3/23/2004

À Margem Ambiental XL

O projecto da CRIL, caso avance nos termos conhecidos, destruirá um troço de cerca de 200 metros do Aqueduto das Águas Livres, o mais extenso Monumento Nacional de Portugal. Num país que já não se respeita a si próprio, este projecto do Instituto de Estradas de Portugal - com o apoio do Ministério do Ambiente e a irresponsabilidade do IPPAR - é um inqualificável atentado contra a memória colectiva do país e um autêntico vandalismo de Estado.

A associação «Ofícios do Património e da Reabilitação Urbana» está a dinamizar um abaixo-assinado (que em baixo reproduzo) para evitar este atentado patrimonial, para o qual vos apelo, encarecidamente, que contribuam, enviando uma mensagem para info@oprurb.org ou arq.lopes@clix.pt, indicando:

- Nome completo

- Profissão

- Número do Bilhete de Identidade

Ou então que enviem estes elementos por carta para a seguinte morada:

Rua Sousa Martins nº 20 4º esq 1050-219 Lisboa
T: 213 556 902


Abaixo assinado em defesa do Aqueduto das Águas Livres

Abaixo-assinado dirigido ao
Senhor Presidente da Republica
Senhor Primeiro Ministro
Senhor Ministro das Cidades, Ordenamento do Território e Ambiente
Senhor Ministro das Obras Públicas, Transportes e Habitação
Senhor Ministro da Cultura
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Amadora
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Lisboa
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Loures
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Sintra
Senhor Presidente do IPPAR
Senhor Presidente da EPAL

O ano de 1731 marca o início da construção do Aqueduto de Lisboa, sistema de captação, transporte e distribuição de água para abastecimento da cidade.

Obra hidráulica da responsabilidade técnica de Manuel da Maia e Carlos Mardel, foi custeada em grande parte pelo real d’água, taxa paga pelo povo de Lisboa sobre os géneros de primeira necessidade. Daqui resulta o peso indestrutível de um património que se fez à custa de dificuldades e carências da população que, certamente já teria muitas.
A sua grandeza monumental traduz-se nos seguintes números: o aqueduto principal com 18,5 km atravessa os 940m do vale da Ribeira de Alcântara com 35 arcos sendo um deles o maior arco em pedra do mundo. Tem uma rede de captação de 30km de condutas e abastece uma rede de distribuição de 12km.

Completado por edifícios que abrigam as Mães de água, reservatórios e chafarizes, forma um conjunto de alto valor patrimonial pela arquitectura e a qualidade da construção, mas igualmente por ser o único sistema em «água livre» com esta dimensão e ainda por ter chegado praticamente intacto até nós, o que fundamenta e exige a sua conservação.

Sofreu algumas intervenções desastradas num passado não muito distante. Por isto mesmo, é tempo de dizer basta e não deixar livre a ignorância que permitiu tais desmandos. Hoje, temos consciência do valor em causa pelo que não poderemos permitir que se prejudique a integridade do seu conjunto. Hoje, já somos muitos a escolher entre uma auto-estrada e um monumento. E este, pelo seu impacto visual positivo, constitui um ex-libris da cidade e pelo que ele custou aos homens do seu tempo, exige de nós o respeito e o reconhecimento.


Os abaixo assinados, alertados pelas notícias referentes à construção do último lanço da CRIL, esperam que:

- seja completado o inventário deste monumento em toda a sua extensão;

- seja impedida, na prática, a demolição de qualquer dos seus elementos ou troços;

- a EPAL persista no seu esforço de defesa, valorização e divulgação deste património, que gere;

- as tutelas assegurem a vigilância para a sua protecção e os apoios necessários às operações de salvaguarda e valorização;

- as Câmaras em cujo território o Aqueduto está implantado – Amadora, Lisboa, Loures e Sintra, tratem com o cuidado indispensável e a dignidade devida, as zonas envolventes, tanto dos pontos visíveis como dos troços subterrâneos, de modo a não prejudicarem o monumento e a valorizá-lo.

- seja rapidamente accionada a sua candidatura a Património Universal, como meio seguro para a sua preservação.

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