Farpas Verdes LIV
Portugal é um país de fantochada. Nuno Melo, meritíssimo juiz de instrução do caso da queda da Ponte Hintze Ribeiro decidiu fazer um despacho de não pronúncia dos arguidos, pelo que mandou arquivar o processo. Alega o meritíssimo juiz, da sua enorme sapiência, que foram causas naturais, nomeadamente as cheias, que causaram o colapso da dita ponte.
Que se tenha andado a retirar areia do Douro à fartazana e sem regras, pouco importa para o meritíssimo juiz. Que o Instituto de Navegabilidade do Douro tenha fechado os olhos e recebido verbas, também pouco importou para o meritíssimo juiz. Que o Instituto de Estrada de Portugal (a sucedânea da Junta Autónoma das Estradas) tenha descurado as fiscalizações, também pouco importou para o meritíssimo juiz. Que uma ponte deve ser construída e mantida para aguentar cheias - e as que ocorreram nem foram das maiores que o Douro teve - e que há responsáveis por essas tarefas, também pouco importou para o meritíssimo juiz.
A fazer jurisprudência, esta tese do meritíssimo juiz Nuno Melo, se houver uma qualquer catástrofe, haverá sempre uma causa natural. Se houver uma explosão, a culpa é do oxigénio. Se cairem casas mal construídas, num tremor de terra, a culpa será do próprio terramoto. Se uma autarquia autorizar construções em leito de cheia e houver uma inundação fatal, a responsabilidade será da água. Se uma barragem colapsar, a culpa será também da água.
Num país de opereta, só faltava que o meritíssimo juiz Nuno Melo culpasse Isaac Newton, que formulou a lei da gravidade. Mas o seu despacho, nas entrelinhas, tem esse significado. A culpa morreu solteira, mas levou a vida de 59 pessoas.
P.S. Será que, se proventura, o meritíssimo juiz Nuno Melo ler este post e não gostar do seu teor, poderei ser condenado por difamação? Estou certo que sim.
3/25/2004
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