10/17/2006

Os perigos do triunfalismo

Já aqui referi que, apesar de muitos bombeiros voluntários me verem como um diabo (nem imaginam o teor de alguns emails que me chegam), tenho a melhor das opiniões sobre o presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Duarte Caldeira. Mais uma vez concordo, quase na sua totalidade, com as suas recentes declarações contra os «triunfalismos» do ministro António Costa em relação à área ardida este ano.

De facto, os Grupos de Primeira Intervenção da GNR terão contribuído, por certo, para uma melhoria na eficácia da extinção nos fogos nascentes, embora a pouca credibilidade nas estatísticas dos fogachos não permitam uma avaliação muito rigorosa. Porém, o maior problema nos incêndios em Portugal nunca foi tanto a primeira intervenção (cujos índices sempre foram melhores do que em Espanha, apesar do país vizinho ter áreas ardidas de menor dimensão). O problema está nos fogos que, não sendo extintos numa fase inicial (e é utópico julgar possível ter taxas de 100%), continuam a arder tornando-se gigantescos. Mesmo num ano «calmo» como o de 2006 existirem 25 incêndios com mais de 500 hectares é muito. Diria mais: é perigosíssimo, tendo em conta o factor cíclico dos incêndios. Por outro lado, como já referi, a taxa de incêndios (mais de um hectare) que superaram os 100 hectares é superior à generalidade dos anos da última década (com excepção dos «anormais» anos de 2003 e 2005), o que é demonstrativo das deficiências estruturais no combate estendido.

Não perceber isto - e o ministro António Costa parece não querer perceber - e privilegiar apenas a primeira intervenção é meio caminho andado para perpetuar o drama dos incêndios. E neste cenário, o que não ardeu este ano, por ajuda do São Pedro, irá acrescer ao que arderá nos próximos anos. O fogo não dorme, apenas descansa...

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