Farpas Verdes CCXXVII
Existem «ideias peregrinas» que surgem, por vezes, apenas para mostrar que, perante a falência (ou simples ausência de aposta) de um modelo, se está aparentemente preocupado em mudar, mesmo nada mudando.
Hoje, no Expresso, surge uma proposta em transformar o Instituto de Conservação da Natureza (ICN) num «instituto empresarializado, como o das Estradas de Portugal, mas ajustado à realidade das áreas protegidas», como defende o seu presidente, João Menezes.
O problema do ICN é velho e estrutural. E nada tem a ver com modelos institucionais, mas somente com uma questão de aposta política na conservação da Natureza. As áreas protegidas não podem, nem devem ambicionar, uma gestão lucrativa directa, não podendo, por isso, ambicionar ser uma espécie de instituto de cariz lucrativo. O «lucro» - que implica despesa, ou seja, um maior investimento em conservação - da conservação das áreas protegidas advém de podermos legar nas gerações futuras esses pequenos pedaços de Portugal natural e, sobretudo, em garantirmos uma preservação de locais que, do ponto de vista turístico, podem trazer mais-valias indirectas. Enquanto tivermos um orçamento de 11 milhões de euros, que se esgota quase apenas em pagamentos de salários, não há modelo empresarial ou qualquer outro que salve esta situação. E criar assim um novo modelo é apenas gastar tempo e dinheiro, mostrando que se faz algo, sem nada fazer de concreto.
5/21/2005
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