Farpas Verdes CLIX
Através do blog Ondas, soube que na Escócia está para «nascer» do maior parque eólico do Mundo, com cinco mil aerogeradores com uma potência de 10.000 MW - o que, acrescento eu, daria teoricamente para abastecer Portugal inteiro. A notícia original refere também os protestos do botânico David Bellamy. Sendo prudente não comentar a argumentação deste botânico com base numa notícia, diria que tenho tendência a concordar com ele, mesmo se de forma parcial.
Tendo em conta que Portugal também está rendido à energia eólica, tomo aqui a minha posição sobre esta matéria.
A energia eólica não pode ser vista como panaceia para a solução energética do país, pelo menos nos moldes em que é apresentada. Darei um exemplo.
Peguemos no caso escocês e imaginemos que colocavamos os 10.000 MW de energia eólica em Portugal. Teríamos a electricidade para abastecer mesmo todo o país? A resposta é negativa. A energia eólica é, tal como a hidroelectricidade, variável no tempo e no espaço. Tem mesmo uma grande desvantagem em relação às barragens - que armazena a água para a gerir mais tarde - , isto é, não se pode armazenar o vento.
Um aerogerador produz aquilo que o vento fornece, noite e dia, mas não é constante ou variável em função das curvas de consumo diário, semanal e sazonal. Por isso, se uma central térmica tem uma potência instalada de 1000 MW e eu lhe colocar combustível ela pode produzir numa hora 1000 MWh. Mas, ao invés, se não houver vento, ou for reduzido, eu jamais conseguirei num parque eólicos de 1000 MW de potência produzir, numa hora, os tais 1000 MWh.
Ora, a Rede Eléctrica Nacional nunca poderia - mesmo que tivesse potência instalada em parques eólicos suficientes para tal - estar descansada apenas com aerogeradores, porque se necessitasse de energia e não houvesse vento, chapéu, haveria um «apagão». As centrais térmicas servem, devido à sua inércia e garantia de estabilidade na produção, de suporte essencial para os consumos (grosso modo - e não tendo agora aqui à mão os dados para confirmar - cerca de 5.000 MW durante as 24 horas). Acima disso, ao longo do dia existem fortes variações (com picos em determinados períodos da manhã e da tarde e da noite), em que se poderá recorrer aí sim às fontes renováveis.
Por isso, se um dia me viessem dizer: Portugal vai ter 4.000 MW de potência de parques eólicos, eu seria contra. Porque isso significava que essa energia serviria sobretudo para ser exportada e ficariamos com as nossas serras - e muitas áreas protegidas - enxameadas de aerogeradores que têm, de facto, impactes ecológicos e paisagísticos directos e indirectos importantes.
Será um erro achar que os parques eólicos irão substituir as centrais térmicas convencionais a carvão ou a fuel (isso será feito pelas de gás natural). Quanto muito serão uma almofada para situações de picos (sempre que possível) e sobretudo um bom negócio para as empresas porque terão sempre garantia, num mercado ibérico e europeu de livre circulação de energia, de a vender sempre. Não haverá nada contra este direito das empresas em lucrarem com isto, mas deveria ser melhor ponderadas as autorizações dos parques eólicos. Por mim acho que, por exemplo, por agora deveria numa primeira fase ser proibido a implantação de aerogeradores em áreas protegidas, enquanto todos as outras zonas com potencial eólico não fosse esgotado. Depois far-se-ia um balanço. E sobretudo deveria isto ser acompanhado de fortes medidas de melhoria de eficiência energética: é que não poderemos continuar a ter crescimentos de consumos de electricidade de 6% ao ano, quando o PIB regride ou tem crescimentos quase nulos.
2/09/2005
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