10/27/2006

A culpa celibatária

Jorge Coelho, ministro das Obras Públicas no segundo Governo Guterres demitiu-se, como se sabe, em Março de 2001 a seguir à queda da ponte de Entre-os-Rios. A decisão política foi louvada, mas na verdade era o mínimo que poderia então fazer. Do ponto de vista político, ele era um dos responsáveis por ter tornado possível uma ponte num país dito desenvido cair no século XXI por falta de inspecções que evitasse o colapso durante um caudal mais forte (mas não anormal) do que o habitual num rio. Os louvores à atitude de Jorge Coelho - que não foram assumidos por outros seus colegas do Governo, com similares responsabilidades políticas - não deveriam um apagar das suas responsabilidades como uma das caras desse ser abstracto chamado Estado.

Mas, estamos em Portugal, claro. E como se viu, sentaram-se no banco dos réus, as pessoas erradas, porque não eram as caras que representam o Estado. Por isso, foram absolvidas. Agora, surgiu Jorge Coelho com uma capa de dignidade a mostrar-se surpreendido e lastimado com o fim deste processo judicial, afirmando mesmo que «não é possível que 59 pessoas tenham morrido a atravessar um equipamento cuja manutenção é da responsabilidade do Estado e, feita a investigação, ninguém seja responsabilizado». Enfim, Jorge Coelho deve estar, no íntimo, a pensar para os seus botões: ainda bem, neste caso, que a culpa morreu solteira....

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