2/11/2005

Derivações ambientais IV

O (correcto) acto de contrição da direcção do Público na edição de ontem, por causa da manchete do dia anterior, sobre a posição (não feita) de Cavaco Silva em relação às próximas eleições, não deve fazer esquecer o essencial. Mesmo os jornais de referência (Expresso, Público, Diário de Notícias, etc.) usam e abusam, sobretudo em notícias políticas, no uso de «fontes anónimas», «fontes próximas», «colaboradores identificados», etc.

Ora, os jornalistas que usam deste modus operandi podem, no limite, escrever uma notícia ficciosa, até porque têm a seu favor o (correcto) dever de protecção das fontes, mas que, para os menos escrupulosos, jeito dá quando esta não existe.

Mas mesmo que não estejam a ficcionar - e portanto, tenham mesmo uma fonte -, convém usar do máximo cuidado. Por exemplo, eu jamais usei fontes não identificadas num artigo sem que o material que possuísse podesse confirmar ou deduzir de forma inequívoca aquilo que me era trasmitido. Em alguns casos mais sensíveis, pedi mesmo, como salvaguarda, que me mostrassem (e preferencialmente me dessem cópia, que não divulgaria), documentos que confirmassem determinada situação ou denúncia. Perdi, é certo, algumas «cachas» por causa deste procedimento, mas também evitei muitos desmentidos ou situações embaraçosas para qualquer jornalista. Mais vale ter uma «cacha» sem desmentidos do que 100 «cachas» e uma delas com um desmentido.

No entanto, sabemos que o jornalismo político se dá mais ainda um certo «casamento de conveniência» entre o jornalista e as fontes. Um jornalista que «consiga» ganhar as graças de um político destacado arranja «cachas» por uns bons tempos. Mas isso tem dois graves prejuízos: tira-lhe a lucidez (para não dizer outra coisa), se for necessário investigar e/ou escrever algo depreciativo sobre essa sua fonte; e corre o risco de cair numa cilada, caso o «bom» do político queira «tramar» alguém (o que acontece frequentemente) sob a capa do anonimato.

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