5/25/2005

À Margem Ambiental LXX

A pretexto de um comentário do autor do Geoplantas ao meu post anterior (À Margem Ambiental LXIX) sobre a questão da contabilização das áreas ardidas, julgo que são pertinentes, embora seja necessário recentrar a discussão.

«Trabalhar» com números permite sempre dar azo a manipulações ou enganos. Mesmo tendo havido nos últimos anos uma melhoria na cartografia das áreas queimadas - fruto do trabalho da equipa do professor Cardoso Pereira do Instituto Superior de Agronomia -, mesmo assim houve tentativas de «aldrabar» números, como aconteceu em 2003 durante o «Verão quente» ou ainda no ano passado com a «inflação» do números de incêndios a determinada altura (que foi depois justificada por uma duplicaçao de registos em Braga e Porto). Os valores dos anos 70 e 80 também deverão pecar por algum defeito, embora tal não significa que houve efectivamente um agravamento da área ardida nas últimas décadas.

Em relação ao somatório da área ardida, claro que também concordo que não o melhor indicador. Mas é um indicador! Grosso modo, a área ardida de povoamentos florestais constitui cerca de 50% da área ardida (em 2003 foi superior), mas quando se está a tentar «medir» a eficiência do combate aos incêndios julgo que será mais correcto apresentar os valores globais. Se quisermos avaliar os prejuízos económicos será mais adequado analisar apenas os povoamentos florestais (e discriminá-los por tipo de povoamento); se avaliarmos os prejuízos ambientais, então será porventura adequado incluir alguns das áreas de matos, ponderada a sua localização e desenvolvimento (o que se torna um trabalho mais complexo).

Por fim, concordo também que o número de incêndios tem uma importância relativa. Em Portugal não existe uma correlação «positiva» entre incêndios e área ardida. Aliás, esta é «negativa», porquanto os distritos com mais incêndios têm menor área ardida - Porto e Braga - e ao invés, os que têm menor número de incêndios - regra geral, distritos mais desertificados -, a área ardida é maior. Esta situação radica em aspectos demográficos e sociais que julgo ter já abordado aqui e que desenvolvo no livro «O Estrago da Nação» (e muitos outras pessoas, mais especialistas do que eu, o têm salientado). No entanto, em todo o caso, o número de ignições em Portugal, independentemente dos seus efeitos continua a ser absurdamente elevado.

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