ASSIM VAI A VERDE NAÇÃO X
Pimenta, o desejado
Consta que numa certa paróquia, o padre - homem de feitio difícil e maus fígados - era, apesar de tudo, constantemente assediado com elogios e bençãos dos aldeões. «Deus o proteja, senhor padre", diziam uns. «Deus lhe dê muitos anos de vida na nossa paróquia», diziam outros.
O padre, consciente da sua personalidade, começou a achar aquilo um exagero. E vai daí começa a perguntar a causa de tão exagerados elogios. A resposta saiu pronta: «Sabe, senhor padre, sempre que o bispo manda para cá um pároco novo, ele é pior do que o anterior».
Anedota à parte, o estado evolutivo do Ministério do Ambiente ao longo das três décadas de democracia em Portugal parece encaixar-se nesta situação. Por mais esperanças que se tenha de que um novo Governo, um novo MInistro do Ambiente possa vir dar uma lufada de ar fresco e uma bofetada no marasmo e na degradação ambiental e urbanística do país, as contas saem sempre para o torto.
Sintomático disso é saber que todos aqueles que acompanham a questão ambiental - mesmo aqueles que têm menos de 30 anos - continuam saudosistas de um Ministério do Ambiente que tenha, na sua direcção, pessoas do calibre de Ribeiro Telles e de Carlos Pimenta. O primeiro foi ministro da Qualidade de Vida há 20 anos atrás. O segundo foi secretário de Estado do Ambiente faz agora 16 anos.
Depois deles, e num período de forte crescimento económico (agora já não tanto), em que tão importante era conciliar e internalizar o ambiente, tivemos ministros e secretários de Estados que, quase sem excepção, não possuíam nem força, nem coragem política, nem arte para imprimir uma política de Ambiente séria e eficaz.
A sondagem do Estrago da Nação, que ontem terminou - e numa altura em que o actual ministro do Ambiente, Amílcar Theias, é dado como remodelável -, pretendia saber qual a melhor personalidade do espectro social-democrata para esta pasta governamental. Era também dado a hipótese de manter o actual ministro em funções. Os resultados não foram, para mim, nenhuma surpresa. De entre os 55 votantes, apenas um defendeu a manutenção de Amílcar Theias. Recordo que, numa sondagem anterior, 20% dos votantes tinha apontado o actual ministro como sendo o pior desde 1990.
Mas, apresente-se, antes de uma análise mais detalhada, os resultados da votação.
Carlos Pimenta - 29 votos (52.73%)
Carmona Rodrigues - 7 votos (12.73%)
Outro/a - 6 votos (10.91%)
José Eduardo Martins - 4 votos (7.27%)
Jorge Moreira da Silva - 4 votos (7.27%)
Macário Correia - 3 votos (5.45%)
Amílcar Theias - 1 voto (1.82%)
Massano Cardoso - 1 voto (1.82%)
António Capucho - 0 votos (0,00%)
Miguel Relvas - 0 votos (0,00%)
Como facilmente se verifica, Carlos Pimenta é o «desejado»: para mais de metade dos votantes é o preferido para ocupar a cadeira de ministro do Ambiente. Acredito que a percentagem que obteve só não é mais expressiva, porque certamente muitos não acreditam nessa possibilidade. Com Carlos Pimenta, muita coisa mudaria e não é de esperar que o actual Governo e os «lobbies» económicos permitam a formação de um Ministério do Ambiente com força e poder. Por outro lado, não é viável que fosse indigitado pelo primeiro-ministro. Recordem que Carlos Pimenta foi vice-presidente do PSD durante o curto «reinado» de Marcelo Rebelo de Sousa e que se incompatibilizou, há quatro anos, com Durão Barroso quando foi afastado do Parlamento Europeu.
A grande distância de Carlos Pimenta, surge Carmona Rodrigues, apenas com cerca de 13% dos votos. Há cerca de um ano, na altura em que isaltino Morais se demitiu, o nome do actual ministro das Obras Públicas foi inicialmente apontado para a pasta do Ambiente. Nessa altura, se tal tivesse acontecido, diria que era uma boa escolha. Hoje, tenho algumas dúvidas, por algumas atitudes que tem tido no último ano, em que mostrou não ter cortado o «cordão umbilical» de Pdro Santana Lopes, que o lançou na política.
Em terceiro lugar (não considerando os votos que indicavam «Outro/a»), ex-aequo, surgem dois secretários de Estado - o do Ambiente, José Eduardo Martins, e o do Ensino Superior, Jorge Moreira da Silva. O actual secretário de Estado do Ambiente já demonstrou a sua ambição de chegar a ministro do Ambiente. Se assim fosse, confirmar-se-ia a «tese» da andeota que acima contei. Em relação a Jorge Moreira da Silva, não acredito que chegue, para já, a ministro, mas apostaria que daria um bom secretário de Estado do Ambiente, pelo menos pelas indicações que tenho do seu trabalho na área ambiental enquanto foi eurodeputado.
Já em relação aos restantes «candidatos», a sua fraca votação (ou mesmo nula), não me surpreendem. (Bom, na verdade, quase todos tiveram poucos votos). Talvez apenas esperaria que, eventualmente, António Capucho tivesse votos, embora contra ele esteja, talvez, o seu longo afastamento das lides ambientais (foi ministro da qualidade de Vida no início dos anos 80, julgo que sucedeu a Ribeiro Telles). De qualquer modo, penso estar a fazer algumas boas tentativas para refrear os ímpetos especulativos em Cascais - por isso, está lá bem.
Em conclusão, não faço a mínima ideia se Amílcar Theias será substituído. Ao longo dos últimos meses, em várias situações, tenho dado a minha opinião sobre ele, que não é nada favorável. Mas tenho muito receio que, a ser substituído, o «bispo» indique um «pároco» pior do que ele. E acreditem, é sempre possível arranjar pior.
A Bela...
Quando iniciei o Estrago da Nação, penso que havia dois ou três blogs ambientais. Ao longo dos últimos três meses, a blogosfera ambiental portuguesa já conta, pelo menos, com os Ambientalistas, o Clean Energy, o Ondas, o Reciclemos!, o Tupiniquim, o Vigilantes da Natureza, o Zona Verde e - criado ontem - Bioterra, do João Paulo Soares. É bom estar em boa companhia.
... e o Monstro
Se um condutor fosse apanhado em excesso de velocidade ao longo de quatro anos por 40 vezes, o que lhe aconteceria? Talvez o mesmo que à EDP que foi autuada por 40 vezes ao longo dos últimos quatro anos em violações às normas de qualidade do ar. A culpa não é apenas da EDP e das suas poluentes centrais térmicas (sobre estas, estou a preparar uma reportagem para a GR). É também do Ministério do Ambiente , que tem a mão pouco pesada para os reincidentes. Por issso, ficam aqui, lado a lado.
3/31/2004
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