Não sei se pelo meu afastamento da imprensa, mas certo é que cada vez estou mais irritado com a superficialidade das abordagens das notícias e, mais grave ainda, quando feito por jornalistas que, conhecendo-os, sei que têm traquejo para as questões ambientais. Ontem, no Público, Ricardo Garcia escreveu um pequeno texto sobre o relatório da qualidade da água, elaborado pelo IRAR, relativamente ao ano passado, que é intitulado «Milhares de portugueses ainda bebem água imprópria». A primeira frase é a seguinte: «Milhares de portugueses continuam expostos a água poluída, apesar da progressiva melhoria dos mecanismos de controlo da qualidade.
O primeiro erro começa logo nessa frase. Melhorar o controlo da qualidade da água não significa obrigatoriamente que a água seja de melhor qualidade. O controlo da qualidade da água «apenas» detecta os problemas; não os resolve. E por isso mesmo a notícia deveria questionar sobretudo a manutenção dos problemas apesar dos investimentos em saneamento básico nas últimas décadas e de se saber que paulatinamente a qualidade da água continua más em muitas regiões (sobretudo interior e de pequenos sistemas de abastecimento de água). Aliás, como o próprio relatório do IRAR destaca, verificou-se um agravamento dos maus resultados nos parâmetros de rotina do grupo 1 (que integra sobretudo parâmetros bacteriológicos) entre 2004 e 2005 (passou de 4,23% para 4,56%).
O segundo erro reside na deficiente análise dos dados do IRAR. Na verdade, este relatório vem confirmar que os problemas de qualidade da água são crónicos, não se verificando qualquer melhoria relevante ao longo dos anos. Senão vejamos a evolução anual da percentagem de violações no total das análises em todo o país:
- 2001 - 2,47%
- 2002 - 2,37%
- 2003 - 2,10%
- 2004 - 2,72%
- 2005 - 2,53%
Nota: Nos próximos dias tentarei publicar um ou dois textos que abordarão a ideia governamental de estabelecer um preço único para a água canalizada e sobre a ausência de apresentação dos resultados da qualidade da água nas facturas.
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