Farpas Verdes CXCIV
É mais uma medida desestruturada aquela que ontem foi anunciada pela autarquia de Lisboa para inverter a «sangria» populacional de Lisboa. Não basta lançar-se na remodelação de uns quantos prédios de Lisboa e prometer «meter» 12 mil jovens no centro da cidade durante oito anos.
Primeiro, esse número pode parecer elevado, mas é irrelevante para inverter a situação. Por exemplo, o saldo natural em Lisboa foi negativo, durante os anos 90, em cerca de 2 mil habitantes, enquanto que o saldo migratório foi negativo em cerca de 6 mil por ano. Significa então que fixar 12 mil jovens em 8 anos, dá uma média de 1500 por ano que se pode comparar com uma sangria anual (à média dos anos 90) de cerca de 8000.
Existem factores mais estruturais para a perda demográfica em Lisboa. De uma forma muito resumida - não tenho agora tempo para uma explanação mais aprofundada -, são os seguintes (entre parentêsis, apresento alguns comentários):
a) Preço elevado das habitações, sobretudo para as tipologias a partir de T2 (não vale a pena, como parece ser a aposta da autarquia, apostar em T0 e T1, porque Lisboa precisa de casais jovens mas sobretudo que tenham filhos e os possam criar aqui)
b) Deficiências na rede de transportes públicos (a rede de metropolitano perdeu anos e anos, além de rios de dinheiro, ao se ter apostado em avançar com linhas com o único objectivo de especulação imobiliária)
c) Carência de parques de estacionamento exclusivamente para residentes (a EMEL não tem apostado em beneficiar os residentes neste sector; grande parte dos bairros antigos não têm estacionamentos, necessários mesmo sabendo que quem aqui reside anda menos de carro, mas não suporta ter de andar centenas de metros porque não encontra um estacionamento perto de casa. As alternativas, através dos parques construídos pela EMEL, são demasiado caros)
d) Falta de incentivos para a fixação da população (Lisboa necessita urgentemente de «bónus» para aqui se habitar. Isso passaria, por exemplo, pela aplicação de tarifários especiais em diversos serviços, de modo a que, feitas as contas, compensasse viver na capital. Isto implicaria, igualmente, decretar uma contenção nas novas construção e fortes incentivos fiscais às empresas de construção para a reabilitação, ficando estabelecidos preços controlados para não fazer disparar os preços das habitações, ou tendencialmente provocar a sua descida).
3/17/2005
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