A pretexto das eleições autárquicas de Lisboa, desenterro análises que fiz numa reportagem para a Grande Reportagem em 2002 e que, de forma adaptada, inclui no livro O Estrago da Nação, em 2003. São sete pecados, sete problemas que contribuem para a actual situação da capital do país. Tentarei publicar uma por dia.Durante a última década, a única faixa etária que aumentou em Lisboa foi a dos idosos, sendo este fenómeno acompanhado por um rápido decréscimo da população jovem, sobretudo nas freguesias centrais. Actualmente, quase um em cada quatro lisboetas tem mais de 65 anos, enquanto os jovens representam apenas 12% da população total.
Embora o decréscimo da população alfacinha não seja uma novidade – Lisboa perde paulatinamente pessoas desde 1960 e arrisca-se a passar a ser o segundo concelho do país em termos demográfico já em 2011, ultrapassado por Sintra –, a sangria juvenil acentuou-se nos anos 80. Com efeito, se em termos globais a capital portuguesa perdeu 15% da sua população na última década, a faixa dos jovens com menos de 15 anos retrocedeu cerca de 30%, com algumas freguesias centrais – como Santa Justa, Sé, São Cristóvão e São Lourenço, Santiago e Madalena – a perderem mais de metade desta faixa etária. Aliás, nesta última freguesia, quando foram feitos os Censos 2001, não havia uma única criança com menos de um ano e os idosos com mais de 85 anos eram mesmo em maior número do que as crianças com menos de sete anos.
Grande parte das freguesias lisboetas apresenta, assim, níveis de envelhecimento dos mais elevados do país, mesmo em relação às zonas do interior mais deprimido. Por exemplo, se a freguesia de São Nicolau fosse um concelho seria o segundo do país com maior proporção entre velhos e jovens, apenas atrás de Vila Velha de Ródão.
Esta não é, contudo, uma excepção – é a norma. Actualmente, são já 18 as freguesias alfacinhas que têm menos de 10% de jovens (a média nacional é de 16%), quando em 1991 apenas tal ocorria em São Nicolau. A única zona de Lisboa que não sofre de envelhecimento situa-se nas freguesias de Ameixoeira, Charneca e Lumiar, onde a faixa etária de jovens até é ligeiramente superior à média nacional, embora aqui existam outro tipo de problemas sociais, dado que a falta de equipamentos e de condições de vida promove a delinquência juvenil.
Este cenário mostra que será quase impossível travar a contínua perda populacional em Lisboa, porque o saldo natural tenderá a ser cada vez mais negativo. Aliás, desde 1980 que em Lisboa as mortes são superiores aos nascimentos, sendo que, pelo saldo natural, a capital perde mais de 20 mil habitantes por década.
Um dos indicadores mais evidentes do envelhecimento de Lisboa observa-se na fusão e encerramento de escolas – situação típica de regiões deprimidas. Só as 11 escolas secundárias existentes entre a Baixa e Lisboa «perderam» 1.600 alunos entre 1999 e 2001.