Farpas Verdes CLXXVII
A falta de memória é uma bênção para os políticos. Ontem, ao ler uma pequena entrevista na GR ao presidente da autarquia de Tavira e da Junta Metropolitana do Algarve, Macário Correia, fiquei estarrecido e bastante preocupado. As respostas chegam a ser surrealistas e, algumas, denotam uma atitude de enorme irresponsablidade perante um processo que é tudo menos surpreendente. Secas em Portugal são cada vez mais frequentes: nas décadas de 90 registo situações de carência de água, em maior ou menor grau, nos anos de 1992, 1993, 1995, 1997, 1997, 1998, 1999 e inícios de 2000, de acordo com uma base de dados noticiosa que estou a editar para o Instituto de Ciências Sociais.
No entanto, os políticos - como claramente demonstra a entrevista de Macário Correia - têm a infeliz tendência de culpar os Céus, apesar das orações que lhe fazem, e de proporem mais construção de barragens e agora até de uma estação de dessalinização. Quanto a medidas de gestão e de eficiência de uso, nada. Como há dias escrevi, o Algarve é a região do país que paga menos pela água que consome e a que mais desperdiça. Li também há dias que foi apresentado um trabalho académico que revelava que o volume de águas residuais tratadas dariam para regar todos os campos de golfe do Algarve, mas que praticamente nada é aproveitado.
P.S. As campanhas de sensibilização do Ministério do Ambiente nas televisões para a situação de seca são completamente inconsequentes. Não vale a pena apelar para um uso regrado se, paralelamente, pouco mais se faz. A água deve, na minha perspectiva, ser um recurso que, cada vez mais, deverá ter flutuações de preço em função das suas disponibilidades temporais. Por isso, mensagens avulsas e não direccionadas a públicos-alvo, sem que as pessoas sintam essa necessidade de forma clara - isto é, nos bolsos -, têm efeitos praticamente nulos. A não ser para as finanças dos órgãos de comunicaçao social, que agradecem a publicidade paga.
2/27/2005
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