecimento do cidadão comum em relação ao fogo. Por isso mesmo, tenho defendido que, embora as populações sejam fundamentais no alerta (até porque, infelizmente, os sistemas de vigilância oficial deixam muito a desejar, é preferível retirá-las do chamado «teatro das operações». Quanto muito poder-se-á usá-las, mas fora do perímetro mais próximo da frente de fogo. Aproximar ou manter populares junto da frente de fogo tem efeitos pouco relevantes, com a agravante de constituir um risco elevado para a sua segurança.

Por isso mesmo, a promessa do Governo (vd. aqui) em dotar mil juntas de freguesia com kits de primeira intervenção aos fogos - cada um custando oito mil euros cada, pelo que o «investimento» se elevará aos 8 milhões de euros - constitui uma medida perigosa, sem efeitos práticos (diria mesmo folclórica) e esbanjadora de recursos financeiros. primeiro, porque incentiva os populares a irem para a frente de fogo, sem qualquer preparação e com a perigosa «confiança» de terem os kits. Depois, terá efeitos irrelevantes porque não existindo disponibilidade de pessoal na esmagadora maioria das juntas de freguesia, não sei como se fará a logística da coisa. Será que os primeiros voluntariosos a chegarem à junta de freguesia levam o kit para o fogo? Por fim, gastar oito milhões de euros nesta coisa - que me parece mais negócio de venda de kits - é um desperdício, pois com esse dinheiro poder-se-ia equipar e formar mais equipas de sapadores florestais. Esses sim, úteis.

3 comentários:

casimiro disse...

Não concordo contigo. Aliás, desta vez o Governo está a copiar uma ideia minha de há 10 anos atrás. Só não é plágio pq eu não tenho amigos na política e não foi por mim que lá chegaram. A ideia é muito boa! Cada comunidade deveria, tanto qt possível apagar os seus próprios fogos. Assim até seria mais cuidadosa. Como as coisas são, o pessoa põe-se a ver os bombeiros apagar. Quando eu era criança o normal era na aldeia quando havia fogo os homens, as mulheres e as crianças irem todos apagar. Levavam serrotes para cortar ramos, levavam enxadas, etc. E resultava!

casimiro disse...

Fiz aqui um comentário e ele não teve a tua aprovação. Já agora podes explicar? Julgava que isto não era o DN...
casimiroamado@gmail.com

Pedro Almeida Vieira disse...

Caro amigo Casimiro,
o comentário foi colocado quando o vi; a moderação que existe foi apenas para evitar alguns contributos ofensivos em palavras, não as opiniões que não são coincidentes com as minhas.

Quanto á tua opinião: isso que dizes poderia ser aceitável, noutros tempos, não agora. Aquilo que defendo é que, independentemente das boas intenções, o combate tem de ser feito com precaução, sem heroísmo. Já houve muitas mortes em Portugal por causa disso. Penso que, quanto muito, seria mais útil gastar esse dinheiro, sim , na formação das populações para a forma de combater os fogos nascentes. Agora fornecer kits com enxadas e picaretas às juntas de freguesia, parece-me ridículo e sem utilidade, pois como digo: como se processará, na práica, a logística de uma coisa dessas?