À Margem Ambiental I
Comecei ontem à noite a ler o último romance de Mário de Carvalho - "Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina" - que me dizem as críticas ser uma excelente paródia a Portugal e aos portugueses, com finos traços de ironia sibilina. Estou ainda a 25% do livro e, de facto, não está a frustrar as expectativas. Muito pelo contrário, mesmo em termos ambientais. Logo na página 20 tem uma subtileza fantástica e irónica sobre a atitude ambiental dos portugueses, que não resisto a colocá-la aqui para reflexão. Escreveu ele, Mário de Carvalho:
"Musa excelente e demais luzidas divindades, é justo arguir que eles (os dois coronéis e só eles, acrescento meu) não guardam arames entre as ramagens das árvores, não deixam sacos de adubo ao vento, não abandonam velhas máquinas e engrenagens na charneca, não largam entulhos nas carreteiras, não matam abertardas e outras aves protegidas, não envenenam faunas predadoras, não cortam chaparros para lenha, não plantam eucaliptos e mimosas, não ateiam queimadas em Agosto, não atiram para o chão cascas de melancia, não se esquivam dos impostos, não intrujam nos negócios e, de uma forma geral, separam os lixos, isolam as pilhas, ensacam o conjunto e, com regularidade, acabam por deixar tudo no contentor camarário mais próximo, que está, de ordinário, a abarrotar de maus cheiros e a nutrir triliões de moscas, moscardos e vespas", in Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina, Mário de Carvalho, Caminho, pg.20
1/14/2004
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