À Margem Ambiental XLIV
O novo ministro do Ambiente, Francisco Nunes da Silva, é, sem dúvida, um independente; mas um independente que tem contribuído em ambos os lados da "barricada", o que lhe pode trazer bastantes vantagens na sua actuação política.
A sua intervenção foi até aos anos 90 sobretudo na área dos recursos hídricos, tendo sido, além de professor do Instituto Superior Técnico, de que actualmente é catedrático), director-geral dos Recursos Naturais (entidade antecessora do actual Instituto da Água). Depois disso, no primeiro quinquénio dos anos 90 teve duas importantes intervenções «política» no segundo Governo social-democrata de Cavaco Silva: foi membro dos grupos de trabalho que elaborou em 1991 o «Livro Branco do Ambiente» (onde pontificavam, por exemplo, o antigo ministro do Ambiente, Carlos Borrego) e quatro anos depois coordenou o «Plano Nacional da Política do Ambiente», documento que nunca foi aplicado, porque entretanto o PS venceu as eleições).
Em 1998 seria chamado por José Sócrates para coordenador do Polis - o programa de reabilitação urbana que prometeu mundos e fundos, mas que se tem saldado por um quase fracasso. Manteve-se em funções ainda no Governo de Durão Barroso, mas o esvaziamento do Polis levou-o a abandonar o «barco». Foi com alguma surpresa, pelo menos para mim, que pouco depois seria nomeado para director do Laboratório Nacional de Engenharia Civil, durante o ano passado.
A sua nomeação para ministro do Ambiente acaba, assim, por não ser uma surpresa, tal como não a seria se o cargo lhe tivesse sido entregue num Governo do PSD - o que, parecendo o contrário em termos político-partidários, é um atestado da sua competência técnica. A um Ministério do Ambiente basta um ministro-técnico desde que no Governo o primeiro-ministro tenha sensibilidade para estas questões (e Sócrates tem a «obrigação» de a ter).
3/06/2005
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